Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 30

Documentos relacionados
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2010)

Produtividade de feijão no sistema plantio direto com aplicação de calcário e zinco

Plantas de Cobertura dos Solos do Cerrado

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Arroz e Feijão Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

CARACTERÍSTICAS FITOTÉCNICAS DO FEIJOEIRO (Phaseolus vulgaris L.) EM FUNÇÃO DE DOSES DE GESSO E FORMAS DE APLICAÇÃO DE GESSO E CALCÁRIO

CALAGEM SUPERFICIAL E INCORPORADA E SUA INFLUÊNCIA NA PRODUTIVIDADE DO MILHO SAFRINHA AO LONGO DE CINCO ANOS

O produtor pergunta, a Embrapa responde. Editores Técnicos Luís Fernando Stone José Aloísio Alves Moreira Raimundo Ricardo Rabelo Marina Biava

EFEITO DE ADUBAÇÃO NITROGENADA EM MILHO SAFRINHA CULTIVADO EM ESPAÇAMENTO REDUZIDO, EM DOURADOS, MS

Rafael de Souza Nunes, Embrapa Cerrados Djalma Martinhão G. de Sousa, Embrapa Cerrados Maria da Conceição S. Carvalho, Embrapa Arroz e Feijão

O produtor pergunta, a Embrapa responde

Continente asiático maior produtor (80%) Arroz sequeiro perdendo área para milho e soja

RESPOSTA DE MILHO SAFRINHA CONSORCIADO COM Brachiaria ruziziensis À ADUBAÇÃO, EM DOURADOS, MATO GROSSO DO SUL

Resposta de arroz de terras altas, feijão, milho e soja à saturação por base em solo de cerrado

INFLUÊNCIA DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA E MATERIAL HÚMICO SOBRE A PRODUÇÃO DE ALFACE AMERICANA

ADUBAÇÃO NPK DO ALGODOEIRO ADENSADO DE SAFRINHA NO CERRADO DE GOIÁS *1 INTRODUÇÃO

ACIDEZ DO SOLO E PRODUÇÃO DE SOJA EM FUNÇÃO DA CALAGEM SUPERFICIAL E ADUBAÇÃO NITROGENADA EM PLANTIO DIRETO

Resposta da Cultura do Milho Cultivado no Verão a Diferentes Quantidades de Calcário e Modos de Incorporação

CALAGEM E GESSAGEM DE SOLO CULTIVADO COM ALGODÃO NO CERRADO DE RORAIMA 1 INTRODUÇÃO

ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO E PRODUTIVIDADE DE MANDIOCA EM FUNÇÃO DA CALAGEM, ADUBAÇÃO ORGÂNICA E POTÁSSICA 1

A CULTURA DO MILHO IRRIGADO

AVALIAÇÃO DA PRODUTIVIDADE DE MILHO SAFRINHA SOB DIFERENTES DOSES DE NITROGÊNIO MAIS FÓSFORO APLICADOS NO PLANTIO

Feijão. 9.3 Calagem e Adubação

DENSIDADE DE SEMEADURA E DOSES DE NITROGÊNIO EM COBERTURA NO TRIGO DE SEQUEIRO CULTIVADO EM PLANALTINA-DF

Palavras-chave: química do solo, mobilização mecânica, práticas conservacionistas

A EXPERIÊNCIA DO AGRICULTOR/ PESQUISADOR NA BUSCA DA ALTA PRODUTIVIDADE

Vanderson Modolon DUART 1, Adriana Modolon DUART 2, Mário Felipe MEZZARI 2, Fernando José GARBUIO 3

PP = 788,5 mm. Aplicação em R3 Aplicação em R5.1. Aplicação em Vn

LEANDRO ZANCANARO LUIS CARLOS TESSARO JOEL HILLESHEIM LEONARDO VILELA

AVALIAÇÃO AGRONÔMICA DOS FOSFATOS NATURAIS DE ARAD, DE DAOUI E DE GAFSA EM RELAÇÃO AO SUPERFOSFATO TRIPLO. Resumo

CEP , Aquidauana, MS. 3 UNESP Ilha Solteira, Rua 3, nº 100, CEP , Ilha Solteira, SP.

Comunicado232 ISSN X Dezembro, 2015 TécnicoSanto Antônio de Goiás, GO

Experimento Correção de P (safra 2010/11 a 2015/16)

Comunicado Técnico. Utilização de Calcário para Soja e Milho em Rotação, sob Plantio Direto e Convencional, num Latossolo Vermelho de Cerrado

ADUBAÇÃO NITROGENADA DE COBERTURA E FOLIAR ASSOCIADAS A DOIS TIPOS DE COBRETURA MORTA NA PRODUTIVIDADE DE FEIJÃO (Phaseolus vulgaris)

Produtividade do Milho no Oeste do Pará em Função de Doses de Calcário e Gesso

ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO PARA A CULTURA DA SOJA NO SISTEMA PLANTIO DIRETO

A cultura da soja. Recomendação de correção e adubação

Desenvolvimento e Produção de Sementes de Feijão Adzuki em Função da Adubação Química

CALAGEM, GESSAGEM E MANEJO DA ADUBAÇÃO EM MILHO SAFRINHA CONSORCIADO COM Brachiaria ruziziensis

EFEITO DO CALCÁRIO E GESSO NA ACIDEZ E LIXIVIAÇÃO DE CÁTIONS DO SOLO SOB CAFEEIROS NA BAHIA 1

AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE METAIS PESADOS EM GRÃOS DE SOJA E FEIJÃO CULTIVADOS EM SOLO SUPLEMENTADO COM LODO DE ESGOTO

Construção de Perfil do Solo

ESTRATÉGIAS DE APLICAÇÃO E FONTES DE FERTILIZANTES NA CULTURA DA SOJA 1

DENSIDADE DE SEMEADURA E DOSES DE NITROGÊNIO EM COBERTURA NO TRIGO IRRIGADO CULTIVADO EM PLANALTINA-DF

O produtor pergunta, a Embrapa responde

MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO CERRADO

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Semiárido Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento A CULTURA DO MELÃO

DENSIDADE DE SEMEADURA PARA TRIGO IRRIGADO SOB PIVÔ CENTRAL EM CRISTALINA - GO

Eficiência agronômica de fontes e doses de fósforo no cultivo da soja em solos com diferentes classes texturais

431 - AVALIAÇÃO DE VARIEDADES DE MILHO EM DIFERENTES DENSIDADES DE PLANTIO EM SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO

Anais da XIII Jornada de Iniciação Científica da Embrapa Amazônia Ocidental

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MA TO GRO S SO DO SUL

18 PRODUTIVIDADE DA SOJA EM FUNÇÃO DA

17 EFEITO DA APLICAÇÃO DE MICRONUTRIENTES NA

Resposta do feijoeiro ao manejo de nitrogênio em várzeas tropicais (1)

, C u. ). Dentro de cada parcela, as subparcelas constituiram um fatorial 3 2. para os níveis 0, 1 e 2 de fósforo e de potássio.

Recomendação de correção e adubação para tomate de mesa. Giulia Simioni Lívia Akasaka Patrick Oliveira Samara Barbosa

VII Semana de Ciência Tecnologia IFMG campus

Calagem no Sistema Plantio Direto para Correção da Acidez e Suprimento de Ca e Mg como Nutrientes

BPUFs para milho em Mato Grosso do Sul informações locais. Eng. Agr. M.Sc. Douglas de Castilho Gitti

INDICADORES QUÍMICOS DE QUALIDADE DO SOLO

Recomendação de Correção de Solo e Adubação de Feijão Ac. Felipe Augusto Stella Ac. João Vicente Bragança Boschiglia Ac. Luana Machado Simão

Protocolo Gessagem. Doses de gesso agrícola e seu residual para o sistema de produção soja/milho safrinha

Palavras-Chave: Adubação mineral. Adubação orgânica. Cama de Peru. Glycine max.

Recomendação de correção e adubação para a cultura do milho

Espaçamento alternado e controle de crescimento do feijoeiro com aplicação do fungicida propiconazol

Doses de potássio na produção de sementes de alface.

13 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO VIA

Comunicado Técnico. Tensão de Água no Solo para Maiores Lucratividades do Feijoeiro Irrigado em Ambiente de Cerrado. Material e Métodos.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Doses e épocas de aplicação do nitrogênio no milho safrinha.

Adubação na Cultura de Milho

João Herbert Moreira Viana Álvaro Vilela de Resende Cláudia Teixeira Guimarães Sidney Netto Parentoni. Sete Lagoas, MG 2009

V Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí V Jornada Científica 19 a 24 de novembro de 2012

BOLETIM TÉCNICO SAFRA 2014/15

EFEITO DA CALAGEM E ADUBAÇÃO COM MICRONUTRIENTES NA PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO NO CERRADO DE GOIÁS (*)

EVOLUÇÃO DO CONSÓRCIO MILHO-BRAQUIÁRIA, EM DOURADOS, MATO GROSSO DO SUL

Documentos, 221. Informações Meteorológicas para Pesquisa e Planejamento Agrícola, Referentes ao Município de Santo Antonio de Goiás, GO, 2007

FLORORGAN EM FEIJOEIRO

Influência de doses de fósforo e de nitrogênio na produção de abobóra híbrida, tipo tetsukabuto, na região norte de Minas Gerais

TÍTULO: AVALIAÇÃO REGIONAL DE CULTIVARES DE FEIJÃO NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

Arranjo espacial de plantas em diferentes cultivares de milho

FERTILIDADE E MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO COM INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA SOB PLANTIO DIRETO

Nutrição, Adubação e Calagem

Correção da acidez subsuperficial no plantio direto pela aplicação de calcário na superfície e uso de plantas de cobertura e adubação verde

CORREÇÃO DA ACIDEZ SUPERFICIAL E SUBSUPERFICIAL DO SOLO PARA O CULTIVO DO ALGODOEIRO NO CERRADO DE RORAIMA 1

A CULTURA DO MILHO: CORREÇÃO, ADUBAÇÃO E ESTUDO DE CASO

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Agroindústria Tropical Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento A CULTURA DO SAPOTI

EFEITO DOS NÍVEIS DE SATURAÇÃO POR BASES NOS COMPONENTES DE ACIDEZ DE QUATRO LATOSSOLOS SOB CAFEEIROS NA BAHIA 1

EFEITOS DA FERTILIZAÇÃO COM NITROGÊNIO E POTÁSSIO FOLIAR NO DESENVOLVIMENTO DO FEIJOEIRO NO MUNICÍPIO DE INCONFIDENTES- MG.

MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO: Amostragem, interpretação, recomendação de calagem e adubação.

Manejo da Fertilidade do Solo para implantação do sistema ILP

Empresa Brasileria de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

ESTUDO DO SISTEMA RADICULAR DA SOJA (GLYCINE MAX (L.) MERRIL) EM SOLO LATOSSOLO ROXO ADU BADO OU SEM ADUBO ( 1 ) SINOPSE 1 INTRODUÇÃO

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 1656

NÍVEIS DE FERTILIDADE DO SOLO EM AREA COMERCIAL CULTIVADA COM O ALGODOEIRO EM IPAMERI, GO (*)

Calcário ph em H 2 O ph em H 2 O V V Rendimento Aumento (1:2,5) após 110 dias. após 110 dias. (1:2,5) após 362 dias

CALAGEM NA SUPERFÍCIE DO SOLO NO SISTEMA PLANTIO DIRETO EM CAMPO NATIVO. CIRO PETRERE Eng. Agr. (UEPG)

AVALIAÇÃO DA PRODUTIVIDADE DE MILHO SAFRINHA SOB DIFERENTES DOSES DE FOSFATO MONOAMÔNICO. Rodrigues Aparecido Lara (2)

ADUBAÇÃO DA MAMONEIRA DA CULTIVAR BRS ENERGIA.

Transcrição:

ISSN 1678-9601 Dezembro, 2008 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 30 Índices adequados de ph e de saturação por bases na produtividade do feijoeiro em solo de cerrado no Sistema Plantio Direto Nand Kumar Fageria Alberto Baêta do Santos Luís Fernando Stone Santo Antônio de Goiás, GO 2008

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Arroz e Feijão Rodovia GO 462 - Km 12 - Zona Rural - Caixa Postal 179 75375-000 Santo Antônio de Goiás, GO Fone: (62) 3533 2123 Fax: (62) 3533 2100 www.cnpaf.embrapa.br sac@cnpaf.embrapa.br Comitê de Publicações Presidente: Luís Fernando Stone Secretário-Executivo: Luiz Roberto Rocha da Silva Supervisor editorial: Camilla Souza de Oliveira Normalização bibliográfica: Ana Lúcia D. de Faria Revisão de texto: Camilla Souza de Oliveira Capa: Sebastião José Araújo Editoração eletrônica: Fabiano Severino 1 a edição 1 a impressão (2008): 500 exemplares Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Arroz e Feijão Fageria, Nand Kumar. Índices adequados de ph e de saturação por bases na produtividade do feijoeiro em solo de cerrado no sistema plantio direto / Nand Kumar Fageria, Alberto Baêta dos Santos, Luís Fernando Stone. - Santo Antônio de Goiás : Embrapa Arroz e Feijão, 2008. 16 p. - (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento / Embrapa Arroz e Feijão, ISSN 1678-9601 ; 30) 1. Feijão Acidez do solo. 2. Feijão - Plantio direto. 3. Cerrado - Propriedade físico-química. I. Santos, Alberto Baêta dos. II. Stone, Luís Fernando. III. Título. IV. Embrapa Arroz e Feijão. V. Série. CDD 635.6521 (21. ed.) Embrapa 2008

Sumário Resumo... 5 Abstract... 7 Introdução... 9 Material e métodos... 10 Resultados e Discussão... 11 Conclusões... 14 Referências... 15

Índices adequados de ph e de saturação por bases na produtividade do feijoeiro em solo de cerrado no Sistema Plantio Direto Nand Kumar Fageria 1 Alberto Baêta do Santos 2 Luís Fernando Stone 3 Resumo A acidez dos solos dos cerrados é um dos fatores mais limitantes na produtividade das culturas. O objetivo deste trabalho foi determinar os índices adequados de acidez (ph e saturação por bases) de um Latossolo Vermelho distrófico típico na produtividade do feijão. Foram conduzidos cinco ensaios de campo durante três anos consecutivos. As doses de calcário aplicadas foram 0,12 e 24 Mg ha -1 para criar ampla faixa de acidez. Houve aumento significativo e quadrático na produtividade de grãos com o aumento do ph e da saturação por bases. Para obter a produtividade máxima do feijoeiro, os índices de acidez foram maiores na profundidade de 0-10 cm em comparação com a profundidade de 10-20 cm. Considerando a média de duas profundidades (0-10 e 10-20 cm), os valores adequados do índice de acidez do solo para a cultura do feijoeiro no Sistema Plantio Direto em solo de cerrado foram: ph 6,5 e saturação por bases 67%. Os componentes de produtividade, como número de vagens, grãos por vagem e massa de 100 grãos aumentaram com a calagem e foram positivamente associados à produtividade. Termos para indexação: Phaseolus vulgaris L., propriedades químicas do solo, componentes de produtividade. 1 Engenheiro Agrônomo, Ph.D. em Fertilidade de Solos e Nutrição de Plantas, Pesquisador, Embrapa Arroz e Feijão, Rod. GO 462, Km 12, 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO, fageria@cnpaf.embrapa.br 2 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fitotecnia, Pesquisador, Embrapa Arroz e Feijão baeta@cnpaf.embrapa.br 3 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Solos e Nutrição de Plantas, Pesquisador, Embrapa Arroz e Feijão stone@cnpaf.embrapa.br

Optimum soil ph and base saturation indices for dry bean production in Cerrado soil in no-tillage system Abstract Soil acidity is one of the major yield constraint to crop production in various parts of the world. Quantifying optimum soil acidity indices (ph and base saturation) is an important strategy for achieving maximum economic crop yields on acid soils. Five field experiments were conducted for three consecutive years using dry bean as a test crop on an Oxisol. The lime rates used were 0, 12 and 24 Mg ha-1 to create wide range of soil acidity in no-tillage cropping system. Grain yield of dry bean was significantly and quadratically increased with improving soil ph and base saturation. These soil acidity indices were higher in the 0-10 cm soil layer compared with 10-20 cm soil layer for maximum grain yield. Across two soil depths, optimum values for maximum bean yield was ph 6.5, and base saturation 67%. Yield components, such as pod number, grain per pod and 100 grain weight were significantly improved with liming and bean yield was significantly associated with these yield components. Index terms: Phaseolus vulgaris L., soil chemical properties, yield components.

Índices adequados de ph e de saturação por bases... 9 Introdução A cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) ocupa posição de destaque no Brasil pela sua importância na alimentação da população. O feijoeiro é uma das principais culturas plantadas na entressafra em sistemas irrigados, nas regiões central e sudeste do Brasil (BARBOSA FILHO et al., 2001). Os solos da região central ou dos cerrados são ácidos e apresentam deficiência ou toxidez de alguns elementos, o que limita a produtividade agrícola (FAGERIA; STONE, 1999). Além de deficiência e/ou toxidez nutricional, os solos da região dos cerrados apresentam baixa capacidade de retenção de água e baixa atividade dos microrganismos. No entanto, com a correção da acidez, é possível transformá-los em solos férteis, ou seja, capazes de proporcionarem produtividades mais elevadas. A calagem ainda é uma das práticas mais baratas e efetivas na correção da acidez do solo. No Brasil, existem vastas reservas de calcário distribuídas em todo o território nacional. Nos últimos anos, a degradação do solo é preocupação constante da comunidade científica, por causar redução na produtividade das culturas, aumentar o custo de produção e poluir o meio ambiente. Uma das práticas mais eficientes de conservação do solo é o uso do cultivo mínimo ou do plantio direito. A prática de plantio direto reduz a erosão e aumenta a retenção de água do solo, controla a população de plantas daninhas e reduz o custo de produção. Além disso, o Sistema Plantio Direto permite racionalizar os custos, o uso de equipamentos e o próprio tempo, e melhorar a qualidade do solo (SALTON et al., 1998). O Sistema de Plantio Direto, junto com a rotação de culturas, promove a acumulação de carbono orgânico no solo e, dessa maneira, sequestra CO 2, que poderia ser liberado na atmosfera (WEST; POST, 2002). O Sistema Plantio Direito é considerado componente importante dos sistemas de produção agrícolas sustentáveis. Essa prática agrícola é utilizada há muito tempo na região Sul do país, principalmente nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná (SALTON et al., 1998). Na região central, a área plantada com o Sistema de Plantio Direto está aumentando nos últimos anos (SALTON et al., 1998), porém, são necessárias mais informações sobre calagem para incrementar o uso dessa prática na produção de feijão, na região dos cerrados. O objetivo desse trabalho foi estabelecer índices adequados de acidez na produtividade do feijoeiro em solos dos cerrados.

10 Índices adequados de ph e de saturação por bases... Material e Métodos Foram conduzidos cinco ensaios de campo, durante três anos consecutivos, num Latossolo Vermelho distrófico típico (Oxissolo), na Fazenda Capivara, da Embrapa Arroz e Feijão, localizada no Município de Santo Antônio de Goiás-GO. Os resultados da análise química e granulométrica das amostras do solo da área experimental, coletadas antes da instalação do experimento, são apresentados na Tabela 1. Essas análises foram realizadas conforme Claessen (1997). Tabela 1. Características químicas e texturais de amostras do solos da área experimental. Os valores são média de cinco ensaios. Características 0-10 cm 10-20 cm Média de duas profundidades ph (1:2.5 solo-água) 5,8 5,6 5,7 Ca (cmol c kg -1 ) 2.06 1,66 1,86 Mg (cmol c kg -1 ) 1,18 1,04 1,11 Al (cmol c kg -1 ) 0,10 0,10 0,10 H+Al (cmol c kg -1 ) 5,62 5,74 5,68 P (mg kg -1 ) 20,40 11,58 15,99 K (mg kg -1 ) 115,00 79,60 97,30 Cu (mg kg -1 ) 4,40 4,12 4,27 Zn (mg kg -1 ) 6,96 6,90 6,93 Fe (mg kg -1 ) 84,40 96,80 90,60 Mn (mg kg -1 ) 13,04 11,68 12,36 Matéria orgânica (g kg -1 ) 17,60 17,40 17,50 Argila (g kg -1 ) 426 424 425 Silte (g kg -1 ) 218 218 218 Areia (g kg -1 ) 356 358 357 As doses de calcário utilizadas foram 0,12 e 24 Mg ha -1, aplicadas e incorporadas ao solo com grade, cinco meses antes da semeadura do primeiro cultivo de feijão de inverno (última semana de maio a primeira semana de setembro). As doses foram escolhidas com base no trabalho de Fageria (2001a), que mostrou que a produção máxima de feijão foi obtida com a aplicação de 10 Mg ha -1 de calcário, quando o teor de argila no solo de cerrado era em torno de 330 g kg -1. O calcário utilizado possuía PRNT 88,3%, CaO, 32,5% e MgO, 13,3%. O feijão foi cultivado no inverno, com irrigação por pivô central, durante três anos consecutivos, sendo que nos dois últimos anos, foi utilizado o plantio direto. Foram aplicados 20 kg N ha -1 (uréia), 120 kg P 2 O 5 ha -1 (superfosfato triplo) e 60 kg K 2 O ha -1 (cloreto de potássio) por ocasião da semeadura. Aos 27

Índices adequados de ph e de saturação por bases... 11 e 41 dias após o plantio, foram aplicados 50 kg de N ha -1 (uréia) em cobertura. A mesma adubação básica foi repetida nos anos subsequentes. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com três repetições. A cultivar utilizada nos cinco cultivos foi a Pérola. O espaçamento foi de 40 cm entre fileiras, com 19 sementes por metro. O tamanho da parcela foi de 42 x 42 m, e de 7 x 7 m, a subparcela, com espaçamento de 2 m entre parcelas e de 1 m entre subparcelas. As plantas daninhas foram controladas com a aplicação do herbicida pós-emergente fusiflex. Foram colhidas as sete fileiras centrais com 4 m de comprimento para determinação da produtividade. Após a colheita, foram coletadas 50 subamostras de solo em cada parcela, a 0-10 e 10-20 cm de profundidade, para formar uma amostra composta. A Capacidade de Troca de Cátions (CTC), a saturação por bases, a saturação por acidez, a relação de Ca, Mg e K foram calculadas pelas seguintes fórmulas: CTC (cmol c kg -1 ) = S (Ca, Mg, K)/S (Ca, Mg, K, H, Al) Saturação por bases (%) = S (Ca, Mg, K)/(CTC) X 100 Saturação por acidez (%) = (H+Al)/(CTC) X 100 Saturação por Ca, Mg, K (%) = (Ca)/(CTC) X 100, (Mg)/(CTC) X 100, (K)/(CTC) X 100 Os dados foram submetidos à análise de variância e foram ajustadas equações entre os índices de acidez do solo e a produtividade de grãos. Resultados e Discussão A produtividade de grãos aumentou significativamente com o aumento do ph nas duas profundidade do solo (Fig. 1). A produtividade máxima de grãos foi obtida com o ph de 6,7 e 6,3, nas profundidades de 0-10 cm e 10-20 cm, respectivamente. Na média das duas profundidades, a produtividade máxima foi obtida com o ph de 6,5. Na profundidade de 0-10 cm, com ph de 5,3, a produtividade foi de 2.270 kg ha -1. Porém, quando o ph foi aumentado para 6,7, a produtividade aumentou para 3.330 kg ha -1, o que corresponde a um aumento de 47% na produtividade. Fageria (2001a) relatou que a produtividade máxima do feijoeiro foi obtida com o ph de 6,2, em solos de cerrados. A produtividade do feijoeiro tem apresentado aumento significativo com a aplicação de calcário ou aumento do ph em solos de cerrados (MIRANDA et al., 1980; QUAGGIO et al., 1982; CAIRES et al., 2000; FAGERIA, 2001b). Lathwell e Reid (1984) relataram que o ph adequado para a produtividade máxima de

12 Índices adequados de ph e de saturação por bases... leguminosas deve ser na faixa de 6,0 a 7,0. Da mesma maneira, Alley e Zelanzy (1987) relataram que o ph do solo deve ser aumentado no mínimo a 6,5 para criar ambiente favorável para a produção das leguminosas. O aumento na produtividade com o aumento do ph do solo pode estar associado ao aumento dos teores de Ca e Mg e redução do teor de Al (FAGERIA, 2002). Para corrigir a acidez do solo deve ser usado calcário dolomitico [(CaMgCO 3 ) 2 ], que contém Ca 2+ e Mg 2+ e pode manter o balanço entre esses elementos. A equação abaixo mostra a reação que ocorre com a aplicação de calcário dolomitico e o aumento nos teores de Ca e Mg no solo (FAGERIA, 2009): (CaMgCO 3 ) 2 + 2H + Û 2HCO 3 - + Ca 2+ + Mg 2+ 2HCO 3 - + 2H + Û 2CO 2 + 2H 2 O (CaMgCO 3 ) 2 + 4H + Û Ca 2+ + Mg 2+ + 2CO 2 + 2H 2 O Fageria e Stone (1999) relataram que o calcário aumenta a massa da matéria seca da parte aérea e os componentes da produtividade em solo ácidos. A relação entre a massa da matéria seca da parte aérea e os componentes de produtividade foi determinada (Tabela 2 ). Houve resposta quadrática de produtividade do feijoeiro com o aumento de massa da matéria seca da parte aérea. A massa da matéria seca da parte aérea foi responsável por 60% de variação na produtividade do feijoeiro. O número de vagens, o número de grãos por vagem e a massa de 100 grãos apresentaram relação significativa e linear com a produtividade. Fageria (2009) relatou aumento significativo na produtividade do feijoeiro com o aumento de massa da matéria seca da parte aérea e dos componentes da produtividade, como o número de vagens por área, o número de grãos por vagem e a massa de 100 grãos. Tabela 2. Relação entre massa da matéria seca da parte aérea, número de vagens por área, número de grãos por vagem e massa de 100 grãos e a produtividade de grãos do feijoeiro. Massa da matéria seca da parte aérea e componentes Equação de regressão R 2 de produtividade Massa seca da parte aérea Y = -2610,23 + 5,5806X 0,0013X 2 0,6011 ** Número de vagens m -2 Y = 3,2726 + 10,1469X 0,5476 ** Número de grãos por vagem Y = -2342,4770 + 1382,2170X 0,3600 ** Massa de 100 grãos (g) Y = -6051,1120 + 342,7336X 0,3181 ** ** Significativo a 1% de probabilidade.

Índices adequados de ph e de saturação por bases... 13 Fig. 1. Relação entre ph do solo e produtividade de grãos do feijoeiro. A relação entre a saturação por bases e a produtividade de grãos do feijoeiro é apresentada na Fig. 2. Houve resposta quadrática da produtividade do feijoeiro com o aumento da saturação por bases na faixa de 20 a 80%, na profundidade do solo de 0-10 cm e na faixa de 20 a 70%, na profundidade 10-20 cm. As produtividades máximas foram obtidas com a saturação por bases de 73% e 62%, nas profundidades do solo de 0 a 10 e de 10 a 20 cm, respectivamente. Na média das duas profundidades, a produção máxima do feijoeiro foi obtida com a saturação por bases de 67% (Fig. 2). Os valores adequados de saturação por bases para o feijoeiro em solo de cerrado variam de 53% a 70% no sistema convencional (LOPES et al., 1991; FAGERIA, 2001b). O aumento na produtividade de grãos do feijoeiro com o aumento da saturação por base está associado ao balanço apropriado de cátions no solo (FAGERIA, 2002). Os cátions básicos são baixos em solos ácidos do clima tropical e subtropicais e a calagem é a pratica mais efetiva para melhorar os teores desses cátions nesses solos (DIEROLF et al., 1997). A saturação por bases aumentou significativamente com a aplicação de calcário, apresentando valores maiores na

14 Índices adequados de ph e de saturação por bases... camada superficial do que na subsuperficial (10-20 cm), valores esses relacionados com os maiores teores de Ca e Mg nessa camada. Isso se deve à não incorporação de calcário no Sistema Plantio Direto e também à acumulação de restos culturais na camada superficial (FAGERIA; STONE, 2004). Fig. 2. Relação entre a saturação por bases e produtividade de grãos do feijoeiro. Conclusões 1. A produtividade de grãos do feijoeiro situa-se em torno de 3.000 kg ha -1, quando o ph do solo de cerrado (Oxissolo) está ao redor de 6,5 e os outros fatores de produção não são limitantes. 2. A produtividade do feijoeiro aumenta significativamente com o aumento da saturação por base, atingindo a produtividade máxima com 67%.

Índices adequados de ph e de saturação por bases... 15 3. A magnitude dos parâmetros da planta no aumento da produtividade de grãos segue a ordem: massa da matéria seca da parte aérea > número de vagens por área > número de grãos por vagem > massa de 100 grãos. 4. Os valores dos índices de acidez do solo, como ph e saturação por bases, estabelecidos para produção máxima de feijão neste trabalho, podem ser utilizados como referência para calagem, visando à produção sustentável de feijão no Sistema de Plantio Direto. Referências ALLEY, M. M.; ZELANZY, L. W. Soil acidity: soil ph and lime needs. In: BROWN, J. R. (Ed.). Soil testing: sampling, correlation, calibration and interpretation. Madison: Soil Science Society of America, 1987. p. 65-72. (SSSA. Special Publication, 21). BARBOSA FILHO, M. P.; FAGERIA, N. K.; SILVA, O. F. da. Aplicação de nitrogênio em cobertura no feijoeiro irrigado. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2001. 8 p. (Embrapa Arroz e Feijão. Circular técnica, 49). CAIRES, E. F.; BANZATTO, D. A.; FONSECA, A. F. Calagem na superfície em sistema plantio direto. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, MG, v. 24, n. 1, p. 161-169, jan./mar. 2000. CLAESSEN, M. E. C. (Org.). Manual de métodos de análise de solo. 2. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: EMBRAPA-CNPS, 1997. 212 p. (EMBRAPA-CNPS. Documentos, 1). DIEROLF, T. S.; ARYA, L. M.; YOST, R. S. Water and cation movement in an Indonesian Ultisol. Agronomy Journal, Madison, v. 89, n. 4, p. 572-579, July/ Aug. 1997. FAGERIA, N. K. Efeito da calagem na produção de arroz, feijão, milho e soja em solo de cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 36, n. 11, p. 1419-1424, nov. 2001a. FAGERIA, N. K. Resposta de arroz de terras altas, feijão, milho e soja à saturação por base em solo de cerrado. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 5, n. 3, p. 416-424, set./dez. 2001b.

16 Índices adequados de ph e de saturação por bases... FAGERIA, N. K. Nutrient management for sustainable dry bean production in the tropics. Communications in Soil Science and Plant Analysis, New York, v. 33, n. 9/10, p. 1537-1575, 2002. FAGERIA, N. K. The use of nutrients in crop plants. Boca Raton: CRC Press, 2009. 430 p. FAGERIA, N. K.; STONE, L. F. Manejo da acidez dos solos de cerrado e de várzea do Brasil. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1999. 42 p. (Embrapa Arroz e Feijão. Documentos, 92). FAGERIA, N. K.; STONE, L. F. Produtividade de feijão no sistema plantio direto com aplicação de calcário e zinco. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 39, n. 1, p. 73-78, jan. 2004. LATHWELL, D. J.; REID, W. S. Crop response to lime in the northwester United States. In: ADAMS, E. (Ed.). Soil acidity and liming. 2. ed. Madison: American Society of Agronomy, 1984. p. 305-332. LOPES, A. S.; SILVA, M. C.; GUILHERME, L. R. G. Acidez do solo e calagem. São Paulo: Associação Nacional para Difusão de Adubos e Corretivos Agrícolas, 1991. 15 p. (ANDA. Boletim técnico, 1). MIRANDA, L. N. de; MIELNICZUK, J.; LOBATO, E. Calagem e adubação corretiva. In: SIMPÓSIO SOBRE CERRADO, 5., 1979, Brasília, DF. Cerrado: uso e manejo. Brasília, DF: Editerra, 1980. p. 523-591. QUAGGIO, J. A.; MASCARENHAS, H. A. A.; BATAGLIA, O. C. Resposta da soja à aplicação de doses crescentes de calcário em Latossolo Roxo distrófico de cerrado: II efeito residual. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 6, n. 2, p. 113-118, maio/ago. 1982. SALTON, J. C.; HERNANI, L. C.; FONTES, C. Z. (Org.). Sistema plantio direto: o produtor pergunta, a Embrapa responde. Brasília, DF: Embrapa-SPI; Dourados: Embrapa-CPAO, 1998. 248 p. (Coleção 500 Perguntas 500 Respostas). WEST, T. O.; POST, W. M. Soil organic carbon sequestration rates by tillage and crop rotation: a global data analysis. Soil Science Society of America Journal, Madison, v. 66, n. 6, p. 1930-1946, Nov./Dez. 2002.