Aula 38. Convencionais ou contratuais. Fixados por arbitramento. Sucumbenciais

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Transcrição:

Turma e Ano: Direito Processual Civil - NCPC (2016) Matéria / Aula: Honorários Advocatícios (Parte II) / 38 Professor: Edward Carlyle Monitora: Laryssa Marques Aula 38 Honorários advocatícios (Parte II) Como afirmado na última aula, existem três tipos de honorários: Convencionais ou contratuais São estabelecidos em contrato celebrado entre o advogado e o seu cliente. Tipos de honorários advocatícios Fixados por arbitramento São aqueles fixados pelo juiz, na hipótese de advogado dativo. Sucumbenciais São aqueles devidos pela parte vencida, em razão de sua derrota no processo. Quanto aos dois primeiros (convencionais e fixados por arbitramento), não há dúvidas de que pertencem ao advogado. No entanto, no que tange aos honorários sucumbenciais, há grande divergência doutrinária. Uma primeira corrente - capitaneada por Fredie Didier e Daniel Neves - defende que os honorários sucumbenciais pertencem ao advogado, com base nos seguintes argumentos: 1. Imposição legal: tanto o art. 23 da Lei 8906/94, quanto o art. 85, caput do CPC/15 estabelecem que os honorários pertencem ao advogado; e 1

2. Desde o CPC/73, os critérios para atribuição de percentual aos honorários advocatícios, levavam em conta o trabalho do profissional (o exercício da função de advogado), não tendo relação com a parte. No entanto, para uma segunda corrente, os honorários de sucumbência pertencem à parte vencedora, com base na ideia de que o ressarcimento deve ser integral para a parte que sofreu o prejuízo. Conforme demonstrado, essa corrente traz os seguintes argumentos: 1. Pelo princípio da reparação integral, a reparação deve ser para a parte e não para o advogado. 2. Os honorários não podem ser entregues ao advogado, porque este tem relação jurídica de direito material com quem o contratou, em relação a qual exerce alguma função e não com a parte contrária (configuraria enriquecimento sem causa). Assim, os valores devem ser entregues a parte e esta, se for o caso, deve repassá-lo ao advogado. 3. A Exposição de Motivos do CPC/73 estabelecia a adoção do princípio da sucumbência, pelo qual aquele que se dirige ao Judiciário deve obter tudo aquilo que perdeu. O derrotado deve ressarcir integralmente o vencedor. No CPC/15, o princípio da sucumbência continua sendo a regra. Tanto é verdade, que há previsão do princípio da causalidade como exceção (art. 85, p. 10). O tema não foi esgotado na aula anterior, de modo que ainda falta analisar outro argumento desta corrente, relacionado à ADI 1194-4, ajuizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que alegava a inconstitucionalidade de diversos dispositivos do EOAB, quais sejam: arts. 1º, p. 2º; 21 e parágrafo único; 22; 23; 24, p. 3º. Quando do julgamento de mérito, o STF decidiu que: Art. 1º, p. 2º ( Os atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena de nulidade, só podem ser admitidos a registro, nos órgãos competentes, quando visados por advogados ). o Constitucional, porque evitaria problemas jurídicos futuros. 2

Art. 21, p. único ( Os honorários de sucumbência, percebidos por advogado empregado de sociedade de advogados são partilhados entre ele e a empregadora, na forma estabelecida em acordo ). o Interpretação conforme a Constituição, estabelecendo que os honorários de sucumbência podem ser tanto do advogado, quanto da sociedade ou de ambos, dependendo da disposição contratual. Art. 24, p. 3º ( É nula qualquer disposição, cláusula, regulamento ou convenção individual ou coletiva que retire do advogado o direito ao recebimento dos honorários de sucumbência ). o Declarado inconstitucional -> a contrario sensu, o STF se manifestou pela validade de cláusula contratual que retire o direito do advogado ao recebimento de honorários de sucumbência, o que evidencia que estes não pertencem àquele. Em relação aos artigos 22 e 23, a OAB explicou que os honorários de sucumbência neles mencionados seriam aqueles dos profissionais liberais e não os de advogados empregados, como vinha sendo discutido no art. 21, p. único e no art. 24, p. 3º, de modo que a CNI não teria legitimidade (por falta de pertinência temática) para ingressar com ADI referente a dispositivos que tratam de advogados particulares. Os ministros do STF, em várias oportunidades, reconheceram a inconstitucionalidade dos dois artigos (22 e 23). No entanto, é de se notar que na própria ementa da ADI em comento há menção de que os honorários pertencem ao advogado. Isso se justifica porque a ementa do acordão foi elaborada pelo ministro Maurício Corrêa, que, na época, ainda estava atuando. Quando ele redigiu o voto vencedor, mencionava apenas que os honorários pertenciam ao advogado, conforme disposição dos arts. 22 e 23, mas não fez um exame mais aprofundado sobre o tema. Quando o assunto passou a ser examinado de maneira mais detalhada, vários ministros começaram a reconhecer que estes dispositivos eram inconstitucionais e que não seria possível 3

privar a parte vencedora de uma quantia que representaria seu ressarcimento integral (reparação integral pela violação). Os ministros que reconheciam a inconstitucionalidade destes dispositivos ainda estão trabalhando no STF: Gilmar Mendes, Marco Aurélio Melo, Lewandowski, Celso de Melo. Então, hoje, caso este tema volte a Corte Suprema, há grande possibilidade de ser declarada a inconstitucionalidade dos arts. 22 e 23 do EOAB e, também, do art. 85, CPC/15 (que os reproduz) 1. Natureza jurídica dos honorários de sucumbência Depende, basicamente, de qual teoria você irá adotar: 1. Teoria que defende a aplicação do Art. 85, caput, CPC/15 -> verba remuneratória. Vencido pagando ao advogado do vencedor pela vitória que ele propiciou a parte vencedora 2. 2. Teoria que defende a aplicação do Princípio da reparação integral -> verba ressarcitória (ressarcimento a parte por conta do prejuízo sofrido). A parte vencedora, a depender do que foi combinado, repassa a verba de honorários à pessoa do advogado. Princípio da sucumbência e princípio da causalidade O nosso ordenamento, desde o CPC/73, adotava o princípio da sucumbência como regra. Muito por influência do que escreveu Chiovenda, em sua obra Instituições de Processo Civil (premissa de que o pagamento de despesas e honorários devido por quem foi derrotado). 1 Só não foi declarada a inconstitucionalidade quando da ADI 1194-4, porque a CNI não tinha legitimidade (pertinência temática) para alega-la. 2 Problema: como o vencido pode remunerar um advogado que com ele não tem relação jurídica nenhuma? É um argumento que merece cuidado, porque não há certeza de que será adotado em concurso. É uma orientação defendida por advogados modernos. 4

Assim, pelo princípio da sucumbência, a responsabilidade pelo pagamento das despesas e dos honorários de sucumbência era de quem sucumbiu. A sucumbência tem um sentido mais amplo. No que diz respeito ao interesse, tem vinculação com a possibilidade de se obter um resultado mais favorável (vantajoso) do que o obtido até o momento. Em relação aos honorários, havia um detalhe: em algumas situações, embora houvesse uma parte vitoriosa e outra derrotada, o resultado final não espelhava exatamente o que havia acontecido. Por vezes, havia uma parte vitoriosa, mas a parte derrotada não havia feito nada para dar causa àquele processo. O causador do processo havia sido efetivamente a parte autora. Então, adotava-se, como exceção, o chamado princípio da causalidade. A indagação era: quem deu causa ao processo?. E também: qual foi o resultado?. Respondendo estas duas perguntas era possível identificar quem seria o responsável pelo pagamento das custas e honorários. Exemplo: art. 85, p. 10, CPC/15 -> perda de objeto (perda superveniente do interesse de agir): Nos casos de perda do objeto, os honorários serão devidos por quem deu causa ao processo. Exemplo 2: ação de prestação de contas sem constar nos autos nenhuma prova de que houve requerimento de que as contas fossem prestadas extrajudicialmente em algum momento. No caso, o juiz determina a prestação de contas, mas condena o autor em custas e honorários. Isto é muito comum em causas de natureza tributária. Ex.: empresa ingressa com embargos à execução, alegando que pagou o tributo, mas com o código errado e a Receita Federal é intimada, esclarecendo que realmente o pagamento foi feito no código errado. É feita a correção, mas, quem deu causa ao processo foi a embargante (em razão de seu próprio erro), sendo ela quem deve arcar com custas e honorários. 5

A maioria da doutrina defende que a regra é a aplicação do princípio da sucumbência e a exceção é a aplicação do princípio da causalidade. No entanto, existem autores que defendem exatamente o inverso, como Dinamarco. Art. 85, CPC/15: 1º São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente. O dispositivo está direcionando o estudo para honorários de sucumbência. Será analisado na próxima aula por questões de tempo. 6