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Comissão Nacional de Avaliação PROVA DE AFERIÇÃO (RNE) MANHÃ Prática Processual Penal (12 Valores) GRELHA DE CORREÇÃO 4 de Dezembro de 2015

Grupo I - 7,5 Valores Corre contra Aníbal e Bernardo inquérito pela prática de um furto qualificado contra Carlos, por lhe terem subtraído um relógio no valor de 6000, que estes teriam praticado na praia do Guincho, em Cascais. Aníbal está sujeito à medida de coação de prisão preventiva e Bernardo à medida de coação de obrigação de apresentação periódica semanal no posto policial da área da sua residência. No dia 3 de Julho de 2015 é proferida acusação contra ambos. Esta é entregue, nos termos legais, a Aníbal, no dia 17 de Julho de 2015, sendo depositada na caixa de correio de Bernardo, no dia 14 do mesmo mês. O Ministério Público expediu carta registada, contendo a acusação, ao Dr. Serpa Pinto, defensor de Aníbal, em 6 de Julho, e ao Dr. Paiva Couceiro, defensor de Bernardo, em 8 de Julho. Bernardo participou no crime, mas a verdade é que, logo após ambos terem começado a desenvolver os seus esforços no sentido de sub-repticiamente retirarem o relógio a Carlos, Bernardo, num rebate de consciência, começa a fazer sinais a Aníbal tentando demovê-lo de continuar a prática do furto. Não o conseguindo, afastou-se, tentou alertar a vítima e chamou a Polícia, primeiro por telemóvel e de seguida correndo atrás de um agente que viu passar de bicicleta. Apesar dos seus esforços o furto foi consumado. a) Até quando pode Aníbal requerer a abertura de instrução? (3,5V) - Indicação genérica do modo de contagem dos prazos em processo penal, com referência ao art. 104º, nº 1 do CPP, com remissão para os arts. 138º e 139º do CPC e explicação do seu conteúdo, com indicação dos prazos serem contínuos.(0,25v) - Referência ao art. 104º, nº 2 do CPP e à circunstância de um dos arguidos estar sujeito à medida de coação de prisão preventiva (art. 202º, nº 1, al. d) do CPP), o que determina a aplicação da al. a) do nº 2 do art. 103 do CPP, por contraposição ao seu nº 1. (0,25v) - Indicação de que por essa razão o prazo não se suspende durante o período de férias judiciais a que se reporta o art.28º da LOSJ. (0,25v) - Referência à data a partir da qual o prazo começa a correr, com menção ao art. 279, al. b) do CC (0,25v) - Menção expressa ao modo de realização das notificações, com indicação das suas implicações quanto ao momento em que a notificação se presume/considera efetuada, por via postal registada, via postal simples e no caso especial de pessoa que se encontrar presa, e referência expressa às normas das als. b) e c) do nº 1 e dos nºs 2 e 3 do art. 113º, do nº 1 do art. 114º e do nº 6 do art. 283º do CPP.(0,25v) - Indicação da aplicação do nºs 10, por se tratar de notificação da acusação, e 13º do art. 113º do CPP, este último por remissão expressa do art. 287º, nº 6 do CPP. (0,25v) - Indicação das situações previstas nos arts. 107º, nº 5 e 107º-A do CPP e referência à hipótese de justo impedimento, prevista nos nºs 2 a 4 do art. 107º do CPP. (0,25v) - Indicação do prazo de 20 dias, com indicação da al. a) do nº 1 do art. 287º, do CPP. (0,25v) 2

- Indicação de que Aníbal se considera notificado a 17 de Julho de 2015 e Bernardo a 19 de Julho de 2015; indicação de que o Dr. Serpa Pinto se presume notificado a 9 de Julho de 2015 e o Dr. Paiva Couceiro a 13 de Julho de 2015. (0,25v) - Indicação de que a contagem do prazo se inicia a 20 de Julho de 2015 (por força dos arts. 113º, nºs 10 e 13, 104º, nº 2 e 103, nº 2, al. a) do CPP e 279º, al. b) do CC), pelo que o prazo terminará a 10 de Agosto de 2015 por o vigésimo dia não ser dia útil, ou a 13 de Agosto com multa. (1,25v) Nota: Verificou-se agora e em função da grelha de correção do teste de Pratica Processual Penal, que na questão a) do grupo I se referiu Anibal quando se pretendia referir Bernardo. Como a questão seguinte (b) é sequência do perguntado em a) e referindo-se esta questão a Anibal não podem ser prejudicados os Senhores Advogados Estagiários que fizeram o requerimento de abertura de instrução em nome de Anibal. Assim devem ser considerados, para efeitos de valoração, os requerimentos quer tenham sido feitos em nome de Anibal quer em nome de Bernardo ou mesmo em nome dos dois. Manuel Henriques 05/01/2016 b) Elabore o requerimento de abertura de instrução (4V). - Cabeçalho/Endereço: indicação do juiz de instrução criminal da 2ª secção de instrução criminal da comarca de Lisboa Oeste (0,25v); - Identificação dos autos (0,1v) - Introito: identificação do arguido, com eventual remissão para os autos e indicação do propósito da peça processual. Referência ao art. 287º, nsº 1, al. a) e 2 do CPP (0,25v); - Corpo do Requerimento (2,4v): a) Exposição das razões de discordância relativamente à acusação, referindo não ter o Ministério Público tomado em consideração a inexistência de indícios da prática de crime, nomeadamente tendo em conta os meios de prova constantes do inquérito, desde logo a existência, nesse sentido, de concordância entre as declarações do arguido e o depoimento do ofendido. (0,8v) b) Indicação e relato da factualidade (designadamente a suspensão da prática do furto e as tentativas no sentido de que o crime se não consumasse, incluindo o esforço no sentido da intervenção da Polícia) que afasta a verificação da prática do crime pelo arguido, indicando a existência de meios de prova que corroboram os seus argumentos, nomeadamente de pessoas que assistiram aos factos e do registo das chamadas do telemóvel. (0,8v) c) Indicação das razões de Direito que fundamentam o Requerimento, referindo, nomeadamente, a verificação de uma situação de desistência válida e relevante em caso de comparticipação, devendo ser 3

mencionado o art. 25º do CP, o que devia ter levado o MP a, em sede de Inquérito, ter proferido um despacho de arquivamento, nos termos do art. 277º, nº 1, por existência de indícios de o arguido não ter praticado o crime. (0,8v) - Requerimento probatório (0,7v): a) Indicação de prova documental (0,1v); b) Indicação de prova testemunhal (que não tenha sido inquirida no inquérito ou cujo depoimento no inquérito não tenha observado as formalidades legais ou se revele agora indispensável às finalidades da instrução), com indicação dos factos sobre cuja prova as testemunhas devem prestar depoimento, razão de ciência, e respetiva morada para notificação (0,3v); c) Pedido de interrogatório do próprio arguido, com eventual indicação dos factos sobre os quais entende dever incidir o interrogatório, com referência expressa ao art. 292º, nº 2 do CPP. (0,3v) - Pedido: formulação do pedido, requerendo a abertura da instrução, a realização das diligências probatórias solicitadas e subsequente prolação de despacho de não pronúncia. (0,2v) - Juntada: Duplicados legais, procuração forense (se não tivesse sido junta anteriormente) e documentos probatórios. (0,1v) Grupo II - 4,5 Valores Identifique os vícios do processo, incluindo mesmo eventuais proibições de prova, e indique até quando poderão ser conhecidos. (4,5V) = (0,9+2,1+1,5) 1-Corre inquérito pela prática, no Estoril, por Olga, cidadã ucraniana, de diversas burlas qualificadas, sendo que o valor máximo de cada uma delas não superava 20.000. Após ter sido descoberto o seu paradeiro, o Ministério Público, depois de inquirir várias testemunhas que a identificaram como autora dos crimes, considera não ser conveniente ouvi-la durante o inquérito, na medida em que isso poderia pôr em causa as investigações. (0,9V) Estando a correr inquérito contra pessoa determinada, relativamente à qual haja suspeita fundada da prática de crime, é obrigatório interrogá-la como arguido (arts. 272º, nº 1 e 58º, nº 1, al. a) do CPP). A omissão desse ato constitui uma nulidade (art. 118º, nº 1 do CPP), dependente de arguição, porquanto configura uma insuficiência do inquérito, por não ter sido praticado ato legalmente obrigatório (art. 120, nº 2, al d) do CPP). A referida nulidade ficará sanada, além dos casos previstos nas als. a) e b) do nº 1 do art. 121º do CPP, também pelo decurso do tempo, nos termos previstos na al. c) do nº 3 do art. 120º do CPP, pelo que deverá ser arguida, o mais tardar, até 5 dias após a notificação do despacho que declarar encerrado o inquérito ou, havendo instrução, até o termo do debate instrutório. (0,9v) 4

2-Tendo sido proferida acusação, decide então Olga requerer a abertura de instrução, solicitando ser interrogada pelo Juiz de Instrução. Durante o interrogatório o Juiz de Instrução repara que Olga entende muito mal a língua portuguesa. Perante tal situação, o Juiz, que costumava passar as férias no Mar Negro, decide fazer, ele mesmo, as traduções durante o interrogatório da arguida, o qual se prolongará, sem qualquer interrupção, por quatro horas e meia. O defensor esteve sempre presente no interrogatório. (2,1V) - Não dominando a arguida a língua portuguesa, o Juiz decide, ele próprio, fazer a tradução. Trata-se, porém, de uma situação em que era obrigatória a nomeação de intérprete, pois quando houver de intervir no processo pessoa que não conhecer ou não dominar a língua portuguesa, é nomeado, sem encargo para ela, intérprete idóneo, ainda que a entidade que preside ao ato, ou qualquer dos participantes processuais, conheça a língua por aquela utilizada (art. 92º, nº 2 do CPP). Como tal, a falta de nomeação de intérprete constitui uma nulidade dependente de arguição (art. 120, nº 2 al. c) do CPP), a qual, além das situações a que se reporta 121º, nº 1 do CPP, ficará sanada se não for arguida até que o ato esteja terminado (art. 120, nº 3, al. c) do CPP). (0,7v) - O interrogatório de Olga prolongou-se por quatro horas e meia sem qualquer interrupção. Tal circunstância constitui, na parte em que excede as quatro horas de interrogatório ininterrupto, uma proibição de prova quanto às declarações da arguida, as quais, nessa parte, não poderão ser objeto de valoração. Com efeito, nos termos dos nºs 4 e 5 do art. 103º do CPP, são nulas, não podendo ser utilizadas como prova, as declarações prestadas para além dos limites previstos nos nºs 3 e 4 do art. 103º do CPP, nomeadamente a duração máxima de quatro horas, sem interrupção. A ratio da lei é a de que a prova obtida mediante interrogatórios prolongados e ininterruptos perturba a capacidade de memória ou de avaliação do arguido e por isso é irrelevante o consentimento do arguido (art. 126º, nº 2, al. b) do CPP). Trata-se de uma proibição de utilização, que, como tal, até na medida em que se não enquadra no âmbito do nº 3 do art. 126º do CPP, não carece de qualquer arguição, não sendo eficaz o consentimento do arguido para afastar a proibição de prova. Desse modo, as declarações da arguida não poderão, nessa parte, ser valoradas, seja para que efeito ou fase do processo for, e mesmo que se encontrem preenchidos todos os requisitos previstos no art. 357º, nº 1 al, b) do CPP. Acresce que, nos termos do art. 449, nº 1, al. e) do CPP se se descobrir que tal prova serviu de fundamento à condenação, pode constituir fundamento para a admissibilidade do recurso extraordinário de revisão, portanto já depois do trânsito em julgado da decisão condenatória. (1,4v) 5

3-Terminada a instrução, o Juiz de Instrução pronuncia Olga pela prática dos crimes constantes da acusação, embora por ter sido revelado durante a instrução que o valor de uma das burlas atingia 35.000, o Juiz tenha tomado em consideração esse valor para efeitos da decisão instrutória, pronunciando-a também pela prática dessa concreta burla no referido valor de 35.000. (1,5V) O objeto da instrução é definido pela acusação e/ou pelo requerimento de abertura de instrução apresentado pelo assistente (arts. 283º, 286º e 287º, nºs 1, al. b) e 2 do CPP). Verifica-se, porém, que se revelaram durante a instrução (sem que tal constasse da acusação e a instrução foi apenas requerida pela arguida) indícios de que uma das burlas tinha o valor de 35.000. Trata-se de uma alteração substancial dos factos (art. 1º, al. f) do CPP), pois a consideração do valor de 35.000 tem por efeito a agravação dos limites máximos das sanções aplicáveis (uma vez que a factualidade constante da acusação, se integrava no art. 218º, nº 1 do CP e considerando-se o valor de 35.000 passava a integrar-se também no art. 218º, nº 2, al. a) do CP, por via do art. 202, al. b) do CP). Nos termos do art. 303º, nº 3 do CPP, uma alteração substancial dos factos descritos na acusação não pode ser tomada em conta pelo tribunal para efeitos de pronúncia no processo em curso, nem implica a extinção da instância (art. 303º, nº 3 do CPP). Acresce que não se trata de factos autonomizáveis (art. 303º, nº 4 do CPP). Ao pronunciar a arguida nos supra descritos termos, a decisão instrutória é nula nessa parte. Dispõe o art. 309º, nº 1 do CPP que a decisão instrutória é nula na parte que pronunciar o arguido por factos que constituam alteração substancial dos descritos na acusação do Ministério Público ou do assistente ou no requerimento para abertura de instrução. Essa nulidade é, nos termos do art. 120º, nº 1 do CPP, dependente de arguição. Como tal, e além das situações a que se refere o nº 1 do art. 121º do CPP, ficará sanada pelo decurso do tempo, devendo, pois, ser arguida no prazo de oito dias contados da notificação da decisão (art. 309º, nº 2 do CPP). (1,5v) 6