Sessão Solene de Boas Vindas aos Candidatos e Abertura do 2.º Estágio de Agente de Execução Dia 26 de Março de 2011 Auditório 1 da Escola de Lisboa da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa José Magalhães Secretário de Estado da Justiça e da Modernização Judiciária Presidente da Câmara dos Solicitadores Caro representante da Ordem dos Advogados Presidente da Comissão Para a Eficácia da Execuções - Mestre Paula Meira Lourenço Caros Magistrados, Agentes de Execução, Advogados, Solicitadores e Oficiais de Justiça, Minhas senhoras e meus senhores, Gostaria de saudar a decisão de realizar esta Sessão Solene de Boas Vindas aos Candidatos e Abertura do 2.º Estágio de Agente de Execução e agradeço o convite para nela representar o MJ e poder usar da palavra. Faço votos, em primeiro lugar, de que o estágio que hoje se inicia possa já contar com os contributos do que se passou no 1.º. Refiro-me tanto a os contributos derivados das dificuldades inerentes à elaboração, ex novo, de um estágio com estas características, exigentes e multidisciplinares, como aos contributos decorrentes do que correu bem e por isso deve ser repetido e acarinhado. Gostaria de sublinhar o muito que já se conseguiu em cerca de um ano e sete meses, fruto da simplificação operada, que denota uma maior coordenação e capacidade de realização do que existia até então. Ninguém deve ser historiador da sua própria acção, mas ninguém é isento do dever de reflectir sobre a experiência vivida. A prática ensina-nos que há aperfeiçoamentos a fazer, um caminho a percorrer, mas temos de ter plena certeza de que as opções essenciais estão correctas e correspondem aos objectivos que nos propusemos de uma justiça mais célere e simples. E à pergunta: qual é o caminho certo? eu respondo que este é o caminho certo. Nenhuma mudança legislativa só por sí pode salvar a acção executiva. Principalmente num cenário em que o país não tem recursos disponíveis para implementar reformas profundas que implicariam um gasto público desmedido.
Assim aconteceu em 2003 com os resultados que sabemos. Não julgo que haja margem de manobra para voltar à década de 90. O caminho só tem um sentido em frente. Em frente mas não mecanicamente e menos ainda sem mudanças. Há zonas em que é de facto possível simplificar e melhorar a legislação. Depois, é indispensável melhorar a deontologia e a formação dos agentes, sempre e sempre mais Exercer bem a disciplina sempre e sempre melhor Mas concluo da experiência do feito e não feito nestes meses que as alterações substanciais a alcançar são de organização do trabalho e de comunicação electrónica entre as várias entidades envolvidas, o mais fidedigna e coordenada possível. Saliento o esforço e a cooperação que temos sentido da parte da Câmara dos Solicitadores, do Ministério das Finanças e do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social. Sem eles não nos era possível ter tudo o que se conseguiu neste período e que ofereço a julgamento de mérito, sem juízos meus: Acesso a informação sobre bens, as mais recentes, do registo predial, Citações editais electrónicas, Citações electrónicas de credores públicos, Penhoras electrónicas, Comunicações e notificações directas e electrónicas entre mandatários e agentes de execução, Operacionalização da Lista Pública de Execuções, Anúncios de venda electrónicos, Pagamentos multibanco. São já milhões de actos praticados por via electrónica, com redução de tempo e de custos para todos. Estou certo que, quer do lado do Ministério da Justiça, quer do da Câmara dos Solicitadores, todos terão consciência que Portugal é, hoje, neste âmbito, um exemplo interessante para a Europa. O mérito pelo esforço de coordenação e de realização também tem de ser estendido à Comissão para a Eficácia das Execuções e à sua Presidente. Algumas das medidas informáticas têm sido coordenadas no seio da CPEE e isso não seria possível sem a sua composição democrática envolvendo todos os stake-holders do processo executivo, que pode facilmente ser melhorada, fazendo cessar polémicas que desviam a atenção do essencial.
Também aqui o modelo de trabalho cooperativo que adoptámos merece avaliação e julgo ter méritos. A CPEE, em cerca de dois anos de actividade efectiva, já marcou o panorama da eficácia da acção executiva em Portugal, tornando-se um elemento fundamental na deontologia e disciplina dos agentes de execução, na disseminação de boas práticas e na coordenação de esforços de todos os envolvidos. Esse era o objectivo e está a ser atingido, ainda que com as dificuldades financeiras inerentes ao período que todos nós, sem excepção, temos vivido nos últimos tempos. Mas o êxito não nos deve enfeitiçar nem desvalorizar dificuldades a venver. Há muito a realizar e muito mais a mudar, tornando mais eficazes os parcos meios colocados à disposição desta entidade. Se olharmos para as estatísticas oficiais não nos podemos vangloriar ainda dos resultados. Contudo, sabemos, que os país real das execuções não é aquele que as estatísticas oficiais retratam. Por exemplo, e para que percebam o porquê desta minha afirmação, sabemos que existem hoje mais de 150.000 processos sem movimento processual registado na aplicação dos tribunais há mais de 1 ano e 3 meses. Ou seja, mais de 10% da pendência está oficialmente parada há mais de um ano e 3 meses. Mas não se pense que esses processos não têm sido movimentados. O que acontece é que, como não era obrigatório o uso da aplicação informática antes de 2009 pelos agentes de execução a informação da extinção do processo nunca foi enviada ao CITIUS e este nunca comunicou ao sistema de estatísticas o encerramento do processo. Este é um problema cuja resolução está em curso e me mereceu prioridade, porque sem números fiáveis não temos instrumentos mensuráveis para a adopção das medidas correctas. Já o disse em Julho do ano passado. Mas agora repito-o com dados que reforçam a conclusão e com uma imagem muito clara do que se pode fazer para se resolver o problema, no tempo necessário, que não será, com certeza, instantâneo, quando falamos em 7 anos de falsas pendências acumuladas. Por isso, em 17 de Fevereiro o Governo aprovou a Resolução do Conselho de Ministros n.º 17/2011, publicada em 4 de Março, que aprova as orientações e medidas prioritárias tendentes à concretização de reformas com vista ao melhoramento da eficiência operacional da justiça. Uma das medidas consideradas prioritárias na área da simplificação processual e melhoria organizativa foi a formalização de um grupo dinamizador da detecção e liquidação de processos de execução, visando em especial os que tenham carácter inviável ou cujo pagamento se encontre por registar nos sistemas informáticos.
Esta medida tornou -se possível pela publicação da Portaria n.º 1148/2010, de 4 de Novembro, que veio estabelecer procedimentos claros para evitar dois dos maiores estrangulamentos da acção executiva: A falta de impulso processual, pelo exequente, no início da acção e a Falta de informação, essencialmente estatística, que permita o registo da extinção da execução nos sistemas informáticos da Câmara dos Solicitadores e do Ministério da Justiça. Contudo, é necessário informar, em primeiro lugar, os grandes exequentes e os seus mandatários, e, não menos importante, os agentes de execução e os tribunais com maior número de execuções pendentes para que todos tenham informação uniforme. O grupo dinamizador da detecção e liquidação de processos começará a trabalhar sob esta nova fórmula nos próximos dias. Aliás, ele já existe na prática, embora numa dimensão mais reduzida. Trata-se de formalizar uma cooperação que já vem sendo desenvolvida no sentido de eliminar falsas pendências, questão técnica sem relevância política. Neste momento de austeridade, cumpre divulgar o sentido público deste grupo que irá actuar sem qualquer direito a remuneração adicional ou ao pagamento de ajudas de custo que não possam ser pagas no âmbito da entidade nele representada. Para finalizar não posso deixar de vos dizer que acreditamos nas dezenas de pessoas que connosco têm colaborado e que nos afirmam que a acção executiva melhorou visível e significativamente desde Setembro de 2009 fruto das mudanças legislativas e do investimento informático do Ministério, da Câmara e de todos os envolvidos. Reafirmo a necessidade de consolidar, robustecer e expandir o uso da informática em geral na justiça e, em particular, na acção executiva. Reafirmo a necessidade de articular, em conjunto com todos, o trabalho prático, diário, de todos, para que, paulatinamente se reponha a veracidade estatística e se tenha oficialmente um panorama real do que se passa na acção executiva e do trabalho dos agentes de execução e dos tribunais. Há hoje um vasto consenso sobre a necessidade de utilização das oportunidades facultadas pela rápida expansão das redes electrónicas e das novas tecnologias de informação e comunicação, que importa usar em larga escala para fornecer um cada vez melhor serviço público de Justiça. Há hoje um vasto consenso sobre a necessidade de eficiência operacional e de medição da produtividade real de todos os envolvidos no sistema de justiça. O investimento e o esforço humano em que continuaremos a apostar nestas duas vertentes permitiram já uma significativa redução de tempos e custos e uma poupança de recursos aos juízes, aos procuradores, aos agentes de execução, aos advogados, aos solicitadores, aos oficiais de justiça, mas, sobretudo, aos cidadãos e às empresas.
Não há boa alternativa para este caminho. Para o êxito destes objectivos é essencial a vossa colaboração, que agradeço.