O Efeito da Dexametasona na Fertilidade do Cão 1



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Transcrição:

Trabalho de Pesquisa O Efeito da Dexametasona na Fertilidade do Cão 1 The Effect of Dexametasone on Fertility in Dog Romildo Romualdo WEISS* Mônica C. AMARAL** Joséli M. BÜCHELE*** Cristine MESSIAS**** WEISS, R.R.; AMARAL, M.C.; BÜCHELE, J.M.; MESSIAS, C. O efeito da dexametasona na fertilidade do cão. Rev Bras Med Vet Pequenos Anim Anim Estim, Curitiba, v.1, n.1, p.30-34, jan./mar. 2003. O objetivo do presente trabalho foi verificar se a dexametasona provoca alterações em determinadas funções sexuais de cães. Foram escolhidos 6 cães sem raça definida, da mesma idade e aproximadamente com o mesmo peso, os quais foram divididos em dois grupos, controle (n=2) e experimental (n=4). O experimento foi dividido em dois períodos, preliminar e experimental, ambos com duração de 9 semanas. Após a padronização durante o período preliminar das características avaliadas, os animais do grupo experimental receberam doses diárias de dexametasona nas seguintes dosagens: 0,5mg/kg, 0,25mg/kg e 0,125mg/kg, respectivamente na primeira, segunda e terceira semana do período experimental. Foram analisados e comparados os dados obtidos nos dois períodos para ambos os grupos. As características avaliadas foram: comportamento sexual, alterações macroscópicas dos órgãos sexuais, volume seminal, aspecto, motilidade progressiva, concentração espermática, número total de células espermáticas, defeitos espermáticos e a dosagem de testosterona plasmática. Os resultados obtidos foram: não encontraram-se alterações no comportamento sexual, morfologia dos órgãos sexuais, aspecto do sêmen e no índice de defeitos espermáticos durante o período experimental; houve diminuição no volume do ejaculado, número total de células espermáticas e na motilidade dos espermatozóides; houve redução acentuada no nível plasmático de testosterona no grupo experimental durante a medicação com dexametasona quando comparado com o grupo controle. PALAVRAS-CHAVE: Dexametasona; Cão; Infertilidade/veterinária; Sêmen. 1 Este trabalho é resumo de dissertação de mestrado * Professor Titular da Disciplina Reprodução Animal, Departamento de Medicina Veterinária UFPR, Curitiba; Rua dos Funcionários, 1540, Juvevê CEP 80050-035, Curitiba, PR; e-mail: weiss@agrarias.ufpr.br ** Médica Veterinária, Mestre em Ciências Veterinárias UFPR, Curitiba *** Médica Veterinária, Mestre em Ciências Veterinárias UFPR, Curitiba; e-mail: jbuchele@bol.com.br **** Médica Veterinária, Mestre em Ciências Veterinárias UFPR, Curitiba

INTRODUÇÃO A córtex da adrenal sintetiza mais de cinqüenta esteróides naturais, mas apenas poucos têm efeitos biológicos significativos (BARLOW & ROSENTHAL, 1973; FELDMAN & NELSON, 1991). O estudos das propriedades químicas dos esteróides adrenocorticais demonstraram que a atividade antiinflamatória tem grande correlação com a sua atividade glicocorticóide e que os efeitos colaterais indesejáveis (retenção sódica e edema) são associados à atividade mineralocorticóide (ENOS, 1971; STREETEN, 1975; FELDMAN & NEL- SON, 1991). Os corticosteróides estão entre os grupos de drogas usadas com maior freqüência na Medicina Veterinária, pois são amplamente utilizadas no tratamento de diversas condições clínicas. Numerosos hormônios glicocorticóides têm sido sintetizados com a intenção de aumentar a potência antiinflamatória e reduzir a atividade mineralocorticóide (BREZNOCK, 1970; PARILLO, 1979; WESTERHOF & PELLICAN, 1995). Os glicocorticóides sintéticos mais utilizados na clínica veterinária são: hidrocortisona (de ação rápida); prednisona e prednisolona (de ação intermediária); dexametasona e betametasona (de ação prolongada). A dexametasona é a droga de primeira escolha para a indução de uma terapia com corticosteróides, entretanto é a mais cara e a com maior potencial de provocar efeitos colaterais durante uma terapia prolongada (MULLER, 1989; REEDY, 1989). Os efeitos adversos dos corticosteróides são inúmeros: alteram o metabolismo de carboidratos, proteínas, gorduras e purinas; e influenciam o equilíbrio hidroeletrolítico, atuando, portanto, sobre os sistemas cardiovascular, nervoso, renal e musculatura esquelética (CALVERT & CORNELIUS, 1990). A incidência dos efeitos colaterais adversos aumenta com a extensão da terapia, particularmente quando uma dose alta é administrada por um longo período (KEMPPAINEN, 1982). Sobre o sistema reprodutivo de cães, estudos revelam que os corticosteróides podem provocar uma supressão do FSH e LH e, como conseqüência, diminuição dos níveis de testosterona, atrofia testicular, ausência de libido, oligospermia e infertilidade (TAKEISHI & MIANI, 1976; JAMES et al., 1979; TAHA et al., 1981). Entretanto, TOHEI et al. (1997) demonstraram que ratos tratados com glicocorticóide sintético apresentaram um declínio nos níveis de testosterona e inibina, enquanto o mesmo não ocorreu com os níveis de LH e FSH. Muito se sabe a respeito das ações, indicações, efeitos colaterais e toxicidade dos glicocorticóides, porém há pouca informação sobre seus efeitos na reprodução canina, principalmente em relação à fertilidade nos machos. O objetivo do trabalho foi de avaliar o efeito da administração exógena do glicorticóide dexametasona sobre o comportamento sexual, características seminais do cão e nível de testosterona. MATERIAL E MÉTODO Animais Foram utilizados 6 cães SRD, com peso aproximado de 10kg e idade em torno de 2 anos, oriundos do canil da Prefeitura Municipal de Curitiba. Todos os animais foram submetidos à avaliação clínica e andrológica e, após serem considerados aptos, foram incluídos no experimento. Durante o período de testes, os cães receberam água à vontade e ração seca comercial (ROYAL CANIN ). Delineamento experimental O experimento foi conduzido durante os meses de junho a outubro de 1998, totalizando 18 semanas, período correspondente a duas espermatogêneses. O período total foi dividido em duas fases, fase preliminar e fase experimental, com duração de 9 semanas cada. Os animais foram divididos em dois grupos, sendo um grupo controle, composto por dois animais, e um grupo experimental, constituído por 4 animais. Durante a fase preliminar, para padronização dos parâmetros estudados, o ejaculado de cada cão foi colhido duas vezes por semana, com o objetivo de definir um perfil seminal para os animais do estudo. As características seminais avaliadas foram: volume, aspecto (FELDMAN & NELSON, 1991), motilidade espermática, vigor, concentração em câmara de Toma Nova, número total de células espermáticas e morfologia espermática através da coloração de Cerovisky. Os quatro cães do grupo experimental receberam diariamente, no mesmo horário, injeções de dexametasona (Azium - Shering Plough) por um período de 3 semanas. As doses administradas foram: 0,5 mg/kg, 0,25 mg/kg e 0,125 mg/kg, na primeira, segunda e terceira semana, respectivamente. Os animais do grupo controle receberam injeções de solução fisiológica em volume correspondente ao aplicado no grupo experimental. Durante as nove semanas do período experimental, foram realizadas duas colheitas de sêmen por semana de todos os animais. Além da colheita de sêmen, em ambas as fases, foram realizadas dosagens semanais de testosterona plasmática através da técnica de radioimunoensaio, exame morfológico dos órgãos genitais e avaliação do comportamento sexual. Análise estatística A análise estatística realizada nas amostras obtidas dos grupos, nos períodos preliminar e experimental, foi o teste de significância com distribuição do tipo t. As médias foram comparadas através do teste t de Student entre os grupos. 31

RESULTADOS E DISCUSSÃO Todos os cães submetidos ao tratamento apresentaram alguns sinais clínicos compatíveis com hiperadrenocorticismo, como polidipsia, poliúria e polifagia. Dos quatro cães do grupo experimental, três apresentaram também gastroenterite pela provável interferência do glicocorticóide nos mecanismos de defesa da mucosa (TODD, 1998). Foi observada queda acentuada e significativa (p<0,001) nos valores médios de testosterona do grupo experimental após o início do tratamento, com o retorno gradativo aos valores normais até o final do período experimental. WESTERHOF et al. (1994) descrevem que a diminuição da testosterona se deve ao efeito da dexametasona sobre a hipófise anterior, causando uma supressão na secreção de LH e, como conseqüência, a diminuição da secreção de testosterona pelas células de Leydig. Entretanto, TOHEI et al. (1997) demonstram que a queda nos níveis de testosterona seria por um efeito direto do corticóide sobre os receptores para LH presentes nas células de Leydig, diminuindo a sua sensibilidade ao hormônio luteinizante e, conseqüentemente, a diminuição na produção da testosterona. Não ocorreram alterações na morfologia dos órgãos genitais e o comportamento sexual dos cães permaneceu inalterado, embora tenha ocorrido a diminuição da testosterona plasmática. A avaliação do volume na fase experimental, correspondente ao período em que os animais foram submetidos ao tratamento, demonstra uma diminuição nos valores obtidos quando comparados às três últimas semanas do período preliminar. Estatisticamente esta diferença foi altamente significativa (p<0,001) quando comparada ao volume médio obtido anteriormente. Segundo TAHA et al. (1981), a diminuição no volume ocorre porque os costicosteróides provocam a redução na secreção da próstata e fluido epididimal, além de alterarem sua composição. Com relação à motilidade progressiva no grupo experimental durante o tratamento, pode-se observar queda significativa (p<0,001) quando se comparou às três últimas do período preliminar. A diminuição da motilidade foi mais acentuada na primeira semana, quando se utilizaram dosagens maiores de dexametasona. As médias de motilidade progressiva encontradas no experimento são similares aos encontrados por JONE & JOSHUA (1982), FELDMAN & NELSON (1991) e RICE (1999). Com a diminuição da dosagem, a motilidade retornou aos valores próximos da normalidade. TAHA (1981) relata uma redução na motilidade espermática após o uso de um glicocorticóide de ação prolongada em decorrência de alterações na composição bioquímica do sêmen, provavelmente em decorrência da atividade mineralocorticóide da droga. O número total de espermatozóides também apresentou queda acentuada durante a administração de dexametasona. A diferença foi altamente significativa (p<0,001) quando se comparou o período do tratamento ao período preliminar. PAPICH (1998) encontrou em seu estudo uma supressão de FSH e LH pela hipófise ao longo de um tratamento prolongado, levando ao quadro de oligospermia, efeito reversível após a interrupção da medicação. No entanto, os resultados obtidos no presente experimento são semelhantes aos de TAHA (1981), nos quais verifica-se que a redução do número total de espermatozóides ocorreu logo após a administração do medicamento, não podendo, portanto, ser devido a uma ação na espermatogênese. A avaliação da morfologia espermática não revelou aumento das patologias espermáticas nos animais submetidos ao tratamento e os valores médios para os grupos permaneceram dentro dos limites considerados normais por MIALOT et al. (1984). TABELA 1: Médias e desvio padrão da dosagem de testosterona durante as três últimas semanas do período preliminar e todo o período experimental, em ambos os grupos. Período preliminar Dosagem de testosterona (ng/ml) Período experimental Grupo 7 a 8 a 9 a 1 a 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9 a semana semana semana semana semana semana semana semana semana semana semana semana Controle 600±140,7 716±113,8 674±178,9 729±12,16 618±24,69 671±43,99 629±13,61 710±108,4 645±219 565±91,27 669±37,92 610±28 Experimental 680±137,3 674±162,6 674±162,6 278±159,3 278±159,3 278±159,3 278±159,3 278±159,3 278±159,3 278±159,3 278±159,3 711±82,21 TABELA 2: Médias e desvio padrão dos defeitos espermáticos totais durante as três últimas semanas do período preliminar e todo o período experimental, em ambos os grupos. Período preliminar Defeitos espermáticos totais (%) Período experimental Grupo 7 a 8 a 9 a 1 a 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9 a semana semana semana semana semana semana semana semana semana semana semana semana Controle 11±1,41 11±1,41 11±1,41 11±1,41 11±1,41 11±1,41 11±1,41 11,5±2,12 11,5±2,12 11±1,41 11,5±2,12 11,5±2,12 Experimental 10,75±1,5 10,75±1,5 10,75±1,2 11±1,83 11,25±1,5 11,25±1,5 11±1,16 11±1,16 11±1,4 10,75±1,7 11,25±1,5 10,75±1,7 32

TABELA 3: Médias e desvio padrão dos parâmetros volume, número total de espermatozóides, concentração e motilidade espermática durante as três últimas semanas do período preliminar, em ambos os grupos (GC = Grupo Controle, GE = Grupo Experimental). Período Volume Motilidade Concentração N. total de espermática (%) espermática (x10 6 /mm 3 ) espermatozóides (x10 6 /mm 3 ) GC GE GC GE GC GE GC GE 7 a semana 2,70 ±1,98 1,40±1,11 85±7,07 85±5,77 199±22,62 416±111,78 514±333,05 492±220,24 8 a semana 2,75±1,76 1,72 ±0,1 85±7,07 87,5±5,00 194±12,72 269±60,25 543±383,25 440±223,50 9 a semana 2,05±1,34 1,67±0,99 85±7,07 87,5±5,00 284±31,82 306±59,33 561±316,08 476±181,84 TABELA 4: Médias e desvio padrão dos parâmetros volume, número total de espermatozóides, concentração e motilidade espermática durante o período experimental, em ambos os grupos (GC = Grupo Controle, GE = Grupo Experimental). Período Volume Motilidade Concentração N. total de espermática (%) espermática (x10 6 /mm 3 ) espermatozóides (x10 6 /mm 3 ) GC GE GC GE GC GE GC GE 1 a semana 2,45±1,69 1,11±0,45 85±7,07 5,00±40,8 232±25,46 203±62,34 547±330,93 216±74,29 2 a semana 3,32±1,02 1,17±0,92 85±7,07 70,0±33,6 208±63,64 165±12,78 722±421,44 121±29,58 3 a semana 3,37±0,95 1,18±0,81 85±7,07 80,0±14,1 202±79,90 173±49,03 641±574,17 177±61,16 4 a semana 3,30±0,70 1,17±1,10 90±0,00 87,5±5,00 211±125,9 349±204,8 741±564,27 324±181,3 5 a semana 3,20±1,13 1,10±0,89 90±0,00 87,5±5,00 165±84,85 409±155,6 577±457,50 390±235 6 a semana 3,30±0,70 1,47±0,91 90±0,00 87,5±5,00 196±72,12 348±72,28 673±376,89 485±263,1 7 a semana 3,00±1,55 1,20±0,46 90±0,00 87,5±5,00 198±4,95 397±54,45 600±325,27 464±138,8 8 a semana 3,60±0,70 1,60±1,00 90±0,00 87,5±5,00 179±62,93 305±85,48 670±353,55 448±186,1 9 a semana 3,35±0,63 1,62±0,92 90±0,00 87,5±5,00 207±24,75 348±46,08 632±364,16 452±189,8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados deste estudo revelaram que a dexametasona provocou diminuição do volume do ejaculado, da motilidade progressiva dos espermatozóides, do número total de espermatozóides no ejaculado e da testosterona plasmática. Não houve alteração na morfologia dos órgãos genitais, no comportamento sexual e morfologia espermática. WEISS, R.R.; AMARAL, M.C.; BÜCHELE, J.M.; MESSIAS, C. The effect of dexametasone on fertility in dog. Rev Bras Med Vet Pequenos Anim Anim Estim, Curitiba, v.1, n.1, p.30-34, jan./mar. 2003. The effect of dexametasone treatment on sexual functions was studied in six mixed breed dogs. The dogs were divided into two groups, control (n=2) and experimental (n=4). The experiment was divided into two periods; each one with 9 weeks. After the standartization of the sexual characteristics studied, the experimental group received daily injections of dexametasone during 21 days. The initial dose was 0,5mg/kg each every 24h for 7 days, followed by 0,25 mg/kg for 7 days and 0,125 mg/kg for 7 days. The main results of this study were: dexametasona treatment had no effect on libido, morphology of the reproduction organs, semen aspect and percentage of abnormal spermatozoa present in the ejaculate; there was a significant reduction in the volume, sperm motility and total sperm output during experimental period. There was a marked reduction in testosterone concentration in the experimental group when compared with the control group. KEYWORDS: Dexamethasone; Dog; Infertility/veterinary; Semen. REFERÊNCIAS BARLOW, J.E.; ROSENTHAL, A.S. Glucocorticoid suppression of macrophage migration inhibitory factor. J Exp Med, v.137, p.1031-1039, 1973. BREZNOCK, E.M. Adrenocortical insufficiency in a dog. Am J Vet Res, v.31, p.1269, 1970. CALVERT, C.A.; CORNELIUS, L.M. The most common indications for using corticosteroid hormones in veterinary practice. Veterinary Medicine, v.82, p.810-826, 1990. ENOS, L.R. Corticosteroid therapy. J Am Med Assoc, v.1, p.1-4, 1971. FELDMAN, E.C.; NELSON, R.W. Endocrinologia y reproducción canina y felina. Philadelphia: WB. Saunders Company, 1991. JAMES, R.W.; HEYWOOD, R.; STREET, A.E. Biochemical observations on Beagle dog semen. Vet Rec, v.104, p.480-482, 1979. JONES, R.W.; JOSHUA, J.O. Reproductive clinical problems in the dog. Bristol: Wright, 1982. KEMPPAINEN, R.J. Adrenocortical suppression in the dog. Am J Vet Res, v.42, p.204-206, 1982. MIALOT, J.P. Patologia da reprodução dos carnívoros domésticos. [S.l.]: Maisons- 33

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