AVALIAÇÃO DE MODELO DE BIMODULARIDADE EM ENSAIOS DA MECÂNICA DA FRATURA

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Transcrição:

XI Simpósio de Mecânica Computacional II Encontro Mineiro de Modelagem Computacional Juiz De Fora, MG, 28-30 de Maio De 2014 AVALIAÇÃO DE MODELO DE BIMODULARIDADE EM ENSAIOS DA MECÂNICA DA FRATURA Ozias Ferreira Chaves Filho, Avelino Manuel da Silva Dias oziasferr@gmail.com, avelino.dias@ct.ufrn.br Departamento de Engenharia Mecânica Centro de Tecnologia Universidade Federal do Rio Grande do Norte Campus Universitário, s/n, Lagoa Nova, Natal-RN, 59072-070 Resumo. O estudo da Mecânica da Fratura é voltado à análise da capacidade do material em resistir a esforços mecânicos sem que ocorra falha. A presença de pequenas fissuras pode reduzir a resistência estrutural do componente, possibilitando, em alguns casos, o colapso da estrutura a tensões inferiores à tensão admissível de projeto. Atualmente, a utilização de metodologias que abordam o problema da fratura em componentes estruturais para representar o regime macroscópico da estrutura através do acoplamento de modelos numéricos vem se tornando cada vez mais frequente. Nesta vertente, têm sido utilizados modelos discretos de elementos finitos juntamente com os conceitos da mecânica da fratura e da mecânica dos meios contínuos através da avaliação do dano de uma estrutura. Estas abordagens vêm sendo desenvolvidas, tanto para a análise de falhas estruturais em materiais frágeis, quanto para materiais dúcteis. Contudo, a correta incorporação de aspectos mecânicos e fenomenológicos inerentes aos mecanismos de falhas é um fator chave para o sucesso e a eficácia de tais metodologias preditivas. Este trabalho tem como proposta utilizar o Método dos Elementos Finitos (MEF), o qual é uma técnica numérica confiável para análise de tensões, em conjunto com os conceitos da mecânica dos meios contínuos e da mecânica da fratura linear elástica (MFLE) para reproduzir modelos numéricos dos ensaios de fratura em diferentes tipos de materiais. Para incorporar aos modelos numéricos mecanismos capazes de analisar processos de fratura foi utilizada uma relação constitutiva baseada em modelos de bimodularidade ou de trinca difusa. PALAVRAS-CHAVES: ELEMENTOS FINITOS, BIMODULARIDADE, MECÂNICA DA FRATURA.

Avaliação de Modelo de Bimodularidade em Ensaios da Mecânica da Fratura 1 INTRODUÇÃO A falha de materiais de engenharia é quase sempre um evento indesejável por inúmeros motivos, tais como, perdas econômicas, a interferência na disponibilidade de produtos e serviços e, em alguns casos, vidas humanas podem ser colocadas em perigo. Embora as causas de falhas e o comportamento de materiais possam ser conhecidos, a sua prevenção nem sempre é fácil de ser garantida. Estas falhas podem ser causadas por seleção do processamento dos materiais de uma maneira não apropriada, projeto inadequado do componente, sua má utilização e erros em operação. É uma das responsabilidades do engenheiro antecipar e planejar considerando possíveis falhas e, no caso da ocorrência deste evento, avaliar a sua causa e então tomar as medidas de prevenção apropriadas (Calister, 2002). Recentes metodologias abordam o problema de falhas através do acoplamento de modelos numéricos com o regime macroscópico da estrutura. Nesta vertente, têm sido utilizados modelos discretos de elementos finitos juntamente com os conceitos da mecânica da fratura e da mecânica dos meios contínuos através da avaliação do dano de uma estrutura. Estas abordagens vêm sendo desenvolvidas, tanto para a análise de falhas estruturais em materiais frágeis, quanto para materiais dúcteis. Contudo, a correta incorporação de aspectos mecânicos e fenomenológicos inerentes aos mecanismos de falhas é um fator chave para o sucesso e a eficácia de tais metodologias preditivas aplicáveis à análise numérica da integridade mecânica de uma vasta classe de componentes estruturais e dos mais diversos materiais (Medeiros, et al., 2012) Este trabalho teve como proposta estudar e simular alguns tipos de ensaios da engenharia mecânica, que têm sido utilizados para caracterização de suas propriedades em diferentes classes de materiais. O objetivo foi utilizar o Método dos Elementos Finitos (MEF), o qual é uma técnica numérica confiável para análise de tensões, em conjunto com os conceitos da mecânica dos meios contínuos e da mecânica da fratura linear elástica (MFLE) para reproduzir modelos numéricos dos ensaios de fratura em diferentes materiais (Dias, et al., 2006, Medeiros, et al., 2012). Para incorporar aos modelos numéricos mecanismos capazes de analisar processos de fratura, foi utilizada uma relação constitutiva baseada em modelos clássicos da mecânica dos meios contínuos, também conhecida como modelo de trinca difusa ou bimodularidade (Oller, 2001, Dias et al., 2010). 2 MECÂNICA DA FRATURA E MODELO DE BIMODULARIDADE A Figura 1 ilustra um corpo de prova compacto (CT) do ensaio de tração, utilizado para a obtenção do fator de intensificação crítico (K IC ) de materiais utilizando-se os conceitos da mecânica da fratura linear elástica (Medeiros, et al., 2012). Para garantir a existência de um estado plano de deformações na ponta da trinca, a norma ASTM E-399 (1990) estabelece algumas relações entre as propriedades mecânicas do material

Ozias Ferreira Chaves Filho, Avelino Manuel da Silva Dias e as geométricas do corpo de prova. Se todos os requisitos para a validade do ensaio forem atendidos, o valor K Q encontrado através da Eq. (1) corresponde ao fator de intensidade de tensões crítico K IC material. Em materiais com características frágeis, a trinca se propaga instavelmente quando o valor de K I da ponta da trinca é maior ou igual a K IC. Figura1. Corpo de prova compacto de tração (CT) para ensaio de mecânica da fratura (Medeiros, et al., 2012) PQ K Q Y (1) B W Para incorporar ao modelo numérico alguns mecanismos capazes de analisar processos de fratura, foi utilizada uma relação constitutiva baseada nos modelos clássicos da mecânica dos meios contínuos, também conhecida como modelo de trinca difusa (Oller, 2001). Este modelo considera que o material analisado teria um comportamento quando solicitado à tração diferente daquele quando estivesse sobre compressão. Ou seja, o material apresenta uma baixa resistência à tração, porém possui boa resistência à compressão, podendo, inclusive sofrer deformações plásticas, com ou sem endurecimento, sobre compressão, Fig. 2. Sobre tração, este modelo admite um comportamento elástico até o limite de ruptura. Após alcançar este limite, estima-se seu dano que é caracterizado pela deformação de trincamento (cracking strain) do material na direção normal à tensão principal máxima (Teoria de Rankine) e o material passa a ter um comportamento ortotrópico, Fig. 2. O modelo permite a formação de, no máximo, três trincas perpendiculares entre si, caso todas as tensões normais principais excedam o limite de ruptura do material. Após a nucleação da primeira trinca, uma segunda trinca pode se nuclear perpendicularmente a primeira e uma terceira trinca se formaria ortogonalmente às duas anteriores. Este modelo permite a incorporação de um comportamento de decréscimo na resistência da estrutura após a formação das primeiras trincas, descrito através de um parâmetro de bimodularidade ou, aqui descrito como o amolecimento do módulo de elasticidade (E S ). Este parâmetro, o qual pode ser estimado a partir das características do material, impede que a tensão de tração do modelo numérico em um ponto trincado tenda rapidamente a zero, após a tensão normal máxima ter ultrapassado seu limite de resistência (MARC, 2013).

Avaliação de Modelo de Bimodularidade em Ensaios da Mecânica da Fratura A evolução de trincas na estrutura resulta em uma diminuição de sua capacidade de resistência à carga, assim o campo das tensões internas deve ser redistribuída para regiões onde não ocorrem falhas, tornando esta simulação numérica uma análise não linear. Este modelo de bimodularidade apresenta bons resultados globais quando a zona de fissura está restrita a pequenas dimensões em comparação com o tamanho da estrutura (Oller, 2001, MARC, 2013). Alguns materiais estruturais apresentam um comportamento mecânico que se assemelha a este modelo de bimodularidade como, por exemplo, o carboneto de tungstênio com cobalto (WC-Co), concreto e diversos materiais cerâmicos. Figura 2. Diagrama uniaxial de tensão em função da deformação para modelo de trinca difusa (MARC, 2013) 3 METODOLOGIA Inicialmente, realizou-se uma análise numérica bidimensional através de elementos planos isoparamétricos de oito nós (estado plano de deformações) ao modelo do corpo de prova compacto, Fig. 3(a), para o ensaio de mecânica da fratura. Nesta etapa, obteve-se o valor K IC para dois diferentes materiais com características frágeis, o Carboneto de Tungstênio com 6% de Cobalto (WC-6Co) e a Alumina (Al 2 O 3 ). Para representar adequadamente o modelo numérico de modo a obter resultados que descrevam bem o modelo experimental, teve-se uma atenção especial com o grau de refinamento da malha na ponta da trinca devido a singularidade do campo de tensões nessa região. Contudo, apesar de malhas refinadas representarem bem o modelo, elas acarretam um maior custo computacional e um aumento no tempo de resolução do problema. Para isso, foram testados modelos com diferentes configurações de malha, buscando reduzir o número de elementos nas malhas sem comprometer os resultados numéricos. A Tabela 1 ilustra as dimensões geométricas dos

Ozias Ferreira Chaves Filho, Avelino Manuel da Silva Dias modelos numéricos para o WC-6Co e a Al 2 O 3, assim como, a carga a ser aplicada de modo a se obter o valor de K IC. Tabela 1. Dimensões dos modelos numéricos dos corpos de prova Compacto (CT). W (mm) B, a (mm) P Q (N) WC-6Co 0,1635 0,08175 1,08 Al 2 O 3 2,0000 1,00000 18,52 A partir da malha escolhida para o modelo bidimensional, foi gerado o modelo tridimensional deste mesmo ensaio, utilizando elementos sólidos isoparamétricos de 20 nós, conforme mostra a Fig. 3(b). Figura 3. (a) Modelo bidimensional; (b) Modelo Tridimensional 2.1 Avaliação dos Parâmetros do Modelo de Trinca Difusa No modelo de bimodularidade mostrado através da curva de tensão em função de deformação da Fig. 2, o parâmetro de bimodularidade E s deve ser entendido como uma propriedade mecânica do material. Contudo, tendo em vista a inexistência de ensaios mecânicos capazes de determinar esta propriedade, foi necessário realizar estiamtivas deste parâmetro para incorporá-lo ao modelo numérico. Seguindo a metodologia sugerida por Zhang e Subhash (2001), para a determinação deste parâmetro, o valor para a deformação total pode ser estimado considerando-se uma abertura de trinca máxima (u) de 5.0 m para materiais frágeis. A partir deste valor de abertura da trinca e considerando um comprimento característico para o elemento finito (e), possibilita-se computar o valor da deformação total ( ) neste elemento antes que ele sofra o colapso, segundo a Eq. (2). u e (2)

Avaliação de Modelo de Bimodularidade em Ensaios da Mecânica da Fratura Uma vez conhecida esta deformação total e conhecendo a deformação elástica do material estudado ( e ), pode-se avaliar a deformação de trincamento máxima ( cr ) de acordo com a Eq. (3). Finalmente, utilizando-se o valor adotado para a tensão ultima ou crítica ( cr ) foi possível avaliar o parâmetro de bimodularidade (E S ) através da Eq. (4) (MARC, 2013) e cr cr E S cr (3) (4) A evolução de trincas em uma estrutura resulta em uma diminuição de sua capacidade de resistência à carga, assim o campo de tensões internas deve ser redistribuído para regiões onde ainda não ocorreram falhas. Consequentemente, a simulação numérica destes problemas se torna uma análise não linear (Oller, 2001). 2.2 Aplicação do Modelo de Trinca Difusa em Ensaios da Mecânica da Fratura Após a verificação dos modelos numéricos para o ensaio de mecânica da fratura, tanto para a Alumina como para o Carboneto de Tungstênio com 6% de Cobalto, procurou-se determinar o parâmetro E S para estes dois materiais. Conforme anteriormente visto, as dimensões dos modelos numéricos encontram-se na Tabela 1. Na Tabela 2, se encontram as propriedades mecânicas utilizadas para representar o comportamento do WC-6Co e do Al 2 O 3. Ou seja, o módulo de Young (E), o coeficiente de Poisson (ν) e os demais dados foram obtidos a partir da literatura especializada (Medeiros, et al., 2012 e Zeng & Chiu, 2001). Tabela 2. Propriedades Mecânicas dos Materiais (Medeiros, et al., 2012 e Matweb, 2013) E (GPa) cr (MPa) K IC (MPa.m 1/2 ) Al 2 O 3 370,0 0,22 400 4,0 WC-6Co 619,5 0,28 3.750 10,0 2.3 Cálculo do Parâmetro E S para os Modelos 2D e 3D Para encontrar o parâmetro E S, conforme a curva tensão em função da deformação (Fig. 2), foi necessário estimar o valor da deformação elástica ( e ), utilizando a Eq. (5). Em seguida, encontrou-se o valor do comprimento característico do elemento, que foi a maior diagonal do menor elemento da malha adotada. Por fim, avaliou-se o valor da deformação critica ( cr ), através das Equações (2) e (3), considerando uma abertura de trinca máxima (u) de 5.0 m (Zhang & Subhash, 2001). Encontrada esta deformação critica para os materiais em função de suas malhas, determina-se o valor de E S, utilizando-se a Eq. (4). Estes dados foram

Ozias Ferreira Chaves Filho, Avelino Manuel da Silva Dias determinados e utilizados na entrada de dados do solver MARC (2013), para implementar o modelo de trinca difusa. cr E e (5) 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Após ter sido avaliado o parâmetro de bimodularidade (E S ) para ambos os materiais, WC6Co e Al 2 O 3, conforme Tabela 3, aplicou-se estes propriedades nos modelos da Fig. 2 para a determinação dos campos de tensões e de deformações de trincamento na ponta da trinca (modelo 2D) ou na frente da trinca (modelo 3D). Nesta etapa, também foram utilizados dois outros valores para o parâmetro bimodularidade. A utilização de diferentes valores de E S neste estudo teve como objetivo principal encontrar uma alternativa para se estimar este parâmetro em função de uma propriedade mecânica do material. Ou seja, procurou-se identificar uma razão de E S em função do modulo de elasticidade do material, sem a necessidade dos cálculos propostos por Zhang e Subhash (2001), mas garantido a precisão numérica do modelo de bimodularidade. Tabela 3. Determinação do parâmetro de bimodularidade (E S ) para os Materiais estudados Modelo Bidimensional WC-6Co Al 2 O 3 Comprimento Característico (e) 0,335 x 10-5 m 0,060 x 10-3 m Deformação elástica 0.00605 0,0108 Deformação crítica 1,486 0,0725 E S calculado 2,52 GPa 5,52 GPa Modelo Tridimensional WC-6Co Al 2 O 3 Comprimento Característico (e) 8,835 x 10-6 m 116,63 x 10-6 m Deformação elástica 0,00605 0,0108 Deformação crítica 0,5599 0,0321 E S calculado 6,70 GPa 12,48 GPa As Tabelas 4 e 5 mostram os valores numéricos obtidos da tensão de Von Mises e da deformação de trincamento para os modelos bidimensional e tridimensional na trinca na simulação do corpo de prova compacto. Nestas tabelas também estão incluídos os diferentes valores de E S adotados. Na primeira linha destas tabelas usaram-se os valores calculados seguindo a metodologia de Zhang e Subhash (2001). Nota-se que estes diferentes valores de E S não acarretaram alterações significativas nos valores da tensão efetiva de Von Mises e da deformação de trincamento na ponta da trinca.

Avaliação de Modelo de Bimodularidade em Ensaios da Mecânica da Fratura Tabela 4. Resultados numéricos na ponta da trinca para modelos 2D, considerando diferentes E S. WC-6Co - Modelo Bidimensional E S (GPa) Tensão de Von Mises (MPa) Deformação normal de trincamento 2,52 3415 8,155 x 10-3 36 3398 8,288 x 10-3 90 3533 8,246 x 10-3 Al 2 O 3 - Modelo Bidimensional E S (GPa) Tensão de Von Mises (MPa) Deformação normal de trincamento 5,52 374,0 1,222 x 10-3 30 351,7 1,233 x 10-3 50 424,3 1,268 x 10-3 Tabela 5. Resultados numéricos na frente da trinca para modelos 3D, considerando diferentes E S. WC-6Co - Modelo Tridimensional E S (GPa) Tensão de Von Mises (MPa) Deformação normal de trincamento 6,7 4126 6,543 x 10-3 60 4186 6,612 x 10-3 100 4121 6,658 x 10-3 Al 2 O 3 - Modelo Tridimensional E S (GPa) Tensão de Von Mises (MPa) Deformação normal de trincamento 12,48 443,3 1,009 x 10-3 37 443,3 1,009 x 10-3 50 418,8 1,015 x 10-3 Os resultados numéricos da distribuição das deformações de trincamento no modelo dos ensaios com corpos de provas compactos estão mostrados na Fig. 4, tanto para o WC-6Co (Fig. 4a), quanto a Al 2 O 3 (Fig. 4b). Tanto nas Tabelas 4 e 5, quanto nesta Fig. 4 é possível observar que a região da ponta da trinca se mostra propensa a propagação de fissuras, como era de ser esperar. Uma vez que nestes modelos foram aplicadas cargas capazes de atingir o fator de do fator de intensificação crítico (K IC ) dos materiais estudados. Estes resultados numéricos comprovam que o modelo numérico de trinca difusa consegue identificar a(s) região(ões) crítica(s) da ponta da trinca nos modelos bidimensionais com corpos de prova compactos.

Ozias Ferreira Chaves Filho, Avelino Manuel da Silva Dias Figura 4. Deformação de trincamento na ponta da trinca para (a) WC-6Co; e, (b) Al 2 O 3 A Figura 5 ilustra a distribuição da deformação de trincamento à frente da face da trinca para o ensaio com o WC-6Co, utilizando-se modelos tridimensionais para o corpo de prova compacto. Novamente se verifica que o modelo de trinca difusa consegue indentificar a região da face da trinca como crítica. Uma distriduição de deformação de trincamento na frente da trinca similar também foi obtida na simulação com a Alumina em modelos 3D. Estes resultados numéricos comprovam que o modelo de trinca difusa consegue representar bem o comportamento de regiões propensas a nucleaçao e crescimento de fissuras também em modelos tridimensionais. Finalmente, é possivel verificar que os valores estimados para o parâmetro de bimodularidade também apresentam resultados que mostram que a trinca é uma região crítica. Figura 7. Distribuição da deformação de trincamento na frente da trinca para o WC-6Co

Avaliação de Modelo de Bimodularidade em Ensaios da Mecânica da Fratura 5 CONCLUSÕES Na Tabela 4, foram apresentados os valores do parâmetro de bimodularidade utilizados nos diversos modelos numéricos implementados. Para o WC-6Co verifica-se que houve uma pequena variação para os valores de tensão e de deformação de trincamento, tanto para os modelos bidimensional e tridimensional. Para o Al 2 O 3 observa-se uma maior variação para os valores de tensão e de deformação de trincamento no modelo bidimensional, não a sendo observado esse mesmo comportamento no modelo tridimensional. Pela resultados apresentados no presente trabalho, pode-se concluir que, caso seja desconhecido o parâmetro de bimodularidade (E S ), pode-se estimá-lo como sendo em torno de um décimo do valor do módulo de Young do material utilizado. Pois se verificou que para estes valores, por exemplo, E S = 60 GPa para o WC-6Co e E S = 37 GPa para o Al 2 O 3, os campos de tensões e deformações de trincamento conseguiram identificar a ponta da trinca com uma região crítica do ponto de vista da fratura. Esta estimativa para os valores de E S também servem para os modelos 3D (Tab. 5). Pela simulação numérica do corpo de prova compacto (2D e 3D) introduzindo o parâmetro de bimodularidade E S foi possível verificar que os mesmos conseguem representar o comportamento mecânico do WC-6Co. Como era de se esperar, a região da trinca atingiu o limite de ruptura, sendo possível observar a distribuição da deformação de trincamento, Fig. 5. Comportamento semelhante se obteve para o Al 2 O 3, embora este cerâmico não apresente uma capacidade de sofrer grande deformações permanentes, mesmo sob compressão. Por fim, o modelo de trinca difusa foi capaz de modelar o comportamento do WC-6Co de suportar grandes deformações plásticas sob compressão e de apresentar características frágeis sob tração. As simulações numéricas também mostraram que o modelo é capaz de capturar as características da formação de trincas durante ensaios convencionais de mecânica da fratura. Este modelo também se mostrou eficiente para ser adotado na simulação numérica de processos de fratura da Alumina (Al 2 O 3 ), indicando que pode ser possível implementar o modelo de trinca difusa em outras análises numéricas de processos de fratura como, por exemplo, o ensaio de indentação em recobrimentos superficiais finos. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq e a UFRN pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS ASTM E-399, 1990. Standard Test Method for Plane Strain Fracture Toughness of Metallic Materials. Calister, Jr., W, 2002. Ciência e Engenharia de Materiais, 5a Ed., LTC. Dias, A. M. S., Sotani, P. F. B., Godoy, G. C., 2010. Simulação do Ensaio de Indentação em Filmes Finos com o Uso de Modelos de Trinca Difusa, Revista Matéria, 15, n. 3, pp. 422-430.

Ozias Ferreira Chaves Filho, Avelino Manuel da Silva Dias MARC, 2013. Volume A: Theory and User Information, Msc.software Solutions Download Center. http://www.mscsoftware.com/ Matweb, acessado em dezembro de 2013. http://www.matweb.com/ Medeiros, E. E., Dias, A. M. S., Christóforo, A. L., 2012. Numerical Simulation of Mechanical Fracture Testings, International Journal of Materials Engineering, 2(5): 61-66 Oller, S., 2001. Fractura Mecánica Um Enfoque Global, CIMNE Barcelona, España, 1a Edição. Zeng, K., Chiu, C., 2001. An Analysis of Load-Penetration Curves from Instrumented Indentation, Acta Materialia, 49, pp.3539-3551. Zhang, W., Subhash, G., 2001. An Elastic-Plastic-Cracking Model for Finite Element Analysis of Indentation Cracking in Brittle Materials, International Journal of Solids and Structures, v. 38, pp. 5893-5913.