A consolidação da falta de aderência de rebocos antigos um estudo com diferentes argamassas para grouting

Documentos relacionados
A CONSOLIDAÇÃO DA FALTA DE ADERÊNCIA DE REBOCOS ANTIGOS um estudo com diferentes argamassas para grouting

A consolidação da falta de aderência de rebocos antigos um estudo com diferentes argamassas para grouting

Análise comparativa de argamassas de cal aérea, medianamente hidráulicas e de ligantes mistos para rebocos de edifícios antigos

Incorporação de residuos de vidro em argamassas de revestimento Avaliação da sua influência nas características da argamassa

REVESTIMENTOS DE EDIFÍCIOS HISTÓRICOS: RENOVAÇÃO VERSUS CONSOLIDAÇÃO JIL JUNHO M. Rosário Veiga. M.

ARGAMASSAS COMPATÍVEIS PARA EDIFÍCIOS ANTIGOS. Ana Rita Santos Maria do Rosário Veiga

ADAPTAÇÃO DO ENSAIO DE ADERÊNCIA PARA ANÁLISE DE ETICS COM ACABAMENTO CERÂMICO

Estudo comparativo de possíveis soluções de argamassas para revestimentos de paredes de edifícios antigos

A Nova Cal Hidráulica Natural na Reabilitação

Gina Matias, Isabel Torres, Paulina Faria

Caracterização de argamassas de cal utilizadas em paredes de alvenaria resistentes pertencentes a edifícios de placa

'A Cal Hidráulica Natural, o ligante de eleição na Reabilitação'

O sistema ETICS como técnica de excelência na reabilitação de edifícios da segunda metade do século XX

Melhoria da Aderência de Revestimentos Contínuos de Gesso a Camadas Contínuas Impermeáveis ao Vapor

Estudo da influência de cargas leves nas propriedades de uma argamassa bastarda. Lisboa, 24 de Novembro 2005

Influência dos procedimentos de execução em rebocos correntes

Ana Cristina Sequeira. Dina Filipe Frade. Paulo Jerónimo Gonçalves Raquel Nascimento Paulo

Estudo da influência da dosagem de cimento nas características mecânicas de argamassas bastardas para rebocos de edifícios antigos

Argamassas para (re)aplicação de azulejos antigos Um passo para a Normalização

SUBSTITUIÇÃO DE CIMENTO POR FINOS CERÂMICOS EM ARGAMASSAS

CONSERVAR REBOCOS E ESTUQUES DO PATRIMÓNIO HISTÓRICO: preservar os valores e o carácter multifuncional

Soluções de reabilitação de paredes/fachadas com desempenho térmico melhorado. Luís Silva Coimbra, 31 de Julho 2014

Argamassas com Base em Cal Aérea e Cinzas de Casca de Arroz para Conservação do Património Construído

Alvenarias de edifícios históricos: intervenções sustentáveis com materiais compatíveis

Influência da Adição de Polímeros nas Propriedades de uma Argamassa de Reabilitação. Lisboa, 22 de Novembro 2007

Argamassas industriais com incorporação de granulado de cortiça

Resumo. Palavras-chave: Módulo de elasticidade, resistência à compressão, provetes reduzidos.

FAUL Materiais e Técnicas Construtivas Tradicionais REVESTIMENTOS DE PAREDES ANTIGAS: ARGAMASSAS, REBOCOS, ESTUQUES E PINTURAS

Análise de diferentes ligantes na formulação de argamassas industriais de reabilitação

José Luís Miranda Dias. Investigador Auxiliar do LNEC-DED/NTC. 1º Congresso Nacional de Argamassas de Construção 24/25 Nov. 2005

AVALIAÇÃO DA INTRODUÇÃO DE RESÍDUOS DA INDÚSTRIA TÊXTIL EM ARGAMASSAS

BloCork Desenvolvimento de blocos de betão com cortiça

Contributo das argamassas industriais para a construção sustentável caso particular da Gama ecocork

Argamassas de cal hidráulica natural e pozolanas artificiais Avaliação laboratorial

Avaliação da compatibilidade de fixação de elementos cerâmicos com o sistema ETICS

PowerPoint. Template. desenvolvimento de soluções de. argamassas industriais adaptadas ao contexto de reabilitação. Sub-title

Avaliação da Reprodutibilidade e Repetibilidade de Resultados Relativos a Ensaios Referentes à Norma EN 1015 para Argamassas de Reboco

Comportamento de revestimentos de fachadas com base em ligante mineral. Exigências funcionais e avaliação do desempenho. M. Rosário Veiga LNEC

INFLUÊNCIA DA ABSORÇÃO DE ÁGUA DO SUBSTRATO NA RESISTÊNCIA SUPERFICIAL DE REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA

DEFINIÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO EM REVESTIMENTOS DE EDIFÍCIOS ANTIGOS

Caracterização de argamassas para assentamento de alvenaria de tijolo

LEP Laboratório de Ensaios de Produtos Lista de ensaios acreditados Âmbito flexível Intermédia

Análise comparativa de argamassas de cal aérea, medianamente hidráulicas e de ligantes mistos para rebocos de edifícios antigos

B 35/45 S4 0,35 0,3 0, kg/m3 350 kg/m3 400 kg/m3 0,2 0,15 0,1 0, profundidade em cm

Influência dos Rebocos no Comportamento das Alvenarias de Tijolo Tiago Nunes Sérgio Madeira Anabela Paiva José Barbosa Vieira

Soluções SecilArgamassas. Barreiro

LEP Laboratório de Ensaios de Produtos Lista de ensaios acreditados Âmbito flexível Intermédia

Argamassas cimentícias modificadas com polímeros como material de reparação. M. Sofia Ribeiro DM /NB - LNEC

Colagem de Cerâmica e Rochas Ornamentais

Revestimentos exteriores de construções antigas em taipa - Traços de misturas determinados em laboratório

Colagem de Cerâmicos em Fachadas'

Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa. Mª Rosário Veiga 3. Laboratório Nacional de Engenharia Civil

ESTUDO DA APLICABILIDADE DA ARGAMASSA PRODUZIDA A PARTIR DA RECICLAGEM DE RESÍDUO SÓLIDO DE SIDERURGIA EM OBRAS DE ENGENHARIA

Influência da Composição no Desempenho de Argamassas Adesivas

Chimica Edile Group CHIMICA EDILE DO BRASIL DRY D1 NG

Adaptação do ensaio de aderência para análise de ETICS com acabamento cerâmico

INCORPORAÇÃO DE FINOS CERÂMICOS EM ARGAMASSAS

Influência das areias na qualidade de argamassas de cal aérea

AVALIAÇÃO IN-SITU DA ADERÊNCIA DE MATERIAIS DE REVESTIMENTO

ESTUDO COMPARATIVO DE DIFERENTES ARGAMASSAS TRADICIONAIS DE CAL AÉREA E AREIA

A CONSERVAÇÃO DE REBOCOS ANTIGOS - RESTITUIR A COESÃO PERDIDA ATRAVÉS DA CONSOLIDAÇÃO COM MATERIAIS TRADICIONAIS E SUSTENTÁVEIS

3 - OBJECTIVOS GERAIS:

Comportamento de Argamassas e Elementos de Alvenaria Antiga Sujeitos à Acção de Sais. Lisboa, 23 de Novembro 2007

Avaliação comparativa de cais aéreas correntes

INVESTIGAÇÃO NA ÁREA DOS NANOMATERIAIS NA SEQUÊNCIA DE UM MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA

Desenvolvimento de argamassas para a reabilitação de edifícios antigos. Parte 1 Trabalhabilidade e comportamento mecânico.

Argamassas/morteros de terra e cal Características e campo de aplicação. Paulina Faria

Cal Hidráulica: Um Ligante para a Reabilitação. Ana Cristina Sequeira Dina Frade Paulo Gonçalves

CAPÍTULO I SISTEMAS ESTRUTURAIS

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DE ARGAMASSAS DE CAL AÉREA COM RESÍDUOS DE CERÂMICA

O Desempenho Mecânico, Físico F

Incorporação de resíduos de vidro em argamassas de revestimento avaliação da sua influência nas características da argamassa

Desempenho relativo das argamassas de argila expandida na execução de camadas de forma

Análise de diferentes ligantes na formulação de argamassas industriais de reabilitação

Redução do teor de cimento em argamassas com incorporação de agregados finos de vidro. Renata Oliveira 1 e Jorge de Brito 2.

Argamassas de revestimento para paredes afectadas por cristalização de sais solúveis:

MORCEMSEAL LINHA REABILITAÇÃO MORCEMSEAL TODO 1 TUDO EM 1

Luiz A. P. de Oliveira Paula C. P. Alves Sérgio M. M. Dias

Caracterização do Comportamento Mecânico de Alvenarias Tradicionais de Xisto

Reforço de Rebocos com Fibras de Sisal

Influência da junta vertical no comportamento mecânico da alvenaria de blocos de concreto

DESEMPENHO À ÁGUA DE ETICS COM MATERIAIS SUSTENTÁVEIS: INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS DA ARGAMASSA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ÁREA DE CONSTRUÇÃO

Jahn M90 Argamassa de Reparação de Betão

AVALIAÇÃO DO MÉTODO DE ENSAIO BRASILEIRO PARA MEDIDA DA RESISTÊNCIA DE ADERÊNCIA À TRACÇÃO DE REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA

MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL VIAS DE COMUNICAÇÃO. Luís de Picado Santos Misturas Betuminosas

PROCESSO INDUSTRIAL PREPARAÇÃO DA MATÉRIA PRIMA - PASTA CONFORMAÇÃO SECAGEM COZEDURA RETIRADA DO FORNO E ESCOLHA

REDUR BRANCO EXTERIOR

ARGAMASSAS COM BASE EM CAL PARA A REABILITAÇÃO DE REBOCOS

Professor do curso de Engenharia Civil da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões em Santo Ângelo/RS

Restauro de Estuques Antigos com Produtos Compatíveis

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE ARGAMASSAS DE CAL HIDRÁULICA NATURAL: ANÁLISE IN SITU VS LABORATORIAL

Sumário. 1 Concreto como um Material Estrutural 1. 2 Cimento 8

BENEFICIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS PAVIMENTOS DA A22 VIA DO INFANTE, ENTRE O NÓ DA GUIA E O NÓ DE FARO/AEROPORTO

Resíduos reciclados como componentes de argamassas

REBOCOS ANTIGOS: COMO INTERVIR?

Argamassas de cal aérea e cinza de casca de arroz. Influência da finura da cinza na reactividade pozolânica

AULA 6 ARGAMASSA. Disciplina: Materiais de Construção I Professora: Dra. Carmeane Effting. 1 o semestre 2015

FICHA TÉCNICA DO PRODUTO

Transcrição:

A consolidação da falta de aderência de rebocos antigos um estudo com diferentes argamassas para grouting Martha Lins Tavares Restauradora, Doutoranda em Arquitectura, FA/UTL, Estagiaria de Investigação do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), Bolseira FCT Lisboa, marthal@lnec.pt Ana Fragata Engenheira Civil, Bolseira FCT, LNEC, Portugal afragata@lnec.pt Mª do Rosário Veiga Engenheira Civil, Investigadora Principal, LNEC, Portugal, rveiga@lnec.pt Resumo: Uma das principais formas de degradação dos revestimentos exteriores com base em cal, é a perda de aderência, ou seja, a separação entre as diferentes camadas do reboco ou entre reboco e suporte, provocando anomalias, designadamente destacamento, descolamento e lacunas no revestimento. Nesta comunicação apresenta-se um estudo em desenvolvimento no LNEC, sobre técnicas de restauro de rebocos antigos e históricos, com recurso, nomeadamente, à técnica de consolidação através de grout para restituição da aderência 1. Palavras chave: argamassas de cal, técnicas de restauro, consolidação, grout 1. INTRODUÇÃO Os revestimentos exteriores e as suas várias camadas são elementos importantes da estrutura edificada, não só devido a questões técnicas, como também estéticas e históricas, formando assim um documento de identidade das tecnologias e materiais. Por isto, estes revestimentos devem ser preservados dentro dos conceitos básicos da conservação; contudo a manutenção destes revestimentos passa pela conservação de técnicas construtivas tradicionais e pelo uso de materiais compatíveis e o mais similares possível aos originais. Durante este estudo verificou-se que uma das principais formas de degradação destes revestimentos é a perda de aderência, ou seja, a separação entre as diferentes camadas do 1 Esta investigação insere-se no âmbito da tese de Doutoramento A conservação e o restauro de revestimentos exteriores de edifícios antigos uma metodologia de estudo e reparação que Martha Lins Tavares está a desenvolver no LNEC e na FA/UTL, com o apoio da FCT (Fundação para Ciência e Tecnologia) e inserido no Projecto FCT POCTI / HEC / 57723/2004 - Conservação de rebocos de cal: melhoria das técnicas e materiais de reparação, que também está sendo desenvolvido no LNEC/Lisboa. http://conservarcal.lnec.pt

reboco ou entre reboco e suporte, provocando anomalias, como destacamento, descolamento, e lacunas no revestimento. Este tipo de anomalias não são passíveis de reparação com as técnicas correntes da construção, recorrendo-se em geral à extracção e substituição dos revestimentos antigos e assim perdendo-se esses revestimentos. Face ao exposto, o objectivo principal deste estudo é contribuir para definir uma metodologia de restauro conservativa, usando estratégias de manutenção dos revestimentos e das técnicas construtivas tradicionais, onde haja uma intervenção mínima, utilizando materiais compatíveis com os originais. Deste modo, para restituir a aderência perdida escolheu-se a técnica de consolidação através de grout. O objectivo do estudo é a discussão das características dos grouts testados sob condições controladas em laboratório, para posterior aplicação in situ. As argamassas de grout utilizadas para um tratamento de conservação, devem ser compatíveis mecânica, física e quimicamente com o revestimento original, pois é um tratamento praticamente irreversível [1]. Com base em estudos anteriores, definem-se na tabela 1 as exigências básicas de uma argamassa para grouting. Tabela 1 Exigências básicas para uma argamassa de grout Propriedades Exigências Consistência Suficientemente fluida para injectar [2] Tempo de presa Não menos que 48 horas [1] Módulo de elasticidade Menor que o do substrato ( < 80%) [1 e 2] Resistência à compressão Menor que a do substrato (< 60%) [1 e 2] Contracção e dilatação da argamassa na O mínimo possível (< 4%) [1 e 2] secagem Coeficiente de dilatação térmica Similar ao original [2] Permeabilidade ao vapor de água Preferencialmente alta; [2] Coeficiente de capilaridade Valor de coeficiente de capilaridade entre 50 100% do valor do substrato original [2] Teor de sais Possuir o mínimo possível (a quantidade de iões de sódios e potássio não deve ser superior a 120mg/kg de argamassa) [2] Força de arrancamento 0,1 Nm² [2] Aderência 2. MATERIAIS UTILIZADOS E APLICAÇÃO DO PRODUTO Neste estudo foram ensaiados três tipos diferentes de argamassas industriais para grouting, todas elas vocacionadas para restituir a aderência entre as camadas do reboco. As argamassas ensaiadas neste estudo são designadas por: argamassa A, argamassa B e argamassa C, obedecendo às seguintes composições: A composta por cal aérea; areia micronizada e aditivos. B composta por cal hidráulica, areia micronizada e aditivos. C composta por cal aérea; micro areias calcárias e aditivo pozolânico.

As argamassas foram preparadas de acordo com as especificações de cada fabricante. Os produtos foram misturados com água, manualmente, durante aproximadamente 5 minutos. Foram realizados dois tipos de provetes para posteriores ensaios do produto em laboratório: Provetes prismáticos com 40mm x 40mm x 160mm confeccionados apenas com argamassas de grout (Fig. 1). Provetes com a simulação de um descolamento entre camadas. Estes provetes foram confeccionados com argamassa de cal e areia na proporção volumétrica de 1:3, sendo constituídos por tijolos furados correntes, rebocados numa das faces com duas camadas de argamassa de cal, perfazendo um total de 20 mm, com um vazio entre camadas simulando assim a falta de aderência 2 (Fig. 2). A aplicação do grouting foi realizada após três meses de cura dos provetes. Primeiramente a zona de descolamento foi humedecida com uma mistura de água e álcool, para facilitar a penetração do grouting [3]. O produto foi aplicado em seguida, com uma seringa manual, sendo as primeiras camadas ligeiramente mais líquidas que as seguintes camadas, para permitir uma maior penetração, até preencher todo o vazio. Os provetes permaneceram numa sala condicionada a uma temperatura de 23º±2ºC e 50±5% de humidade relativa. Fig.1 Provetes prismáticos preenchidos com argamassas de grout. Fig.2 Provetes simulando descolamento entre camadas. 3. ENSAIOS REALIZADOS Os ensaios seleccionados para verificar a eficácia dos produtos foram os seguintes: Absorção de água por capilaridade - para verificar a capacidade da argamassa de grout em absorver água por capilaridade. (EN 1015 18:2000). Resistência à flexão e à compressão - para avaliar a resistência mecânica das argamassas, sobre os provetes tipo prisma. (NP EN1015:11). 2 Estes provetes foram pensados no âmbito deste estudo; simular o descolamento em laboratório não foi uma tarefa simples, pois não se encontrou bibliografia específica com referência a este tipo de ensaio.

Ensaio de Módulo de elasticidade para verificar a capacidade de deformação da argamassa, sobre os provetes tipo prisma. (Relatório LNEC 427/05-NRI e NF- B10-511) Ensaio de aderência para verificar a resistência de aderência das argamassas, realizado sobre provetes com simulação de descolamento entre camadas. (EN - 1015-12 : 2000). Determinação da retracção - a retracção das argamassas ensaiadas foi determinada através da determinação da variação das medidas iniciais (dimensões do molde) e finais (provete após secagem). ARGAMASSA B ARGAMASSA A Fig.3 Provetes após o ensaio de arrancamento argamassa B. Fig.4 Provetes após o ensaio de arrancamento argamassa A. ARGAMASSA C Zona de grout Fig. 5 Realização de carote no provete com argamassa C; nota-se o carote partido, zonas de vazios e fissuras. Fig. 6 Ensaio de módulo de elasticidade. 4. SÍNTESE DOS RESULTADOS DOS ENSAIOS Os ensaios foram realizados após noventa dias de cura. Apresentam-se a seguir os quadros e figuras com os principais resultados obtidos. 4.1 Avaliação do comportamento à água Para verificar o comportamento à água das argamassas de grout, foi realizado um ensaio de absorção de água por capilaridade e subsequente secagem sobre os provetes tipo

prismas, confeccionados com a argamassa de grout. Apresentam-se nos gráficos 1, 2 e na tabela 2 os principais resultados obtidos 3 Gráfico 1 Absorção capilar e secagem das argamassas de grout Absorção capilar (kg/m 2 ) 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 Tempo (min 1/2 ) A B C substrato Gráfico 2 - Coeficiente de capilaridade das argamassas de grout Coef. Capilaridade (K/m 2.min 1/2 ) 10,00 9,00 8,00 7,00 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 C A B Arg. Substrato 0-5 minutos A B C Arg. Substrato Coef.Cap 0-5min (Kg/m².min½) Tabela 2 - Coeficiente de capilaridade A B C do substrato 4 4,35 3,15 5,45 2,09 Desvio padrão* 0,02 0,11 0,36 0,14 3 O coeficiente de capilaridade foi medido no intervalo de tempo de 0-5min, embora a Norma EN 1015-18 indique o intervalo de tempo 10-90 min, porque, como se observa no gráfico 1, a relação entre a absorção e a raiz quadrada do tempo deixa de ser linear muito antes dos 90 minutos, pelo que, para este tipo de argamassas não faz sentido o coeficiente de capilaridade entre os 10 e os 90 minutos. 4 A argamassa do substrato, é uma argamassa recente de cal e areia, traço 1:3; foi a argamassa utilizada para revestimento dos provetes tipo tijolo com simulação de um descolamento.

4.2 Avaliação da resistência mecânica Para avaliar a resistência mecânica foram efectuados dois tipos de ensaios diferentes, nomeadamente: o ensaio de resistência à flexão e à compressão, sobre os provetes constituídos pelas argamassas de grout e o ensaio de aderência (resistência ao arrancamento), sobre os provetes com simulação de descolamento entre camadas; sendo este ensaio realizado na zona com grou um arrancamento e na zona sem grout, dois arrancamentos. Vale a pena salientar que nos ensaios de aderência nem todos os provetes resistiram à furação com a carotadora, rompendo o carote logo a seguir à primeira furação. Deste modo, a pastilha não foi colada nestes provetes, consequentemente o ensaio de arrancamento não foi realizado. Isto aconteceu em todos os provetes com o grouting da argamassa C e em dois provetes com grouting da argamassa A. Deste modo, o ensaio foi realizado em três provetes com argamassa B, e em um provete com argamassa A. Os resultados sintetizam-se nas tabelas 3 e 4. Tabela 3 Avaliação da resistência mecânica Ensaio de Flexão e Compressão Flexão Compressão Valor médio (N/mm²) Desvio padrão* Valor médio (N/mm²) Desvio padrão** A B C substrato 0,98 1,69 0,41 0,24 0,07 0,14 0,10 0,04 1,64 3,71 0,80 0,62 0,16 0,51 0,16 0,03 Tabela 4 - Resistência ao arrancamento Ensaio de Aderência de grout Valores de resistência ao arracamento (N/mm2) Zona sem grout Zona com grout A 0,03 coesiva) 0,04 pelo suporte) B Provete 1 0,03 coesiva) 0,04 pelo grout) B Provete 2 0,07 coesiva) 0,07 pelo grout) B Provete 3 0,05 coesiva) 0,06 Rotura pelo grout C Não realizado: rotura durante a furação Não realizado: rotura durante a furação

4.3 Avaliação da capacidade de deformação da argamassa Para avaliar a capacidade de deformação da argamassa foi realizado o ensaio de Módulo de elasticidade sobre os provetes tipo prismas confeccionados com a argamassa de grout. Apresentam-se na tabela 5 e no gráfico 3 os principais resultados obtidos. Tabela 5 - Avaliação da capacidade de deformação da argamassa - Ensaio de Módulo de elasticidade Módulo de elasticidade Valor médio (MPa) Desviopadrão A B C substrato 3123 4451 2025 2715 162 71 60 8 Gráfico 3 Módulo de elasticidade das argamassas de grout Módulo de elasticidade (MPa) 5000 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 B A Arg. Substrato C provetes grout A B C Arg. Substrato 4.4 Avaliação da retracção da argamassa Para avaliar a retracção das argamassas ensaiadas foram determinados os comprimentos de cada provete (tipo prisma) após secagem, com utilização de uma craveira. Estas dimensões foram comparadas com os comprimentos iniciais do molde, que foi preenchido pelas argamassas de grout com comprimento de 160±0,5mm e largura de 40±0,5mm. É de salientar que a retracção é perceptível visualmente, quer no comprimento quer na largura. Tabela 6 - Avaliação da retracção das argamassa de grout de Comprimento grout Médio Retracção (%) A 158 1,3 B 158 1,3 C 151 5,6

5. DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS O estudo para verificar as características e eficácia das argamassas de grout usadas para restituir a aderência de revestimentos antigos ainda está em curso, no entanto destacam-se a seguir alguns pontos considerados relevantes durante o estudo: Facilidade de injecção: Todas as argamassas se mostraram facilmente injectáveis, aparentemente com boa fluidez. A quantificação deste parâmetro deverá ser feita posteriormente através de um estudo reológico. Tempo de presa: Nas argamassas A e B às 36 horas foi observado início de presa enquanto que na argamassa C a presa deu-se mais tarde, contudo às 48 horas todas as argamassas apresentaram presa. Esta observação foi feita a olho nu. A quantificação deste parâmetro deverá ser feita posteriormente através de ensaios adequados. Capilaridade e Secagem: o ensaio de Absorção de água por capilaridade sobre os provetes prismáticos, cujos resultados se ilustram nos gráficos 1 e 2 e na tabela 2, demonstraram que a argamassa B, foi a argamassa que sofreu menor absorção capilar no intervalo dos 0 aos 5 minutos. Pela análise dos gráficos da absorção durante as 24 horas verifica-se que esta argamassa, foi a que demorou mais tempo a atingir a saturação, demonstrando um comportamento mais constante na absorção. A argamassa C foi a que absorveu maior quantidade de água seguida da argamassa A. Estas argamassas possuem um coeficiente de capilaridade maior que a argamassa do substrato ensaiada, assim como dos outros substratos mais antigos que provavelmente serão menos capilares [4]. Verifica-se, através da análise do gráfico 1, que as argamassas de grout absorvem maior quantidade de água no mesmo intervalo de tempo, quando comparadas com a argamassa nova de cal do substrato, ensaiada para comparação. Relativamente à secagem, a argamassa C teve uma secagem mais rápida quando comparada com as argamassas A e B. A secagem ocorreu bastante mais cedo, do que em qualquer uma das argamassas de grout. Comportamento mecânico: os ensaios de Flexão e Compressão sobre provetes constituídos pelas argamassas de grout demonstraram que a argamassa B foi a que apresentou uma maior resistência à flexão e à compressão e um módulo de elasticidade mais elevado; sendo, no entanto, os valores obtidos bastantes moderados. Estas argamassas são excessivamente resistentes e rígidas para a argamassa de substrato utilizada, dado que esta é bastante fraca, mas poderão ser adequadas para utilizar entre argamassas de substrato um pouco mais resistentes, como é muitas vezes o caso de argamassa de cal antigas bem carbonatadas. A argamassa C obteve os menores valores no ensaio de resistência mecânica e no ensaio de módulo de elasticidade obteve inclusive um resultado inferior ao da argamassa do substrato ensaiado. A argamassa A foi a que obteve valores intermédios entre a B e a C para resistência e módulo de elasticidade, como se observa através dos resultados sintetizados na tabela 3 e 5. Estas argamassas B e C poderão ser adequadas para consolidação de argamassas antigas muito fracas.

Aderência: o ensaio de arrancamento demonstrou que todas as argamassas de grout possuem uma resistência semelhante à argamassa do substrato (zona sem grout) (ver tabela 4). Foi observado que o provete com grout, constituído pela argamassa A, rompeu pelo suporte, o que pode ser considerado negativo, significando que a resistência à tracção do grout é superior à força coesiva da argamassa (fig.4); contudo este resultado é ambíguo, pois é de salientar que este ensaio só foi realizado sobre um provete, já que os outros não resistiram à furação com a carotadora rompendo imediatamente. O ensaio de arrancamento não foi realizado sobre a argamassa C, pois a argamassa rompeu antes da colagem da pastilha. A argamassa B demonstrou uma resistência semelhante à da argamassa do substrato, rompendo pelo grout (fig 3), significando que a resistência à tracção do grout é inferior à força coesiva da argamassa do substrato, o que pode ser considerado positivo. Preenchimento dos vazio: A observação da superfície de rotura no ensaio de aderência mostrou que as argamassas A e B preencheram de maneira uniforme os vazios provocados nos provetes desenvolvidos para o efeito. Na argamassa C observaram-se vazios e fissuração (fig 5); levando a pensar que esta argamassa não preenche facilmente os vazios por deficiências do seu comportamento reológico. O aspecto pulverulento da superfície de rotura parece também indicar que ela não carbonatou por completo. (Figs 3, 4 e 5). Retracção: Na avaliação da retracção verificou-se que a argamassa C foi a que sofreu maior retracção, superior a 5%. As argamassas A e B sofreram retracções idênticas, bastante inferior, próximo do 1%, o que corresponde a cerca de 1/5 do valor obtido para retracção da argamassa C. (tabela 6). CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se constatar com este conjunto de ensaios, que a inclusão de um aditivo hidráulico nas argamassas de grout é um factor importante para o aumento da hidraulicidade destas argamassas; pois como elas secam no interior da parede, sem a presença de ar, consequentemente a sua carbonatação ocorre lentamente [5]. Isto foi verificado no caso da argamassa B, composta por ligante hidráulico, que obteve menor absorção, maior resistência mecânica, menor resistência à deformabilidade e maior retracção. Contudo, a quantidade deste aditivo hidráulico não pode ser demasiada, para não haver um aumento excessivo da resistência mecânica destas argamassas, provocando futuramente outras anomalias na argamassa antiga, como destacamentos e fissuras. Com estes conjuntos de ensaios pode-se verificar que a argamassa B e a argamassa A obedecem aos requisitos básicos para uma argamassa de grout, sendo possível a sua utilização para restituir a aderência de revestimentos antigos constituídos por cal resistentes e bem carbonatados. A argamassa C, mais fraca e deformável, será adequada para consolidar rebocos de menor resistência. No entanto, será necessário assegurar uma carbonatação mais completa, que evite o efeito de pulverulência observado. A escolha dependerá da avaliação sobre as características mecânicas da argamassa a tratar e o grau de anomalia presente no revestimento, nomeadamente: a profundidade, teor de humidade na parede etc. Pensa-se ainda, que vale a pena continuar este estudo e ensaiar novas argamassas formuladas no âmbito da investigação. Adicionar outros tipos de aditivos para melhorar

diversas características das argamassas, nomeadamente: fluidez, solidificação, penetração e carbonatação. Estudar igualmente a adição de outros tipos de ligantes, de agregados com granulometrias distintas, são factores que estão intrinsecamente ligados às características positivas ou não destas argamassas. Realizar novos ensaios sobre estas argamassas é um dos nossos objectivos, designadamente: ensaio de reologia, envelhecimento acelerado, porosidade e ainda ensaios in situ sobre um revestimento antigo. Com a continuidade deste estudo pretende-se aprofundar os conhecimentos nesta área e difundi-los pelo meio técnico nacional e internacional, de forma a contribuir para uma melhoria das intervenções de conservação em revestimentos de paredes antigas, através do uso de materiais tradicionais. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a contribuição durante o estudo do Técnico experimentador Bento Sabala, do NRI, no apoio dado a alguns ensaios. Agradecem também a Karina Zajadacz pela troca de informações e bibliografia. Agradece-se ainda o apoio da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia) de Portugal, através do financiamento do Projecto POCI/HEC/57723/2004 com o título "Conservação de rebocos de cal: Melhoria das técnicas e materiais de restauro arquitectónico" (http://conservarcal.lnec.pt/). 5. BILIOGRAFIA [1] FERRAGNI, D. FORTI, M. MORA; P. et als Injection Grouting of mural paintings and mosaics, in: Congress, Adhesives and Consolidants, Paris, IIC, September 1984. [2] ZAJADACZ, Karina - Grouting of architectural surfaces the challeng of testing, in: International Seminar Theory and Practice in Conservation a tribute to Cesare Brandi,, Lisboa, LNEC, Maio 2006.p.509 516. [3] Mora, Paolo, MORA, Laura La Conservazione delle pitture murali; Bologna, Compositrice, 2001, p.256. [4]VEIGA, Rosário de rebocos para paredes de edifícios antigos: Requisitos e características a respeitar, in: Cadernos de Edifícios, nº 2, Lisboa, LNEC, 2002,.p.50 [5] GRIFFIN, Isobel - Pozzolanas as Additives for Grouts An investigation of their working properties and performance characteristics, in: Studies Conservation, 49, London, IIC, 2004, p.23-34.