QUESTÃO DE ORDEM PROCESSUAL (Matéria relevante: incompetência absoluta)

Documentos relacionados
CLÁUDIA CORDEIRO CRUZ, por seus advogados infraassinados, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, informar e requerer o quanto segue.

Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA ROSA WEBER, ILUSTRE RELATORA DO INQUÉRITO 4.680/SE

Nº /2015 ASJCRIM/SAJ/PGR Petição nº Relator : Ministro Teori Zavascki Nominado : ALEXANDRE JOSÉ DOS SANTOS

: MIN. ALEXANDRE DE MORAES DECISÃO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO RELATOR EDSON FACHIN SEGUNDA TURMA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL AGRAVO REGIMENTAL CISÃO PROCESSUAL

ESTADO DO TOCANTINS PODER JUDICIÁRIO 2ª CÂMARA CRIMINAL GAB. DES. CARLOS SOUZA

: MIN. TEORI ZAVASCKI

CONTRARRAZÕES AO RECURSO DE APELAÇÃO DO MPF

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

: MIN. ROSA WEBER. presidencial de 2010, por meio de contratos simulados com empresas indicadas pelo investigado.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ FEDERAL DA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA

Supremo Tribunal Federal

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA - 2ª REGIÃO NÚCLEO CRIMINAL DE COMBATE À CORRUPÇÃO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

MPF Ministério Público Federal Procuradoria da República no Estado do Paraná

Ministério Público Federal

COPIA - STF AP CPF /10/ :41:09

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR TEORI ZAVASCKI, DD. MINISTRO RELATOR DA PET /PR, EM TRÂMITE PERANTE O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Direito Eleitoral Bruno Gaspar

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAI. Procuradoria-Geral da República

JOSÉ ROBERTO BATOCHIO ADVOGADOS ASSOCIADOS

N /2017- GTLJ/PGR Petição n Relator: Ministro Edson Fachin

Excelentíssimo Senhor Doutor Ministro Presidente do Egrégio Supremo Tribunal Federal

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

Contrarrazões ao agravo regimental

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO TEORI ZAVASCKI DO EXCELSO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MPF Ministério Público Federal Procuradoria da República no Paraná

MPF Ministério Público Federal Procuradoria da República no Paraná Força-Tarefa

MINISTERIO PUBLICO FEDERAL Procuradoria-Geral da Republica. Petis;ao o. 7038/DF Relator: Ministro Edsoo Fachio Requerente: Ministerio Publico Federal

Superior Tribunal de Justiça

Supremo Tribunal Federal

Supremo Tribunal Federal

Supremo Tribunal Federal

Registro: ACÓRDÃO

Supremo Tribunal Federal

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO Gabinete do Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho (convocado)

Habeas Corpus

(ii) Do cabimento da medida

MPF Ministério Público Federal Procuradoria da República no Paraná

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 13ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA

Câmara dos Deputados Partido dos Trabalhadores Gabinete da Liderança

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Supremo Tribunal Federal

fazer vistas grossas a este fato. Por exemplo, na investigação sobre narcotráfico, a interceptação (sempre autorizada) revela que os mesmos sujeitos

23/09/2016 SEGUNDA TURMA : MIN. DIAS TOFFOLI EMENTA

: MIN. TEORl ZA VASCKI :SOB SIGILO

Câmara dos Deputados Partido dos Trabalhadores Gabinete da Liderança

Supremo Tribunal Federal

Informativo comentado: Informativo 931-STF

RELATÓRIO DE DADOS (L J) Ministro Edson Fachin

05/02/2013 SEGUNDA TURMA : MIN. GILMAR MENDES TERRITÓRIOS

DECISÃO: Trata-se de conflito de atribuições instaurado entre o Ministério Público Federal e o Ministério Público do Estado de Pernambuco.

Supremo Tribunal Federal

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE GUANAMBI DECISÃO

Fazenda Pública em Juízo Guilherme Kronemberg Hartmann

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO. MÓDULO II 1. Regras de competência 2. Procedimento 3. Pedidos 4. Recurso Ordinário Constitucional

Ementa: PROCESSUAL PENAL. RECLAMAÇÃO. AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA. LESÃO CORPORAL /06 (ARTS. 12, I E 16). LEI MARIA DA PENHA.

Inquérito Policial nº

RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL COM PEDIDO DE LIMINAR

!li. Impresso por: AP Em: 11/12/ :10:11. Excelentíssimo Senhor Ministro Edson Fachin.

Supremo Tribunal Federal

:MIN. MARCO AURÉLIO DECISÃO. 1. Eis as informações prestadas pelo assessor Dr. Vinicius de Andrade Prado:

09/09/2016 SEGUNDA TURMA : MIN. TEORI ZAVASCKI

:RICARDO DE REZENDE FERRAÇO. Cópia. Ementa: PROCESSO

IV - APELACAO CIVEL

embargos de declaração

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA - PR

JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA/PR

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO DISTRITO FEDERAL

11/09/2017 SEGUNDA TURMA : MIN. EDSON FACHIN NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA NO ESTADO DO PARANÁ - ASSINCRA/PR REFORMA AGRÁRIA - INCRA

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

OFÍCIO Nº

: DESEMBARGADORA FEDERAL ASSUSETE MAGALHÃES

Pós Penal e Processo Penal. Legale

V O T O. Na espécie, consoante relatório do decisum atacado,

COMENTÁRIOS A ACÓRDÃO II

Supremo Tribunal Federal

Destaques penais do STF em ) Interrogatório do acusado Informativo 812 ADPF 378/DF, rel. min. Edson Fachin, julgada em dezembro de 2015, rito

Supremo Tribunal Federal

Pós Penal e Processo Penal. Legale

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL CRIMINAL DE CURITIBA PR

ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO MARTÔNIO PONTES DE VASCONCELOS

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

30/06/2017 SEGUNDA TURMA

Ministério Público Federal Procuradoria-Geral da República

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº, DE 2015 (Do Sr. Carlos Sampaio e outros)

EXCELENTISSIMO SENHOR MINISTRO CORREGEDOR DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA.

A ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA ATUAR NOS PROCESSOS COM LIDES ENVOLVENDO SINDICATOS E SERVIDORES PÚBLICOS

06/08/2013 SEGUNDA TURMA : MIN. TEORI ZAVASCKI

Vistos etc. Decido. Não merece prosperar a pretensão punitiva. estatal deduzida em juízo contra a ré

Supremo Tribunal Federal

Supremo Tribunal Federal

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. PROCURADORIA GERAL DA REPUBLICA DCJ/SUBGDP/PGR - DIVISÃO DE CONTROLE JUDlCIALlPGR

: MIN. JOAQUIM BARBOSA

Supremo Tribunal Federal

Supremo Tribunal Federal

Transcrição:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO-RELATOR TEORI ZAVASCKI REF. INQUÉRITO N. 4.207/DF EDUARDO COSENTINO DA CUNHA, brasileiro, casado, deputado federal, com identidade nº 15303 CRE/RJ, inscrito no CPF sob o nº 504.479.717-00, vem, perante Vossa Excelência, suscitar, com base no art. 13, VII, do Regimento Interno do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, a seguinte QUESTÃO DE ORDEM PROCESSUAL (Matéria relevante: incompetência absoluta) no INQUÉRITO N. 4.207/DF, em face das razões de fato e de direito abaixo alinhavadas. 1. O presente inquérito foi instaurado em face do peticionário para apurar supostos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no contexto do denominado projeto PORTO MARAVILHA. O pedido de instauração, formulado pelo PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA, tem 1

por base as declarações de RICARDO PERNAMBUCO e RICARDO PERNAMBUCO JR., acionistas da empresa CARIOCA CRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA. 2. Segundo o Parquet, as referidas colaborações trazem relevantes aportes probatórios no sentido de que, entre maio de 2011 e setembro de 2014, em locais que incluem o Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP, Brasília/DF bem como, ao que tudo indica, a Confederação Suíça, o Deputado Eduardo Cunha solicitou, para si e para outrem, das empresas Odebrecht, OAS e Carioca Cristiani Nielsen Engenharia, vantagem indevida no valor de 52 milhões de reais, para atuar no contexto da aquisição, pela Caixa Econômica Federal, da totalidade de títulos emitidos pelo Município do Rio de Janeiro para financiar as obras do projeto intitulado Porto Maravilha, cujo escopo é a revitalização da área portuária da Cidade do Rio de Janeiro. 3. Instruem os autos o Termo de Colaboração nº 2, de RICARDO PERNAMBUCO JÚNIOR e o Termo de Colaboração nº 2, de RICARDO PERNAMBUCO. Neste último, estão narradas supostas ocorrências a respeito da Parceria Público Privada (PPP) firmada para a revitalização da área portuária da cidade do Rio de Janeiro, no projeto denominado Porto Maravilha e questões relativas ao relacionamento existente entre os colaboradores e o peticionário, a exemplo de um fantasioso pedido de doações eleitorais à campanha do então DEPUTADO FEDERAL HENRIQUE EDUARDO ALVES. 4. Em suma: os fatos submetidos à investigação nos presentes autos não guardam nenhuma conexão com eventual 2

favorecimento em contratos celebrados entre o denominado grupo de empreiteiras e a PETROBRÁS. Diferentemente do quanto imputado ao ora requerente nas duas denúncias contra ele oferecidas pelo MPF no âmbito da operação Lava Jato 1, na corrente hipótese não se investiga nenhum contrato com a mencionada estatal, nem mesmo qualquer fato minimamente a ela relacionado. 5. Comprovada a ausência de relação de dependência entre os fatos apurados neste inquérito e aqueles objeto da conhecida operação Lava Jato, deve ser aplicado o entendimento segundo o qual a conexão intersubjetiva ou instrumental decorrente do simples encontro fortuito de prova que nada tem a ver com o objeto da investigação principal não tem o condão de impor o unum et idem judex 2. Essa é a jurisprudência pacífica do Pretório Excelso que vem sendo reiterada em diversos precedentes, v.g. HC nº 81.260/ES, Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 19/4/02; HC nº 83.515/RS, Pleno, Relator o Ministro Nelson Jobim, DJ de 4/3/05; HC 84.224/DF, Segunda Turma, Relator para o acórdão o Ministro Joaquim Barbosa, DJe de 16/5/08; AI nº 626.214/MG-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJe de 8/10/10; HC nº 105.527/DF, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJe de 13/5/11; HC nº 106.225/SP, 1 No âmbito do inquérito n. 3.983/DF são investigados contratos celebrados entre a Petrobrás e o estaleiro SANSUNG HEAVY INDUSTRIES CO, para a compra do navio-sonda PETROBRÁS 10000 e d navio-sonda VITORIA 10000. Já no inquérito 4.146/DF é investigado o contrato celebrado entre a PEROBRÁS e a Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl (CBH), controlada pelo Lusitania Group, para compra de poços de petróleo no Benin, país da África. 2 Questão de Ordem no Inquérito 4.130/PR. 3

Primeira Turma, Relator para o acórdão o Ministro Luiz Fux, DJe de 22/3/12; RHC nº 120.111/SP, Primeira Turma, de minha relatoria, DJe de 31/3/14. 6. Conforme o disposto no art. 70 do Código de Processo Penal 3, a modificação da competência pela conexão ou continência só existe, respectivamente, quando o entrelaçamento de fatos sugere uma única atividade instrutória necessária para a formação do convencimento em todas as causas, e, também, quando a inter-relação lógica entre os julgamentos traz consigo um perigo de contradição no caso de serem as causas decididas separadamente 4. Ressalte-se: na conexão, o interesse é evidentemente probatório, pois o vínculo estabelecido entre os delitos decorre da sua estreita ligação. Já na continência, o que se pretende é, diante de um mesmo fato praticado por duas ou mais pessoas, manter uma coerência na decisão 5. E, no caso dos autos, inexiste qualquer relação entre os fatos presentemente apurados e as supostas fraudes envolvendo a PETROBRÁS; outrossim, não há nenhuma circunstância que indique concretamente que a distribuição por dependência ao MINISTRO TEORI ZAVASCKI possa facilitar a apuração probatória. 7. Recentemente, o PLENÁRIO deste SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL julgou procedente a Questão de Ordem suscitada no 3 Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. 4 KARAM, Maria Lúcia. Competência no Processo Penal. 3ª edição revista e atualizada. p. 66. 5 LOPES Jr, Aury. Direito Processual Penal. 11 ed. São Paulo, Saraiva, 2014. p 498. 4

Inquérito nº 4.130/PR, para cindir o feito em trâmite na 13ª VARA FEDERAL DE CURITIBA/PR, quanto a suposto esquema de corrupção ocorrido no MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO. Os fundamentos consignados pelo PRETÓRIO EXCELSO são inteiramente aplicáveis ao presente caso, devendo, assim, o presente feito ser encaminhado à livre distribuição. 8. No precedente do STF acima citado 6, firmou-se o entendimento de que: (i) é necessária a imbricação dos fatos para justificar a definição da competência por conexão probatória; (ii) a circunstância de serem fatos alheios ao suposto esquema de corrupção ocorrido na Petrobrás justifica a) a cisão dos feitos e b) a fixação da competência do juízo competente a partir do local dos fatos; (iii) o fato de as investigações terem se iniciado a partir do acordo de colaboração premiada celebrado por pessoa envolvida no esquema de corrupção na Petrobrás não justifica, por si só, a definição da competência pela conexão ou continência. Acerca do tema, observem-se os seguintes fundamentos do voto condutor do mencionado precedente, in verbis: Não se verifica, assim, nenhuma dependência recíproca entre esses fatos, geneticamente relacionados, em tese, à gestão de empréstimos consignados no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, e a apuração de fraudes e desvio de recursos no âmbito da Petrobras. Dito de outro modo, não se trata de fatos que se imbriquem de forma tão profunda que justifique a unidade de processo e julgamento. Pouco importa, nesse diapasão, que as investigações tenham se iniciado a partir do acordo de colaboração premiada celebrado por José Adolfo Pascowitch e Milton Pascowitch, os quais, além de 6 Voto do Min. Dias Toffoli, QO nº INQ nº 4.130/PR. 5

admitirem a intermediação do pagamento de vantagens indevidas por parte de empresas contratadas pela Petrobras, teriam revelado que a pedido de JOÃO VACCARI NETO, celebraram por intermédio da empresa JAMP ENGENHEIROS ASSOCIADOS, contrato com empresas do Grupo CONSIST para operacionalizar o repasse de vantagens indevidas para o Partido dos Trabalhadores PT. Ainda que esses esquemas fraudulentos possam eventualmente ter um operador comum e destinação semelhante (repasse de recursos de origem escusa a partido político ou candidato a cargo eletivo), trata-se de fatos ocorridos em âmbitos diversos, com matrizes bem distintas (Petrobras e Ministério do Planejamento). Não se vislumbra, portanto, como a prova de crimes em tese ocorridos naquela sociedade de economia mista, relativos a pagamentos de vantagens indevidas para obtenção de contratos, possa influir decisivamente na prova de crimes supostamente praticados no âmbito do Ministério do Planejamento, relativos à gestão de empréstimos consignados, ou vice-versa, a justificar a reunião de processos por conexão probatória ou instrumental (art. 76, III, CPP). Também não se entrevê que os crimes ocorridos num âmbito tenham sido praticados para facilitar a execução, para ocultar, garantir vantagem ou impunidade de crimes praticados noutro âmbito, hipóteses de conexão objetiva, lógica ou material (art. 76, II, do CPP) - que visa não apenas facilitar a colheita da prova, mas sobretudo permitir ao juiz aplicar as consequências de ordem penal (v.g., reconhecimento da agravante genérica do art. 61, II, b, do CP). 9. Todas as circunstâncias declinadas no voto condutor são semelhantes àquelas retratadas no presente inquérito, que, portanto, deve ser encaminhado à livre distribuição. 10. Enfatiza-se que, no presente caso, o próprio PROCURADOR- GERAL DA REPÚBLICA, ao se manifestar pela primeira vez sobre os fatos trazidos à baila pelos colaboradores RICARDO PERNAMBUCO e RICARDO PERNAMBUCO JR., pugnou pelo declínio de competência em relação a duas das petições Pet. 5.900 e Pet. 5.901, ambas relativas ao recebimento, no exterior e por meio de empresa offshore, por ANDRÉ DE SOUZA, proprietário da EMPRESA NOVA ADVISORS, de pagamento feito 6

pela empresa CARIOCA CRISTIANI NIELSEN ENGENHARIa pela prestação de serviços de estruturação mobiliária, senão vejamos: Dada a narrativa dos colaboradores, que situam no Rio de Janeiro/RJ a conduta de André de Souza consistente em solicitar que a quantia a ser paga a sua empresa fosse creditada em conta no exterior de titularidade de empresa offshore; dado, ainda, não haver, ao menos por ora, elementos que indiquem conexão ou continência de sua conduta com os fatos encartados na Operação Lava Jato, cumpre declinar da competência para o processamento das Petições 5.900 e 5.901 em favor de uma das Varas Federais Criminais especializadas em crimes de lavagem de dinheiro da Sede da Seção Judiciária do Estado de Rio de Janeiro. 11. Mas, em relação às outras situações narradas pelos delatores, que dizem respeito à supostas condutas de EDUARDO CUNHA nada foi dito quanto à necessária livre distribuição do feito. Daí porque o presente pleito também tem por fundamento a necessidade de tratamento isonômico em situações idênticas. 12. Nesse contexto, requer-se a declinação de competência, por parte de Vossa Excelência, Ministro TEORI ZAVASCKI e, conseguintemente, o encaminhamento do presente inquérito à livre distribuição. E. deferimento Brasília, 16 de maio de 2016. Ademar Borges de Sousa Filho Fernanda Lara Tórtima OAB/DF 29.178 OAB/RJ 119.972 João Marcos Braga OAB/DF 50.360 7