AVALIAÇÃO DE CULTIVARES DE ALGODÃO EM FUNÇÃO DA ÉPOCA DE SEMEADURA NO CULTIVO PÓS-SOJA NO CENTRO NORTE MATOGROSSENSE SAFRA 2003-04 E SAFRINHA 2004 (*) Rodrigo Marcelo Pasqualli (Fundação Rio Verde / rodrigo@inexamais.com.br), Leandro Bortolon (Fundação Rio Verde), Clayton Giani Bortolini (Fundação Rio Verde), Mauro Júnior Natalino da Costa (Fundação Rio Verde). RESUMO - A validação de cultivares e a identificação da época de implantação ideal para cada uma destas são atividades indispensáveis ao sucesso do algodão, especialmente no Centro Norte Matogrossense, onde seu cultivo passa a ser mais expressivo em segunda safra, implantada após a colheita da soja. Em Lucas do Rio Verde MT, mais de 90% do algodão do ano agrícola (2004) foi cultivado em safrinha, ou pós-soja. A identificação de características das cultivares que proporcionam melhor adaptabilidade em cada época de semeadura pós-soja permite elevar produtividades, melhorar a qualidade do material produzido e conseqüentemente, proporcionar ao cotonicultor maior rentabilidade da cultura, incentivando o incremento deste tipo de cultivo. Palavras chave: cultivares, época de implantação, safrinha. COTTON CULTIVATED EVALUATION IN SEEDLIG SEASON SECOND HARVEST IN MID NORTH OF MATO GROSSO STATE ABSTRACT - The validation of cultivars and the identification of ideal tillage timing for each of these are activities indispensable to cotton success, specially at the Centro Norte Matogrossense, where its cultivate is specially expressive in the second crop, after harvest of soy. At Lucas do Rio Verde-MT, Brazil, more than 90% of the cotton of this harvest (2004) was cultivated in the second crop. The identification of characteristics of cultivars that proportionate better adaptability in each time of sowing after-soy, allows to raise productivity, to improve the quality of produced material and consequently, to provide to cotton producer bigger yield and stimulating the increment of this type of culture. Despite of the climatic conditions registered in this year to have been harmful to the development of the cotton, the gotten results indicate the potentials of adaptation of each cultivars to the regional situation, detaching the lucrative and productive materials for the cotton producer. Key words: cultivar, tillage timing, second harvest. INTRODUÇÃO No Centro Norte Matogrossense o cultivo do algodão teve início em 1997, com seu auge de área plantada na safra agrícola 1999-2000. Após esta safra, devido a questões de valores comerciais de insumos e do produto colhido, o algodão teve seu cultivo reduzido significativamente até a safra 2002-03, deixando ociosas as estruturas existentes na região. Além da queda no valor do algodão, o aumento no valor da soja, seu principal concorrente, afetou a tomada de decisão de redução de área cultivada com algodão, especialmente na região do Médio Norte Matogrossense (FUNDAÇÃO RIO VERDE, 2002). A alternativa para o algodão nesta região foi sinalizada após algumas avaliações realizadas informalmente por agricultores que a implantaram em segunda safra, após a colheita da soja durante o
mês de janeiro, alcançando bons resultados. Mesmo com produtividade média um pouco inferior ao algodão de safra principal, a redução nos custos de produção é expressiva e pode chegar a 30%, aumentando os lucros do algodão safrinha (FUNDAÇÃO RIO VERDE, 2003). A possibilidade de cultivo da soja em safra principal também é estímulo a mudança do algodão para safrinha. Na safrinha 2004, mais de 90% do algodão de Lucas do Rio Verde e uma grande proporção do implantado no Médio Norte do Mato Grosso foi cultivado em safrinha, com algumas produtividades acima de 300 @/ha de algodão em caroço. E em números experimentais a próximo de 400 @/ha (FUNDAÇÃO RIO VERDE, 2004). Mesmo com informações de anos anteriores e alguns resultados de pesquisa nota-se a grande necessidade de informações sobre cultivares para este tipo de cultivo, assim como potencial produtivo para cada situação. Variações são observadas em função do tipo de solo e fertilidade assim como época de semeadura e de clima ocorrido durante o ciclo de cultivo do algodão. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho teve por objetivo avaliar o desempenho de cultivares de algodão disponíveis para cultivo comercial, em situação de cultivo de segunda safra após a colheita da soja no mês de janeiro, sendo estas implantadas em três épocas, semelhantes a início, meio e final de período de semeadura para a cultura. O experimento foi conduzido em Lucas do Rio Verde, (Fundação Rio Verde) Os tratamentos constaram de treze cultivares de algodão disponíveis para cultivo comercial na região, implantadas em três épocas de semeadura safrinha, além de uma época de semeadura em safra principal realizada em dezembro de 2003 as quais tiveram suas produtividades avaliadas. Foi implantado em sistema de semeadura direta, sob resíduos de milheto para a época de safra principal e sob resíduos de soja colhida no mês de janeiro de 2004 para os trabalhos safrinha, como proposto para tal época. O delineamento experimental foi de Blocos Casualizados, dispostos em parcelas Sub-subdivididas, com quatro repetições. As parcelas constaram de quatro linhas espaçadas em 90 cm, com seis metros de comprimento. Como fertilizantes de base, o algodão recebeu doses de N = 25 kg.ha -1, P 2 O 5 = 150 kg.ha -1, e de K2O = 60 kg.ha -1, com micronutrientes calibrados de acordo com necessidade do solo. Em cobertura foram fornecidos 600 kg.ha -1 de fertilizante NPK 20-00-20, parcelado em 3 aplicações, aos 35, 50 e 65 dias após a emergência das plantas. Avaliações realizadas: O rendimento de algodão em caroço foi avaliado através da colheita e pesagem do algodão das duas linhas centrais, descontando-se os 0,5m de cada extremidade, extrapolando o valor obtido para um hectare. pluma avaliado através do beneficiamento do algodão em caroço, de 30 capulhos retirados do terço médio da planta, utilizando-se descaroçadora de rolo para experimentos, e calculando-se o percentual de pluma obtida em cada amostra beneficiada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Este trabalho foi executado visando conhecer as cultivares de algodão em sua nova tecnologia de cultivo, o de semeadura safrinha, após a colheita da soja precoce durante os meses de janeiro e fevereiro. Este sistema de cultivo supera em área o de safra principal para o algodão do Médio Norte Matogrossense. Produtividade do algodão em caroço e rendimento de pluma - O experimento de avaliação de cultivares de algodão foi proposto inicialmente para avaliar cultivares em semeadura safrinha, ou pós soja, sendo implantado em três épocas de semeadura. Porém, a importância de um referencial de produtividade das mesmas cultivares em cultivo de safra principal, ou seja como a única cultura na safra principal foi considerada de grande importância para validar o cultivo safrinha como de ganho econômico expressivo. Os resultados das avaliações de safra principal descrevem as produtividades de cada cultivar, pois este é o fator de maior importância para o cotonicultor. Para o algodão de safra principal, implantado em 20 de dezembro de 2003,os rendimentos ficaram muito abaixo das expectativas iniciais, sendo inferiores a 250@/ha de algodão em caroço (Tab. 1). Tabela 1. em caroço e rendimento de fibra de diferentes cultivares implantadas em Safra Principal em 20 de dezembro de 2003. Lucas do Rio Verde - MT, 2004 em caroço (@/ha) FM 966 Bayer Seeds 242,6 a* 40,7 Delta Opal MDM 240,9 ab 41,1 Delta Penta MDM 237,2 b 41,6 CD 99 2239 Coodetec 235,9 bc 40,7 CD 407 Coodetec 228,8 bc 40,5 Acala 90 MDM 216,5 c 40,9 Fabrika Syngenta Seeds 208,2 d 41,1 CD 406 Coodetec 205,5 d 40,1 Ita 90 202,2 de 41,5 Destak Syngenta Seeds 196,8 de 41,5 CD 9832 Coodetec 191,6 e 40,1 SG 821 MDM 190,9 e 40,2 Makina Syngenta Seeds 183,9 ef 40,9 ** % de fibra obtido em máquina de rolo, para rendimento industrial subtrair 3 unidades Esta baixa produtividade é atribuída as condições climáticas ocorridas nesta safra, com altos índices pluviométricos nos meses de janeiro e março. A eficiência de nutrientes aplicados neste período, em especial para o nitrogênio, é reduzida devido à lixiviação. Outro fator de grande influência é a falta de luminosidade, afetando negativamente a taxa fotossintética e conseqüentemente a produtividade. O rendimento de pluma do algodão foi avaliado através de amostragens (quatro repetições por tratamento) as quais foram submetidas a descaroçamento com máquina Descaroçadora de Rolo. O rendimento de plumas (%) foi elevado, com pequenas variações em função da cultivar avaliada, de até 1,5% (Tab. 2).
Tabela 2. em caroço, rendimento de fibra e classificação do algodão por tipo de diferentes cultivares, implantadas em Segunda Safra, em 11 de janeiro de 2004 no município de Lucas do Rio Verde. Lucas do Rio Verde - MT, 2004 em caroço (@/ha) Makina Syngenta Seeds 141,1 a* 40,2 Fabrika Syngenta Seeds 128,1 ab 39,9 Ita 90 115,0 b 40,8 FM 966 Bayer Seeds 114,5 bc 40,0 CD 407 Coodetec 113,0 c 39,8 CD 99 2239 Coodetec 109,5 d 39,6 CD 406 Coodetec 98,9 e 39,8 SG 821 MDM 95,7 f 40,6 CD 9832 Coodetec 95,0 f 39,7 Delta Opal MDM 93,5 fg 41,2 Acala 90 MDM 93,1 g 40,2 Delta Penta MDM 92,9 g 40,7 Destak Syngenta Seeds 85,1 h 40,2 ** % de fibra obtido em máquina de rolo, para rendimento industrial subtrair 3 unidades. Para a semeadura de 21 de janeiro, os valores não foram diferentes, da primeira época, com variações de 80 a 150 @/ha (Tab. 3). Os motivos para estes valores são os mesmos citados anteriormente, já que a os problemas relacionados a questões hídricas permaneceram por mais de 30 dias. Para a semeadura de 31 de janeiro, as produtividades foram ainda menores, sofrendo grandes problemas de estande ocasionados por tombamentos. Esta época, por ser a mais tardia e com desenvolvimento radicular fraco, os danos por deficiência hídrica no final do ciclo do algodão foram mais fortes, gerando as menores produtividades observadas nas três épocas de semeadura safrinha (Tab. 4).
Tabela 3. em caroço, rendimento de fibra e classificação do algodão por tipo de diferentes cultivares, implantadas em Segunda Safra, em 21 de janeiro de 2004 no município de Lucas do Rio Verde. Lucas do Rio Verde - MT, 2004 em caroço (@/ha) Delta Penta MDM 155,0 a* 40,2 Fabrika Syngenta Seeds 153,7 ab 41,2 FM 966 Bayer Seeds 147,5 b 40,2 Ita 90 140,4 c 39,8 Makina Syngenta Seeds 138,6 cd 40,2 CD 406 Coodetec 129,1 d 39,6 SG 821 MDM 127,6 d 40,4 Delta Opal MDM 125,4 d 40,3 Acala 90 MDM 116,9 e 40,7 CD 9832 Coodetec 108,5 f 39,9 CD 99 2239 Coodetec 102,9 g 38,8 Destak Syngenta Seeds 96,5 h 40,2 CD 407 Coodetec 80,1 i 40,2 ** % de fibra obtido em máquina de rolo, para rendimento industrial subtrair 3 unidades Tabela 4. em caroço, rendimento de fibra e classificação do algodão por tipo de diferentes cultivares, implantadas em Segunda Safra,em 31 de janeiro de 2004. Lucas do Rio Verde - MT, 2004 em caroço (@/ha) SG 821 MDM 110,5 a* 40,2 FM 966 Bayer Seeds 104,7 b 29,9 CD 9832 Coodetec 92,9 c 40,8 Ita 90 83,5 cd 40,0 Destak Syngenta Seeds 80,2 d 39,8 Acala 90 MDM 77,7 de 39,6 CD 99 2239 Coodetec 76,3 e 39,8 Fabrika Syngenta Seeds 75,4 e 40,6 Delta Penta MDM 74,3 e 39,7 CD 406 Coodetec 73,8 ef 41,2 Delta Opal MDM 73,4 f 40,2 Makina Syngenta Seeds 67,8 f 40,7 CD 407 Coodetec 64,4 g 40,2 ** % de fibra obtido em máquina de rolo, para rendimento industrial subtrair 3 unidades
CONCLUSÔES 1. O algodão safrinha é viável para a região do Médio Norte Matogrossense, sendo fundamental para seu sucesso o preparo do solo em fertilidade e estrutura física, especialmente em profundidade do perfil; 2. Em solo bem estruturado, a semeadura do algodão safrinha para esta região pode ser realizada até o final do mês de janeiro com boas expectativas de produtividade; 3. O prosseguimento destas avaliações é de fundamental importância para o sucesso do algodão safrinha por se tratar de novo sistema e dependente de informações regionalizadas para adequação de cultivaras à épocas de semeadura, obtendo-se assim o máximo retorno produtivo da cultura. Deste modo têm-se incentivo ao crescimento da cultura e de todos ligados a esta. (*) Trabalho financiado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Algodão do Estado do MT (FACUAL). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS EMBRAPA AGROPECUÁRIA OESTE. Algodão tecnologia de produção, Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2001. 296 p. FUNDAÇÃO MT. Mato Grosso liderança e produtividade, Rondonópolis: Fundação MT, 1999. 182 p. (Boletim de Pesquisa, 02) FUNDAÇÃO RIO VERDE. Algodão 2001-02 safrinha 2002: resultados de pesquisa. Lucas do Rio Verde: Fundação Rio Verde, 2002. 64 p. (Boletim de Pesquisa, 06) FUNDAÇÃO RIO VERDE. Segunda safra 2003: resultados de pesquisa. Lucas do Rio Verde: Fundação Rio Verde, 2003. 52 p. (Boletim de Pesquisa, 08).