CASOS CLINICOS. a) Lepra vitiligoide de lesões extensivas. b) Coexistencia de abcesso tuberculoso em doente de lepra

Documentos relacionados
CLACIFICAÇÃO DOS NERVOS NA LEPRA

A REAÇÃO DA LEPROMINA NA TUBERCULOSE

Lesão pápulo-nodular pardacenta no ângulo da mandíbula.

LEPRA CUTANEA DIFUSA

CLASSIFICAÇÃO DAS LEPRIDES (1)

ASPECTOS DE LOCALIZAÇÃO DA LEPRA TUBERCULOIDE

CONSIDERAÇÕES IMUNOLOGICAS EM TORNO DE UM CASO DE REAÇÃO LEPROTICA TUBERCULOIDE

CONSIDERAÇÕES SOBRE A PATOLOGIA DA "LEPRA INFANTIL"

página: 204 Capítulo 10: Psoríase causas lesiones básicas procura índice imprimir última página vista anterior seguinte

AREAS DE PELE INJETADAS COM LEPROMI- NA E PROTEGIDAS CONTRA LEPRIDES TUBERCULÓIDES REACIONAIS (*) A. Rotberg Medico do D.P.L. S.

Atlas de Hanseníase. Diltor Vladimir A. Opromolla Somei Ura

TESTE DE MITSUDA NA LEPRA TUBERCULÓIDE EM REAÇÃO

OS RESULTADOS DO TRATAMENTO PELO AZUL DE METILENO ENDOVENOSO

AS MACULAS ERITEMATO-PIGMENTARES

DESCAMAÇÃO PSORIASIFORME EM MÁCULAS LEPROMATOSAS, COMENTÁRIOS SÔBRE UM CASO

HANSENÍASE, TUBERCULÓIDE REACIONAL COM LESÕES VERRUCOSAS* W. P. PIMENTA **, EMÍLIA TAVARES DE MELLO ***, J. C. PRATES CAMPOS ****

III - CASUÍSTICA E MÉTODOS

UNIVERSIDADE DE CUIABÁ - UNIC PROFª. Ma. MÁRCIA SOUZA AMERICANO

TRES OBSERVAÇÕES CLINICAS (*)

A REACÇÃO LEPROTICA NA INFANCIA E NA ADOLESCENCIA

(Reações de hipersensibilidade mediadas por células ou reações de hipersensibilidade tardia- DTH, Delayed-type hypersensitivity)

Contribuição do Laboratorio ao diagnostico da Lepra. Exames de rotina

LEPRA TUBERCULOIDE DO NERVO

INFLUÊNCIA DA CALMETIZAÇÃO NA MUTAÇÃO DA LEPRA INDIFERENCIADA PARA TUBERCULÓIDE REACIONAL

SOBRE A HISTOLOGIA DA REAÇÃO DE MITSUDA EM LEPROMATOSOS

CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA ANETODERMIA EM UMA DOENTE DA LEPRA

REATIVIDADE LEPROMINICA EM INDIVIDUOS COM TUBERCULOSE CUTÂNEA PROVENIENTES DE AREA NÃO ENDÊMICA DE LEPRA*

LEPROMINO-REAÇÃO EM DOENTES E COMUNICANTES DE LEPRA NO MUNICÍPIO DE URUGUAIANA (RIO G. DO SUL)

Liquen Plano no decurso do tratamento pelo Promin

Neoplasias de células melanocíticas

Relações Ambiente Microorganismos

COMENTÁRIOS SOBRE OS RESULTADOS HISTOPATO- LOGICOS DE BIÓPSIAS PRATICADAS EM PELE APAREN- TEMENTE SÃ E DESCAMANTE, EM DOENTES DE LEPRA

LEPROMINA (*) Estudos experimentais

Manuscritos inéditos: esboço de um tratado sobre lepra ( )

CALCIFICAÇÃO DOS NERVOS NA LEPRA

SOBRE O SIGNIFICADO DA HISTOLOGIA DAS LESÕES BACTERIOLOGICAMENTE NEGATIVAS

4- RESULTADOS Avaliação Macroscópica da Bolsa Algal e Coxim Plantar. inoculados na bolsa jugal, a lesão do local de inoculação era evidente e se

CLASSIFICAÇÃO DE LEPRA MADRID, 1953 CRITÉRIO CLÍNICO

DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS. I. Pápulas Nódulos

HANSENÍASE. Prof. Natale Souza

INFLUÊNCIA DO BCG VIVO E MORTO SÔBRE A REAÇÃO DE MITSUDA (Observações preliminares) (*)

NODULOS HIPODÉRMICOS, PSEUDO- SARCÓIDICOS, DE ETIOLOGIA LEPROSA *

LESÕES INICIAIS EM CASOS COM LESÕES REACIONAIS DISSEMINADAS

V Campanha Nacional de Hanseníase, Verminoses, Tracoma e Esquistossomose em Escolares 2018

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DOS REFLEXOS NA LEPRA

Importância da V. S. no tratamento e prognostico

ENFERMAGEM DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. TUBERCULOSE Aula 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Serviço Nacional de Lepra

POSSÍVEL EMPRÊGO DA TERRAMICINA NA LEPRA

História. Descobrimento do Micobacterium leprae, por Gerhard H. Amauer Hansen

REVISTA BRASILEIRA DE LEPROLOGIA INDICE DO VOLUME XI 1943 ORIGINAIS

Coordenação do Programa de Controle de Hanseníase CCD/COVISA/SMS

Identificar e aplicar técnicas de epilação em zonas de rosto, corpo, pernas e braços.

ENFERMAGEM ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA. Parte 14. Profª. Lívia Bahia

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO CLÍNICO DA LEPRA DIMORFA *

O que é. Se não tratada na forma inicial, a doença quase sempre evolui, tornando-se transmissível.

CONSIDERAÇÕES SOBRE EXAME BACTERIOLÓGICO NA LEPRA

IMPORTANCIA DAS REAÇÕES IMUNOLÓGICAS NO EXAME DAS CRIANÇAS COMUNICANTES DE LEPROSOS

INFLUÊNCIA DA VACINAÇÃO PELO BCG. SÔBRE A LEPROMINO REAÇÃO EM PESSOAS SADIAS COMUNICANTES E NÃO COMUMICANTES DE CASOS DE LEPRA.

Vigilância Epidemiológica da Tuberculose

Tuberculose. Definição Enfermidade infecto-contagiosa evolução crônica lesões de aspecto nodular - linfonodos e pulmão Diversos animais Zoonose

RAGADAS NA LEPRA J. CORRÊA DE CARVALHO

Neste Verão opte por uma exposição solar lenta e progressiva. Use um chapéu, uma camisa ou t-shirt de cor escura e óculos quando estiver ao

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE HANSENÍASE NA CIDADE DE SOBRAL 2010

FATORES DO PARTO. TRAJETO trajeto duro - bacia óssea feminina trajeto mole OBJETO. ovóide fetal MOTOR contração uterina

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO DA SYPHILIS PELO BISMUTHO NOS DOENTES DE LEPRA

Vigilância Epidemiológica da Tuberculose

2 MATERIAL E MÉTODOS 1.1 OBJETIVOS DO TRABALHO

AS MANIFESTAÇÕES CUTANEAS AGUDAS DA LEPRA

METODOLOGIA DO EXAME CLÍNICO

NOME GÊNERO IDADE ENDEREÇO TELEFONE

ESTUDO CLÍNICO DA LEPRA DO COURO CABELUDO

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DAS LESÕES VERRUCOSAS DA LEPRA

132 REVISTA BRASILEIRA DE LEPROLOGIA

HOSPITAL PEDIÁTRICO DAVID BERNARDINO

O TESTE DE MITSUDA É REAÇÃO ALÉRGICA?

MAIS ALGUNS ASPECTOS DO COMPROMETIMENTO OCULAR NA LEPRA

Departamento de Patologia e Clínica Médicas (2. a cadeira) Diretor: Frof. contratado Dr. Romeu Diniz Lamounier

Pneumonias - Seminário. Caso 1

ESTUDOS SOBRE AS REAÇÕES TUBERCULINICAS NA LEPRA

GONORRÉIA SÍFILIS PNEUMONIA TÉTANO TUBERCULOSE FEBRE TIFÓIDE BOTULISMO MENINGITE MENINGOCÓCICA CÓLERA HANSENÍASE DIFTERIA e COQUELUCHE

Informática. Léo Matos

Tuberculose. Prof. Orlando A. Pereira Pediatria e Puericultura FCM - UNIFENAS

O exame do líquor mostrou:

Vigilância Epidemiológica da Tuberculose

Febre maculosa febre carrapato

RESULTADOS NULOS DO TRATAMENTO DA LEPRA PELO "ALFON"

ENFERMAGEM SAÚDE DA MULHER. Doenças Sexualmente Transmissíveis Parte 2. Profª. Lívia Bahia

Nervos espessados em relação com lesões cutaneas

Tuberculose na infecção pelo VIH: O contributo da imagiologia

RINONEOPLASTIA TOTAL NA LEPRA (Método Indiano)

LEPROMINO-REAÇÃO EM COLETIVIDADES INDENES DE LEPRA*

Múltiplos nódulos pulmonares, que diagnóstico?

Epidemiologia. Reservatório Modo de transmissão Contato domiciliar

PROTEINOGRAMA DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NA LEPRA LEPROMATOSA

Febre amarela 1898 Estudo comparativo entre o bacilo de Sanarelli e o cocobacilo da pneumoenterite dos porcos

CORRELAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS DA LEITURA CLÍNICA E DO EXAME HISTOPATOLÓGICO DA REAÇÃO DE MITSUDA (*)

CORRELAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS DA LEITURA CLÍNICA E DO EXAME HISTOPATOLÓGICO DA REAÇÃO DE MITSUDA (*)

Transcrição:

CASOS CLINICOS a) Lepra vitiligoide de lesões extensivas. b) Coexistencia de abcesso tuberculoso em doente de lepra NELSON SOUSA CAMPOS e A. ROTBERG Medico do S.P.L. Médico do S. Padre Bento a) Apresentamos um caso que, pela tonalidade e pela extensão dos elementos maculosos, retrata de modo particular a chamada variedade vitiligoide da lepra maculosa. A extensão das lesões é tal, que o problema é delimitar não as áreas afetadas, mas sim as zonas normalmente pigmentadas, indenes do processo leproso. A hipocromia envolveu igualmente a face, a ponto de dificultar a identificação da côr racial do individuo. Eis os dados interessantes de sua observação, feita no S. Padre Bento em Agosto de 1938. Observação: J. C. R., masculino, 27 anos lavrador, brasileiro. Ha perto de 6 anos, pequena área branca na face cubital do antebraço esquerdo, seguida de outra no abdomen. Essas máculas se estenderam lentamente e novas lesões, identicas e igualmente extensivas, se instalaram em diversos pontos do tegumento cutaneo. Não acusa manifestações subjetivas. Face e pescoço-extensa hipocromia que respeita apenas a região sub-maxilar direita e parte da frontal. Estão portanto envolvidas as faces, nariz, mento, quasi toda a fronte. No pescoço domina contudo a pele sã, estando a hipocromia representada por máculas de tamanhos varios. (Fig. 1). Tronco, faces anterior e posterior. Áreas extensas de hipocromia, de bordos finos, irregulares, formando desenhos. Ao lado dessas lesões, máculas hipocromicas numulares ou lenticulares, isoladas ou confluentes. O abdomen é relativamente respeitado. A região lombo-sacra apresenta-se notavelmente hiperpigmentada. (Fig. 2 e 3). Membros superiores-hipocromia generalizada, respeitando raras ilhotas de pele sã.

138 Membros inferiores e nadegas-máculas hipocromicas amplas, ocupando totalmente as regiões gluteas e contrastando nitidamente com a hiperpigmentação da região lombo-sacra; propagam-se para os membros inferiores, que são totalmente envolvidos até os pés, com muito raras e pequenas soluções de continuidade por pele sã. (Fig. 2 e 3). Carateres gerais das máculas Todas as lesões assinaladas apresentam-se bastante despigmentadas, aproximando-se sua tonalidade da das lesões observadas no vitiligo, sem vestigios do eritema habitual nas lesões discromicas de lepra. As lesões maculosas têm os bordos ora regulares, ora caprichosos, mas sempre bem assinalados pela transição brusca com a tonalidade da pele normal circunvizinha. Não ha hipercromia nos contornos, sendo de assinalar apenas a intensa hiperpigmentação da pele da região lombo-sacra. Dirfurbios nervosos e prova de histamina. Os disturbios da sensibilidade termo-dolorosa são evidentes em todas as máculas, com excepção das da face e palmas das mãos. A prova da histamina é incompleta, mesmo nas lesões da face, mas é positiva nas palmas das mãos. b) O caso cuja observação segue deu lugar a uma surpreza. diagnostica. Tratando-se de uma doente com lesões maculosas cujo tipo clinico se aproximava do da lepra tuberculoide, a existencia de um tumor na face interna do braço direito, logo acima da epitroclea, sugeriu a possibilidade de se tratar de uma caseose leprosa, o chamado "abcesso de nervo". O material caseoso retirado por punção, inoculado em cobaio, determinou, porém, a morte do animal com a sintomatologia completa da tuberculose, o mesmo se observando, posteriormente, pela inoculação de um triturado do mesmo ganglio. Observação V. M., 46 anos, domestica, brasileira. Não tem parentes doentes nem conviveu com doentes de lepra. Sua molestia data de 8 anos, tendo se iniciado por uma lesão eritematosa acima da região rotuliana direita, onde permaneceu conservando o mesmo aspéto, até que ha 12 meses, em Outubro 1937, outras máculas apareceram, discretas, na face e membros, negativas ao exame bacterioscopico. Em Fevereiro de 1938 as máculas tinham assumido aspéto figurado com contornos supercorados e caprichosos. Pequena formação tumoral indolor recente que deu pús cremoso á punção. Internada no Sanatorio "Padre Bento" em Março de 1938, verificou-se a existencia de máculas de aspéto figurado e de tamanhos varios nos membros superiores, inferiores, nadegas e face posterior do tronco. Os exames bacterioscopicos de material obtido por escarificação de 156 pontos da pele, foram positivos fracos (+) em 12, negativos em todos os demais. Reação tuberculinica (Pirquet) +++.

139 Reação leprominica (Mitsuda). Duvidosa. Reação tardia de 5-6mm., que resultou em cicatriz deprimida e rosea, com 4mm. aproximadamente de diametro. Histopatologia: (Mácula da coxa esquerda) Pequenas infiltrações leprosas em situarão periglandular predominante, tomando em alguns pontos aspéto de estruturas nodulares com proliferação de celulas epitelioides. Bacilos-negativos. 24/3/1938 (a) Prof. W. BUNGELER. (Ganglio epitrocleano) Tuberculose produtiva com pequena caseificação. (Fig. 4). 18/4/1938 PROVAS BACTERIOLOGICAS. (a) Prof. W. BUNGELER Pús retirado por punção do abcesso. Ao exame direto sem enriquecimento não foram encontrados germes (3 laminas) : Inoculação em cobaio, o, 5 cc na face interna da coxa direita, em 18 de Fevereiro de 1938. O cobaio morreu em 9 de Março de 1938 com emagrecimento pronunciado. No ponto da inoculação existia um pequeno abcesso contendo material caseoso, e logo acima urna cadeia de ganglios (3) o maior dos quais do tamanho de um grão de feijão. As laminas feitas com material quer do abcesso quer dos ganglios, mostraram a existencia de grande quantidade de germes acido-resistentes. Os órgãos internos nada apresentavam de anormal. Ganglios emulsionados em sôro fisiologico. (a) DR. MOACYR DE SOUSA LIMA Inoculação em dois cobaios em 30/3/1938. Um dos cobaios morreu em 12/4/1938. Autopsiado, encontrou-se uma cadeia de ganglios, demonstrando o maior a existencia de acido-resistentes (bacilos de Koch), em quantidade minima. O outro cobaio morreu em 25/7/1938. Autopsiado, encontrouse um ganglio com material caseoso que ao exame bacterioscopico foi positivo para acido-resistentes (bacilos de Koch) No pulmão e ligado foram encontradas algumas lesões com raspo, sendo negativas as preparaç5es para tais bacilos. (a) DR. MOACYR DE SOUZA LIMA

140 RESUMO Os AA. apresentam dois casos clinicos. Em um deles as lesões vitiligoides de lepra eram tão extensas que o problema era a determinação das partes sans, normalmente pigmentadas e reagindo á histamina. No outro, de forma maculosa de aspeto clinico tuberculoide, notava-se um tumor na região epitrodeana direita, lembrando a caseose leprosa, mas provas bacteriologicas de inoculação em cobaio revelaram tratar-se de um abcesso tuberculoso do ganglio epitrocleano. ABASTRACT THE AA. report two cases. In the first the vitiliginoous lesions of leprosy were so spreaded that the problem was to determine the healthy areas, normally pigmented and reacting to histamin. In the other, a macular case with clinical aspect of tuberculoid leprosy, a swelling developed in the reght epitrochear zone, simulating a nerve abcess, but bacteriology revealed to be a tuberculous abcess of the epitrorhlear ganglion.