1 Princípios de Contabilidade... 1 1.1 Princípios x Regras... 1 1.2 Enumeração dos Princípios de Contabilidade... 3 1 Princípios de Contabilidade Já foi visto o que é a Contabilidade: ciência que se ocupa do estudo do patrimônio. Foi visto também o conceito de patrimônio (e sua representação gráfica). Em suma, até agora nos preocupamos em definir o que e para que falta, então, definir COMO. Este é o objeto do presente tópico da matéria: iniciar o aluno na maneira como a Contabilidade estuda o patrimônio, e como ela cumpre seus objetivos, de controle do patrimônio e de apuração do resultado. Isso é realizado a partir da definição de critérios, apresentados nos Princípios Fundamentais de Contabilidade e nas Convenções Contábeis, atualmente tratadas na Estrutura Conceitual Básica das demonstrações financeiras. Importante repisar que o conhecimento dos Princípios Fundamentais de Contabilidade (e sua correta aplicação), das antigas convenções contábeis e da estrutura conceitual, permite que o pensamento flua, de maneira lógica, fazendo com que o estudante conclua por si várias determinações específicas da Contabilidade, evitando a necessidade de memorização ( decoreba ). Assim, devemos ter o maior cuidado no estudo desse tema, pois o assunto aqui tratado será referenciado ao longo de todo nosso curso. 1.1 Princípios x Regras O conceito clássico de princípio é o de algo que aponta para uma situação desejada. Por exemplo, se eu digo: Por princípio, eu procuro fazer as refeições em casa, isso significa que a situação por mim desejada é a de que eu tenha uma vida que me permita fazer as refeições em casa. Ocorre que nada impede que, em um dia especial, de trabalho intenso por exemplo eu venha a fazer as refeições em um restaurante ou, ainda, em um final de semana, eu almoce em uma churrascaria com amigos e a família. Vejam que um princípio pode deixar de ser aplicado em sua plenitude, quando se choca com outro princípio. Nos exemplos acima, eu posso eventualmente deixar de fazer refeições em casa porque também tenho, por princípio, não chegar atrasado ao trabalho após o horário de almoço ou, ainda, porque eu também tenho, por princípio, manter uma vida social agradável. Assim, um princípio (em sua concepção clássica) não é de aplicação integral, mas preferencial e parcial, de maneira a contemporizar a aplicação de outros princípios e contribuir para o funcionamento de um sistema desejado. Luiz Eduardo Santos Página 1 de 5
Ora, a idéia de princípio difere da idéia de regra. A regra é a forma pela qual o princípio deve ser alcançado e representa algo que sempre deve ser aplicado, quando ocorre a situação a que ela se refere. Por exemplo, é proibido instituir ou majorar tributo sem lei anterior que o defina (com exceção do II, do IE, do IPI, do IOF, dos impostos extraordinários de guerra e do empréstimo compulsório motivado por guerra externa ou sua iminência). Repare que não é possível deixar de cumprir essa regra, porque é proibido. Aqui, entra a idéia de princípio contábil: Os princípios fundamentais de Contabilidade são apresentados como o entendimento predominante acerca da essência da teoria da Contabilidade. Os princípios de Contabilidade estão definidos na Resolução CFC n 750, de 1993 com a redação dada pela Resolução CFC n 1.282, de 2010 (que será estudada neste item de nosso curso) e têm por base legal a Lei das S/A que, em seu art. 177 determina a observação dos princípios de contabilidade geralmente aceitos, nos termos a seguir: Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência. (Grifos na Transcrição) Os Princípios Fundamentais de Contabilidade se enquadram, em grande parte, no conceito de princípio (visto que apontam para a maneira desejada de apresentação do patrimônio). Mas tais princípios se enquadram, também e, às vezes, de maneira muito forte, no conceito de regra, pois sua observação é obrigatória, conforme se depreende do art. 1 o da Resolução CFC n 753, de 1993, abaixo: RESOLUÇÃO CFC N.º 750/93 Dispõe sobre os Princípios de Contabilidade (P.C.) O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas atribuições legais e regimentais, CONSIDERANDO a necessidade de prover fundamentação apropriada para interpretação e aplicação da Normas Brasileiras de Contabilidade, RESOLVE: CAPÍTULO I DOS PRINCÍPIOS E DE SUA OBSERVÂNCIA Art. 1º Constituem PRINCÍPIOS DE CONTABILIDADE (P.C.) os enunciados por esta Resolução. 1º A observância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade é obrigatória no exercício da profissão e constitui condição de legitimidade das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC). 2º Na aplicação dos Princípios de contabilidade há situações concretas e a essência das transações deve prevalecer sobre seus aspectos formais. (grifos na transcrição). Assim, vê-se que os Princípios de Contabilidade são de observância obrigatória. A característica principal dos Princípios de Contabilidade é a obrigatoriedade de sua Luiz Eduardo Santos Página 2 de 5
observância. Adicionalmente, frisa-se que, na aplicação dos princípios, a essência deve prevalecer sobre a forma. Cuidado, isso foi questão de prova também! 1.2 Enumeração dos Princípios de Contabilidade Os Princípios de Contabilidade, portanto, apresentados como o entendimento predominante acerca da essência da teoria da Contabilidade, são enumerados conforme arts. 2º e 3 o da Resolução CFC n 750, de 1993. Antes de apresentar os princípios de contabilidade, cabe informar que recentemente o Conselho Federal de Contabilidade CFC reviu seus Princípios. No dia 02 de junho de 2010, foi publicada, no Diário Oficial da União, a Resolução CFC n 1.282, de 2010, que atualizou a famosa Resolução CFC n 750, de 1993. Essa Resolução CFC n 750, de 1993, havia definido os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Com isso, os referidos princípios foram revistos. Em seguida, apresentaremos, em linhas gerais, os motivos dessa revisão, com referência aos principais pontos alterados. Originalmente, os princípios contábeis eram sete: (1) entidade, (2) continuidade, (3) oportunidade, (4) registro pelo valor original, (5) atualização monetária, (6) competência e (7) prudência. Porém, o princípio da atualização monetária deixou de ser considerado um princípio, passando a ser um critério alternativo à aplicação do princípio do registro pelo valor original. O motivo da atualização da Resolução CFC n 750, de 1993, é o processo de convergência contábil internacional, que vem sendo implantado em nosso país através da aprovação (pelos órgãos regulamentadores) de pronunciamentos técnicos, interpretações e orientações do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), elaborados com base em textos produzidos pelo IASB (International Accounting Standards Board). Em específico, havia sido foi aprovado pelo CFC (através da resolução 1.121, de 2008) o Pronunciamento Conceitual Básico Estrutura Conceitual, do CPC (que será estudada em detalhes adiante em nosso curso). A referida Estrutura Conceitual tinha por objeto a apresentação dos fundamentos da elaboração e apresentação da informação contábil, objeto esse concorrente com aquele da Resolução CFC n 750, de 1993. A análise conjunta dos textos (Estrutura Conceitual e Princípios Fundamentais de Contabilidade) revelava, entretanto, que eles não eram incompatíveis e que, ao contrário, tinham uma complementaridade, que lograva dar bases sólidas ao pensamento contábil. Assim, ao invés de derrogar os Princípios Fundamentais de Contabilidade, o advento da Estrutura Conceitual resultou em uma nova abordagem na aplicação desses princípios. Pois bem, a atualização da Resolução CFC n 750, de 1993, está em linha com esse processo e teve por objetivo deixar os dois textos totalmente em linha. Resumidamente, temos que as alterações encontram-se a seguir apresentadas. 1. Os Princípios Fundamentais de Contabilidade passaram a ser denominados Princípios de Contabilidade. 2. Alguns princípios passaram a ser apresentados de forma mais resumida. (a) O Princípio da Continuidade teve sua definição resumida, para manter o foco na presunção de que a entidade não irá se extinguir em um horizonte de tempo conhecido. Luiz Eduardo Santos Página 3 de 5
(b) O Princípio da Oportunidade continua sendo informado pelos critérios da tempestividade e da integridade, porém esses critérios deixaram de ser analiticamente apresentados. Por outro lado, foi realçada a relação entre: - integridade e tempestividade, necessárias à apresentação de informação relevante; e - a confiabilidade da informação, que pode ser prejudicada pela tempestividade de sua apresentação. (c) O princípio da competência foi apresentado sem ter os conceitos de receita realizada e despesa incorrida explicitados. (d) O princípio da prudência, em sua apresentação, deixou de fazer referência às mutações patrimoniais posteriores, mantendo-se a idéia original. 3. O Princípio da Atualização Monetária deixou de ser considerado um princípio, passando a constar no texto como mero comentário adjeto ao Princípio do Registro pelo Valor Original. 4. O Princípio do Registro pelo valor Original passou a ser tratado com muito mais detalhes, fazendo referência a outros possíveis critérios de avaliação de elementos patrimoniais em momentos posteriores ao de seu ingresso no patrimônio. A seguir, para ilustração do que foi acima exposto, encontra-se reproduzido o texto dos arts. 2º e 3º da Resolução CFC n 750, de 1993, com a redação original riscada, seguida da redação atual: CAPÍTULO II DA CONCEITUAÇÃO, DA AMPLITUDE E DA ENUMERAÇÃO Art. 2º Os Princípios Fundamentais de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade consoante o entendimento predominante nos universos científico e profissional de nosso país. Concernem, pois, à contabilidade no seu sentido mais amplo de ciência social, cujo objeto é o patrimônio das entidades. Art. 2º Os Princípios de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade, consoante o entendimento predominante nos universos científico e profissional de nosso País. Concernem, pois, à Contabilidade no seu sentido mais amplo de ciência social, cujo objeto é o Patrimônio das Entidades. (Redação dada pela Resolução CFC nº 1.282/10) Art. 3º São Princípios Fundamentais de Contabilidade. Art. 3º São Princípios de Contabilidade: (Redação dada pela Resolução CFC nº 1.282/10) I. o da ENTIDADE; II. III. IV. o da CONTINUIDADE; o da OPORTUNIDADE; o do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL; V. o da ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA;(Revogado pela Resolução CFC nº 1.282/10) VI. VII. o da COMPETÊNCIA e o da PRUDÊNCIA. Luiz Eduardo Santos Página 4 de 5
Importante, na absoluta maioria dos concursos, nos últimos dez anos, na prova de Contabilidade, pelo menos uma questão versava sobre princípios contábeis. Assim, além de entender seu significado, para resolver a questão é necessário memorizar quais são os princípios 1 (evitando sempre memorizar o que não se entende, porém memorizando os conceitos já entendidos e cuja memorização se faz necessária). Uma idéia, por nós proposta para este curso, é a de se utilizar mnemônicos (pequenas siglas simples e, na maioria das vezes, bem humoradas) que nos ajudem a memorizar conceitos complexos. No caso dos Princípios de Contabilidade, para sua memorização, imaginem a situação de um vendedor que realizou uma venda, mas que logo em seguida percebeu que poderia vender a mesma mercadoria pelo dobro do preço, para outro comprador. Se for possível, ele tentará recomprar a mercadoria, para depois revendê-la ao terceiro, pelo dobro do preço. Então ele diz: Eco! Recompru! E C O Re Com Pru é um mnemônico que referencia o nome dos Princípios de Contabilidade: - Entidade - Continuidade - Oportunidade - Registro pelo valor original - Competência - Prudência A seguir, passaremos ao estudo de cada um dos princípios acima relacionados. 1 Conforme já foi dito, não é necessário decorar, somente se quiser passar na prova, senão, a solução é tentar o próximo concurso (imaginem sempre que a prova deverá ser feita COM CONSULTA - consulta à memória). Luiz Eduardo Santos Página 5 de 5