ANÁLISE DO DISCURSO POLÍTICO NOS PRONUNCIAMENTOS TELEVISIONADOS DOS PRESIDENCIÁVEIS 2014

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Transcrição:

Anais do VI Seminário dos Alunos dos Programas de Pós-Graduação do Instituto de Letras da UFF Estudos de Linguagem ANÁLISE DO DISCURSO POLÍTICO NOS PRONUNCIAMENTOS TELEVISIONADOS DOS PRESIDENCIÁVEIS 2014 Ariana da Rosa Silva Orientadora: Profª Drª Bethania Sampaio Mariani Mestranda Considerações Iniciais: o projeto Este artigo tem como objetivo situar o nosso estudo de mestrado, que está em fase de pesquisa, elaboração e aperfeiçoamento. Desta forma, trataremos aqui sobre o tema em questão, os objetivos do projeto e sobre a Análise do Discurso de Pêcheux, aporte teóricometodológico utilizado em nosso trabalho. O discurso político está em crise nas sociedades ocidentais e passou a ser tratado como uma mercadoria, assumindo o papel de espetáculo na sociedade a partir da segunda metade do século XX, sendo o cidadão o consumidor deste produto (COURTINE, 2003). Pensando nisso, esta pesquisa propõe como objeto de estudo o discurso político e seus efeitos de sentido. O objetivo geral é analisar de forma crítica as formas de dominação presentes no discurso político brasileiro, através de análise dos textos orais televisionados produzidos em debates políticos da campanha presidencial do ano de 2014, visando compreender discursivamente como se estabelece a relação de poder entre os sujeitos deste processo. A hipótese inicial é a de que os sentidos construídos nos textos, que compõem o corpus desta [ 65 ]

pesquisa, corroboram vários sentidos já pré-construídos, nos fazendo pensar na alienação X resistência. O amplo arquivo de pesquisa se compõe dos textos orais televisionados produzidos pelos candidatos Aécio, Dilma e Marina nos debates políticos do primeiro e segundo turnos da campanha presidencial de 2014, transmitidos pelos canais abertos de televisão: Globo, SBT, Band e Record. Os recortes estão sendo realizados a partir da montagem de um dispositivo de análise específico, de forma a delimitar o corpus discursivo a ser analisado. (ORLANDI, 2010) Atualmente, considera-se que a melhor maneira de atender à questão da constituição do corpus é construir montagens discursivas que obedeçam critérios que decorrem de princípios teóricos da análise do discurso, face aos objetivos da análise, e que permitam chega à sua compreensão. Esses objetivos, em consonância com o método e os procedimentos, não visa a demonstração mas a mostrar como um discurso funciona produzindo (efeitos de) sentidos. (ORLANDI, 2010, p. 63) Uma das questões entre outras a ser observada é de que modo, a partir da materialidade linguística utilizada para a produção dos enunciados dos candidatos, sentidos sobre política, sociedade, cidadania, entre outras questões são constituídos nesses discursos. Pensando ainda em quais filiações ideológicas estão presentes nestes discursos, além dos sentidos pré-construídos que são atualizados através de uma memória discursiva. Orlandi (2010) afirma que: Segundo o mecanismo da antecipação, todo sujeito tem a capacidade de experimentar, ou melhor, de colocar-se no lugar em que o seu interlocutor ouve suas palavras. Ele antecipa-se assim a seu interlocutor quanto ao sentido que suas palavras produzem. Esse mecanismo regula a argumentação, de tal forma que o sujeito dirá de um modo, ou de outro, segundo o efeito que pensa produzir em seu ouvinte. Este espectro varia amplamente desde a previsão de um interlocutor que é seu cúmplice até aquele que, no outro extremo, ele prevê como adversário absoluto. Dessa maneira, esse mecanismo dirige o processo de argumentação visando seus efeitos sobre o interlocutor. (ORLANDI, 2010, p.39). Pensando nisso, esse projeto também analisará de que maneira a população é construída como interlocutora nos debates eleitorais. Que imagem se constrói do outro eleitor, quando se pronunciam determinadas propostas? Qual é o lugar discursivo de onde os candidatos falam e o lugar imaginário atribuído ao eleitor? [ 66 ]

E a partir disso, observaremos também que para que o candidato consiga seu objetivo em um debate e, em geral, numa eleição, de convencer o eleitor a fazer escolhas que lhe favoreçam, ele precisa usar em seu discurso o processo de argumentação. Desta forma, trabalharemos com o conceito de argumentação discursiva, o qual supõe a relação entre os enunciados, a reprodução de sentidos, a posição sujeito e a formação discursiva. Este trabalho dedica-se, de forma especial, em observar como as relações de poder podem ser significadas e simbolizadas na discursivização do político. Pensando que a Análise do Discurso pressupõe o legado do materialismo histórico, isto é, o de que há um real da história de tal forma que o homem faz história, mas esta também não lhe é transparente. Daí, conjugando a língua com a história na produção de sentidos, esses estudos do discurso trabalham o que vai-se chamar a forma material (não abstrata como a da Linguística) que é a forma encarnada na história para produzir sentidos: esta forma é portanto linguístico-histórico. (ORLANDI, 2003, P. 19) Os gestos políticos atualizam discursos a partir de uma memória discursiva, fazendonos pensar nos conceitos de dominação e resistência trazidas pela AD. A memória, para Orlandi, é tratada como interdiscurso, que é definido como aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente. Desta forma, o que é chamado de memória discursiva: o saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma do pré-construído, o já-dito que está na base do dizível, sustentando cada tomada da palavra. (ORLANDI, 2010, p. 31) Sendo o objeto desta pesquisa o discurso político, pensamos que, em uma eleição, o objetivo dos discursos dos candidatos seja de dominação. E segundo Pêcheux, não há dominação sem resistência, que, para Orlandi, ocorre entre os sentidos e não-sentidos, nessas falhas e equívocos. Mariani (1996) afirma que a resistência no sentido discursivo é a possibilidade de, ao se dizer outras palavras no lugar daquelas prováveis ou previsíveis, deslocar sentidos já esperados. É resignificar processos interpretativos já existentes, seja dizendo uma palavra por outra, seja incorporando o non sens, ou simplesmente, não dizendo nada. (MARIANI, 1996, p.24) Portanto, como se dá o processo de resistência e a dominação nos discursos dos principais presidenciáveis de 2014 nos debates eleitorais? [ 67 ]

Discurso Político: breve reflexão Quando o assunto é o discurso político, não podemos deixar de citar os trabalhos do francês Jean-Jacques Courtine, nome de relevante importância na Análise do Discurso, que participou ativamente do grupo fundador da AD em torno de Michel Pêcheux (PIOVEZANI, SARGENTINI, 2014, p.8. apud COURTINE, 2014). Em seu artigo Deslizamentos do espetáculo político (2003), Courtine trata das mudanças pelas quais o discurso político tem passado, isso devido à grande expansão das mídias, principalmente da mídia televisiva. As falas longas e complexas deram lugar a mensagens simples e curtas, deixando de ter um caráter monológico para assumir características dialógicas (COURTINE, 2003, p.23). Agora, a interação se dá através das mídias, não mais face a face como em tempos anteriores. O discurso político está sendo vendido e o consumidor deste produto é o eleitor. Movido pela observação das mudanças do atual discurso político, Courtine postula então a necessidade de alargar o enfoque da AD. A constituição, a formulação e a circulação da discursividade política contemporânea implicavam i) a rápida obsolescência de suas filiações históricas e o refluxo de princípios ideológicos; ii) sua manifestação sincrética, rápida e fragmentada, na qual o verbo não poderia mais ser dissociado do corpo, do rosto, dos gestos e das imagens; e iii) sua transmissão em novas e mais velozes mídias. (PIOVEZANI, SARGENTINI, 2014, p.9). Tratando da análise dos discursos (políticos), Pêcheux diz que surgiu na forma de um trabalho político e científico especializado, visando a tomar posição em um campo ideologicamente estruturado (demonstrando/criticando/justificando este ou aquele discurso, inscrito nesta ou naquela posição). E diz ainda que os discursos políticos constituem também um vestígio, uma rede de indícios para compreender concretamente como se chegou até aqui e, ao mesmo tempo, para reconstruir a memória histórica a partir deles. (PÊCHEUX,2014, p.22. apud COURTINE, 2014.) Em Análise do discurso político: o discurso comunista endereçado aos cristãos, Jean- Jacques Courtine (2014) articula língua e história e, além disso, trabalha conceitos como [ 68 ]

os de enunciado, condições de produção e memória discursiva, que são fundamentais para a Análise do Discurso. Courtine sobre o termo memória discursiva diz que é distinto de toda memorização psicológica do tipo daquela cuja medida cronométrica os psicolinguistas se dedicam a produzir (...) sobre os processos cognitivos implicados na memória dos textos (COURTINE, 2014, p.105). A Análise do Discurso Estudos feitos sobre a relação da linguagem e sua exterioridade surgiram na França na década de 60, denominando-se escola francesa da Análise do Discurso, fundada por Michel Pêcheux (ORLANDI, 1994). Como já mencionamos, este será o aporte teórico de nossa análise e, segundo essa perspectiva, não se pode separar língua da história, da ideologia e dos jogos de poder. Ela é um caminho pra se refletir sobre um texto, seja qual for sua finalidade, visto que se apresenta como uma teoria de leitura e interpretação de textos, localizada no entremeio entre as Ciências Sociais e a Linguística. E ainda, concebe a linguagem como mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social. Essa mediação, que é o discurso, torna possível tanto a permanência e a continuidade quanto o deslocamento e a transformação do homem e da realidade em que vive. (ORLANDI, 2010) Por esse tipo de estudo se pode conhecer melhor aquilo que faz do homem um ser especial com sua capacidade de significar e significar-se (ORLANDI, 2010, p.15). A Análise do Discurso estuda a língua como um objeto móvel, que está diretamente ligado às questões sociais, históricas, políticas, culturais. Observa as múltiplas possibilidades de interpretação do discurso, visto que está inserido num contexto, sendo produzido por diversos sujeitos, a partir de diversas perspectivas. Trata das questões que dizem respeito à relação da linguagem e sua exterioridade, o funcionamento da língua. O discurso é definido nesta teoria como efeito de sentido entre locutores, e esse sentido só existe porque há a inscrição da história na língua que faz com que ela signifique, portanto sem história não há sentido (ORLANDI, 1994, p.53). Em nosso trabalho, para que obtenhamos um sentido possível de interpretação, o discurso será analisado nas suas condições de produção, trazendo o conhecimento da história que atravessa a linguagem no [ 69 ]

momento que em que é produzido. Porque o sentido pode ser outro, mas não qualquer um, segundo Orlandi, pois depende das condições de produção, da formação discursiva. Para Pêcheux (2011), a língua natural não é uma ferramenta lógica mais ou menos falha, mas sim o espaço privilegiado de inscrição de traços linguageiros discursivos, que formam uma memória sócio-histórica (PÊCHEUX, 2011, p.146). E é nesse espaço que a Análise do Discurso se coloca. Quando falamos na Análise do Discurso, é importante pensarmos na memória e no esquecimento. Em seu artigo Discurso, Memória, esquecimento e acontecimento, Mariani (1990) diz que nas práticas sociais de fixação da memória, encontra-se entrelaçado aquilo que deve cair no esquecimento, pois o retorno de um sentido silenciado, ou a irrupção de um novo sentido, pode representar uma ameaça ao status quo vigente. E acrescenta que isso ocorre porque no jogo das relações de forças sociais, não deixar um sentido ser esquecido é uma forma de eternizá-lo (e, até mesmo, mitifica-lo) enquanto memória oficial Esse trabalho da memória traz a ilusão de que tudo é imutável, de que tudo que já foi dito, permanecerá nos discursos, sendo atualizado (MARIANI, 1990, p.36). Sobre a noção de memória discursiva Courtine (2014) aponta que diz respeito à existência histórica do enunciado no interior de práticas discursivas regradas por aparelhos ideológicos. (COURTINE, 2014, p.106). Quanto ao esquecimento, Orlandi (1997) em As formas do silêncio situa o esquecimento, mostrando que o silêncio que atravessa as palavras, que existe entre elas, ou ainda que aquilo que é o mais importante nunca se diz, todos esses modos de existir dos sentidos e do silêncio nos levam a colocar que o silêncio é fundante, ou seja, no esquecimento se produz sentidos e não sentidos. As palavras são atravessadas de silêncio; elas produzem silêncio; o silêncio fala por elas; elas silenciam (ORLANDI, 1997, p.14) Outro aspecto relevante a ser observado é como o sujeito é conceituado na Análise do Discurso. Freda Indursky (1998) em seu artigo O sujeito e as feridas narcísicas dos linguistas trabalha a trajetória da noção de sujeito desde a Linguística de Saussure, perpassando pela teoria da Enunciação, chegando à Análise do Discurso. Para Indursky, na instância do discurso, o sujeito é percebido a partir de lugares socialmente determinados. Por outro lado, o sujeito, sendo social, perde necessariamente suas características individualizadoras. (INDURSKY, 1998, p.115) Devemos ainda pensar que os sujeitos são interpelados pela ideologia e atravessados pelo inconsciente. Ninguém é dono do que diz, assim podendo produzir falhas e equívocos em [ 70 ]

seus discursos. E é nessas falhas que encontramos o sentido ou o não- sentido. Não há discurso sem sujeito. E não há sujeito sem ideologia. Ideologia e inconsciente estão materialmente ligados. (ORLANDI, 2010, p. 47) Segundo Althusser, é tendo como referência a ideologia que Pêcheux introduz o sujeito enquanto efeito ideológico elementar. É enquanto sujeito que qualquer pessoa é interpelada a ocupar um lugar determinado no sistema de produção. (HENRY, 2014, p.30-31). Considerações finais Fizemos aqui neste artigo, uma breve reflexão sobre a Análise do Discurso proposta por Pêcheux e introduzida no Brasil, entre outros pesquisadores, pela Profª. Eni Orlandi. Trouxemos também à discussão, o tema discurso político, cujo nome de referência é Courtine, situando, desta forma, o caminho a ser percorrido em nosso projeto de pesquisa de mestrado. Portanto, em nosso projeto, ao analisarmos os efeitos de sentido no discurso político, devemos levar em conta essas afirmações de que tratamos aqui e tentar compreender algumas questões. De que lugares falam os candidatos nesses discursos? Quais são os lugares imaginários onde os eleitores são colocados? De que forma a argumentação discursiva é construída para que se cumpra o objetivo de convencer? Quais são as filiações ideológicas que os interpelam? Como os discursos são atualizados através da memória discursiva? Como são significados os discursos silenciados? Como ocorre o processo de alienação e de resistência? A relevância da pesquisa se dá pela reflexão acerca das questões políticas e sociais e sobre o sujeito que está inserido nesta sociedade pós-moderna, sendo submetido a uma falsa democracia, onde é dominado de forma inconsciente através dos discursos e ideologias dos políticos brasileiros. REFERÊNCIAS COURTINE, J. J. Análise do discurso político: o discurso comunista endereçado aos cristãos. São Carlos, SP: EDUFSCar, 2014. [ 71 ]

. Os deslizamentos do espetáculo político. In: GREGOLIN, M. R. (org.) Discurso e mídia: a cultura do espetáculo. São Carlos, SP: Claraluz, 2003. HENRY, P. Os fundamentos teóricos da análise automática do discurso de Michel Pêcheux (1969). In: GADET, F. e HAK, T. (org.) Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Tradução por Bethania S. Mariani- 5ª edição. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2014. INDURSKY, F. O sujeito e as feridas narcísicas dos linguistas. Gragoatá. Niterói, n.5, p.111-120, 2. sem. 1998. MARIANI, B. S. C. Discurso, memória, esquecimento e acontecimento. Caderno de Letras da UFF. n. 14. Niterói: Instituto de Letras, 1990.. O comunismo imaginário; práticas discursivas da imprensa sobre o PCB (1922/1989). Tese de doutorado, IEL/UNICAMP, Campinas, SP: 1996. ORLANDI, E. P. A linguagem e seu funcionamento. As formas do discurso. Pontes. Campinas, São Paulo: 2003.. Análise De Discurso: Princípios e Procedimentos, 9 ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 2010.. As formas do silêncio: No movimento dos sentidos. Campinas, SP: Ed. UNICAMP. (1997). Discurso, Imaginário social e conhecimento. Em Aberto, Brasília, ano 14, n.61, jan./mar. 1994. PÊCHEUX, M. Análise de Discurso: Michel Pêcheux. Textos selecionados: Eni Puccinelli Orlandi. Campinas, SP: Pontes Editores, 2011.. O estranho espelho da Análise do Discurso. In: COURTINE, J. J. Análise do discurso político: o discurso comunista endereçado aos cristãos. São Carlos, SP: EDUFSCar, 2014. [ 72 ]

PIOVEZANI, C.; SARGENTINI,V. Políticas do sentido, práticas da expressão e história do corpo. Uma apresentação da obra de Jean-Jacques Courtine ao leitor brasileiro. In: COURTINE, J. J. Análise do discurso político: o discurso comunista endereçado aos cristãos. São Carlos, SP: EDUFSCar, 2014. [ 73 ]