Cympobogon citratus (DC.) STAPF, POACEAE. Cymbopogon citratus (DC.) STAPF, POACEAE

Documentos relacionados
ANATOMIA COMPARATIVA DE TRÊS ESPÉCIES DO GÊNERO Cymbopogon

ANATOMIA COMPARATIVA DE TRÊS ESPÉCIES DO GÊNERO Cymbopogon

Anatomia Foliar de Cymbopogon densiflorus (Steud.) Stapf e C. nardus (L.) Rendle (Poaceae:Panicoideae)¹ *

Calyptranthes widgreniana

ILLUSTRATION OF VEGETAL DRUG MICROSCOPIC CHARACTERS FOR THE PHARMACOGNOSTIC QUALITY CONTROL.

DUARTE, M. do R.; GOLAMBIUK, G.

CARACTERES MACRO E MICROSCÓPICOS DE FOLHA DE LOURO (Laurus nobilis L., LAURACEAE)

CÉLULAS E TECIDOS VEGETAIS. Profa. Ana Paula Biologia III

ANATOMIA FOLIAR DE ALGODÃOZINHO-DO-CERRADO: Cochlospermum regium (SCHRANK) PILG., BIXACEAE LEAF ANATOMY OF YELLOW COTTON TREE:

DIAGNOSE ANATÔMICA FOLIAR E CAULINAR DE FRUTO-DE-POMBO: Rh a m n u s s p h a e r o s p e r m a Sw. v a r. p u b e s c e n s

TÍTULO: ANÁLISE MORFOANATÔMICA E HISTOQUÍMICA DE FOLHA DE GENIPA AMERICANA

CARACTERIZAÇÃO ANATOMICA DE TRIGO CULTIVADO NAS CONDIÇÕES DO SUDOESTE GOIANO 1. Katya Bonfim Ataides Smiljanic 2

CARACTERIZAÇÃO MORFOANATÔMICO DA CULTIVAR BRS ENERGIA (Ricinus communis L.)

TECIDOS FUNDAMENTAIS

Sedum dendroideum Moc. et Sessé ex DC, Crassulaceae

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DE FOLHAS ADULTAS DE HIMATANTHUS OBOVATUS (M. ARG.) WOOD (APOCYNACEAE)

DESENVOLVIMENTO & HISTOLOGIA VEGETAL (TECIDOS)

TÍTULO: MORFOANATOMIA E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE EUCALYPTUS UROGRANDIS, CULTIVADO NA REGIÃO DE CAMPO GRANDE MS.

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

MERISTEMA APICAL Meristema fundamental Tecidos fundamentais (parênquima, colênquima e esclerênquima) Xilema e floema primários (sistema vascular)

Quais são as partes constituintes dos embriões? folha (s) embrionária (s) 2 em eudicotiledôneas

ANATOMIA DA RAIZ, FOLHA E CAULE DE RUTA GRAVEOLENS L. (RUTACEAE) ANATOMY OF THE ROOT, LEAF AND STALK IN RUTA GRAVEOLENS L.

ANÁLISE FOTÔNICA E ULTRA-ESTRUTURAL DA EPIDERME FOLIAR DE Galinsoga parviflora CAV. E G. ciliata (RAF.) BLAKE, ASTERACEAE

Tecidos Vasculares. TECIDOS CONDUTORES - Introdução. Xilema primário. Procambio. Floema primário. Tecidos vasculares. Xilema.

PODOCARPUS LAMBERTII KLOTZSCH

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

MORFODIAGNOSE DE Psidium guajava L., MYRTACEAE. MORPHO-DIAGNOSIS OF Psidium guajava L., MYRTACEAE

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Revista de Biologia e Ciências da Terra ISSN: Universidade Estadual da Paraíba Brasil

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DE Protium aracouchini OCORRENTE NO PARQUE URBANO DO MUNICIPIO DE SINOP-MT

Ruta graveolens L.: USO POTENCIAL EM AULAS PRÁTICAS DE ANATOMIA VEGETAL

Profª. M.Sc.: Josiane Silva Araújo

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DO AMENDOIN CULTIVADO NA REGIÃO DE MINEIROS, GOIÁS 1. Katya Bonfim Ataides Smiljanic 2

Tecidos de revestimentos: Epiderme e periderme

Aula Multimídia. Prof. David Silveira

Sistema Vascular. Xilema. Atividade do Procâmbio ou Câmbio Vascular

Diagnose Morfoanatômica de Folha e Caule de Pyrostegia venusta (Ker Gawl.) Miers, Bignoniaceae

ILUSTRAÇÃO DE CARACTERES MICROSCÓPICOS DE DROGAS vegetais PARA O CONTROLE DE QUALIDADE FARMACOGNÓSTICO

Structural aspects of Ocotea odorifera (Vell.) Rohwer (Lauraceae) leaves in two distinctive environments

MERISTEMAS. Após o desenvolvimento do embrião. formação de novas células, tecidos e órgãos restritas. aos MERISTEMAS

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO. 4.1 ANATOMIA DAS FOLHAS DE Podocarpus lambertii Descrição geral

ANATOMIA E MICROMORFOLOGIA FOLIAR DE Melanopsidium nigrum Colla RESUMO ABSTRACT LEAF ANATOMYAND MICROMORPHOLOGY OF

Espécies estudadas Voucher Localidade Herbário A.M.G. Azevedo Flores 420 Santana do Riacho SPF C. pallida Aiton Devecchi 33 Devecchi 47

ESTUDO MORFO-ANATÔMICO DAS GALHAS POLIPOIDES DE Caryocar brasiliense Camb. (CARYOCARACEAE)

Estudo morfo-anotômico entre os caules de Lippia alba e Melissa officinalis

TECIDO: é o conjunto de células morfologicamente idênticas que desempenham a mesma função.

CÚRCUMA, rizoma Rhizoma curcumae

42 Souza, W. M. de; Santos, C. A. de M.; Duarte, M. do R.; Bardal, D. INTRODUÇÃO Eriobotrya japonica Lindley, Rosaceae, é uma árvore de origem asiátic

CAULE ANATOMIA INTERNA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ENSINO DEPARTAMENTO CCENS BIOLOGIA. Plano de Ensino

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE BOTUCATU FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM Ciência Florestal PLANO DE ENSINO

ANÁLISE MICROSCÓPICA FOLIAR DE MUTAMBA (Guazuma ulmifolia LAM., MALVACEAE)

PLANO DE ENSINO DISCIPLINA. Anatomia da madeira de coníferas e de folhosas

COENTRO, fruto Coriandri fructus. A droga vegetal é constituída pelos frutos secos de Coriandrum sativum L., contendo, no mínimo, 0,3 de óleo volátil.

Consulta Pública 38/2009

TECIDOS VASCULARES XILEMA & FLOEMA

ESTUDOS MORFO-ANATOMICO EM FOLHA E CAULE DE Didymopanax moro to toai, DECNE

Morfoanatomia Foliar e Caulinar de Dedaleiro: Lafoensia pacari A. St.-Hil. (Lythraceae)

Células vivas, achatadas e justapostas. Apresentam cutícula. Possuem grandes vacúolos. Não possuem cloroplastos. Epiderme de cebola

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO MORFOANATÔMICA E HISTOQUIMICA DOS RAMOS FOLIARES DO HIBRIDO EUCALYPTUS UROGRANDIS

ANATOMIA FOLIAR DE Mentha x villosa HUDS SOB DIFERENTES ESPECTROS DE LUZ

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Decanato Acadêmico

Morfo-anatomia de espécies arbóreo-arbustivas do cerrado

Disciplina: Botânica I (Morfologia e Anatomia Vegetal)

Campus Dom Pedrito Curso de Enologia

Anatomia das plantas com sementes

Morfoanatomia Foliar e Caulinar de Leonurus sibiricus L., Lamiaceae

Tecidos Vegetais. Professor: Vitor Leite

Classificação das Angiospermas. Professor: Vitor Leite

Aula prática 10 Diversidade das Gimnospermas

Quais são os tecidos encontrados no corpo de uma planta?

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DE FOLHAS DA ANDIROBA (CARAPA GUIANENSIS AUBL.), PARA FINS DE DEFINÇÕES DE USO POPULAR. Apresentação: Pôster

ESTUDO COMPARATIVO DA EPIDERME DE TRÊS ESPÉCIES DE Deguelia AUBL. (FABACEAE)

Caracteres Anatômicos de Folha e Caule de Piper mikanianum (Kunth) Steud., Piperaceae

ESTUDO ANATÔMICO FOLIAR DE ESPÉCIES DE Citrus COM POTENCIAL MEDICINAL. Claros

Sementes. Cotilédone. Endosperma. Coleóptilo. Folhas embrionárias Radícula Caulículo. Caulículo. Tegumento. Folhas embrionárias.

Farmacobotânica foliar e caulinar de guanandi - Calophyllum brasiliense Cambess. (Clusiaceae)

AULA 6 CAPÍTULO 6 FLOEMA

Profa. Dra. Wânia Vianna

RESUMO. Palavras-chave: anatomia, tricomas, cistólitos INTRODUÇÃO

ANATOMIA FOLIAR E CAULINAR DE ROSA SPP (L.), ROSACEAE

IDENTIFICAÇÃO ANATÔMICA DE FOLHA E CAULE DE SALSEIRO: LEAF AND STEM ANATOMICAL IDENTIFICATION OF CREOLE WILLOW: DUARTE, M. R. 1 ; CHELLA, L.

Anatomia comparada de espécies de arnica: Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass. e Chaptalia nutans (L.) Pohl

DIAGNOSE MORFOANATÔMICA DE AROEIRA (Schinus terebinthifolius RADDI, ANACARDIACEAE)

Biologia Professor Leandro Gurgel de Medeiros

Lippia alba N. E. Br. Lípia

Os Tecidos das Plantas

Estudo anatômico de folha e caule de Pereskia aculeata Mill. (Cactaceae) M.R. Duarte*, S.S. Hayashi

Figura - Meristemas apicais. FOSKET, D.E. (1994). Plant Growth and Development.

RAIZ ANATOMIA INTERNA

Anatomia comparativa de folhas e caules de Axonopus scoparius (Flügge) Kuhlm. e Axonopus fissifolius (Raddi) Kuhlm. (Poaceae) 1

Caracteres morfo-anatômicos de Baccharis gaudichaudiana DC., Asteraceae

PROGRAMA DE ENSINO DE DISCIPLINA Matriz Curricular Generalista Resolução Unesp 14/2010

CAPIM-LIMÃO, folha Cymbopogonis foliae

Anatomia vegetal: como é uma folha por dentro? Luiz Felipe Souza Pinheiro*; Rosana Marta Kolb

HISTOLOGIA VEGETAL. Tecidos Meristemáticos (embrionários)

HISTOLOGIA VEGETAL 24/05/2017. Prof. Leonardo F. Stahnke

Estrutura Anatômica de Órgãos Vegetativos (Raiz e Caule) Profª. M.Sc. Josiane Araújo

Caracteres Anatômicos de arnica-do-campo: Chaptalia nutans

Transcrição:

117 Estudo farmacobotânico de folhas de capim-limão: Cympobogon citratus (DC.) STAPF, POACEAE Morpho-anatomical study of lemongrass leaves: Cymbopogon citratus (DC.) STAPF, POACEAE DUARTE, M. do R. 1 *; ZANETI, C. C. 2 1 Professora de Farmacognosia, do Departamento de Farmácia, Universidade Federal do Paraná (UFPR) 2 Bolsista PIBIC/CNPq do Curso de Farmácia, UFPR * Autor para correspondência: Rua Pref. Lothário Meissner, 3400, 80210-170, Curitiba, PR, marciard@ufpr.br Recebido em: 03/2004 Aprovado em: 06/2004 RESUMO Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, Poaceae é uma erva aromática perene, conhecida popularmente como capim-limão. As folhas frescas ou dessecadas e o óleo extraído das mesmas são amplamente empregados na medicina tradicional e se lhes atribuem atividades sedativa, estomáquica, analgésica, antiespasmódica e antimicrobiana. Com o objetivo de complementar informações farmacognósticas, realizou-se estudo morfológico foliar externo (macroscópico) e anatômico (microscópico) da planta medicinal. Observou-se que as folhas apresentam formato linearlanceolado, são planas, eretas e alternas, com bainha larga e nervação paralela. A epiderme é uniestratificada e constituída por células parenquimáticas e lignificadas; em vista frontal, apresentam formato retangular e paredes anticlinais levemente onduladas; ao longo da lâmina foliar são encontrados tricomas tectores unicelulares e bicelulares, e estômatos em formato de halteres, acompanhados de duas células subsidiárias. Células buliformes, clorênquima regular e feixes vasculares colaterais com estrutura Kranz, envoltos por bainha simples ou dupla estão presentes. Palavras-chave: Farmacognosia, planta medicinal, erva aromática ABSTRACT This species is an aromatic perennial herb, commonly known as lemongrass. Their fresh or dried leaves and essential oil are largely employed in the traditional medicine as sedative, stomachic, analgesic, antispasmodic and antimicrobial. Aiming to contribute to pharmacognostical studies, morphological (macroscopic) and anatomical (microscopic) analysis were carried out. It was observed that the leaves have got linear-lanceolate shape; they are plain, erect and alternate, with a large sheathing base and parallel venation. The epidermis is composed by one layer of parenchymatic and sclerenchymatic cells, which shows elongated shape and slightly waved anticlinal walls; also present are uni- and bicellular non-glandular trichomes, and stomata surrounded by two subsidiary cells. Bulliform cells, homogeneous chlorenchyma and collateral vascular bundles, showing a wreath (Kranz structure) encircled by simple or double bundle sheath are described. Keywords: Pharmacognosy, medicinal plant, aromatic herb 1. INTRODUÇÃO Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, Poaceae, é uma erva perene, de origem asiática, encontrada em cultivo principalmente na América do Sul, África, Índia, Austrália e nos Estados Unidos. É conhecida por diversos nomes populares, tais como capim-limão, capim-cidreira e capim-cidrão no Brasil, belgata e chá-do-gabão em Portugal, citronelle na França, lemongrass nos países de língua inglesa e surwai na Índia (CORRÊA, 1984; SANGUINETTI, 1989). Cultivada como ornamental e aromática, é utilizada como agente aromatizante em perfumaria e cosmética, devido ao seu odor característico de limão (CORRÊA, 1984). Possui emprego medicinal, para o qual podem ser utilizadas as folhas frescas ou dessecadas e o óleo extraído delas (SOUZA et al., 1991; BENNETT, PRANCE, 2000). O principal constituinte do óleo essencial é o citral (47 a 85%), formado por uma mistura dos isômeros geranial e neral (BRUNETON, 1991; EVANS, 1996; PINO, ROSADO, 2000; KASALI, OYEDEJI, ASHILOKUN, 2001; SIDIBE

118 et al., 2001). Em menor proporção já foram identificados outros componentes, como canfeno, citronelal, citronelol, farnesol, geraniol, limoneno, linalol, mentol, mirceno, nerol, a-pineno, b-pineno e terpineol (SOUZA et al., 1991; TESKE, TRENTINI, 1997). Entre os constituintes fixos encontram-se flavonóides (DEMATOUSCHEK, SATHLBISKUP, 1991), saponinas e alcalóides (D MELLO, DUFFUS, DUFFUS, 1991; SOUZA et al., 1991). Com base na medicina tradicional, em ensaios farmacológicos em animais e análises microbiológicas, os efeitos terapêuticos relatados para a espécie destacam as atividades estomáquica (EVANS, 1996), analgésica (RAO, MENEZES, VIANA, 1990; VIANA et al., 2000), antiespasmódica (KISHORE, MISHRA, CHANSOURIA, 1993) e antimicrobiana (DUKE, 1997; FIORI et al., 2000). Embora seja amplamente utilizada no Brasil como sedativo (ALONSO, 1998) e para tratar problemas estomacais, existem poucos estudos farmacognósticos, com relação à caracterização farmacobotânica, que possam fornecer subsídios à identificação da planta medicinal, ao controle de qualidade do fármaco vegetal e à taxonomia do grupo. Assim, o presente trabalho objetivou analisar macroscopicamente (morfologia externa) e microscopicamente (anatomia) as folhas de Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, Poaceae. 2. MATERIAL E MÉTODOS O material vegetal foi selecionado e coletado, a partir de exemplares identificados taxonomicamente, no Horto de Plantas Medicinais, do Laboratório de Farmacognosia, do Departamento de Farmácia, da Universidade Federal do Paraná, (coordenadas aproximadas de 25 o 26' S e 49 o 14' W), em agosto de 2001. A análise morfológica das folhas foi realizada no material fixado em FAA 70 (JOHANSEN, 1940) e posteriormente armazenado em etanol a 70% (BERLYN, MIKSCHE, 1976). Secções transversais e paradérmicas foram realizadas à mão livre. Os cortes foram submetidos à dupla coloração com fucsina básica e azul de astra (ROESER, 1962) e foram montadas lâminas semipermanentes com solução de glicerina diluída a 50% (KRAUS, ARDUIN, 1997). Testes histoquímicos foram também realizados, empregando-se as soluções de floroglucina clorídrica (SASS, 1951) para elementos lignificados, lugol (BERLYN, MIKSCHE, 1976) para amido de assimilação, Sudan IV (FOSTER, 1949) para cutina, suberina, óleo essencial e demais substâncias lipofílicas, e cloreto férrico (JOHANSEN, 1940) para compostos fenólicos. O registro das observações foi realizado por meio de fotomicrografias em microscópio fotônico Olympus BX40 acoplado à unidade de controle PM20. 3. RESULTADOS Descrição macroscópica Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, Poaceae (Fig. 1), é uma gramínea de porte herbáceo, cujas folhas reúnem-se na base formando um tufo, tendo em média 100cm de comprimento e 1,5 a 2,0cm de largura. Apresentam formato linear-lanceolado, com ápice acuminado e cor verde-acinzentada. São alternas, planas, eretas, ásperas e aromáticas com odor de limão. A lâmina foliar é glabra, com bainha larga e aberta. A nervação é paralela, sendo a nervura mediana evidente e estriada. A margem é híspida, possuindo tricomas rígidos e cortantes.

119 Descrição microscópica FIGURA 1. Cymbopogon citratus (DC.) stapf, poaceae aspecto geral As células epidérmicas, em vista frontal, apresentam formato retangular, tendo as paredes anticlinais pequenas ondulações e campos primários de pontoação visíveis. Os estômatos estão dispostos linearmente ao longo da folha, apresentam formato de halteres e são acompanhados de duas células subsidiárias (Fig. 2). Estão presentes nas duas faces, caracterizando a folha como anfiestomática, porém predominam na face abaxial e localizam-se no mesmo nível das demais células epidérmicas. Foram observados tricomas tectores unicelulares (Fig. 3) e bicelulares (Fig. 4) ao longo da lâmina, com ponta aguda e parede relativamente espessada. FIGURA 2. Vista frontal da lâmina foliar, destacando estômatos (es) com duas células subsidiárias FIGURA 3. Detalhe dos tricomas tectores unicelulares (TT) FIGURA 4. Pormenor dos tricomas tectores bicelulares (TT) Uma cutícula lisa reveste a epiderme uniestratificada, sendo esta constituída por grupamentos alternados de células parenquimáticas e lignificadas (Fig. 5, 7). Em correspondência, no mesofilo existem numerosas camadas de células parenquimáticas e

120 cordões esclerenquimáticos entre a epiderme adaxial e o clorênquima. Essas células parenquimáticas, comparativamente maiores, com parede delgada e vacúolos conspícuos são denominadas buliformes (Fig. 5, 6). O parênquima clorofiliano é regular e possui numerosos cloroplastos (Fig. 6) e alguns amiloplastos contendo amido de assimilação. Feixes vasculares colaterais são encontrados em arranjo característico de estrutura Kranz (Fig. 6, 8). Os feixes de menor calibre estão envoltos por uma bainha simples parenquimática evidente e apresentam um grupamento de células lignificadas junto à face abaxial (Fig. 6). Os de maior calibre estão envoltos por uma bainha dupla, sendo a externa parenquimática e a interna esclerenquimática, a qual se estende em direção à face abaxial e, ocasionalmente, à adaxial. Esses feixes são compostos pelo floema primário, onde são distinguidos os elementos crivados e as células parenquimáticas especializadas, e pelo xilema primário, onde são observados os elementos traqueais do metaxilema e a lacuna do protoxilema (Fig. 9). Os elementos traqueais podem apresentar um espessamento de parede anelar, helicoidal, escalariforme e pontoado. FIGURA 5. Secção transversal da lâmina foliar, destacando feixes vasculares (FX) e células buliformes (CB) FIGURA 6. Detalhe do mesofilo, onde se notam feixes vasculares colaterais (FX), células buliformes (CB) e parênquima clorofiliano regular (PC) FIGURA 7. Conjunto de células esclerenquimáticas (ESC) junto à face epidérmica adaxial FIGURA 8. Feixe vascular em estrutura kranz, indicando xilema (XI), floema (FL), células esclerenquimáticas (ESC) e parênquima clorofiliano (PC) FIGURA 9. Detalhe do floema (FL), xilema (XI) e de células esclerenquimãticas (ESC)

121 Compostos fenólicos foram observados em pequena quantidade na parede das células da bainha, enquanto que substâncias lipofílicas foram evidenciadas no interior das células do mesofilo e na cutícula. 4. DISCUSSÃO A morfologia externa das folhas de C. citratus coincide com o descrito para a família por CRONQUIST (1981, 1988), EVANS (1996) e JOLY (1998), e para a espécie por LIBERALLI, HELOU, FRANÇA (1946), MARTINS (1989) e SANGUINETTI (1989). Nas gramíneas, a epiderme é constituída basicamente de células alongadas e estreitas, muitas vezes providas de paredes anticlinais onduladas (ESAU, 1977; RAVEN, EVERT, EICHHORN, 1996), coincidindo com o observado no presente estudo. A ocorrência de células epidérmicas lignificadas foi relatada em rizomas e em faixas da epiderme acima dos cordões de esclerênquima nas folhas das gramíneas por FAHN (1982). Nessa família, entre as células epidérmicas, podem ainda ser observadas pequenas células espessadas com sílica, denominadas células silicosas e células com paredes suberizadas (ESAU, 1977; FAHN, 1982). Na epiderme das gramíneas são encontradas células buliformes, maiores que as células epidérmicas típicas, com parede delgada e grandes vacúolos, que podem formar faixas longitudinais paralelas na região internervural. Em secção transversal, apresentam uma organização semelhante a um leque, no qual a célula central é a mais alta, e podem ser acompanhadas por células similares do mesofilo. As células buliformes contêm muita água, são desprovidas de cloroplastos e suas paredes consistem de celulose e substâncias pécticas (FAHN, 1982). São células geralmente descritas como motoras (ESAU, 1977), que atuam sobre o enrolamento e o desenrolamento das folhas maduras, como resultado da perda ou do ganho de água (FAHN, 1982; RAVEN, EVERT, EICHHORN, 1996). Embora não sejam referidas como buliformes por LIBERALLI, HELOU, FRANÇA (1946) e PAVIANI (1964), células semelhantes são descritas por esses autores em C. citratus. Uma característica taxonômica freqüentemente adotada é o aspecto dos estômatos em vista frontal, especialmente com referência à natureza e orientação das células subsidiárias (ESAU, 1977). Os estômatos observados em C. citratus dispõem-se na lâmina foliar alinhados entre as nervuras (CARVALHO et al., 2001), em filas longitudinais, de forma característica às gramíneas (ESAU, 1977; RAVEN, EVERT, EICHHORN, 1996; OLIVEIRA, AKISUE, 1997). As células-guarda são bulbosas nas partes terminais e retas nas partes medianas, lembrando o formato de halteres. Essas células são acompanhadas lateralmente por duas células subsidiárias, uma de cada lado (FAHN, 1982; RAVEN, EVERT, EICHHORN, 1996; OLIVEIRA, AKISUE, 1997). As folhas de C. citratus são anfiestomáticas, com maior freqüência de estômatos na face abaxial, coincidindo com o relatado por LIBERALLI, HELOU, FRANÇA (1946), PAVIANI (1964) e CARVALHO et al. (2001). Embora os tricomas variem amplamente de estrutura em grupos maiores ou menores de plantas, podem ser notavelmente uniformes e utilizados com finalidades taxonômicas (ESAU, 1977). Na espécie em estudo foram visualizados tricomas tectores, que desempenham proteção mecânica e evitam transpirações excessivas (MAUSETH, 1988; OLIVEIRA, AKISUE, 1997), uni e bicelulares, diferentemente do mencionado por LIBERALLI, HELOU, FRANÇA (1946), PAVIANI (1964) e CARVALHO et al. (2001), para quem estão presentes apenas pêlos tectores unicelulares de paredes espessas, alinhados sobre as nervuras foliares em C. citratus.

122 Mesofilo com ausência de diferenciação em parênquima paliçádico e lacunoso é encontrado nas gramíneas, segundo ESAU (1977), e na espécie estudada, segundo OLIVEIRA, AKISUE (1997). Com base na disposição das células buliformes e do clorênquima, o mesofilo é classificado como dorsiventral por PAVIANI (1964). De acordo com OLIVEIRA, AKISUE (1997), feixes vasculares colaterais fechados, verificados na espécie em questão, são mais freqüentes em Liliopsida do que em Magnoliopsida. Apresentam caracteristicamente floema voltado para a face abaxial e xilema para a adaxial, sem a camada de células do câmbio vascular entre esses dois sistemas. Todavia, LIBERALLI, HELOU, FRANÇA (1946) relatam a ocorrência de feixes vasculares tipicamente anfivasais, com elementos do xilema rodeando o floema, em C. citratus. A estrutura Kranz, descrita como um arranjo radial de células do mesofilo ao redor dos feixes vasculares (MAUSETH, 1988; RAVEN, EVERT, EICHHORN, 1996), foi observada no presente estudo. LIBERALLI, HELOU, FRANÇA (1946) e PAVIANI (1964) descrevem organização similar em C. citratus, sem no entanto referirem-na como estrutura Kranz. Esta pode consistir de uma bainha do feixe de apenas uma camada de células parenquimáticas de paredes delgadas, com numerosos cloroplastos (MAUSETH, 1988) que acumulam amido e que podem diferir em ultra-estrutura dos cloroplastos do mesofilo (FAHN, 1982). Essa bainha simples é encontrada em gramíneas panicóides (ESAU, 1977; MAUSETH, 1988), como em Hyparrhenia hirta (L.) Stapf (FAHN, 1982). Em gramíneas festucóides, a bainha é dupla (ESAU, 1977), onde a externa é semelhante àquela descrita anteriormente e a interna, denominada de mestoma (MAUSETH, 1988), é formada por células de parede espessa (ESAU, 1977), sendo nitidamente distinguida neste trabalho e também relatada em outras espécies, a exemplo de Desmostachya bipinnata (L.) Stapf (FAHN, 1982). Para PAVIANI (1964), tomando por base o arranjo radial do clorênquima e a presença de dupla bainha, ainda que descreva mestoma parcialmente desenvolvido, não circundando completamente o feixe vascular, C. citratus parece exibir uma combinação de caracteres dos tipos panicóide e festucóide. A secreção é um fenômeno complexo de eliminação ou isolamento em compartimentos de substâncias do protoplasto, envolvendo diferentes estruturas secretoras. As células secretoras internas possuem grande variedade de conteúdos, com base nos quais são normalmente classificadas e são úteis para fins de diagnóstico nos estudos taxonômicos, de acordo com ESAU (1977). Os óleos essenciais relacionam-se com um grande número de funções orgânicas, sendo compostos de uma mistura complexa de substâncias. A volatilidade e o notável odor que possuem correspondem às propriedades que mais os caracterizam (OLIVEIRA, AKISUE, 1997). Substâncias de natureza lipofílica, possivelmente óleo essencial, e amido de assimilação foram visualizados na espécie em questão, coincidindo com o estudo desenvolvido por CARVALHO et al. (2001) e, anos antes, por LEWINSOHN et al. (1998). Segundo esses últimos autores, células oleíferas localizam-se no clorênquima de folhas de C. citratus, adjacentemente ao tecido não fotossintetizante. 5. CONCLUSÕES O estudo morfológico das folhas de C. citratus, apresentado neste trabalho e que destaca a presença de tricomas tectores uni e bicelulares, células buliformes e estrutura Kranz, pretende contribuir com a identificação botânica da espécie, amplamente empregada na medicina tradicional, bem como fornecer subsídios ao controle de qualidade do fármaco.

123 REFERÊNCIAS ALONSO, J. R. Tratado de fitomedicina: bases clínicas y farmacológicas. Buenos Aires, Isis, 1998. p. 611, 691. BENNETT, B. C.; PRANCE, G. T. Introduced plants in the indigenous pharmacopoeia of northern South America. Econ.Bot., Bronx, v. 54, p. 90-102, 2000. BERLYN, G. P.; MIKSCHE, J. P. Botanical microtechnique and cytochemistry. Ames, Iowa State University, 1976. p. 121, 276. BRUNETON, J. Elementos de fitoquímica y de farmacognosia. Zaragoza, Acribia, 1991. p. 266. CARVALHO, V. M.; MORALES, S.; TAKEDA, G. M.; MILANEZE, M. A.; MARQUES, L. C. Morfo-anatomia das folhas de duas espécies de Poaceae de importância medicinal: Cymbopogon citratus (DC.) Stapf e Cymbopogon nardus (L.) Rendle. Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Farmacognosia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2001, p. FB- 24. CORRÊA, M. P. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro, Nacional, 1984. v. 1, p. 577. CRONQUIST, A. An integrated system of classification of flowering plants, New York, Columbia University Press, 1981. p. 1142-7. CRONQUIST, A. The evolution and classification of flowering plants. 2 nd ed. New York, New York Botanical Garden, 1988. p. 481, 483. D MELLO, J. P. F.; DUFFUS, C. M.; DUFFUS, J. H. Toxic substances in crop plants, Cambridge, Royal Society of Chemistry, 1991. p. 323. DEMATOUSCHEK, B. V.; SATHLBISKUP, E. Phytochemical analysis of non volatile compounds from Cymbopogon citratus (DC.) Stapf (Poaceae). Pharm.Acta Helv., Amsterdam, v. 66, p. 242-5, 1991. DUKE, J. A. The green pharmacy. Emmaus, Rodale Press, 1997. p. 204. ESAU, K. Anatomy of seed plantas. 2 nd ed. New York, John Wiley, 1977. p. 83-99, 321-74. EVANS, W. C. Trease and Evans Pharmacognosy. 14 th ed. London, WB Saunders, 1996. p. 52, 495. FAHN, A. Plant anatomy. 3 rd ed. Oxford, Pergamon Press, 1982. p. 144-71, 208-32. FIORI, A. C. G.; SCHWAN-ESTRADA, K. R. F.; STANGARLIN, J. R.; VIDA, J. B.; SCAPIM, C. A.; CRUZ, M. E. S.; PASCHOLATI, S. F. Antifungal activity of leaf extracts and essential oils of some medicinal plants against Didymella bryoniae J. Phytopathol., Berlin, v. 148, p. 483-7, 2000. FOSTER, A. S. Practical plant anatomy. 2 nd ed. Princeton, D.Van Nostrand, 1949. p. 218. JOHANSEN, D. A. Plant microtechnique. New York, McGraw-Hill Book Company, 1940. p. 41, 193. JOLY, A. B. Botânica introdução à taxonomia vegetal 12.ed. São Paulo, Nacional, 1998. p. 699-704. KASALI, A. A.; OYEDEJI, A. O.; ASHILOKUN, A. O. Volatile leaf oil constituents of Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. Flavour Fragr.J., Bognor Regis, v. 16, p. 377-8, 2001. KISHORE, N.; MISHRA, A. K.; CHANSOURIA, J. P. N. Fungitoxicity of essential oils of against dermatophytes. Mycoses, Berlin, v. 36, p. 211-5, 1993. KRAUS, J. E.; ARDUIN, M. Manual básico de métodos em morfologia vegetal. Seropédica, Edur, 1997. p. 115. LEWINSOHN, E.; DUDAI, N.; TADMOR, Y.; KATZIR, I.; RAVID, U.; PUTIEVSKY, E.; JOEL, D. M. Histochemical localization of citral accumulation in lemongrass leaves (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, Poaceae). Ann.Bot.,London, v. 81, p. 35-9, 1998. LIBERALLI, C. H.; HELOU, J. H.; FRANÇA, A. A. Contribuição ao estudo das gramíneas aromáticas capim-limâo Cymbopogon citratus (D.C.) Stapf. Rev.Bras.Farm., Rio de Janeiro, v. 4, p. 189-209, 1946. MARTINS, J. E. C. Plantas medicinais de uso na Amazônia. Belém, Cultural CEJUP, 1989. p. 35-6. MAUSETH, J. D. Plant anatomy. Menlo Park, Benjamin Cummings, 1988. p. 246-7. OLIVEIRA, F.; AKISUE, G. Fundamentos de farmacobotânica. 2.ed. São Paulo, Atheneu, 1997. p 24, 46, 63,123-52. PAVIANI, T. I. Algumas considerações acêrca da anatomia foliar de Cymbopogon citratus (D.C.) Stapf. Rev.Fac.Farm.Santa Maria, Santa Maria, v. 10, p. 97-108, 1964. PINO, J. A.; ROSADO, A. Chemical composition of the essential oil of Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, from Cuba. J.Essent.Oil Res., Carol Stream, v. 12, p. 301-2, 2000. RAO, V. S. N.; MENEZES, A. M. S.; VIANA, G. S. B. Effect of myrcene on nociception of mice. J.Pharm.Pharmacol., London, v. 42, p. 877-8, 1990. RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal. 5.ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1996. p. 462-73. ROESER, K. R. Die Nadel der Schwarzkiefer-Massenprodukt und Kunstwerk der Natur. Mikrokosmos, Stuttgart, v. 61, p. 33-6, 1962. SANGUINETTI, E. E. Plantas que curam. Porto Alegre, Rígel, 1989. p. 76. SASS, J. E. Botanical microtechnique. 2 nd ed. Ames, Iowa State College Press, 1951. p. 97. SIDIBE, L.; CHALCAT, J. C.; GARRY, R. P.; LACOMBE, L.; HARAMA, M. Aromatic plants of Mali (IV): Chemical composition of essential oils of Cymbopogon citratus (DC.) Stapf and C. giganteus (Hochst.) Chiov. J.Essent.Oil Res., Carol Stream, v. 13, p. 110-2, 2001. SOUZA, M. P.; MATOS, M. E. O.; MATOS, F. J. A.; MACHADO, M. I. L.; CRAVEIRO, A. A. Constituintes químicos ativos de plantas medicinais brasileiras.fortaleza, UFC/ Lab. Produtos Naturais, 1991. p. 207-13.

124 TESKE, M.; TRENTINI, A. M. M. Compêndio de fitoterapia. 3.ed. Curitiba, Herbarium, 1997. p. 75-6. VIANA, G. S. B.; VALE, T. G.; PINHO, R. S. N.; MATOS, F. J. A. Antinociceptive effect of the essential oil from Cymbopogon citratus in mice. J.Ethnopharmacol., Limerick, v. 70, p. 323-7, 2000.