MERCADO NACIONAL DE MATERIAIS PARA REVESTIMENTOS CERÂMICOS

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Transcrição:

MERCADO NACIONAL DE MATERIAIS PARA REVESTIMENTOS CERÂMICOS José Dinis Silvestre, Engenheiro Civil, Mestre em Construção, IST Jorge de Brito, Professor Associado c/ Agregação, IST Neste artigo, é apresentado um levantamento dos materiais comercializados no mercado português para utilização em revestimentos cerâmicos aderentes (RCA) de pavimento ou de parede, interiores ou exteriores. Para tal, é apresentada a classificação normalizada dos ladrilhos cerâmicos, dos materiais de assentamento e dos materiais de preenchimento de juntas segundo a matéria-prima constituinte, o respectivo processo de fabrico e os ambientes onde podem ser aplicados. Em complemento, são caracterizados os materiais utilizados em RCA actualmente comercializados no mercado português, através de dados fornecidos pelas associações do sector e da análise aos catálogos das empresas que os produzem [1]. Materiais utilizados em RCA: classificação e análise do mercado nacional Os revestimentos cerâmicos continuam a ser quase imbatíveis como solução em várias divisões da habitação tradicional, nomeadamente nos pavimentos e na decoração de paredes das instalações sanitárias e das cozinhas e nos pavimentos das salas e dos corredores, devido à facilidade de manutenção, durabilidade, baixo custo e controlo de qualidade de produção que possuem quando comparados com outras soluções de revestimento. Essas características são também realçadas e valorizadas na utilização de RCA em fachadas de edifícios e estruturas especiais (Fig. 1) Fig. 1 - A versatilidade dos RCA como revestimento exterior está bem patente nos novos estádios (Alvalade XXI em Lisboa e Mário Duarte em Aveiro) construídos em Portugal para o Campeonato da Europa de Futebol de 2004 [2] Ladrilhos cerâmicos - classificação normalizada A classificação normalizada dos ladrilhos cerâmicos é definida, de acordo com o respectivo nível de absorção de água (E, percentagem em massa de água absorvida, medida segundo a norma EN ISO 10545-3:1997) e processo de fabrico, pela norma EN 14411:2003 - Ceramic tiles - definitions, classification, characteristics and marking. Apresenta-se no Quadro 1 um resumo dessa classificação, sublinhando-se que a marcação CE deste tipo de produtos só se tornou obrigatória em Dezembro de 2005. Os ladrilhos do grupo A são produzidos pelo processo de extrusão (por via-seca ou por via-húmida) enquanto que os do grupo B são produzidos por prensagem a seco. Estes processos de fabrico diferem apenas na fase de conformação, na qual a pasta é, no primeiro caso, extrudida em fieiras e, no segundo, prensada por equipamentos hidráulicos. O grupo C corresponde aos ladrilhos moldados de forma manual, normalmente por processos artesanais, ao contrário dos dois primeiros grupos que resultam sempre de unidades industriais. 1

Quadro 1 - Classificação dos ladrilhos cerâmicos segundo a norma europeia EN 14411:2003 1 CONFOR- MAÇÃO Absorção de água Grupo I (E 3%) Grupo IIa (3% < E 6%) Grupo IIb (6% < E 10%) GrupoIII (E > 10%) A - Extrudido Grupo AI Grupo AIIa 2-1 e 2 Grupo AIIb 3-1 e 2 Grupo AIII B - Prensado a seco Grupo BIa Grupo BIb (0,5% Grupo BIIa Grupo BIIb Grupo BIII 3 (E 0,5%) < E 3%) C - Outros processos Grupo CI Grupo CIIa Grupo CIIb Grupo CIII Ladrilhos cerâmicos - mercado português Foram analisados os catálogos (em papel, suporte informático e disponíveis na Internet) de 21 indústrias portuguesas produtoras de ladrilhos cerâmicos. As empresas indicadas representam 62% da produção nacional de revestimentos e pavimentos cerâmicos e comercializam 41 tipologias de ladrilhos cerâmicos (em termos dos grupos definidos pela norma europeia EN 14411:2003), com vários tamanhos de ladrilho e acabamentos superficiais. Verificou-se que 6 empresas produzem apenas ladrilhos pelo processo de extrusão e 11 apenas por prensagem, existindo apenas uma empresa que utiliza os dois processo de fabrico (3 das empresas não fornecem informações explícitas sobre a tipologia dos ladrilhos que fabricam, restando assim 38 produtos devidamente caracterizados). Assim, das 18 empresas que explicitam a tipologia, quatro produzem duas tipologias dentro do mesmo processo de fabrico (duas por extrusão e duas por prensagem) e outras quatro fabricam três tipologias pelo processo de prensagem. Apresenta-se em gráfico, na Fig. 2, o resultado da análise efectuada, para cada um dos grupos já definidos no Quadro 1. N.º empresas N.º de produtos AI AIIa AIIb AIII BIa BIb BIIa BIIb BIII 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Fig. 2 - Distribuição das 38 tipologias de ladrilhos analisados pelas várias classes normalizadas e quantificação do número de empresas que os comercializam [1] Os dados mais recentes descrevem uma tendência crescente da produção de ladrilhos cerâmicos de baixa porosidade (com características de resistência mecânica e de desgaste melhoradas) com um cuidado especial nas soluções estéticas oferecidas, nomeadamente para habitação [3]. Este tipo de ladrilhos apresenta uma maior abrangência de aplicação, adequando-se a todos os tipos de solicitações em pavimentos ou revestimentos. Esta tendência pode ser comprovada na amostra representada na Fig. 2, onde se verifica que 17 dos 38 produtos pertencem aos grupos dos ladrilhos de menor porosidade e maior abrangência em termos de aplicação: grupos BIa e BIb, correspondentes aos 1 Elaborada a partir do texto da ISO 13006:1998, para apoio da aplicação da Directiva dos Produtos da Construção 89/106/CE e do sistema de comprovação da conformidade de produtos - marcação CE. 2 Os Grupos AIIa e AIIb são divididos em duas partes com diferentes especificações de produção. 3 O Grupo BIII engloba apenas os ladrilhos vidrados. Os ladrilhos prensados a seco não vidrados com absorção maior do que 10% não são incluídos neste grupo. 2

ladrilhos porcelânicos e aos ladrilhos de grés porcelânico, respectivamente. Entre esses ladrilhos, enquadram-se os chamados ladrilhos rectificados que, após saírem da linha normal de produção (de ladrilhos porcelânicos, os quais são constituídos por uma massa cerâmica homogénea e completamente vitrificada), são sujeitos a cortes rectilíneos em todas as arestas, de modo a ficar com dimensões modulares e idênticas (que podem ir até 0,6 x 1,20 m). Assim, podem ser aplicados em interiores sem qualquer tipo de junta de assentamento, permitindo a constituição de painéis contínuos de grande dimensão em pavimentos ou em paredes (Fig. 3). Fig. 3 - Exemplo de aplicação de ladrilhos rectificados numa instalação sanitária [4] Os produtores fornecem ainda nos respectivos catálogos os dados relativos à conformidade dos ladrilhos comercializados com as normas de ensaio europeias da série EN ISO 10545:1997 [3], em termos de características dimensionais e propriedades físicas e químicas. Apresenta-se no Quadro 2 o balanço relativo ao número de produtos, dos 38 analisados, que referem a respectiva conformidade. Da observação deste quadro, é possível verificar que a absorção de água constitui uma característica apresentada pela quase totalidade (35 em 38) dos produtores, o que demonstra a respectiva importância em termos de classificação normalizada e funcional dos ladrilhos. A resistência à flexão, o módulo de rotura e a resistência ao choque térmico surgem também identificados em mais de 30 dos 38 ladrilhos, o que demonstra a importância destas características para o projectista em temos de durabilidade dos RCA. Quadro 2 - Conformidade dos ladrilhos incluídos na amostra com as normas de ensaio da série EN ISO 10545:1997 Norma de ensaio N.º de produtos que indicam conformidade ISO 10545-2 Qualidade da superfície 12 ISO 10545-2 Estabilidade dimensional 25 ISO 10545-3 Absorção de água, E (%) 35 indicam valor de E, 2 indicam conformidade ISO 10545-4 Resistência à flexão e módulo de rotura 34 ISO 10545-5 Resistência ao impacto pelo coeficiente de restituição 3, sendo 2 para pavimentos Resistência à abrasão profunda (UGL) ou superficial ISO 10545-6/7 (GL) 25, sendo 6 para pavimentos ISO 10545-8 Dilatação térmica linear 23 ISO 10545-9 Resistência ao choque térmico 30 ISO 10545-10 Expansão por humidade 6, havendo outros 2 que indicam como negligenciável ISO 10545-11 Resistência à fendilhagem de ladrilhos vidrados 15 ISO 10545-12 Resistência ao gelo 28 ISO 10545-13 Resistência química 27 ISO 10545-14 Resistência à formação de nódoas 19, sendo que 9 indicam conformidade e 10 a classe de resistência ISO 10545-16 Pequenas diferenças de cor 6 ISO 10545-17 Resistência ao deslizamento 7, havendo outros 3 que indicam sob solicitação NP EN 101 Dureza superficial 13 indicam classe 3

Materiais de assentamento industrializados - classificação normalizada Os ladrilhos cerâmicos podem ser assentes directamente sobre o suporte ou sobre a camada de regularização deste. Para tal, existem soluções tradicionais (argamassas fabricadas em obra) e soluções industriais ou não-tradicionais (argamassas prontas), devendo estas últimas ser devidamente homologadas pelo LNEC. Estes produtos de assentamento, designados por cimentos-cola ou adesivos, são regulamentados na União Europeia pela norma EN 12004:2001 / A1:2002 - Adhesives for tiles - Definitions and specifications, na qual são definidos como uma mistura de ligantes hidráulicos, agregados e aditivos orgânicos, a qual é misturada com água ou outro líquido imediatamente antes da aplicação. Nessa mesma norma, estes produtos são classificados em três grupos principais (C - cimentos-cola, D - colas em dispersão aquosa e R - colas de resina de reacção) de acordo com a respectiva composição. Apresenta-se no Quadro 3 a caracterização de cada um destes grupos em termos de composição. De notar que o primeiro grupo apresenta cinco subgrupos com características diferenciadas. Composição Quadro 3 - Caracterização dos vários tipos de adesivos para ladrilhos cerâmicos [3] C - s-cola standard branco ou cinza, areias siliciosas ou calcárias e aditivos orgânicos e inorgânicos C - scola de derivados celulósicos branco, areias siliciosas com granulometria controlada e derivados celulósicos C - s-cola de dois componentes branco ou cinza, areias siliciosas ou calcárias, adjuvantes e resinas em dispersão C - s-cola de ligantes mistos branco ou cinza, areias siliciosas e calcárias com aditivos orgânicos e inorgânicos C - scola aluminosos aluminoso, areias, resina sintética e outros adjuvantes específicos D - Colas de dispersão aquosa Pasta adesiva - resinas sintéticas em dispersão, aditivos orgânicos e cargas siliciosas R - Colas de resina de reacção Mistura de resinas epóxidas, cargas minerais e aditivos orgânicos Na norma EN 12004:2001, cada um destes grupos está ainda dividido em classes, de acordo com características de desempenho fundamentais e opcionais, conforme se apresenta em seguida: classes de características fundamentais: o 1 - adesivo normal; o 2 - adesivo melhorado (em termo de aderência e resistência ao corte); classes de características opcionais: o E - adesivo de tempo aberto alargado; o F - adesivo de presa rápida; o T - adesivo com resistência ao deslizamento vertical. De acordo com as classes referidas, os adesivos podem ter as seguintes designações: C1, C1F, C1T, C1FT, C2, C2E, C2F, C2T, C2TE, C2FT, D1, D1T, D2, D2T, D2TE, R1, R1T, R2 e R2T. De forma a certificar a conformidade dos cimentos-cola produzidos e comercializados na União Europeia, está em vigor (desde Maio de 2004) a obrigatoriedade da marcação CE destes produtos. Para que um adesivo possa possuir marcação CE, é necessário que o respectivo fabricante efectue os ensaios exigidos pela directiva (ensaios de aderência inicial, após imersão em água, após aquecimento e após ciclos gelo-degelo, de acordo com a normalização em vigor e efectuados num laboratório certificado). O fabricante ficará assim possuidor de uma declaração de conformidade, a qual deve ser replicada pelas embalagens do produto, e que inclui, entre outras informações, o campo de aplicação, as características de conformidade e a definição do produto segundo a EN 12004:2001. Materiais de assentamento industrializados - mercado português Como apresentado para os ladrilhos cerâmicos, foi efectuada a análise dos catálogos (em papel, suporte informático e disponíveis na Internet) de 13 empresas portuguesas que produzem ou co- 4

mercializam argamassas pré-doseadas (de fábrica) para o assentamento de ladrilhos cerâmicos, que representaram em 2003 vendas de cerca de 295.000 toneladas (283.000 toneladas fabricadas em Portugal e 12.000 importadas), correspondendo a 80% das vendas totais verificadas nesse ano 4. Dez destas empresas são fábricas portuguesas (sendo 5 fábricas em Portugal de marcas estrangeiras) e as três restantes marcas estrangeiras com distribuição (mas sem fábrica) em Portugal. As empresas indicadas comercializam 74 tipologias de adesivos de assentamento, divididos por todos os grupos da norma europeia EN 12004:2001. Da análise efectuada, concluiu-se que as empresas começaram no ano de 2005 a dar uma maior importância à classificação incluída nesta norma (depois da entrada em vigor da marcação CE), dado que, enquanto que nos catálogos de 2004 apenas quatro empresas (correspondentes a 17 produtos) definiam claramente o grupo da norma ao qual pertencem os produtos que comercializam, nos catálogos deste ano já são oito as empresas nessa situação (representando 49 dos 74 produtos). Em relação aos restantes produtos, a definição da respectiva tipologia foi efectuada através da composição indicada em catálogo. Verificou-se que apenas 4 empresas comercializam produtos nos três grupos principais (C, D e R) e outras 4 comercializam produtos de apenas um dos grupos. A tipologia dos 74 adesivos, tal como o número de empresas que as comercializam, é apresentada na Fig. 4. Assim, mais de 75% dos adesivos pertencem ao grupo dos cimentos-cola (C), sendo os subgrupos dos cimentos-cola standard e dos cimentos-cola de ligantes mistos os mais representados, com 20 e 25 produtos, respectivamente. Este facto pode ser justificado pela grande quota de mercado ocupada por estes dois produtos. Os cimento-cola standard são utilizados na maioria das aplicações em pavimentos e revestimentos interiores e os cimentos-cola de ligantes mistos em grande parte dos RCA de fachadas. N.º empresas N.º de produtos C - -cola C - Derivados celulósicos C - Dois componentes C - Ligantes mistos C - -cola aluminoso D - Dispersão aquosa R - Resina de reacção 0 5 10 15 20 25 Fig. 4 - Distribuição das 74 tipologias de adesivos de assentamento analisados pelas várias classes normalizadas e quantificação do número de empresas que os comercializam [1] Juntamente com a verificação do grupo ao qual pertence cada um dos produtos analisados, foi analisada a informação fornecida pelas empresas relativa à conformidade dos adesivos com as normas de ensaio em vigor, em termos de propriedades físicas. Apresenta-se no Quadro 4 o balanço relativo ao número de produtos, dos 74 analisados, que referem o respectivo valor característico da grandeza medida no ensaio. Como se pode verificar no Quadro 4, cerca de 70% dos adesivos são caracterizados nos respectivos catálogos através das respectivas propriedades principais. Apesar deste valor ser positivo, verifica-se que cerca de 1/3 dos produtores de material de assentamento ainda não se preocupam em fornecer informação rigorosa acerca do produto que comercializam, aumentando a dificuldade do projectista em prescrever a solução de fixação mais adequada à utilização, exposição e características do RCA que pretende utilizar. 4 Dados fornecidos pela Associação dos Fabricantes de Argamassas de Construção. 5

Quadro 4 - Conformidade dos adesivos na amostra com a normalização em vigor Norma de ensaio Propriedade N.º de produtos que indicam o valor da grandeza Técnica corrente, mas ainda não normalizada Tempo de endurecimento 5 51 EN 1015-9 Tempo de ajustabilidade 6 52 EN 1015-2; NP EN 1346 e 1348 Aderência (ensaio de resistência à tracção) EN 1346; EN 12189 Tempo aberto 7 Materiais de betumação industrializados - classificação normalizada 19 indicam valor exacto, 39 indicam valor mínimo 46 indicam valor exacto, 3 indicam valor mínimo As juntas de movimento e a superfície das juntas de esquartelamento, estruturais e periféricas de RCA podem ser preenchidas por dois grupos principais de materiais não-tradicionais definidos na norma europeia EN 13888:2002: CG (cement grout), argamassas à base de cimento, ou RG (resin grout), argamassas à base de resinas de reacção, os quais devem ser devidamente homologados pelo LNEC. Não se encontra prevista neste momento nenhuma data para a obrigatoriedade da marcação CE deste tipo de produto. Apresenta-se no Quadro 5 a caracterização sumária dos materiais pertencentes aos grupos citados, bem como um grupo de materiais introduzido recentemente no mercado e que não se enquadram em nenhum desses grupos, embora possam ser classificados como CG2 (as argamassas de base cimentícia pertencentes a esta classe apresentam um comportamento melhorado, possuindo uma elevada resistência à abrasão e uma reduzida absorção de água) pela norma EN 13888:2002. Quadro 5 - Caracterização dos tipos de material de betumação de juntas em RCA [3] [6] Composição Gama de larguras CG - argamassas à base de cimento Calda de cimento, sem agregados Argamassa à base de cimento Argamassa de cimento com elevado teor de resinas dispersão RG - argamassa à base de resina de reacção Argamassa epóxida, fornecida em dois componentes (líquidos), sendo um deles a resina (ligante) e outro o endurecedor Argamassas à base de silicatos, completamente inorgânicas Argamassas compostas por silicatos (ligante) e aditivos especificamente seleccionados (fornecida em pó) 4 3 a 15 3 a 20 3 a 15 3 a 15 Materiais de betumação industrializados - mercado português Foram analisados os catálogos (em papel, suporte informático e disponíveis na Internet) de 11 empresas portuguesas que produzem ou comercializam argamassas pré-doseadas (de fábrica) para a betumação de juntas de RCA, as quais representaram em 2003 vendas de cerca de 11.000 toneladas (mais de 95% das quais fabricadas em Portugal), correspondendo a 80% das vendas totais verificadas nesse ano (segundo dados da Associação dos Fabricantes de Argamassas de Construção). Realça-se o facto de menos de metade (5) das empresas serem marcas portuguesas, correspondendo outras cinco a fábricas em Portugal de marcas estrangeiras e a restante a uma marca estrangeira com distribuição (mas sem fábrica) em Portugal. 5 Intervalo de tempo necessário para que uma argamassa desenvolva a sua resistência, correspondendo ao tempo até à utilização do revestimento [5]. 6 Intervalo de tempo máximo durante o qual se pode corrigir a aplicação de uma argamassa (ex.: correcção da posição de ladrilhos), sem perdas de propriedades mecânicas [5]. 7 Intervalo de tempo máximo para o acabamento, desde o momento da aplicação de uma argamassa [5]. 6

Estas empresas comercializam 35 tipologias de argamassas de preenchimento de juntas, sendo que para apenas um desses produtos não é indicada a respectiva composição. Verificou-se que as empresas não dão a devida importância à classificação normalizada, sendo que apenas duas (correspondentes a 6 produtos) identificam o grupo a que pertencem os produtos que comercializam, de acordo com a norma europeia EN 13888:2002. Para os restantes produtos, a definição da respectiva tipologia foi efectuada através da composição indicada em catálogo, resultando a distribuição dos 34 produtos pelos vários grupos que se apresenta na Fig. 5. N.º empresas N.º de produtos CG - calda de cimento, s/ agregados CG - argamassa à base de cimento CG - arg. à base de cimento, inc. resinas RG - arg. à base de resinas de reacção Argamassa à base de silicatos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Fig. 5 - Distribuição das 34 tipologias de materiais para o preenchimento de juntas pelas várias classes normalizadas e quantificação do número de empresas que as comercializam [7] Conclui-se, da análise da Fig. 5, que 70% das argamassas de betumação analisadas são de base cimentícia, sendo um quarto da amostra constituído por argamassas à base de resinas de reacção. Esta oferta está de acordo com o consumo real verificado na construção portuguesa, já que a maior parte dos RCA é executada em interiores de espaços habitacionais, sendo por isso utilizadas para o seu assentamento argamassas à base de cimento, com agregados. As argamassas à base de resinas de reacção ou de silicatos têm um âmbito de aplicação mais limitado, em zonas mais solicitadas ou mais expostas a agentes agressivos, sendo por isso a oferta existente bastante especializada. Para além da verificação do grupo normalizado ao qual pertence cada um dos produtos analisados, foi verificada a informação dada pelas empresas relativa à conformidade dos materiais de preenchimento de juntas com as normas de ensaio em vigor, em termos de propriedades físicas. Quanto a propriedades tão importantes como a absorção de água e a permeabilidade ao vapor, não é referida em nenhum catálogo a grandeza característica do produto comercializado. Entre essas propriedades, encontram-se as seguintes, definidas através do respectivo ensaio normalizado [8]: absorção de água (EN 12808-5); permeabilidade ao vapor de água (EN 1015-19); aderência aos ladrilhos e ao suporte (EN 1348 + A1 e EN 1015-12, por tracção normal, e EN 1324 + A1, por corte); tempo de trabalhabilidade (EN 1015-9). Existem no entanto outras propriedades dos produtos de preenchimento das juntas para as quais é indicado em catálogo o valor característico da grandeza medida no ensaio normalizado ou, nos casos em que este não existe, os valores estimados de cada uma das características. Entre estas propriedades, encontram-se as seguintes: resistência à flexão (EN 12808-3); resistência à compressão (EN 12808-3); módulo de elasticidade (técnica corrente, mas ainda não normalizada); retracção de secagem inicial (EN 12808-4); período de tempo máximo em que é permitida a limpeza; tempo de secagem (transitável, em pavimentos); tempo para utilização. 7

Apresenta-se na Fig. 6 o balanço relativo à percentagem de produtos, dos 34 analisados, que referem os respectivos valores de cada uma das características listadas. Fig. 6 - Percentagem de produtos, dos 34 analisados, para os quais é referido em catálogo o valor de cada uma das características [7] Da observação da Fig. 6, pode-se verificar que os produtores de materiais de preenchimento de juntas também não os caracterizam de forma satisfatória nos catálogos que apresentam, limitando assim o sucesso da prescrição efectuada pelo projectista. No entanto, é de realçar que, em mais de 90% dos produtos analisados, era indicado de forma explícita o campo de aplicação dos mesmos (pavimentos e/ou revestimentos, interiores e/ou exteriores, bem como o nível de agressividade do ambiente) e as características das juntas em que podem ser utilizados (larguras máximas e/ou mínimas e tipo de juntas: assentamento, esquartelamento e/ou estruturais). Conclusão Os ladrilhos cerâmicos continuam a destacar-se como revestimento devido não só à facilidade de manutenção, durabilidade, baixo custo e controlo de qualidade de produção, como também às vantagens que apresentam em termos de sustentabilidade ambiental. A análise efectuada neste artigo aos materiais utilizados em RCA actualmente comercializados no mercado português permitiu concluir que, embora Portugal seja o 3º maior produtor europeu de ladrilhos cerâmicos, a maioria dos fabricantes deste material (e dos outros constituintes dos RCA) ainda não se encontra devidamente sensibilizada para apresentar de forma simples e completa as características técnicas dos materiais que comercializa. No entanto, verificou-se que, no caso das empresas que produzem adesivos para a colagem de ladrilhos, a entrada em vigor da obrigatoriedade da marcação CE em Maio de 2004 levou a que o número de empresas (das 13 analisadas) que definem claramente o grupo da norma ao qual pertence o produto que comercializam crescesse de 4 em 2004 para 8 em 2005. Foi também possível confirmar a tendência crescente no mercado dos ladrilhos cerâmicos de comercializar produtos com menor porosidade e maior abrangência em termos de aplicação. Referências [1] Silvestre, José D. Sistema de Apoio à Inspecção e Diagnóstico de Anomalias em Revestimentos Cerâmicos Aderentes. Dissertação de Mestrado em Construção no Instituto Superior Técnico, Lisboa, Setembro de 2005. [2] www.portugal2004.pt Página consultada em Abril de 2005. [3] APICER Manual de aplicação de revestimentos cerâmicos. Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro, Coimbra, 2003. [4] Revigrés Catálogos técnicos de revestimentos cerâmicos, 2005. 8

[5] European Mortar Industry Organization EMOdico - Technical Dictionary. 3 rd Edition, Dezembro de 2001. [6] Rosenbom, Kim; Garcia, João Aspectos técnicos e funcionais das juntas de betumação entre revestimentos cerâmicos. Actas do Congresso Construção 2004, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Dezembro de 2004, 2º volume, pp. 791-796. [7] Silvestre, J. D.; Brito, J. de Juntas utilizadas em Revestimentos Cerâmicos Aderentes. Actas do 1º Congresso Nacional de Argamassas de Construção, FIL, Lisboa, Novembro de 2005. [8] Lucas, J. Carvalho; Abreu, Miguel Patologia e reabilitação das construções. Edifícios. Revestimentos cerâmicos colados. Descolamento. Relatório 367/03 - NCMC, LNEC, Lisboa, Novembro de 2003. 9