TEOR DE CINZAS E MATÉRIA ORGÂNICA DA TORTA DE MAMONA EM FUNÇÃO DO ARMAZENAMENTO EM DIFERENTES EMBALAGENS* Robson César Albuquerque 1, Lígia Rodrigues Sampaio 2, Rúbia Rafaela Ferreira Ribeiro 2, Napoleão Esberard de Macedo Beltrão 3, Liv Soares Severino 3, Rosa Maria Mendes Freire 3 Juarez Paz Pedroza 1 1. Universidade Federal de Campina Grande, ralbuquerque_cg@yahoo.com.br, juarez@deag,ufcg.edu.br; 2. Universidade Estadual da Paraíba, liggiasampaio@yahoo.com.br; rubiarafaela@oi.com.br; 3 Embrapa Algodão, nbeltrão@cnpa.embrapa.br, liv@cnpa.embrapa.br;, rosa@cnpa.embrapa.br RESUMO - Considerando que o crescimento microbiano é fator importante na manutenção da qualidade dos produtos durante o armazenamento, objetivou-se com este trabalho avaliar as alterações do teor de cinzas e matéria orgânica da torta de mamona armazenada em dois tipos de embalagens (plástica e nylon) por 6 meses e três níveis iniciais de umidade (6, 14 e 22%). O experimento foi desenvolvido no laboratório de solos da Embrapa Algodão. Utilizou-se torta de mamona da cultivar BRS Nordestina processada por prensagem. A cada 60 dias registrou-se o teor de cinzas e matéria orgânica, pelo método descrito pela AOAC (1975), utilizando-se quatro repetições de 2g por tratamento. Os resultados evidenciam diferenças significativas das variáveis estudadas durante todo o armazenamento nas diferentes embalagens. Devido a embalagem de nylon apresentar maior contato com o meio, apresenta maiores percentuais de cinza e menores percentuais de matéria orgânica. INTRODUÇÃO De acordo com Santos et al. (2001), a mamona (Ricinus communis L.) é uma cultura que apresenta perspectivas promissoras para a produção agrícola, mostrando possibilidades de ser cultivada em amplas áreas do país. A consciência mundial pela preservação ambiental baseada na substituição dos combustíveis minerais derivados do petróleo por outros de origem vegetal, dentre eles o biodiesel do óleo da mamona, criou uma perspectiva real para a expansão do cultivo da mamona em escala comercial, principalmente na agricultura familiar (BELTRÃO, 2002). Segundo Fornazieri Junior (1986), a sua extraordinária capacidade de adaptação, a multiplicidade de aplicações industriais do seu óleo e o valor da sua torta, como fertilizante e suplemento protéico, situam a mamona entre as oleaginosas tropicais mais importantes da atualidade. De acordo com Severino (2005), a torta é o principal subproduto da cadeia produtiva da mamona, produzida a partir da extração do óleo das sementes desta oleaginosa. Em todo o mundo, seu uso predominantemente tem sido como adubo orgânico, embora possa obter valor significativamente maior se utilizada como alimento animal, aproveitando o alto teor de proteínas.
Alguns estudos já demonstraram a rapidez com que a torta de mamona se mineraliza e conseqüentemente disponibiliza seus nutrientes. Entre 75 e 100% do nitrogênio da torta de mamona foi nitrificado em três meses. Severino et al. (2004) demonstraram que a velocidade de mineralização da torta de mamona, medida pela respiração microbiana, é cerca de seis vezes mais rápida que a de esterco bovino e quatorze vezes mais rápida que o bagaço de cana. As cinzas constituem a fração mineral dos alimentos; são formadas pelos micro e macronutrientes os quais possuem relação direta com o solo em que foi cultivado. Em produtos vegetais a determinação de cinzas tem relativamente pouco valor, pois o teor de cinzas nesses produtos oferece pouca informação sobre sua composição, uma vez que seus componentes minerais são muito variáveis e tal determinação fornece, em geral, apenas uma indicação da riqueza da amostra nesses elementos (SILVA, 1990). O perfil da cinza pode ser considerado medida geral de qualidade e freqüentemente é utilizado como critério na identificação dos alimentos. A cinza contém, em geral, cálcio, magnésio, ferro, fósforo, chumbo, sódio e outros componentes minerais (ANGELUCCI et al., 1987). Com base nessas considerações, o presente trabalho foi conduzido com o objetivo de analisar os teores de cinza e matéria orgânica da torta de mamona, visando seu uso como adubo orgânico, em função do armazenamento. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Laboratório de Química da Embrapa Algodão, em Campina Grande, PB. Utilizou-se a torta de mamona cultivar BRS Nordestina, produzida pelo processo de prensagem (sem extração por solvente) em mini-usina no Município de Quixeramobim, CE. O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado com 4 repetições e tratamentos distribuídos em distribuição fatorial 3 x 2 x 3, sendo os fatores 3 níveis de umidade inicial (6, 14 e 22%), 2 tipos de embalagens (plástica e nylon) e 3 tempos de armazenamento (2, 4 e 6 meses). Cada unidade experimental consistiu numa embalagem com 500 gramas de torta de mamona. As embalagens foram mantidas em ambiente sem temperatura, umidade ou ventilação controlados. Ao fim de cada período de armazenamento, mediu-se o teor de cinza e matéria orgânica de acordo com a metodologia descrita em AOAC (1975). Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância e regressão. RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com a análise de variância (Tab. 1) para o teor de cinzas e matéria orgânica da torta de mamona verificam-se diferenças significativas a nível de 1% de probabilidade pelo teste F, para todos os fatores estudados e sua interação, durante os 6 meses de armazenamento. Os valores médios determinados para embalagens em função dos teores de umidade iniciais no armazenamento (Tab. 2), indicam crescimento significativo da embalagem de nylon em relação a embalagem plástica nos três níveis de umidade iniciais, entretanto, quando se compara os teores de umidades em função das embalagens, nos primeiros níveis não houveram diferenças significativas entre eles. Já o maior nível de umidade inicial apresentou diferença significativa nas duas embalagens. Em relação ao teor de matéria orgânica, constata-se uma queda na embalagem de nylon em relação a embalagem plástica, resultado já esperado, visto que a porosidade da embalagem contribui para uma maior incidência de microorganismo, facilitando, assim, a sua decomposição e conseqüentemente a diminuição no teor de matéria orgânica. Na Figura 1a, são observados o comportamento do teor de cinzas dos três níveis de umidade em função de todo armazenamento (6 meses), onde constata-se um crescimento mais acentuado no maior nível de umidade do armazenamento (22%), em relação aos demais. Por outro lado, quando observamos esse teor em relação as embalagens durante o armazenamento (Fig. 1b), a embalagem de nylon apresenta crescimento mais elevado, pois neste tipo de embalagem o produto mantém um maior contato com o meio, facilitando a incidência de microorganismo, o que contribui para o processo de decomposição, disponibilizando os nutrientes minerais existente no produto. Na Figura 2a verificase um percentual de queda do teor de matéria orgânica durante o armazenamento de 16,93% no menor nível de umidade, 14,5% no nível médio, e 19,78% no maior. Já em relação as embalagens houve uma diferença entre elas de 10,34%, visto que a embalagem plástica em todo armazenamento diminuiu 11,9%, enquanto a embalagem de nylon reduziu 22,245%. CONCLUSÕES As embalagens tiveram influência significativa nos teores de cinza e matéria orgânica; O maior nível de umidade aumentou significativamente o teor de cinzas; Houve crescimento no teor de cinzas e uma queda no teor de matéria orgânica durante o armazenamento; *Pesquisa financiada pela Petrobrás
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGELUCC, E.; CARVALHO, L.R.; CARVALHO, N.R.P.; FIGUEIREDO, B.I.; MANTOVANI, B.M.D.; MORAES, M.R. Análise química de alimento: manual Técnico. Campinas, SP. 1987, 123p. AOAC. Oficial methods of analysis of the Association Official Analitycal Chemists. 12 ed. Washington, 1094 p. 1975. BELTRÃO, N. E.de M. Torta de Mamona (Ricinus communis L.): fertilizante e alimento. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2002. (comunicado Técnico, 171). FORNAZIERI JÚNIOR, A. Mamona: uma rica fonte de óleo e de divisas. São Paulo: Ícone, 1986. 71p. SANTOS, R. F. dos.; BARROS, M. A. L.; MARQUES, F. M.; FIRMINO, P. de T.; REQUIÃO, L. CE. G. Análise Econômica. In: AZEVEDO, D. M. P. de; LIMA, E. F. (eds.). O agronegócio da mamona no Brasil. Brasília: Embrapa Serviço de Comunicação Tecnológica, 2001. 350p. SEVERINO, L.S. COSTA, F.X.; BELTRÃO, N.E.M.; LUCENA, A.M.A.; GUIMARÃES, M.M.B. Mineralização da torta de mamona, esterco bovino e bagaço de cana estimada pela respiração microbiana. Revista de Biologia e Ciência da terra, v. 5, n. 1, 2004. SEVERINO. L.S.; O que sabemos sobre a Torta de mamona. In. Ministérios da Agricultura, pecuária e Abastecimento. Campina Grande, 2005. (Documento 134) SILVA, D.J. Análise de alimentos (métodos químicos e biológicos). 2ª ed. Viçosa, MG: UFV, 1990. 949p., p.165-170. Tabela 1. Análise de variância para o teor de cinza e matéria orgânica da torta de mamona, sob diferentes tratamentos, ao longo de 6 meses de armazenamento. Campina Grande, 2006. Fonte de Variação GL Quadrado médio Cinza Matéria orgânica Umidade (U) 2 18,10601** 1698,15748** Embalagem (E) 1 7,26440** 646,92045** Tempo (T) 3 28,80684** 1219,54313** U x E 2 25,89607** 937,47604** U x T 6 5,83253** 19,42506** E x T 3 3,65552** 96,18042** U x E x T 6 14,62099** 150,60611** Resíduo 48 0,40168 0,93924 C.V.% 9,14 1,35 ** significativo ao nível de 1% de probabilidade Tabela 2. Valores médios de cinzas e matéria orgânica (%) da torta de mamona armazenadas em diferentes umidades em função das embalagens. Campina Grande, 2006.
Níveis de umidade Cinzas Plástica Embalagens Nylon Baixa 5,47 bb 6,44 ba Média 5,95 bb 6,46 ba Alta 7,42 ab 8,47 aa Matéria orgânica Baixa 86,82 aa 71,72 ab Média 78,00 ba 66,85 bb Alta 58,41 cb 66,67 ba DMS para colunas = 0,6257; DMS para linhas = 0,5205; MG = 6,93%; (Cinza) DMS para colunas = 0,9568; DMS para linhas = 0,7959; MG = 71,41%; (M. orgânica) DMS Desvio mínimo significativo; MG Média geral; CV Coeficiente de variação. Obs: As médias seguidas pela mesma letra minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. 12,0 12,0 10,0 10,0 Teor de cinzas (%) 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 Baixa Média Alta Y = 0,13x 2-0,358x + 5,64 R 2 = 0,80 Y = 0,13x 2-0,386x + 6,395 R 2 = 0,96 Y = 0,55x 2-1,652x + 7,625 R 2 = 0,98 Teor de cinza (%) 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 Plástica Y = 0,4575x 2-0,9485x + 6,0225 R 2 = 0,99 Nylon Y = -0,045x 2 + 0,955x + 4,56 R 2 = 0,98 Tempo de armazenamento (meses) Tempo de armazenamneto (meses) Figura 1. (A) Cinza (%) da torta de mamona armazenada com três níveis de umidade (baixa, média e alta); (B) em duas embalagens (plástica e nylon) no período de 6 meses. Campina Grande, PB. 2006
Teor de matéria orgânica (%) 100 80 60 40 20 0 Baixo Y = 0,945x 2-10,811x + 99,21 R 2 = 0,95 Média Y = -0,41x 2-3,188x + 83,475 R 2 = 0,95 Alta Y = -0,905x 2-2,733x + 76,155 R 2 = 0,93 Teor de matéria orgânica (%) 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 Plástico Y = -0,5375x 2-1,7555x + 82,827 R 2 = 0,91 Nylon Y = 0,2875x 2-9,3825x + 89,713 R 2 = 0,96 Tempo de armazenamento (meses) Tempo de armazenamento (meses) Figura 2. (A) Matéria orgânica (%) da torta de mamona armazenada com três níveis de umidade (baixa, média e alta); (B) em duas embalagens (plástica e nylon) no período de 6 meses. Campina Grande, PB. 2006