SOMA TÉRMICA E CRESCIMENTO DA CALÊNDULA Jana Koefender 1, Galileo Adeli Buriol 2, Roberto Trentin 3, Fábio Schreiber 4 RESUMO - Determinou-se a relação entre o crescimento das plantas de calêndula (Calendula officinalis) e a soma térmica. Foram realizadas três épocas de semeaduras: 06/04/2005, 23/06/2005 e 03/10/2005, em uma estufa plástica com área de 224m 2. As plantas foram conduzidas em substrato, no interior de vasos com capacidade para cinco litros. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com quatro parcelas de 80 vasos com quatro plantas cada. Determinou-se, semanalmente, a massa da matéria seca das plantas de quatro vasos de cada parcela. Esses valores foram correlacionados com aqueles da soma térmica acima de 10 C, a temperatura do ar sendo registrada no interior da estufa plástica. Das quatro equações testadas: linear, quadrática, exponencial e potência, esta última foi a que melhor se adequou aos dados. ABSTRACT - The relationship between growth of Calendula (Calendula officinalis) and thermal time was determined. Three sowing dates (06/04/2006, 23/06/2005 and 03/10/2005) were performed inside a 224 m² plastic greenhouse. Plants were grown in five litter pots filled width commercial substrate. The experimental design was a completely randomized with for replications composed of 80 pots and four plants per pot. On a weekly basis, plant dry matter of four pots per replication. These dry matter data were correlated with thermal time above 10ºC, using air temperature data measured inside the plastic greenhouse. Considering four equations tested, linear, quadratic, exponential, and power, the last one was the best for fitting the data. Palavras-chave - Calendula officinalis, temperatura do ar, época de semeadura. INTRODUÇÃO A calêndula (Calendula officinalis), além de ser utilizada com fins ornamental é uma planta de uso medicinal (DELLA LOGIA et al.) e cosmético (BAUMANN, 2003). Por esta razão seu cultivo a nível mundial vem crescendo e se expandindo para muitos países. No Brasil o seu cultivo também se encontra em expansão. Entretanto, em virtude, principalmente, de seu cultivo com objetivo industrial ser recente no país, ainda se possui poucas informações sobre as exigências bioclimáticas das plantas. Dentre estas exigências está a temperatura base de crescimento e a soma térmica para os diferentes sub-períodos de desenvolvimento. A determinação destes dois parâmetros é muito importante como referência na escolha de cultivares a serem utilizadas e de épocas de semeadura e plantio e na simulação do crescimento e duração do ciclo das plantas. 1 Eng.ª Agr.ª, MSc., Curso de Pós-graduação em Agronomia, Departamento de Fitotecnia UFSM, 97105-900, Tel. (55) 3220-8179. jkoefender@yahoo.com.br, 2 Eng.º Agr.º, Professor UNIFRA/UFSM. Bolsista CNPq. 3 Acadêmicos da Faculdade de Agronomia, UFSM. Bolsista de iniciação científica - CNPq. 4 Acadêmicos da Faculdade de Agronomia, UFSM. Bolsista de iniciação científica - FAPERGS.
A temperatura base de crescimento pode ser determinada por meio de diferentes métodos, como, principalmente, o da menor variabilidade e razão de desenvolvimento (BARBANO et al., l959). Para a utilização destes métodos são necessárias observações fenológicas de uma série de épocas de semeaduras ou, de mesma época, mas de locais com distintas disponibilidades climáticas. O ideal é dispor de dados fenológicos ao mesmo tempo de épocas e locais distintos. A soma térmica é realizada a partir da temperatura média, descontada a temperatura base. Quando não se possui dados experimentais suficientes para que se possa determinar a temperatura base, procura-se, geralmente, utilizar aquela de uma outra cultura da mesma família, da qual já se tem este valor conhecido. No caso da calêndula não se tem conhecimento que a temperatura base de crescimento já tenha sido determinada. Desta forma uma possibilidade é utilizar a temperatura base determinada para o girassol, planta da mesma família. Tendo em vista o exposto, o objetivo no trabalho foi determinar a relação entre o crescimento das plantas de calêndula e a soma térmica. MATERIAL E MÉTODOS Foram realizadas três épocas de semeaduras, respectivamente, em 06/04/2005, 23/06/2005 e 03/10//2005, no interior de uma estufa plástica com dimensões de10mx24m, altura de 3m na cumieira e 2m de pé direito, instalada no Campo Experimental do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, Santa Maria, RS (latitude: 29 41 S, longitude: 53 41 W e altitude: 95m). As plantas foram conduzidas em vasos de plástico, com capacidade para 5 litros, preenchidos com substrato Plantmax. O substrato de cada vaso foi mantido, permanentemente, com umidade próxima à capacidade de campo, por meio de irrigação realizada com a utilização de uma mangueira plástica de 1,5mm de diâmetro, com um dispositivo para gotejamento. Por este mesmo sistema foi adicionada a solução nutritiva. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com quatro parcelas de 80 vasos cada. Em cada vaso foram semeadas sete sementes, deixando após a emergência somente quatro plântulas. Quando as plântulas tinham duas folhas definitivas eram iniciadas as determinações da matéria seca, uma vez a cada semana. Para isto tomavam-se, ao acaso, quatro vasos de cada parcela, colhiam-se as plantas e separavam-se os diferentes órgãos (folhas, hastes, flores e raízes). Estes eram pesados, levados à estufa a uma temperatura de 65ºC e, após secos, pesados novamente. O manejo de ventilação da estufa consistiu da abertura e fechamento de suas cortinas laterais, segundo as condições meteorológicas do dia: em dias quentes eram abertas em torno das 8h00min e fechadas, aproximadamente, as 17h00min; em dias frios, nublados e/ou com
nevoeiro abertas em torno das 10h00min e fechadas em torno das 15h00min; e em dias com precipitação pluviométrica permaneciam fechadas durante todo o dia. A temperatura do ar foi registrada a 1,5m de altura no interior da estufa. A temperatura média diária (Tm) foi calculada a partir das temperaturas obtidas de duas em duas horas e a soma térmica diária (STd) foi calculada por: STd = Tm-Tb, em que Tb é a temperatura base de crescimento, considerada 8ºC, valor utilizado para o girassol. A soma acumulada dos valores da massa de matéria seca das plantas foi correlacionada com soma acumulada da temperatura do ar acima da temperatura base de crescimento, utilizando a equação linear, potência, exponencial e quadrática. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na relação entre a soma acumulada da massa de matéria seca das plantas e a soma acumulada da temperatura do ar acima da temperatura base de crescimento para cada época de semeadura os coeficientes de determinação (R 2 ) foram elevados, todos acima de 0,7420, para as quatro equações testadas: linear, quadrática, potência e exponencial. Mas a equação do tipo potência foi a que mais se adequou, Figura 1, sendo os coeficientes de determinação igual a 0,92, 0,98 e 0,94, respectivamente para a primeira, segunda e terceira época de semeadura. Observa-se que, quando a soma térmica acumulada atinge o valor de em torno de 1200 ºC.dia a curva do crescimento inicia a decrescer. Nesse estagio grande parte das folhas da parte inferior da planta e das flores encontrava-se seca. 45 Época 1 y = 6E-08x 2,9399 R 2 = 0,92 40 Época 2 y = 8E-12x 4,0677 R 2 = 0,98 Massa seca acumulada (g/pl) 35 30 25 20 15 10 Época 3 y = 2E-07x 2,6111 R 2 = 0,94 5 0 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 Soma térmica acumulada (ºC) Figura 1. Relação entre massa seca das plantas de calêndula de três épocas de semeadura e a soma térmica acumulada com suas respectivas equações de regressão e coeficientes de determinação.
É importante observar também que o crescimento das plantas na primeira e segunda época foi maior do que na terceira. Isto ocorreu, provavelmente, em função de que, na última época as temperaturas médias diárias foram bem mais elevadas do que nas duas primeiras, Tabela 1. Neste caso as temperaturas acima da temperatura ótima de crescimento, quando muito elevadas, embora contribuam para completar as exigências térmicas das plantas mais rapidamente, são deprimentes ao seu crescimento. Isto pode ser comprovado também pelo menor número de dias que as plantas, na terceira época, levaram para completar o ciclo, como se constata nos dados da tabela 1. Tabela 1. Número de dias (Nd) após a emergência e temperatura média (Tm), em ºC, entre cada duas determinações de matéria seca das plantas para as três épocas de semeadura. Época 1 Época 2 Época 3 Nd Tm Nd Tm Nd Tm 36 20,25 34 13,41 15 18,03 42 20,62 41 21,06 21 21,11 49 15,23 48 15,21 29 17,62 56 14,31 55 15,59 34 20,68 63 20,83 62 15,61 43 22,88 70 18,41 68 14,07 50 26,18 77 14,43 76 11,63 55 25,94 84 14,82 82 14,00 61 27,94 91 18,04 89 15,78 69 23,08 97 11,15 96 17,32 76 29,23 104 13,89 103 18,43 83 25,96 111 9,25 109 16,60 90 27,32 119 18,21 117 18,91 97 28,92 126 16,68 124 20,89 133 14,99 130 17,22 140 16,53 138 19,94 145 13,34 145 23,14 152 25,29 Média 15,67 17,45 24,22 Ao considerar os dados das três épocas de semeaduras, conjuntamente, Figura 2, o coeficiente de determinação da equação de regressão (R²=0,80) foi inferior aqueles das equações regressão de cada época, consideradas individualmente, representados na figura 1. Isto se deve, principalmente, em função dos resultados obtidos na terceira época, quando as temperaturas máximas contribuíram no acúmulo da soma térmica mas foram deprimentes para o crescimento das plantas.
50 45 40 y = 1E-07x 2,6824 R 2 = 0,80 Massa seca acumulada (g/pl) 35 30 25 20 15 10 5 0 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 Soma térmica acumulada Figura 2. Relação entre massa seca das plantas de calêndula das três épocas de semeadura e a soma térmica acumulada e respectiva equação de regressão com seu coeficiente de determinação. CONCLUSÃO O crescimento das plantas de calêndula está correlacionado com a soma de temperatura do ar, sendo que temperaturas elevadas diminuem a duração do ciclo da cultura, em detrimento ao seu crescimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBANO, M. T. et al. Temperatura base e soma térmica para cultivares de milho pipoca (Zea mays L.) no subperíodo emergência-florescimento masculino. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 11, n. 1, p. 79-84, 2003. BAUMANN, L. S, Cosmeceutical critique: calendula.(dermatologic Therapy). Ski & Allergy New, v. 34, p. 17, 2003. DELLA LOGGIA, R.; TUBARO, A.; SOSA, S. et al. The role of triterpenoids in the tipical anti-inflammatory activity of Calendula officinalis 1. Flower. Planta medicina, v.60, p. 516-520, 1994.