A Harmonização Vocálica dos fonemas /e/ e /o/ em posições pré-tônicas do português brasileiro.

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Transcrição:

Letras Magistério em Português e Espanhol Artigo de revisão A Harmonização Vocálica dos fonemas /e/ e /o/ em posições pré-tônicas do português brasileiro. The Vocalic Harmonization of / e / and / o / phonemes in pretonic positions of the Brazilian Portuguese. Luiz Carlos de Souza Júnior¹, Wagner Fellipy de Farias Argenta¹, Maria das Graças M. P. de Carvalho² 1 Alunos do Curso de Letras 2 Professora Orientadora do curso de Letras Resumo Este trabalho se concentra na pesquisa do fenômeno linguístico designado Harmonização Vocálica e visa compreender sua produção, o aparelho fonador em interação com o ar no intuito de se analisar a forma como os sons são produzidos e emitidos. Concentra-se, também, na apresentação das manifestações deste fenômeno em algumas regiões brasileiras, explanando as características mais marcantes de cada região, bem como os pontos em comum entre elas. Palavras-Chave: Harmonização Vocálica; Vogal; Aparelho Fonador; Ocorrências no Brasil. Abstract This work focuses on the linguistic phenomenon research designated as Vocalic Harmonization and aims to understand the factors involved in their production, such as the vocal tract in interaction with the air, in order to examine how the sounds are produced and issued. It focuses, also, on the presentation of the manifestations of this phenomenon in some regions of Brazil, explaining the major features of each region, as well as the common ground among them. Keywords: Vocalic Harmonization; vowel; vocal tract; Brazilian occurrences. Contato: luiz_csjunior@hotmail.com / wagnerffa@hotmail.com INTRODUÇÃO O presente artigo analisa o fenômeno linguístico denominado Harmonização Vocálica (HV), no intuito de se compreender a sua realização, bem como a forma como ocorre, as partes do corpo humano envolvidas na sua produção e as possíveis consequências de seu uso. Possui arcabouço teórico fundamentado em nomes significativos e representantes da língua portuguesa, além de pesquisadores da mesma área, tais como: Câmara Júnior (1970), Silva (1998), Bechara (2009), Seara, Nunes e Lazzarotto- Volcão (2011), Carmo (2009), Oliveira (2009), Bisol (1981) entre outros. Por se tratar de uma análise teórica, o estudo de diversas fontes bibliográficas entre elas livros, artigos e pesquisas científicas se fez necessário, no intuito de se obter o cruzamento das diversas informações relacionadas a um único objeto de inspeção, a Harmoniação Vocálica. Para isso, foi necessário realizar um levantamento dos pontos relevantes para este artigo e, ao mesmo tempo, ressaltar brevemente as diversas ocorrências do fenômeno em questão, estudadas em algumas regiões brasileiras. Não somente abarcando o estudo deste fenômeno linguístico, bem como das partes do corpo humano e outros tópicos já mencionados, explora, também, as definições de vogal e consoante, porém, mais precisamente a da primeira além de sua produção sonora e de sua relação com a Harmonização Vocálica, já que o próprio nome ressalta a importância das vogais que, no caso deste artigo, serão focadas nas nos fonemas /e/ e /o/. 1

Não obstante, apresenta uma breve análise dos segmentos vocálicos, classificando-os de acordo com a posição da língua em relação ao som produzido para cada um destes fonemas do português brasileiro. Por fim, discorre sobre a análise das possíveis consequências do uso da HV, seja de forma consciente ou inconsciente, para que se obtenha o resultado de que, caso seja praticada, o que pode ser afetado no âmbito da comunicação entre dois ou mais indivíduos, focando o entendimento, ou não entendimento, entre os falantes envolvidos. APARELHO FONADOR O aparelho fonador é, de acordo com Oliveira (2009), o conjunto de órgãos e partes do corpo humano que atuam entre si, em subgrupos formados por alguns destes órgãos e destas partes envolvidas neste processo, no intuito da produção dos sons da fala. O autor ainda afirma que esse sistema é composto pelos pulmões, traquéia, laringe, epiglote, cordas vocais, glote, faringe, véu palatino, palato duro (ou céu da boca), palato mole, língua, dente, mandíbula, lábios e cavidades nasais. Sendo assim, pelo fato de o corpo humano não possuir um órgão único cuja função exclusiva seja a produção sonora, precisa compartilhá-la com todos os órgãos que possuem, inicialmente, o desempenho para as funções vitais do organismo. Por isso, para o presente artigo, não se faz necessário explorar de forma mais profunda a segunda função, já que se concentra, essencialmente, na produção dos sons. No intuito de se compreender a produção sonora realizada pelo corpo humano, é essencial que se considere o ar como o elemento externo mais importante para tal realização. É a sua passagem, através das diversas cavidades, partes e órgãos do corpo, que torna possível a emissão das variadas pronúncias realizadas pelo ser humano. É de suma importância ressaltar também que o ar contribui para a produção sonora quando é expelido pelo corpo (ato de expiração) e não quando é impulsionado para dentro dele (ato de inspiração). Para Seara, Nunes e Volcão (2011), o aparelho fonador é dividido em duas partes e seu ponto divisor é dado pelo espaço existente entre as cordas vocais, chamado de glote: a região subglótica (abaixo da glote) e a região supraglótica (acima da glote). Ainda de acordo com as autoras, torna-se imprescindível destacar que, apresentadas tais partes pertencentes ao aparelho fonador, ao passo em que as mesmas sejam relacionadas com suas devidas funções fonéticas, conclui-se que, não apenas o grupo de órgãos e demais pontos de articulação se relacionam entre si com a finalidade de produção dos sons consonantais e vocálicos bem como a maneira que se posicionam e trabalham com as correntes de ar no intuito de produzir os sons humanos, estas partes são também utilizadas para se realizar a comunicação em um nível entre fala e audição. Desta forma, pode se depreender que não somente os sons serão produzidos para a finalidade comunicativa entre dois ou mais indivíduos. Porém este artigo trata exclusivamente deste tópico e se concentra no estudo do grupo de órgãos e partes do corpo humano no que tange à produção sonora. Em outras palavras, no que se refere ao âmbito da comunicação oral entre dois ou mais indivíduos, estes podem se utilizar de recursos linguísticos quando da entonação das palavras usadas em suas falas no intuito de expressar intenções que, num contexto escrito, talvez não pudessem ser claramente compreendidas. Tais intenções podem ser expressadas com as finalidades de: ênfase (para se frisar o quão significativa a mensagem é), ironia (contrastando-se o que se diz com o como se diz), conotação humorística (com propósito de descontração), sar- 2

casmo (com uso da ironia, porém de forma mais agressiva) entre outros. Sendo assim, ao se falar em produção oral, é necessário que haja uma análise de vários fatores, contextos e situações para que se entenda o conjunto que é composto pelas diversas manifestações orais de um indivíduo, bem como a explanação de onde este processo ocorre. Abaixo, pode se verificar as posições e os nomes dos componentes do aparelho fonador: Os articuladores ativos são aqueles que se movimentam para a realização dos diferentes sons da fala e são constituídos: pela língua (que se divide em ápice (ponta), lâmina e dorso) e lábio inferior, que alteram a cavidade oral; pelo véu do palato, que é responsável pela abertura e fechamento da cavidade nasal; e pelas pregas vocais. Os articuladores passivos compreendem o lábio superior, os dentes superiores, os alvéolos (região crespa, logo atrás dos dentes superiores), o palato duro (região central do céu da boca) e o palato mole (parte posterior do céu da boca). SEGMENTO VOCÁLICO Figura 1. Aparelho fonador humano. Parker (2007, p. 137) Assim como mostrado na figura e ainda de acordo com as autoras, a região supraglótica é composta pela cavidade nasal, cavidade oral, língua, laringe e pregas (ou cordas) vocais. Na laringe, localizam-se as cavidades faríngea, oral e nasal. A cavidade faríngea é constituída da faringe, que é dividida em três porções: nasofaringe, orofaringe, laringofaringe. Essa cavidade pode ter seu tamanho modificado a partir do levantamento ou abaixamento da laringe. A cavidade oral é composta pela boca, na qual estão localizados a língua, o palato duro e mole (ou véu palatino), a úvula, os alvéolos, os dentes e os lábios. Na cavidade nasal, encontram-se as narinas. As autoras ainda ressaltam que os órgãos articuladores envolvidos na produção da fala dividem-se em ativos e passivos. Este segmento trata de discorrer sobre os segmentos vocálicos, dando ênfase aos processos articulatórios mais relevantes e, para isso, necessita-se compreender primeiramente como ocorre a articulação das vogais referente à passagem de ar. Em relação a esse tema, e de acordo com Silva (2002, p.66), na produção de um segmento vocálico a passagem da corrente de ar não é interrompida na linha central e, portanto, não há obstrução ou fricção no trato vocal. A autora então define basicamente no parágrafo anterior que, nas vogais, não há nenhum impedimento a essa passagem de ar, ou seja, os segmentos vocálicos são produzidos com o fluxo de ar passando livremente ou praticamente sem obstáculos (obstruções ou constrições) no ato da fala. Já as consoantes são articuladas a partir de alguma obstrução em um ponto articulatório, seja ela parcial ou total. Outra diferença entre esses dois tipos de sons é que as vogais são vozeadas, isto é, são produzidas com a vibração das pregas vocais, enquanto as consoantes podem ou não ser produzidas com vibração das pregas vocais. Desta forma, as consoantes poderão ser classificadas como vozeadas ou não vozeadas (ou até mesmo desvozeadas). 3

O português brasileiro apresenta, seguindo o raciocínio de Callou (1991) e Câmara Junior (1970), sete fonemas vocálicos que ainda de acordo com Callou (1991, p.79), referindo-se ao sistema vocálico organizam-se de forma triangular, pelo fato de a vogal a não constituir uma dualidade opositiva, ocupando o vértice mais baixo de um triângulo de base para cima. Outros aspectos também são levados em consideração na descrição deste segmento, que seguindo os estudos de Silva (2002, p.66) são: posição da língua em termos de altura; posição da língua em termos anterior/posterior; arredondamento ou não dos lábios. Observa-se na citação de Silva que devemos considerar a articulação das vogais como um todo, desde a saída de ar dos pulmões até o som produzido. Para Bechara (2009), as vogais são classificadas nos seguintes critérios: a. quanto à zona de articulação; b. quanto à intensidade; c. quanto ao timbre; d. quanto ao papel das cavidades bucal e nasal. Ainda de acordo com o autor, no que se refere à zona de articulação, as vogais podem ser caracterizadas como médias, anteriores ou posteriores; quanto à intensidade, elas podem ser classificadas como átonas e tônicas; quanto ao timbre, podem ser abertas fechadas ou reduzidas e, quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, as vogais podem ser nasais ou orais. De acordo com Câmara Júnior (1970), há três parâmetros articulatórios para que se classifiquem as vogais: o ângulo de abertura do maxilar inferior, a posição da língua em relação ao palato duro (vulgo céu da boca) e arredondamento ou não arredondamento dos que ocorre nos lábios. Dentre as vogais, há uma característica fonética que as distingue entre si, não apenas pelo timbre ou som produzido, mas também pela intensidade de suas pronúncias. Para tal, distinguem-se como vogais fortes os sons de /a/, /e/ e /o/ e como vogais fracas os sons de /i/ e /u/. Essas classificações sobre as vogais, ainda em consonância com Câmara Junior (1970) e Silva (2002), estão representadas a seguir: Classificação vocálica CÂMARA JÚNIOR (1970, p.43). Nota-se que, quanto mais baixa é a posição da língua, mais forte será a intensidade do som produzido ou se pronunciar uma vogal. Em outras palavras, a altura da língua e a força como a vogal será pronunciada são grandezas inversamente proporcionais. Após esta consideração, um ponto importante que deve ser observado, de acordo com Callou (1991), é que: SEMIVOGAIS Este sistema completo de sete vogais só funciona em sílaba tônica. Nas sílabas átonas, ocorre o que se convencionou chamar, dentro da linguística estrutural europeia, de neutralização, isto é, o processo pelo qual dois ou mais fonemas que se opõem em determinado contexto deixam de fazê-lo em outro (...) No que diz respeito às vogais, quanto maior o grau de atonicidade, maior possibilidade de ocorrer neutralização. (Callou, 1991, p.79) Há, no entanto, certos segmentos fonéticos que não possuem uma característica tão precisa quanto à análise através da passagem do ar, de sua obstrução 4

ou até mesmo de como e onde são produzidos, não podendo, por esta razão, serem classificados como vogais ou consoantes. Por esta razão, faz-se necessária a análise a seguir. As classificações das semivogais encontram-se em diversas gramáticas e, para entrar nas especificações do trabalho a respeito destas mesmas, primeiro precisa-se definir o que vem a ser uma semivogal. De acordo com Cunha e Cintra (2001), semivogais são os fonemas /i/ e /u/ que, quando unidos a uma vogal, formam uma sílaba. No estudo de fonética e fonologia do português, as vogais e semivogais são definidas por parâmetros que as distingue, como vimos no primeiro parágrafo, para articular o som das mesmas, o qual está representado na tabela de Câmara Junior. É preciso ser levado em consideração a posição da língua e dos lábios no ato da fala, já que a passagem do ar não sofre obstrução na articulação dos fonemas vocálicos. As semivogais /i/ e /u/ são articuladas com a língua na posição mais elevada, enquanto em relação à posição dos lábios podemos observar a análise de Silva (2002): A vogal [w] difere-se da vogal [u] somente quanto ao arredondamento dos lábios. Temos então que [w] é um [u] produzido com os lábios estendidos. Da mesma maneira a vogal [y] difere-se da vogal [i] somente quanto ao arredondamento dos lábios (que são arredondados em [y]) temos então que [y] é um [i] produzido com os lábios arredondados. (Silva, 2002, p.69). A citação de Silva ilustra que a semivogal se articula diferentemente da vogal, e ambas se diferem tanto na posição da escrita, como foi abordado na citação de Cunha que as define como o fonema /i/ e /u/ que unidas a uma vogal formam uma sílaba, como também na articulação em que são pronunciadas pelo arredondamento dos lábios. Isso se faz claro quando se observa a tabela que indica a posição dos lábios, conforme Silva: Figura 3. Classificação das vogais quanto ao arredondamento dos lábios (SILVA, 2002, P.69). O gráfico de Silva, apresentado acima, demonstra o fenômeno ocorrido na articulação desses dois fonemas que representam as semivogais, o que ocorre com a vogal /u/ é que quando pronunciada como semivogal os lábios estarão estendidos produzindo o fonema [w]. No caso da vogal /i/, ocorre o contrário: os lábios apresentarão um arredondamento característico a essa semivogal produzindo o fonema [y]. A diferença na articulação pode ser melhor observada nos exemplos de Cunha e Cintra (2001), descritos nos parágrafos anteriores, na palavra [ rua] em que o /u/ não é semivogal, pois nota-se o arredondamento dos lábios. Isso não ocorre em [ mew] e [ kwatru], onde o fonema /u/ é classificado como semivogal. No caso do /i/, observa-se que, na palavra [ rizu], o lábio se apresenta estendido ao contrário de [ barju] em que é semivogal. É importante ressaltar que tanto o fonema /i/ quanto o fonema /u/, quando encontrados na sílaba tônica das palavras, não serão semivogais, já que o acento tônico lhes garante a tonicidade de uma vogal, ainda que em alguns casos não recebam tal classificação. HARMONIZAÇÃO VOCÁLICA 5

Inicialmente, para que se possa compreender o que é a Harmonização Vocálica, é importante levar em consideração os elementos estudados anteriormente, pois o fenômeno abrange pontos significativos dentro da vertente fonéticofonológica e, dificilmente, teria uma análise clara sem que tais elementos fossem consultados e considerados. A definição de Harmonização Vocálica é, de acordo com Cavalière (2005), uma tendência de assimilação vocálica tradicional no português, em que uma vogal média pretônica cede espaço à correspondente alta da mesma zona articulatória por influência da vogal tônica alta. Em outras palavras, o autor discorre sobre a alteração das pronúncias dos fonemas /e/ e /o/ como /i/ e /u/, respectivamente, em detrimento à vogal tônica da palavra, já que esta influencia tal mudança. De forma mais clara, ao se pronunciar, por exemplo, a palavra despesa como se fosse dispesa, tem-se que, primeiramente, o fonema /e/ da sílaba des foi substituído pelo fonema /i/, por conta da influência da vogal tônica da sílaba pe, corforme mencionado pelo autor. Isto posto, pode-se verificar que o fonema /e/ da sílaba tônica pe não sofreu alteração a nível da HV, pois esta é a sílaba tônica da palavra e o acento tônico não permite alteração de seu fonema vocálico, já que este é representado pelo som verdadeiro da vogal. Por fim, percebe-se que, ao se tomar os fonemas vócalicos da palavra em questão, parte-se de /i/ até /e/, ou seja, de uma semivogal para uma vogal da pronúncia mais fraca para a mais forte. Pontanto, a HV pode ser definida como a elevação da pronúncia de um segmento vocálico médio (ou vogal média) de uma palavra, no intuito de se buscar um equilíbrio com a vogal que o pospõe sendo esta a vogal tônica. De acordo como Bisol (1981), tal tentativa de concordância vocálica faz com que os fonemas se alterem de forma significativa, fazendo com que as vogais E e O sejam ora pronunciadas como altas, tais quais /i/ e /u/, ora como médias, tais como /e/ e /o/, e ora como vogais com tonalidade intermediária entre ambas. Ainda em consoância com Bisol (1981), a harmonização vocálica é um processo de assimilação regressiva, desencadeado pela vogal alta da sílaba imediatamente seguinte, independente de sua tonicidade, que pode atingir uma, algumas ou todas as vogais médias do contexto. Desta forma, ao tomar-se a palavra menino como exemplo, esta pode ser pronunciada como minino (alteração pretônica), meninu (alteração postônica) ou ainda como mininu (ambas pré e postônica), sem que haja alteração de seu sentido original. Porém, a partir destas alterações em decorrência da HV, pode-se considerar que, entre dois ou mais falantes nativos da língua portuguesa partindo-se do pressuposto de que todos detenham certo conhecimento do idioma pode haver, ou não, certa depreciação pela forma distinta de se pronunciar a palavra em comparação com sua forma original, já que esta alteração de pronúncia vocálica pode representar intenção comunicativa (como crítica regional, ênfase ou até mesmo ironia). Ainda nesta linha de análise, ao se considerar um falante não-nativo da língua portuguesa, este pode-se confundir entre as formas de se escrever e de se falar determinada palavra; não que tal fenômeno não ocorra em outros idiomas, inclusive no próprio idioma deste indivíduo, porém, ao partir-se do pressuposto de que um aprendiz cujo estudo seja acadêmico e formal e que assimile a língua portuguesa de acordo com a gramática normativa, tem-se que este fator justificaria uma possível imprecisão entre escrita e fala, podendo gerar dificuldade em sua comunicação. HARMONIZAÇÃO VOCÁLICA - OCOR- RÊNCIAS Nesta parte, em que tratamos das 6

ocorrências, propõem-se expor e explanar o fenômeno harmonização vocálica em diferentes estados, com o intuito de demostrar as variações linguísticas que ocorrem em diferentes regiões do Brasil, abordando trabalhos realizados no mesmo eixo, com a finalidade de se tornar claro o objeto de estudo em análise. Acre O estudo de harmonização vocálica de Rio Branco, produzido por Hosokawa juntamente com Silva (2010) ressalta a análise dos fonemas /e/ e /o/ em relação à harmonização vocálica em palavras cujos fonemas são realizados em posições pretônicas. Em relação à pesquisa aplicada: O corpus foi constituído de 108 produções1 contendo /e/ (52) e /o/ (56) em posição pretônica. Trataremos dos dois casos separadamente. As palavras em que aparecem /e/ em posição pretônica foram: tesoura, isqueiro, cebola, estrada, desvio, seguro, emprego, es- cola, mentira, ferida, desmaio, encontrar, esquerdo. As palavras com /o/ na mesma posição foram: gordura, colher, tomate, botar, bonito, ovelha, borboleta, borracha, companheiro, inocente, orelha, joelho, dormindo, assoviar. (HOSOKAWA; SILVA, Rio Branco, 2010, p.2721). A conclusão do artigo, de acordo com a pesquisa realizada, foi a seguinte: Concluímos que a regra de alteamento das vogais pretônicas /e/ e /o/ não ocorreu de forma significante no corpus em estudo, contudo, este resultado pode decorrer do fato de os informantes terem concluído ou estarem cursando nível superior, tendo, portanto, maior cuidado com a fala. Posteriormente, faremos gravações com pessoas que tenham cursado nível fundamental e médio, assim, acreditamos que a situação poderá se mostrar diferente. (HOSOKAWA; SILVA, Rio Branco, 2010, p.2725). Nota-se que a pesquisa de Hosokawa e Silva (2010) foi direcionada para estudantes de nível superior, ou seja, pessoas com um grau de instrução maior e talvez, por isso, as ocorrências de HV, em detrimento de uma possível hipercorreção 1, foram menores, mas significativas e de forma mais espontânea as manifestações da HV pudessem ser maiores. Rio de Janeiro No Rio de Janeiro, foi realizada também uma pesquisa de HV em vogais pretônicas por Callou, Leite e Coutinho (1991) com a finalidade de delimitar a ação da regra de harmonização vocálica no âmbito do Projeto da Norma Urbana Culta do Rio de Janeiro. Para tal utilizaram a metodologia científica da teoria da ação laboviana 2 ou sociolinguística quantitativa e chegaram a seguinte conclusão: (...) se trata de um processo estável e, embora as variáveis sociais não tenham se mostrado significativas, os usos nas faixas etárias entre ho- 1 crer que há um modo prestigioso de falar a própria língua implica, quando alguém pensa não possuir esse modo de falar, tentar adquiri-lo e isso pode gerar uma restituição exagerada das formas prestigiosas: a hipercorreção. Isto é, devido à insegurança linguística, esse falante tenta imitar, de forma exagerada, a norma modelo, por várias razões: fazer crer que se domina a língua legítima ou fazer esquecer a própria origem. (CALVET, 2002, p.77-78). 2 Termo utilizado para se referir a pesquisas realizadas no âmbito da variação linguística inspirada nos estudos de Willian Labov, norteamericano considerado o precursor da Sociolinguística. 7

mens e mulheres assinala uma curva descendente: homens e velhos usando mais a regra e jovens e mulheres, menos. Não há, portanto, qualquer indicio de progressão da regra, mas antes de possível perda de produtividade.(callou; Leite; Coutinho, Rio Grande do Sul, 1991, p.76) O estudo realizado no Rio de Janeiro levou em consideração as vogais orais e nasais, que de acordo com Callou, Leite e Coutinho (1991, p.76) A regra de elevação da vogal pré-tônica ocorre desde pelo menos o século XV e seu índice de aplicação é até hoje baixo nos dialetos estudados do português do Brasil. Recife Em Recife, foi realizado um estudo voltado para o dialeto nordestino a respeito do uso das vogais médias baixas em posição pretônica, por Oliveira e Vogeley (2013). Foram analisadas amostras de linguagem de 18 pessoas, entre elas crianças e adultos de ambos os sexos. Em relação à coleta de dados, foi realizada em duas etapas: a) Levantamento do perfil sócio-econômico e psicossocial das crianças, a partir de um questionário psicossocial (...) que continha questões sobre a escolaridade e naturalidade dos pais, renda familiar, escola, locais que a criança frequenta, atividades culturais e dados sobre quem passa a maior parte do tempo com a criança. b) Procedimento de eliciação de fala (dirigida): foi feita uma atividade de nomeação, através de um instrumento com 86 vocábulos balanceados, conforme as variáveis envolvidas no estudo. Foram consideradas, ainda, na seleção das palavras, as possibilidades de neutralização, de elevação e de harmonia vocálica. (OLI- VEIRA; VOGELEY, 2013, p.66). E de acordo com as pesquisas realizadas no âmbito de recife conclui-se que: Dos processos fonológicos que envolvem as vogais médias pretônicas, no dialeto recifense, o mais comum é o de assimilação, tanto em relação à harmonia vocálica, como à redução, com menor ocorrência em relação à harmonia. Assim, são de natureza assimilatória a elevação por redução e, na maioria dos casos, o emprego da média baixa por harmonia. O processo de neutralização foi comum, mas foi observado que a neutralização adotada no dialeto recifense é a que evita /e/ e /o/ (*e,o), como em p[ɛ]rfume e t[ɛ]l[ɛ]fone, diferente dos dialetos do sul do país.(oliveira; VOGE- LEY, 2013, p.79) No estudo de Recife, há uma diferenciação em relação à harmonização vocálica de outros trabalhos mencionados, devido à variação linguística dessa região, que é o caso do uso da média baixa /Ɛ/. Ainda de acordo com Oliveira e Vogeley (2013) Percebe-se que o caso de variação vocálica observado, nesse estudo, trata-se de uma variabilidade do sistema que está refletida geograficamente e que vai além de fatores que expressem idade, sexo e análise de cunho sociocultural. Minas Gerais O trabalho realizado em Minas Ge- 8

rais por CARNEIRO (2008), mais precisamente na cidade de Araguari, tem o objetivo de descrever o sistema vocálico do Português falado nas zonas rural e urbana de Araguari, cidade localizada na região do Triângulo Mineiro. Para tal realização, a autora optou pela pesquisa com base na metodologia aplicada de Tarallo (1997) onde, de acordo com Carneiro (2008) se utilizam duas variáveis: faixa etária e escolaridade. Concluiu-se então que: Os resultados obtidos por essa pesquisa demonstram que o dialeto do Triângulo Mineiro se assemelha aos dialetos mineiros de Belo Horizonte e gaúcho, encontrados por Viegas (1987) e por Bisol (1981), respectivamente, no que tange à ocorrência do processo de alçamento ser superior ao de abaixamento das vogais pretônicas. O mesmo não acontece com o falar baiano, no qual o fenômeno da redução tornase muito mais aparente, o que é explicado por Passos e Passos (1948 apud CALLOU, LEITE E COUTINHO, 1991) pela extensão de intensidade que uma sílaba tônica exerce sobre a sílaba pretônica, ou seja, seria prosodicamente um fator acarretado pela necessidade de ritmo.(carneiro, 2008, p.12) O trabalho ressalta na sua conclusão que o fator de formalidade e grau de instrução também interfere na fala podendo ou não ocultar o fenômeno da HV. Rio Grande do Sul O objetivo do trabalho realizado por Schwindt no Rio Grande do Sul foi de analisar os fatores que fornecem embasamento para o processo de harmonização vocálica do dialeto gaúcho tendo como base o estudo de Bisol (1981) e análise de dados das vogais pretônicas /e/ e /o/, conclui-se então: A regra de harmonização vocálica apresentou crescimento no dialeto gaúcho nas ultimas duas décadas, o que mostra que não se encontra estagnada. (...) São fatores linguísticos, próprios do sistema, os principais condicionadores da harmonização vocálica. (...) Por fim, o exame dos fatores linguísticos sinaliza para a existência de outra regra, de natureza fonética (articulatória ou mesma acústica, como mostrou Bisol, 1981), que coexiste com a regra fonológica que procuramos descrever. (SCHWINDT, 2002, p. 181) A pesquisa demostra claramente a existência do fenômeno estudado nesse artigo, assim como os trabalhos apresentados anteriormente dentro desse capítulo de ocorrências, o que evidencia e dá embasamento para uma análise mais aprofundada do tema, pois, ainda de acordo com Bisol (2002), Carneiro (2008), Oliveira e Vogeley (2013), Callou, Leite e Coutinho (1991) e Hosokawa e Silva (2010), o estudo da HV vai além de fatores linguísticos. MÉTODO E MATERIAL A pesquisa foi elaborada com base em estudos bibliográficos a respeito do tema harmonização vocálica. A escolha desse método deve-se a escassez de estudos produzidos no âmbito de Brasília- DF em relação ao mesmo conteúdo. Sendo assim, o intuito do trabalho é fazer um levantamento de títulos e artigos da área de fonética e fonologia que auxiliem na compreensão do tema. 9

Fonseca (2002) define claramente a seguir o que vem a ser a pesquisa bibliográfica: A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA, 2002, p. 32). Como pode-se observar na citação de Fonseca, qualquer trabalho científico que começa a ser elaborado precisa primeiramente de uma pesquisa bibliográfica bem feita, que a nível de conhecimento não é o mesmo conceito de revisão bibliográfica, afinal, é a pesquisa que dará base para as teses apresentadas, como destaca claramente Lima e Mioto (2007): Ao tratar da pesquisa bibliográfica, é importante destacar que ela é sempre realizada para fundamentar teoricamente o objeto de estudo, contribuindo com elementos que subsidiam a análise futura dos dados obtidos. Portanto, difere da revisão bibliográfica uma vez que vai além da simples observação de dados contidos nas fontes pesquisadas, pois imprime sobre eles a teoria, a compreensão crítica do significado neles existente (LIMA;MIOTO, 2007, p.44). Este trabalho então, de acordo com o pensamento de Lima e Mioto (2007), tem o objetivo de auxiliar futuras pesquisas no ramo da linguística em relação à harmonização vocálica que é o foco do nosso estudo, propiciando, assim, base para que as teses apresentadas possam partir para uma análise de campo mais detalhada e com coleta de dados sempre visando o desenvolvimento da nossa língua, mais particularmente as variações linguísticas de Brasília-DF. CONCLUSÃO Tendo como base os estudos realizados para o desenvolvimento deste artigo, juntamente com as diversas análises de pesquisas nas áreas da linguística, fonética e fonologia, conclui-se que foi possível se compreender, definir e explanar a Harmonização Vocálica foram atingidos. Além disso, pode-se depreender que a harmonização vocálica, que se define pela alteração de pronúncia das vogais pretônicas ou em alguns casos também postônicas de uma determinada palavra, se caracteriza como fenômeno que se justifica por uma tentativa espontânea de equiparação entre algumas ou todas as vogais não-tônicas desta mesma palavra, tendo como influência a vogal pertencente à sílaba cuja pronúncia seja a mais evidente da palavra em questão. Por fim, ressalta-se que o fenômeno linguístico denominado Harmonização Vocálica pode ocorrer de forma consciente ou inconsciente, dependendo do intuito do falante, podendo abarcar as intenções de equiparação sonora, ênfase, crítica, ironia entre outros, o que demonstra o quão complexo pode ser um recorte do estudo de um idioma, o qual se localiza dentro da área fonético-fonológica no âmbito da variação linguística. 10

AGRADECIMENTOS Agradecemos, primeiramente, a Deus, pois sem ele nada seria possível. Em seguida aos nossos pais, que sempre acreditaram em nós e nos ensinaram a dar o nosso melhor, ainda que em situações não muito favoráveis. Finalmente agradecemos ao excelente grupo docente de nossa faculdade, bem como nossa querida e sábia orientadora, sem a qual não seria possível o desenvolvimento deste trabalho. 11

Referências: 1 - BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009 2 - BISOL, Leda. Harmonização Vocálica. Tese de doutorado em Letras. Rio de Janeiro: UFRJ, 1981. 3 - BISOL, Leda; BRESCANCINI, Claudia (Org.). Fonologia e variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. 4 - CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne; COUTINHO, Lilian. Elevação e abaixamento das vogais pré-tônicas no dialeto do Rio de Janeiro. In: Revista do Instituto de Letras da UFRGS, Vol. 5, Nº 18, p. 71-78, 1991. 5 - CALVET, Louis-jean: Sociolinguística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002. 6 - CÂMARA JUNIOR, Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. 39. ed. Petrópolis: Vozes, 1970. 7 - CARMO, M. C. As vogais médias pretônicas dos verbos na fala culta do interior paulista. 2009. 119 f. Dissertação. 8 - CARNEIRO, Dayana Rúbia. O sistema vocálico pretônico nas zonas rural e urbana do município de Araguari. Minas Gerais: Horizonte Cientifico, 2008. 9 - CAVALIERE, Ricardo. Pontos Essenciais em Fonética e Fonologia. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. 10 - CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 4 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 11 - FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. 12 - HOSOKAWA, Antonieta Buriti de Souza; SILVA, Priscila Souza da. Harmonização vocálica do /e/ e do /o/ no município de Rio Branco Acre. In: Cadernos do CNLF, Vol. XIV, Nº 4, t. 3, p. 2715-2727, 2010. 13 - LEITE, Yonne e CALLOU, Dinah. Como falam os brasileiros. Rio: Jorge Zahar, 2002. 14 - LIMA, Telma Cristiane Sasso; MIOTO, Regina Célia Tamaso. Procedimentos metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Florianópolis: UFSC, 2007. 15 - OLIVEIRA, Demerval da Hora. Fonetica e Fonologia. UFPB, 2009. Disponível em http://goo.gl/ecylc. Acesso em 10 de maio de 2014. 16 - OLIVEIRA, Dermeval da Hora; VOGELEY, Ana. Harmonia vocálica no dialeto recifense. In: Revista do Instituto de Letras da UFRGS, Vol. 28, Nº 54, p. 65-81, 2013. 17 - PARKER, Steve. O livro do corpo humano. London: DK, 2007. 18 - SEARA, Izabel Christine; NUNES, Vanessa Gonzaga; VOLCÃO, Cristiane Lazzarotto. Fonética e fonologia do português brasileiro: 2º período. Florianópolis: UFSC, 2011. 19 - Silva, Thaís Cristófaro. Fonética e Fonologia do Português: Roteiro de Estudos e Guia de Exercícios. 6ª ed. São Paulo: Contexto, 2002. 20 - TARALLO, F. A Pesquisa Sociolingüística. Série Princípios. São Paulo: Ática, 1997. 12