Pilares de Betão Armado Reforçados com Laminados de Fibras de Carbono

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Transcrição:

Pilares de Betão Armado Reforçados com Laminados de Fibras de Carbono Débora R. S. M. Ferreira (1); Joaquim O. Barros (2), Paulo B. Lourenço (3) (1) Assistente de 2º triénio, Departamento de Mecânica Aplicada Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Instituto Politécnico de Bragança Campus de Santa Apolónia Apartado 134 5301-857 Bragança, Portugal email: debora@ipb.pt (2), (3) Professor Doutor Dep. de Eng. Civil, Escola de Eng., Universidade do Minho Campus de Azurém, Guimarães, Portugal (2) email: barros@eng.uminho.pt,(3) email: pbl@eng.uminho.pt RESUMO Um número elevado de edifícios de betão armado construídos até ao início da década de 80 foram projectados sem atender ao efeito das acções horizontais. Por este motivo, a ocorrência de acções sísmicas poderá introduzir nessas estruturas danos de intensidade elevada. Os pilares são os elementos que merecem especial atenção, dado que o seu colapso conduz, geralmente, à rotura global da estrutura. Com o objectivo de desenvolver técnicas que permitam reforçar pilares, de maneira mais eficaz e mais económica que as técnicas convencionais, foi elaborado um conjunto de ensaios cíclicos envolvendo a aplicação de laminados de fibras de carbono no reforço à flexão dos referidos elementos estruturais. O reforço é constituído por laminados de fibras de carbono com 9.5Χ1.5 mm 2 de secção transversal embutidos no betão de recobrimento dos elementos de pilar por intermédio da utilização de materiais epóxidos. Foram reforçados e ensaiados elementos de pilar intactos e outros pré-danificados. Os resultados são apresentados e discutidos. 1 Introdução Na última década os convencionais sistemas de reforço para pilares têm vindo a ser substituídos por materiais compósitos de fibras de carbono e de vidro, dado o elevado valor dos factores resistência/peso e rigidez/peso, sua elevada resistência à corrosão e sua maior leveza, durabilidade e facilidade de aplicação, Nanni (1993). No presente trabalho é proposto um sistema de reforço para pilares com modos de rotura por flexão, por aplicação de tiras de laminados de fibras de carbono, com secção transversal 9.5Χ1.5 mm 2. As séries de ensaios cíclicos efectuados são constituídas por três conjuntos de dois pilares armados com varões longitudinais de 10, 12 e 16 mm de diâmetro, ver Figura 1. A série E2 é constituída por elementos de pilar reforçados antes de serem ensaiados e a série E3 é constituída pelos elementos não reforçados que tinham sido ensaiados na série E1, e que, após o seu reforço com os referidos laminados, voltaram a ser ensaiados. 43º Congresso Brasileiro do Concreto 1

Armadura Longitudinal Ø l =10mm Ø =12mm l Ø =16mm l E1_P nmsr Provetes sem reforço E2_P PR nm E3_P CR Provetes previamente Provetes de E1 reforçados reforçados nm Figura 1 Séries de ensaios cíclicos. Aos elementos da série E2 atribuiu-se a designação P nm PR em que n representa o diâmetro, em mm, da armadura longitudinal (10, 12 e 16) e m pode ser a ou b (dado existirem dois elementos por cada percentagem de armadura longitudinal). O símbolo PR significa tratar-se de um elemento Pré-Reforçado. De forma similar aos elementos de pilar da série E3 atribuiu-se a designação P nm CR em que CR significa tratar-se de um pilar ensaiado sem reforço, e que, após a aplicação do reforço, voltou a ser ensaiado. Aos elementos de pilar da série E1 atribuiu-se a designação de P nm SR em que SR designa Sem Reforço. 2 Reforço dos elementos de pilar 2.1 Sistema de ensaio e equipamento Na Figura 2 apresenta-se o esquema do sistema de ensaio. O provete constituído pelo pilar ligado monoliticamente à sapata é fixado ao bloco de fundação por intermédio de 4 varões roscados. O actuador de tracção/compressão que aplica a força horizontal tem capacidade máxima de carga de 100 kn. Na extremidade do pistão deste actuador foi fixada uma célula de carga de tracção/compressão de 250 kn de capacidade máxima de carga, com 0.05% de precisão, ver Figura 3. Entre a célula e a cabeça do pilar foi aplicado um sistema de rótula espacial, de forma a manter o ponto de aplicação da carga e evitar a introdução de esforços não desejados no actuador, ver Figura 3. Uma força de compressão aproximadamente constante de 150 kn foi aplicada ao elemento de pilar por intermédio de um actuador de 250 kn de capacidade máxima de carga, fixado ao bloco de fundação por meio de dois cabos diwidag, ver Figura 4. Esta força foi medida por intermédio de uma célula de carga de 500 kn de capacidade máxima de carga e 0.7% de precisão, introduzindo uma tensão de compressão no pilar de 3.75 MPa, Barros et al.(2000-a). Para medir a deformabilidade do elemento de pilar foram dispostos transdutores de deslocamento de acordo com o esquema representado na Figura 5. Nesta figura também se assinala a posição dos extensómetros, aplicados nos laminados de fibras de carbono para medirem o estado de extensão. A Figura 6 inclui uma foto do sistema de ensaio. O carregamento é controlado por um transdutor de deslocamentos de 50 mm de campo, com 0.05% de precisão, aplicado ao nível do actuador que introduz a força horizontal no elemento de pilar (LVDT1, ver Figuras 5 e 6). A velocidade de deformação foi próxima de 9 mm por minuto. O ensaio foi controlado por um equipamento que tem vindo a ser desenvolvido nos últimos anos, Freitas et al. (1998). 43º Congresso Brasileiro do Concreto 2

actuador de compressão HEB200 1000mm célula de carga2 175mm actuador de tracção/compressão HEB200 pilar com 200x200 mm2 célula de carga1 45mm 175mm 300mm LVDT de controlo 700mm HEB200 Figura 3 Sistema rotulado aplicado entre o actuador e a cabeça do provete. 300mm fundação do pilar 100mm 1000mm 600mm varões Diwidag bloco de fundação 100mm 1000mm Figura 2 Esquema do ensaio. Figura 4 Sistema de fixação do actuador que aplica a força de compressão no pilar. ed Ve Vd Fv=150kN Lado do actuador Fh laminados de fibras de carbono LVDT1 +- 25mm 3552 LVDT2 + - 25mm 3468 LVDT3 +- 25mm 175mm ext.3 ext.2 ext.1 sapata LVDT7 + - 12.5mm 20mm 150mm 150mm 3558 LVDT4 + - 12.5mm 2987 LVDT5 +- 12.5mm 2990 20mm LVDT6 + - 2.5mm 150mm 100mm sapata 150mm ext.5 ext.6 ext.4 extensómetros 3 extensómetros sapata bloco de fundação Figura 5 Transdutores de deslocamentos e extensómetros aplicados. Figura 6 Sistema de ensaio. Simulações numéricas preliminares, Cruz (1998), relativas ao comportamento dos pilares indicaram que no momento da cedência das armaduras longitudinais a flecha da cabeça do pilar deveria ser da ordem dos 5 mm, pelo que o carregamento cíclico aplicado nos ensaios experimentais é o representado na Figura 7. Assim, o deslocamento máximo no transdutor de controlo do ensaio foi próximo de 5 vezes o deslocamento correspondente ao início da cedência do aço, por forma a introduzir significativos danos no betão da zona da rótula plástica. 43º Congresso Brasileiro do Concreto 3

u(mm) 3 ciclos 20 17.5 15 12.5 10 7.5 5.0 2.5-2.5-5.0-7.5-10 -12.5-15 -17.5-20 patamar rampa Figura 7 Ciclos de carga aplicados nos ensaios. tempo última rampa 2.2 Materiais 2.2.1 Betão Dado que um dos objectivos principais do presente projecto de investigação é desenvolver e analisar sistemas de reforço, técnica e economicamente vantajosos para reforço de pilares de edifícios construídos nas décadas de 60 e 70, o betão dos provetes a ensaiar deve ser, o mais possível, semelhante ao empregue naquelas estruturas. Nessas décadas o betão utilizado na construção de edifícios era, geralmente, de classe B15 e B20 (15 e 20 MPa de resistência à compressão, respectivamente). O betão destas estruturas que não sofreu danos consideráveis poderá ter actualmente uma resistência substancialmente superior à sua resistência na altura da construção. Contudo, é provável que o betão destas estruturas apresente algum grau de deterioração, pelo que no presente projecto se optou por um betão com resistência à compressão próxima dos 16 MPa aos 28 dias (C12/20), com a composição apresentada na Tabela 1. Tabela 1 Composição do betão dos elementos de pilar/sapata (kg/m 3 ) Cimento Secil 32.5 II Brita 5-15 Areia (0-5) Água 250.0 1196.5 797.5 151.5 A resistência à compressão foi aferida aos 28 dias e à data dos ensaios dos elementos de pilar, por intermédio de ensaios de compressão uniaxial sobre dois provetes cilíndricos de 150 mm de diâmetro e 300 mm de altura. Em cada amassadura foram também preparados dois provetes prismáticos com dimensões de 850 100 100 mm 3 para avaliar a resistência à tracção em flexão e o comportamento após fendilhação do betão. Na Tabela 2 incluem-se os resultados obtidos aos 28 dias. Tabela 2 Resistência do betão à compressão e à tracção em flexão, aos 28 dias Compressão Média = 16.66 MPa Desvio padrão =3.31 MPa Coeficiente de variação = 0.20 Flexão Média = 2.62 MPa Desvio padrão =0.48 MPa Coeficiente de variação = 0.18 2.2.2 Armaduras convencionais Os elementos de pilar foram armados com varões de aço com propriedades mecânicas e geométricas semelhantes às dos varões utilizados nas décadas de 60 43º Congresso Brasileiro do Concreto 4

e 70 (Aço A24). Os varões utilizados nos elementos de pilar foram ensaiados numa prensa servo-controlada da marca Instron série 4400, seguindo as recomendações da norma NP EN 10002. Os resultados incluídos na Tabela 3 são a média dos obtidos com três provetes. Diâmetro do varão (mm) Tabela 3 Propriedades armaduras convencionais à tracção uniaxial f sy f su ε su E s (GPa) (MPa) (MPa) (mm/mm) 6 352.4 352.8 0.23 203.7 10 323.3 456.5 0.17 217.0 12 364.8 518.8 0.20 229.7 16 361.6 475.0 0.13 226.9 2.2.3 Laminados de fibras de carbono As tiras de laminado de fibras de carbono aplicadas no reforço dos pilares foram cedidas pela empresa S&P. Segundo o fabricante, este material compósito desenvolve um módulo de elasticidade da ordem dos 150 GPa e uma resistência à tracção próxima dos 1500 MPa, S&P (1998). Os valores das propriedades do material fornecido foram determinados por intermédio de ensaios de tracção uniaxial em provetes de 231 mm de comprimento, efectuados em prensa servo-controlada da marca Instron, série 4208. O módulo de elasticidade foi determinado por intermédio de um extensómetro (clip-gauge) fixado na parte central do provete, com um campo de leitura de 50 mm. O ensaio foi efectuado com uma velocidade de 1 mm por minuto. Os resultados obtidos estão incluídos na Tabela 4. Constata-se que o módulo de elasticidade e a tensão máxima são ligeiramente superiores aos valores indicados pelo fabricante. Carga máxima (kn) Tabela 4 Propriedades das tiras de laminado de fibras de carbono Tensão máxima (MPa) Extensão à tensão máxima (mm/mm) Tensão mínima de cedência (MPa) Módulo de elasticidade * (GPa) Módulo de elasticidade (GPa) 22.74 1596 0.0265 1460 150.4 160.9 22.19 1550 0.0261 1424 145.9 156.5 * Módulo de elasticidade obtido entre dois pontos escolhidos previamente. 2.2.4 Argamassa epóxida A resistência à compressão e à tracção em flexão da argamassa epóxida, utilizada na fixação dos laminados ao betão do elemento de pilar, foi avaliada efectuando ensaios de flexão e de compressão em provetes prismáticos com dimensões 160x40x40 mm 3, às 48h e aos 28 dias, tendo-se seguido as recomendações da norma NPEN 196-1 de 1990, Método de ensaio de cimentos determinação das resistências mecânicas. Os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 5. Tabela 5 Resistência à compressão e à tracção em flexão em provetes de argamassa epóxida. Resistência à compressão Resistência à tracção em flexão Às 48 horas Aos 28 dias Às 48 horas Aos 28 dias Média (MPa) 43.75 51.71 33.93 35.40 Desvio padrão (MPa) 2.14 0.47 0.57 1.70 Coef. Variação (%) 4.90 0.90 1.70 4.70 43º Congresso Brasileiro do Concreto 5

As propriedades de aderência da argamassa epóxida ao betão foi ainda avaliada colando as duas partes de provetes de 850 100 100 mm 3, com um entalhe a meio vão de 25 mm de altura e 5 mm espessura, ensaiados previamente para caracterizar o comportamento à tracção em flexão do betão dos pilares ensaiados. Após colados, os provetes voltaram a ser ensaiados, ver Figura 8, tendo-se obtido os resultados apresentados na Tabela 6, Barros et al. (2000-b). A idade da argamassa epóxida à data dos ensaios era de 12 dias. Da análise dos resultados obtidos constata-se um aumento da resistência à tracção em flexão após a colagem dos provetes com a argamassa epóxida. A superfície de fractura desenvolve-se no betão, próximo da interface com a argamassa epóxida, ver Figura 9. Contudo, esta superfície tem agora maior desenvolvimento, justificando o aumento da resistência à tracção em flexão. Figura 8 Ensaio de flexão dos provetes prismáticos colados com argamassa epóxida Figura 9 Zona fractura. Tabela 6 Resistência à tracção em flexão nos provetes colados com a argamassa epóxida. Provete Resistência à tracção em flexão (MPa) Aos 28 dias À data dos ensaios dos pilares Prismas colados P10aSR 2.19 2.96 (92 dias) 4.87 (121dias) P12bSR 2.34 3.25 (92 dias) 4.43 (114 dias) P12bPR 2.81 3.80 (84 dias) 4.30 (93 dias) Pilar* 3.61 NQ 5.16 (86 dias) * pilar não ensaiado; NQ não quantificado. Para determinar o módulo de elasticidade e a energia de fractura da argamassa epóxida foram efectuados ensaios de tracção em flexão. Para tal, prepararam-se cinco provetes prismáticos com dimensões de 160 40 40 mm 3. A meio vão do provete, na parte inferior fez-se um entalhe de 5 mm de largura por 20 mm de altura, em toda a largura do provete, ver Figura 10. O ensaio foi efectuado com controlo de deslocamentos e a idade dos provetes era de cinco dias. As Figura 11 a 13 ilustram as fases do ensaio da argamassa epóxida, Ferreira (2000). 43º Congresso Brasileiro do Concreto 6

Figura 10 Provete de argamassa epóxida. Figura 11 Ensaio de flexão. Zona de fractura Zona do entalhe Figura 12 Zona de fractura Figura 13 Aspecto final do provete ensaiado A relação típica tensão-flecha registada nos provetes de argamassa epóxida está representada na Figura 14. A energia de fractura média e o módulo de elasticidade médio dos cinco provetes ensaiados foi de G f =1530 Nm/ m 2 e de E 5.0 Gpa, respectivamente. 20 18 16 14 Tensão (MPa) 12 10 8 6 4 2 0 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 Flecha (mm) Figura 14 Relação típica tensão-flecha dos provetes de argamassa epóxida. 2.3 Procedimentos de reforço A técnica de reforço adoptada nas séries de elementos de pilar ensaiados no âmbito do presente trabalho, julgada apropriada para pilares com rotura por flexão, está representada nas Figuras 15 e 16. O reforço é basicamente constituído por três laminados de fibras de carbono introduzidos em ranhuras efectuadas no betão de 43º Congresso Brasileiro do Concreto 7

recobrimento. Os laminados são fixados ao betão por intermédio de uma epóxi introduzida nessas ranhuras. 50mm Ø l A ranhuras de 5x15 mm2 A' 50mm A 50mm laminados A' de fibras de carbono 50mm 20mm 20mm Ø t @12xØ l faces solicitadas 100-150 mm betão de recobrimento substituído por argamassa epóxida sapata perfuração de 100-150 mm de profundidade na sapata para fixação dos laminados de fibras de carbono Figura 15 Secção transversal dos elementos de pilar. Figura 16 Reforço dos elementos de pilar. O betão de recobrimento do elemento de pilar, na zona da rótula plástica, foi removido, ver Figura 16. Em seguida foram efectuadas ranhuras de 5 mm de largura por 15 mm de profundidade em toda a altura do pilar, para alojamento das tiras de laminado de fibras de carbono, ver Figura 17. Na sapata, no alinhamento das ranhuras, foram efectuadas perfurações com aproximadamente 100 mm de comprimento, de forma a fixar os laminados à sapata, ver Figura 18. Antes de serem aplicados os laminados, as ranhuras e os furos foram limpos, utilizando-se escovas de aço e ar comprimido, ver Figura 19. As ranhuras foram preenchidas com um composto constituído por duas partes de resina epóxida e uma de endurecedor, sendo as tiras de laminado inseridas de seguida, ver Figura 20. Por fim, a zona da rótula plástica e as perfurações na sapata foram preenchidas com uma argamassa epóxida constituída por uma parte (em peso) de um composto epóxido e três partes (em peso) de areia fina previamente lavada e seca, ver Figura 21, Barros et al. (2000-b). O composto epóxido era constituído por duas partes de resina epóxida e uma parte de endurecedor. Figura 17 - Abertura das ranhuras. Figura 18 Abertura dos buracos de fixação dos laminados à sapata. Figura 19 Limpeza dos buracos de fixação dos laminados à sapata. 43º Congresso Brasileiro do Concreto 8

Figura 20 - Fixação dos laminados a um elemento de pilar. Figura 21 - Aplicação da argamassa epóxida nos buracos de fixação dos laminados à sapata. 3 Apresentação e discussão dos resultados 3.1 Relação entre a força horizontal e os deslocamentos A força máxima de compressão e de tracção nos ensaios efectuados encontra-se nas Tabelas 7 e 8. Nestas tabelas a idade dos elementos de pilar encontra-se entre parêntesis. Quando o actuador avança no sentido ed (ver Figura 5) a célula de carga regista uma força de compressão, e a face do elemento de pilar, virada para o actuador, fica traccionada. O conceito de força de tracção depreende-se por analogia com a anterior definição. Tabela 7 Forças máximas (kn) registadas nos ensaios da série E2. Série E2 P10aPR P10bPR P12aPR P12bPR P16aPR P16bPR (111 dias) (113 dias) (110 dias) (115 dias) (136 dias) (113 dias) Tracção 37.14 40.63 44.13 39.81 43.45 43.29 Compressão -38.54-37.96-43.66-36.64-39.88-40.38 Tracção Compressão * d=dias Tabela 8 Forças máximas (kn) registadas nos ensaios das séries E1 e E3. Pilar diâmetro P10a φ10 P10b φ10 P12a φ12 P12b φ12 P16a φ16 P16b φ16 E1 (kn) 16.67 (86d*) 21.78 (85d) 26.35 (85d) 29.31 (85d) 30.52 (82d) 35.23 (79d) E3 (kn) 37.96 (146d) 41.38 (130d) 34.11 (150d) 45.54 (154d) 23.13 (155d) 29.97 (13d) Variação(%) 127.7 89.99 29.45 55.37-24.41-14.93 E1 (kn) -19.76-24.07-30.52-32.27-27.29-35.09 (86d) (85d) (85d) (85d) (82d) (79d) E3 (kn) -34.11-43.1-37.03-41.58-28.25-31.53 (146d) (130d) (150d) (154d) (152d) (79d) Variação(%) 72.62 79.06 21.33 28.85 3.52-10.15 Na série E2, excepto nos pilares armados com varões φ16, registou-se um aumento significativo na força máxima de tracção e de compressão. Este aumento é maior nos pilares reforçados com menor percentagem de armadura convencional. O decréscimo da capacidade de carga ocorrido nos pilares P16aCR e P16bCR é analisado na secção 3. Se os valores registados nos pilares da série E1, pilares não reforçados, forem tomados como base de referência, verifica-se um aumento 43º Congresso Brasileiro do Concreto 9

significativo da capacidade de carga nos pilares da série E2. O aumento é também mais significativo nos pilares com menor percentagem de armadura convencional. Se não se considerarem os pilares P16aCR e P16bCR verifica-se que o aumento proporcionado pelo reforço dos laminados é aproximadamente igual para o caso dos pilares pré-reforçados (série E2) e pós-reforçados (série E3). A título de exemplo, apresenta-se nas Figuras 22 e 23 a relação entre a força horizontal e o deslocamento de controlo do ensaio (LVDT1 ver Figura 5) referente aos pilares armados com φ10 e φ12, com e sem reforço dos laminados. F h(kn) 20 15 F h(kn) 40 30 P10aSR 10 P10aCR 20 5 10 0-25 -20-15 -10-5 0 5 10 15 20 25-5 u LVDT1(mm) -10-15 -20 0-25 -20-15 -10-5 0 5 10 15 20 25-10 u LVDT1(mm) -20 Figura 22 Relação entre a força horizontal e o deslocamento de controlo nos elementos de pilar P10aSR (a) e P10aCR (b). P12bSR F h(kn) 35 25 15 5-20 -15-10 -5-5 0 5 10 15 20-15 -25-35 (a) u LVDT1(mm) (a) P12bCR -30-40 48 40 32 24 16 8 0-24 -18-12 -6-8 0 6 12 18 24 Figura 23 Relação entre a força horizontal e o deslocamento de controlo nos elementos de pilar P12bSR (a) e P12bCR (b). F h(kn) -16-24 -32-40 -48 (b) u LVDT1(mm) (b) A relação entre os valores máximos das forças alcançadas nos ciclos de carga e os respectivos deslocamentos registados no transdutor de controlo nos elementos de pilar P10aSR e P10aCR, está representada na Figura 24 e a mesma relação para os elementos de pilar P12bSR e P12bCR está ilustrada na Figura 25. Nos pilares φ10 o aumento proporcionado pelo reforço manifesta-se antes da cedência da armadura, enquanto nos pilares φ12 o aumento só é significativo após a cedência das armaduras. Legenda: P10aSR P10aCR F h(kn) -25-15 -5-5 5 15 35 25 15 5-15 -25 u LVDT1(mm) Legenda: P12bSR P12bCR F h(kn) 45 35 25 15 5-25 -15-5 -5 5 15 25-15 -25 u LVDT1(mm) -35 Figura 24 Relação entre a força máxima e o deslocamento nos carregamentos cíclicos do elemento de pilar P10a. -35-45 Figura 25 Relação entre a força máxima e o deslocamento nos carregamentos cíclicos do elemento de pilar P12b. 43º Congresso Brasileiro do Concreto 10

3.2 Relação entre a força horizontal e a extensão Em praticamente todos os ensaios, alguns dos laminados alcançaram a sua tensão de rotura (próximo dos 1500 MPa), conforme mostra a Figura 26. Esta Figura ilustra a relação entre a força horizontal máxima registada nos carregamentos cíclicos e a extensão no extensómetro colocado na base do pilar P10aCR (ext. 5 - ver Figura 5). Nos restantes elementos de pilar foram registadas relações similares nos extensómetros dispostos próximos da secção de rotura. Verifica-se que, em tracção, os laminados alcançam uma extensão próxima de 1%, que corresponde a uma tensão entre 1500 a 1600 MPa, da ordem da tensão de rotura obtida nos ensaios de tracção uniaxial, Barros et al. (2000-a). As extensões de compressão são da ordem da metade das extensões em tracção, facto este motivado pela contribuição do betão comprimido envolvente. Nos laminados e tecidos colados nas faces de peças de betão ocorrem, geralmente, roturas frágeis e violentas, Juvandes (1999). Dado que os laminados foram inseridos nas ranhuras efectuadas nos elementos de pilar, a descolagem violenta dos laminados foi impedida. A cedência dos laminados foi acompanhada por sinais sonoros de rotura das fibras e por quebra de capacidade de carga do elemento de pilar. 3.3 Padrão de fendilhação observado A título de exemplo, na Figura 28, representa-se o padrão de fendilhação registado nas faces dos pilares P10aSR e P10aCR. A figura 27 ilustra a designação das faces. P10aCR F h(kn) 40 30 20 Face D 10 tracção compressão 0-5000 -2500 0 2500 5000 7500 10000-10 Extensão ext.5 (µm/m) -20-30 Face A Face C -40 Face B Figura 26 - Relação entre a força máxima e a extensão no extensómetro ext.5 (ver Figura 5) nos carregamentos cíclicos, no elemento de pilar P10aCR. Figura 27 Designação das faces do pilar. 43º Congresso Brasileiro do Concreto 11

Face A Face B Face C Face D Face A Face B Face C Face D (a) (b) Figura 28 Padrão de fendilhação registado no pilar P10aSR (a) e P10aCR (b). Traço mais grosso significa fenda com maior abertura. Zona tracejada representa betão muito danificado. Constata-se que no pilar não reforçado a secção de rotura ocorre na base do pilar, enquanto no pilar reforçado desenvolve-se maior número de fendas e a rotura localiza-se aproximadamente a 150 mm acima da base do pilar. Este padrão de fendilhação foi característico dos pilares reforçados em que se registou um aumento da sua capacidade de carga. 3 Problemas que podem surgir com a presente técnica Na Tabela 8 verificou-se que nos pilares P16aCR e P16bCR se registou um decréscimo da capacidade de carga com a aplicação dos laminados de fibras de carbono. Durante o processo de reforço do pilar P16aCR fendas, com considerável abertura, não foram seladas. Além disto, a argamassa epóxida apresentou dificuldades de endurecimento (provavelmente motivadas por a temperatura do adesivo poder ter excedido a temperatura crítica, Juvandes (1999)), tendo mesmo surgido uma fenda nesta argamassa (ver Figura 29a). Por estes motivos, durante o ensaio do pilar P16aCR a fractura localizou-se na fenda de maior abertura (ver Figura 29b), conduzindo a um acréscimo de tensão nos laminados, nessa secção, e à rotura precoce destes. No pilar P16bCR a argamassa epóxida também apresentou problemas de endurecimento, pelo que, durante o ensaio, a argamassa de enchimento dos furos de fixação dos laminados à sapata, foi perdendo aderência ao betão, ver Figura 30, resultando num reforço ineficaz. Estes factos revelam a necessidade de selagem das fendas existentes e do controlo rigoroso da qualidade dos materiais utilizados no reforço. 43º Congresso Brasileiro do Concreto 12

(a) (a) (b) Figura 29 Deficiências no reforço do pilar P16aCR. (b) Figura 30 Deficiências no reforço do pilar P16bCR. 4 Conclusões Se as fendas forem devidamente seladas com um composto epóxido, se as operações de reforço forem devidamente executadas e se houver um controlo de qualidade dos materiais de reforço, a capacidade de carga de pilares, com rotura por flexão, pode aumentar significativamente, mesmo em pilares com danos elevados, por aplicação da técnica de reforço proposta no presente trabalho. Desde que as zonas de dano sejam devidamente tratadas, este aumento é similar em pilares danificados e intactos. Nos elementos de pilar ensaiados no presente trabalho constatou-se que este aumento foi mais significativo nos pilares com menor percentagem de armadura longitudinal. Tal deve-se ao facto de a zona de rotura dos pilares reforçados, com a menor percentagem de armadura longitudinal, ter sido substituída por uma argamassa epóxida de elevada resistência à compressão e à tracção. Com o aumento da percentagem de armadura longitudinal, a fendilhação distribuiu-se num comprimento maior, pelo que passaram a existir fendas fora da zona reforçada. Dado não se ter procedido à selagem das fendas aquando da aplicação dos laminados, ocorreram concentrações de tensões nos laminados que atravessavam essas fendas, levando à sua rotura precoce. Estes factos devem estar na base do aumento médio de 92% da capacidade de carga última registado nos pilares reforçados com a menor percentagem de armadura longitudinal, e de somente 34% nos pilares reforçados com a percentagem intermédia. Assim, em pilares fendilhados, a presente técnica só é eficaz se as fendas forem seladas. Em termos de viabilidade económica, a técnica de reforço que se propõe exige o desenvolvimento de equipamento que permita a execução das ranhuras com a profundidade desejada e com o alinhamento pré-estabelecido, e que assegure o preenchimento homogéneo das ranhuras para selagem dos laminados. Estes equipamentos deverão ser de simples manuseio, de forma a que o tempo de execução dos procedimentos de reforço não questione a oportunidade desta técnica. 5 Agradecimentos Os autores do presente trabalho agradecem a colaboração prestada pelas empresas: Biu Internacional (Engº Erik Ulrix); Nordesfer (Engº Mendes Marques), 43º Congresso Brasileiro do Concreto 13

Ferseque (Engºs Hélio Igrejas e Hugo Mota), Casais (Engºs Emanuel Martins e António Carlos), Secil (Engª Raquel Figueira), Solusel (Engº Fernandes), VSL e UBI (Prof. João Paulo e Engº Jorge Andrade). 6 Referências Barros, J.A.O., Ferreira, D.R.S.M., Lourenço, P.B., Pilares de betão armado reforçados com laminados de fibras de carbono, REPAR 2000, Encontro Nacional sobre Conservação e Reabilitação de Estruturas, LNEC, pp. 547-556, 14-17 Julho, 2000-a. Barros, J.A.O., Ferreira, D.R.S.M., Lourenço, P.B., Comportamento depilares de betão armado reforçados com laminados de fibras de carbono, Encontro Nacional de Betão Estrutural 2000, FEUP, pp. 393-402, 22-24 Novembro, 2000-b. Barros, J.A.O., Cruz, J.S. Fracture energy of steel fibre reinforced concrete Journal of Mechanics of Composite Materials and Structures (aceite para publicação 2000). Cruz, J.M.S. Comportamento de Estruturas Porticadas de Betão Armado Sujeitas à Acção Ciclica, Tese de Mestrado, FEUP, 1998. Ferreira, D.R.S.M, Pilares de betão armado reforçados com laminados de fibras de carbono, Tese de Mestrado, UM, 2001. Freitas, F.; Barros, J.A.O.; Fonseca, P., Manual do sistema de ensaio de estruturas- SENTUR, Dep. de Engª Civil, Escola da Universidade do Minho, 40pp, Setembro de 1998 Juvandes, L.F.P. Reforço e Reabilitação de Estruturas de Betão Armado usando Materiais Compósitos de CFRP, Tese de Doutoramento, FEUP, 1999. Nanni A. Fiber reinforced plastic (FRP)- reinforcement for concrete structures: properties and applications, Elsevier Science Publishers B.V., Vol. 42, Amsterdam, Holanda, 450pp, 1993 Publicações técnico/comercial da S&P clever reinforcement company, 30pp, 1998. 43º Congresso Brasileiro do Concreto 14