Os nomes da Terra Média As dicas de J. R. R.Tolkien para a tradução de O Senhor dos Anéis

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Transcrição:

Os nomes da Terra Média As dicas de J. R. R.Tolkien para a tradução de O Senhor dos Anéis Dircilene Fernandes Gonçalves Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Universidade de São Paulo (USP) São Paulo SP Brasil Resumo. J. R. R. Tolkien: filólogo apaixonado e inventor de línguas, sobre as quais construiu sua obra literária, da qual O Senhor dos Anéis é a expressão mais conhecida. Talvez antevendo as dificuldades que essa peculiaridade poderia causar a seus eventuais tradutores, criou o Guide to the Names in The Lord of the Rings, um compêndio contendo dicas de tradução. Uma ajuda preciosa, mas que também pode revelar um desejo do autor de manter controle absoluto sobre sua obra. Palavras-chave. O Senhor dos Anéis; línguas; tradução; Guide to the Names in The Lord of the Rings; controle. Abstract. J. R. R. Tolkien: passionate philologist and inventor of languages. Around them, he developed his literary work, of which The Lord of the Rings is the most widely known expression. Perhaps foreseeing the difficulties that such peculiarity might bring forward to its potential translators, he wrote The Guide to the Names in The Lord of the Rings, a compendium containing translation hints. A helpful material at hand, but also a possible token of the author s will to keep utter control over his work. Keywords. The Lord of the Rings; languages; translation; A Guide to the Names in The Lord of the Rings; control. Estudos Lingüísticos XXXIV, p. 1123-1127, 2005. [ 1123 / 1127 ]

1. Introdução Foi na pequena cidade de Sarehole, Inglaterra, que J. R. R. Tolkien começou a receber suas primeiras noções lingüísticas, com as aulas de latim e francês ministradas pela própria mãe. A partir de então, vários idiomas vieram povoar seu universo lingüístico, cada qual despertando em sua vívida imaginação um interesse cada vez maior por sua constituição, seu funcionamento, sua musicalidade, sua história. Na Universidade, em Oxford, já completamente apaixonado pelo assunto, formou-se filólogo, especializando-se em Anglo-Saxão. No entanto, em sua paixão pelas línguas, não se contentava em simplesmente estudá-las. Ainda na infância, começou a inventar suas próprias línguas. E esse trabalho de criação continuou por toda sua vida. O que o motivava não era o conhecimento dos princípios científicos dos idiomas, mas o amor pelas palavras. 2. A obra lingüística 2.1. A criação Em sua sede criativa, tinha por princípio a idéia de que um idioma não podia surgir do nada, tinha que se basear em outros, mais antigos, tinha que ter raízes. Por isso, embrenhou-se nos estudos de línguas antigas, como o latim, o grego, o gótico e outras línguas indo-européias, escandinavas e germânicas. Porém, ele tinha suas preferências. Os sons e a aparência das palavras do finlandês e do galês instigavam sua imaginação. Essas duas línguas foram a raiz de sua criação lingüística mais complexa, as línguas élficas que aparecem em sua mitologia literária. Criadas as línguas, ele agora precisava de um mundo para elas. Acreditava que uma língua não existe por si, ela precisa de um povo que lhe dê vida; necessita de terra, de história, de cultura. Assim surgiu o mundo em que se passam os fatos relatados em O Senhor dos Anéis. No prefácio do livro, Tolkien deixa clara sua intenção ao dizer: Quis fazer isso para minha própria satisfação, e tinha alguma esperança de que outras pessoas ficassem interessadas nesse trabalho, especialmente por ser ele fruto de uma inspiração primordialmente lingüística, e por ter sido iniciado a fim de fornecer o pano de fundo histórico necessário para as línguas élficas. 1 O autor explica exaustivamente que a Terra Média, pátria da Guerra do Anel, não é, uma terra do faz-de-conta ; é nosso mundo, porém num tempo muito remoto, já perdido de nossos registros. Nesse tempo, habitam povos diferentes dos que conhecemos, sendo os principais os Elfos, os Homens, os Hobbits e os Anões. As línguas desses povos também têm história, também se desenvolveram, se mesclaram, se modificaram, até chegarem ao que são na época dos fatos narrados. Dentre essa línguas, as meninas-dos-olhos do autor são as Línguas Élficas, que tiveram como base de sua criação o finlandês e o galês. Essas línguas possuem alfabeto, vocabulário, estrutura gramatical e fonética complexas o suficiente para permitir a composição de poemas e canções bastante elaborados. Estudos Lingüísticos XXXIV, p. 1123-1127, 2005. [ 1124 / 1127 ]

Na criação de Tolkien, a história é baseada em narrativas feitas pelos Hobbits. Esse povo, segundo o autor, apesar de possuir uma origem lingüística própria, costumava adaptar-se à língua dominante do lugar onde vivia. Na Terra Média da Terceira Era, essa língua era a língua dos Homens, o Westron, utilizada por todos os povos para comunicação entre si e, por esse motivo, chamada de Língua Geral. Essa língua não possui estrutura específica, pois na obra é representada pelo inglês. Os Anões também possuíam sua língua própria, o Khuzdûl. Há além destes, outros povos com suas línguas, dialetos e variantes. Nenhuma criatura da Terra Média, por mais inusitada, é deixada de lado. A ilusão de mundo real de Tolkien tem como viés principal a ilusão lingüística. 2.2. A tradução Como dito acima, a língua dos homens é representada na obra pelo inglês. Isto se dá pelo fato de a obra ter sido concebida pelo autor como uma Tradução. Segundo Tolkien, a narrativa de O Senhor dos Anéis não é uma invenção, mas um relato, traduzido a partir de documentos escritos pelos Hobbits concentrados no Livro Vermelho do Marco Ocidental, cujo original se perdeu há muito, mas cujas cópias resistiram tempo o suficiente para permitirem a tradução para o inglês. Em todo o prefácio, o autor fala da obra como um trabalho de tradução, citando referências a registros, cópias e bibliotecas. No final da obra, o último de seus apêndices é intitulado On Translation (Apêndice F). Nele, ele explica e justifica as escolhas de sua tradução. Temos, desse modo, uma obra de dupla concepção lingüística, onde o autor percorre o caminho completo desde a criação das línguas até sua tradução. Tudo isso corroborando o profundo efeito de realidade da ilusão lingüística de Tolkien. 3. O guia Dentre suas inúmeras atividades, Tolkien também foi tradutor. Talvez por isso, conhecendo as dificuldades do trabalho, tenha imaginado que a peculiaridade lingüística de sua obra pudesse ser fonte de dificuldades para seus possíveis tradutores. Essa preocupação provavelmente ocupou a mente inquieta de Tolkien. Em sua obra, as palavras são parte do significado da história. Em grande parte, os nomes de pessoas, povos e lugares não são meros nomes próprios, eles servem também para descrever traços de personalidade e caráter, características físicas e geográficas. Neles, nada é acidental, nem mesmo a falta de um significado específico. Como esclarece o próprio autor, tudo pertence a um esquema cuidadosamente elaborado e uma falha na tradução de certos termos pode introduzir um elemento estranho à pretensa história lingüística do período da narrativa. Foi então que o autor, indo além da própria história, como numa extensão dela, criou um pequeno compêndio com explicações sobre sua criação lingüística e instruções para seus eventuais tradutores: o Guide to the Names in The Lord of the Rings. Quando esse guia foi escrito, O Senhor dos Anéis havia sido traduzido somente para o sueco e o holandês. Todavia, Tolkien imaginou que outras traduções viriam, em línguas bem distantes do inglês. Preocupação à vista. Será que esses tradutores saberiam encontrar Estudos Lingüísticos XXXIV, p. 1123-1127, 2005. [ 1125 / 1127 ]

em suas línguas de raízes tão diferentes equivalentes capazes de revelar os conteúdos intencionais dos nomes da Terra Média? O texto se inicia com uma introdução geral à nomenclatura utilizada. O autor aconselha o tradutor a seguir a teoria tradutória aplicada por ele em sua tradução do original, conforme exposto no Apêndice F do livro (On Translation). Explica também que, como, no original, o inglês é a Língua Geral, a língua alvo da tradução deve substitui-lo nessa representação. Seguem-se três listas em ordem alfabética, organizadas como glossários. A primeira com orientações sobre os nomes de pessoas e povos, a segunda, sobre os nomes de lugares, e a última sobre outros nomes gerais. Nelas, o autor explica a origem de diversos nomes e sugere as bases sobre as quais devem ser traduzidos. Dentre as sugestões oferecidas estão: 1) a tradução pelo sentido; 2) a tradução parcial; 3) a tradução com alteração de grafia na língua-alvo; 4) a adaptação da grafia; 5) a manutenção no original. Ainda na introdução do texto, ele afirma que o tradutor é livre para escolher os termos na língua-alvo que creia serem mais convenientes em termos de sentido e/ou topografia. No entanto, pode-se notar por trás dessa suposta concessão de liberdade um certo receio do autor de que seu imaginário lingüístico venha a ser corrompido. Não se pode esquecer que a invenção de línguas era a paixão primeira de Tolkien e que sua obra nasceu em torno dela. Desse modo, manter a harmonia lingüística imaginada por ele era provavelmente muito mais que uma questão tradutória; era uma questão afetiva. Alguma perda é, de fato, sempre inevitável, visto que equivalentes perfeitos são raros. Contudo, certas perdas, evitáveis na visão do autor, poderiam ser motivo de profunda frustração, pois se estaria perdendo muito mais do que somente significado lingüístico. Se perderia todo um esforço criativo por trás da palavra. Pode-se imaginar, portanto, que esse compêndio tenha sido fruto não apenas de uma atitude generosa do autor, mas também de uma tentativa de manter um certo controle sobre sua obra. Uma maneira de impedir que as traduções tomassem caminhos que ele julgava poderem levar o sentido das palavras para longe de suas intenções. Da mesma maneira que Tolkien talvez temesse a perda de sentido de seus originais, leitores de sua obra manifestam opiniões bastante diversas quanto à validade dessas traduções. O nível de aceitação e rejeição também varia de acordo com a ligação que o leitor tem com a obra e com a maneira como se deu seu contato com ela. Mesmo com a possibilidade do desejo de controle absoluto, o Guide to the Names in The Lord of the Rings é um material valioso, tanto para tradutores, como para todos os que queiram penetrar no instigante mundo lingüístico de Tolkien. Estudos Lingüísticos XXXIV, p. 1123-1127, 2005. [ 1126 / 1127 ]

Notas: 1. Tolkien, 2003: XIII (prefácio) 2. O trabalho utilizado como referência é a tradução feita por Lenita Maria Rímoli Esteves e Almiro Pisetta, publicado pela Editora Martins Fontes Referências bibliográficas CARPENTER, Humphrey. J. R. R. Tolkien: a Biography. London: Harper Collins, 1995a. (ed.). The Letters of J. R. R. Tolkien. London: Harper Collins, 1995b. KYRMSE, Ronald. Explicando Tolkien. 1.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. TOLKIEN, J. R. R. A Guide to the Names in The Lord of The Rings. In.: Lodbell, Jared (ed.) A Tolkien Compass. New York: Ballantine Books, 1980. O Senhor dos Anéis. Tradução de Lenita Maria Rímoli Esteves e Almiro Pisetta. 1.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. The Lord of the Rings. London: Harper Collins, 2002. Estudos Lingüísticos XXXIV, p. 1123-1127, 2005. [ 1127 / 1127 ]