Radiodocumentário Desafios da Educação Inclusiva: uma experiência na escola estadual Brandão de Amorim 1

Documentos relacionados
Jornal da Metodista Tatiana Paulino Costa 1 Alunos do 5 semestre de Jornalismo 2 Flávio Falciano 3 Universidade Metodista de São Paulo 4

Eli Vive: a vida em um assentamento 1. Marco Antonio de Barros JUNIOR 2 Márcia Neme BUZALAF 3 Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR

Rádiodocumentário Ritmos do Brasil: Redescobrindo o Brasil através da Música 1

Refugiados Sírios Em Goiânia¹. Guilherme Araujo dos SANTOS ² Denize Daudt BANDEIRA³ Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Goiás

JORNAL 30 MINUTOS 1 RESUMO

Sintonia Cidadã O que é ser cidadão? 1

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS PLANO DE ENSINO 042 CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS

Plano de Ensino. Identificação. Câmpus de Bauru. Curso null - null. Ênfase. Disciplina C - Jornalismo Radiofônico II

Fanático Esporte Clube: uma experiência laboratorial diária no radiojornalismo esportivo 1. Hygor FERREIRA 2

Documentário Em Áudio Feira-Livre De Dourados Uma História Cheia De Sons, Cheiros E Cores 1

Documentário em Áudio Craque Rumo à decadência 1

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Prêmio Expocom 2009 Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação

Lendas Gerais: os causos de Minas¹

Telejornal Unirondon: uma experiência de telejornalismo para o meio digital 1

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIX Prêmio Expocom 2012 Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação

Plano de Ensino. Identificação. Câmpus de Bauru. Curso 2202D - Comunicação Social: Jornalismo. Ênfase

Veículo Experimental de Comunicação Institucional Direito em Júbilo 1

CURSO: JORNALISMO EMENTAS º PERÍODO

Programa Eufonia: uma experiência de rádio diferente

Fanpage Jornal Prática de Campo: uma experiência audiovisual para web 1

Conexão Ciência 1. Bruna Mayara KOMARCHESQUI 2 Flávia Lúcia Bazan BESPALHOK 3 Mario Benedito SALES 4 Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR

Veículo Experimental de Comunicação Institucional RP 4.0 1

A história social do Jazz 1

Regulamento do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) Comunicação Social Jornalismo, Bacharelado

Rosário do Sul e Rio Santa Maria: Uma só história¹. Pedro Giumelli Gonçalves² Jairo Roberto Fachi³ Universidade de Cruz Alta, Cruz Alta, RS

Ouve Rumores 1 RESUMO

Palavras-chave: Deficiência Intelectual, aluno, inclusão. Introdução

Programa Vira-Lata: a sátira do sensacionalismo no exercício laboratorial de rádiojornalismo 1

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Prêmio Expocom 2009 Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação

Poesia Pra Tocar No Rádio A Vida E Obra De Alice Ruiz 1. Joice BITTENCOURT 2 Bruna ARAÚJO 3 Diego FRANCO 4 Universidade Metodista de São Paulo, SP

Mosaico TV na Teoria e na Prática Programa experimental das disciplinas de Redação para TV e Telejornalismo 1 1

Além das palavras: das bibliotecas para o rádio 1

Laboratório da Notícia Lona, edição especial Maio de 68 1

De Parintins para o mundo ver 1

Futebol, do lazer à violência 1

EDITAL Nº 1 - SELEÇÃO DE COLABORADORES PARA A RÁDIO PLURAL

DIFICULDADES DE ALUNOS SURDOS NO APRENDIZADO DE MATEMÁTICA

Rádio Pefem: Proposta de Radiodifusão na Penitenciária Estadual Feminina de Porto Velho 1

Gustavo Siqueira ARAÚJO 2 Willyberg Braga NASCIMENTO 3 Iraê Pereira MOTA 4 Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru, PE

Regimento do Projeto Interdisciplinar. Escola de Ciências Humanas e Sociais Curso de Comunicação Social - Jornalismo - Publicidade e Propaganda

Três formatos de radiojornalismo laboratorial na Unimep

Projeto CBN Maringá Frequência Acadêmica 1

Ensino do Telejornalismo: uma experiência pedagógica laboratorial 1Paulo Eduardo Silva Lins Cajazeira

Produção Audiovisual RP Kele Martinez de Moura 2 Maria Bernardete Caetano de Paiva Sarmento 3 Universidade Católica de Santos, SP

SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ. Alfabetização bilíngüe para surdos:uma prática a ser investigada

Anos Adotado de linguagem coloquial e descontraída possibilita maior interação do emissor e receptor.

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Prêmio Expocom 2009 Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação

Propaganda Social: campanhas educativas radiofônicas 1. Marise Cartaxo 2 Ismar Capistrano Costa Filho 3 Faculdade 7 de Setembro

Trabalho submetido ao XVIII Prêmio Expocom 2011, na Categoria, modalidade. 2

Programa Laboratorial de Rádio Bem Cedo 1

PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR DE UM ALUNO COM SÍNDROME DE DOWN EM UMA ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL DA CIDADE DE REMÍGIO.

Radiojornal Comunica Universitário UFMS 1


Cada um dos programas proposto tem por objetivo sensibilizar e capacitar jovens

Deu Erro 1. Thaíssa ALVES 2 Evelyn da SILVA 3 Angélica CÓRDOVA 4 Universidade Católica de Brasília, Brasília, DF

Plano de Curso. FERRARETTO, Luiz Artur. O veículo, a história e a técnica. 2 ed. Porto Alegre, Sagra Luzzatto, 2001.

Portal De Notícias Unimep Jornal 1

Programa de Rádio Viela 1. Douglas FURTADO 2 Orlando FIORILO 3 Alexandre KIELING 4 Universidade Católica de Brasília, DF

Abrasileiradas Músicas Gringas em Versões Tupiniquins

UBERABA NAS ONDAS DO RÁDIO 1. Débora Carolina Silva Lacerda 2 Mirna Tonus³ Universidade de Uberaba - Uniube, Uberaba, MG

Entrevista com Espedito Seleiro 1

RESUMO. PALAVRAS-CHAVE: rádio; reportagem; obesidade; saúde; INTRODUÇÃO

RELATÓRIO CIRCUNSTANCIADO AÇÕES EDUCACIONAIS INCLUSIVAS

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Prêmio Expocom 2009 Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação

Plano de Ensino. Identificação. Câmpus de Bauru. Curso 2202D - Comunicação Social: Jornalismo. Ênfase. Disciplina A - Telejornalismo I

CURSO: JORNALISMO EMENTAS º PERÍODO

A PERCEPÇÃO DE FUTUROS PROFESSORES ACERCA DA LIBRAS NA EDUCAÇÃO DE SURDOS 1

Objetivos. Desenvolver uma serie de vídeos que abordam as ações desenvolvidas pela escola na promoção da educação no trânsito;

Trabalho submetido ao XXI Prêmio Expocom 2014, na Categoria Jornalismo, modalidade JO 08 Reportagem Em Jornalismo Impresso (Avulso).

PRÊMIO OAB-GO DE JORNALISMO EDITAL 1. DOS OBJETIVOS DO PRÊMIO

Café Comunitário: a Voz da Comunidade no Rádio 1

DESENVOLVIMENTO DE UM MANUAL PARA O LABORATÓRIO DE FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO

INCLUSÃO: UMA PRÁTICA POSSÍVEL NA ESCOLA JOÃO BATISTA LIPPO NETO NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DA CIDADE DO RECIFE.

Sérgio Camargo Setor de Educação/Departamento de Teoria e Prática de Ensino Universidade Federal do Paraná (UFPR) Resumo

Revista Palavra de Jornalista: vida noturna 1. Taiana EBERLE 2 Laura SELIGMAN 3. Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, SC

Universidade Federal do Tocantins Palmas- TO

Vida em República¹. PALAVRAS-CHAVE: Radiojornalismo;Rádio; República ; Piracicaba; Universitários.

EDITAL DA CHAMADA DE TRABALHOS ACADÊMICOS/CIENTÍFICOS PARA A SEMANA ACADÊMICA DE COMUNICACÃO - SEACOM/2015

Pauta Verde: o meio-ambiente em foco no radiojornalismo 1

ESCOLA ESTADUAL SENADOR FILINTO MULLER MARTA ROQUE BRANCO A INSERÇÃO DAS TECNOLOGIAS NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Aplicabilidade da Audiodescrição como Recurso de Acessibilidade na Televisão Digital1. Maria Inês Garcia Ishikawa2 Regina Célia Baptista Belluzzo 3

Programa Resenha 1. PALAVRAS-CHAVE: Radiojornalismo; Entrevista; Programa; Resenha.

Técnica e Redação Jornalística: Copa Do Mundo Na Floresta 1. Camilo DIAS 2 Débora MARTINS 3 Diego OLIVEIRA 4

Programa laboratorial de radiojornalismo - Atmosfera Mulher 1

Moinhos de Vento 1. Palavras-chave Hospital Moinhos de Vento; doação de órgãos; spot publicitário.

Oficina 1 Produção radiofônica (Parte 1)

O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO NA PERCEPÇÃO DO GESTOR DE UMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE AREIA- PB

Indicações e propostas para uma boa política municipal de Educação

Você sofreu: um videoclipe da cantora Gaby Viégas 1

EXPLORANDO A LITERATURA NO ENSINO MÉDIO POR MEIO DOS RECURSOS DIGITAIS

Drogas: um mal ou uma realidade a ser aceita? 1

DIVERSIDADE E INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)

Revirando o Baú, cultura e história nas ondas do rádio 1

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Decanato Acadêmico

Revelação: jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba (Uniube). Edição especial 1

LEITURA EM SALA DE AULA: ESTRATÉGIAS PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR

Música e Inclusão: ações pedagógicas para o trabalho com um aluno cego no ensino superior

A Prática Profissional terá carga horária mínima de 400 horas distribuídas como informado

Propaganda no Rádio. Formatos de Anúncio Formas de Inserção

Sequência didática Práticas pedagógicas e cinema: contribuições à Educação Ambiental Crítica

Transcrição:

Radiodocumentário Desafios da Educação Inclusiva: uma experiência na escola estadual Brandão de Amorim 1 Elenilson RAMOS 2 Graciene Silva de SIQUEIRA 3 Universidade Federal do Amazonas, Parintins, AM RESUMO O trabalho descreve a produção de um radiodocumentário sobre educação inclusiva na escola estadual Brandão de Amorim, no município de Parintins. Entendemos que apesar de ser um tema recorrente no meio educacional e também na imprensa, a educação inclusiva ainda se encontra em estágio inicial nas escolas brasileiras da rede pública de ensino. Isso ocorre por diversos fatores, entre os quais destacam-se a falta de preparo do corpo docente e a ausência de políticas eficazes por parte dos órgãos ligados à educação. Assim, com a produção do radiodocumentário Desafios da Educação Inclusiva: uma experiência na escola estadual Brandão de Amorim esperamos contribuir para a reflexão sobre o assunto e, consequentemente, estimular ações que concretizem a inclusão do aluno com necessidades especiais na escola de ensino regular. Palavras-chave: Radiodocumentário; Educação inclusiva; Educação inclusiva em Parintins. INTRODUÇÃO A legislação brasileira, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), prêve a inclusão de alunos com deficiência em salas regulares de ensino, o que representa a oportunidade educacional e o compromisso com o princípio da igualdade e direitos para todos. Mas as redes de ensino não têm demonstrado capacidade de desenvolver o trabalho de inclusão social e tão pouco promover o aprendizado necessário para a convivência em sociedade das pessoas com necessidades especiais (MONTOAN; PRIETO, 2006). A falta de estrutura (como acessibilidade arquitetônica), de professores capacitados e de políticas pedagógicas são desafios para o aluno que deseja adquirir conhecimentos na sala de aula regular. Percebe-se que a maioria das escolas no país não está adequada ao padrão necessário e acaba exigindo que os alunos se adaptem às exigências do educandário. Para Ávila (2008), incluir é uma luta tão árdua quanto transformar estruturas de poder e privilégio. O processo de inclusão deve ser feito com bastante cuidado, respeitando as dificuldades e o tempo de cada pessoa. A escola deve ter a capacidade de atender seus 1 Trabalho submetido ao XX Prêmio Expocom 2013, na Categoria Jornalismo, modalidade Produção laboratorial em audiojornalismo e radiojornalismo (avulso/ conjunto ou série). 2 Aluno líder do grupo e estudante recém-graduado, email: e.lenilsonramos@hotmail.com. 3 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicação Social da Ufam/Parintins, email: graciennesiqueira@gmail.com. 1

alunos em suas especificidades e singularidades e isso é válido para todos, não só para os que possuem algum déficit. As pessoas apresentam diferentes características, se sobressaem em algumas áreas e em outras encontram dificuldades, e isso precisa ser respeitado e levado em conta na hora da aprendizagem e do convívio social. Em Parintins, são 22 escolas da rede estadual, mas somente cinco desenvolvem o trabalho de educação inclusiva: Araújo Filho, Dom Gino Malvestio, Ministro Waldemar Pedrosa, São José Operário e Brandão de Amorim. Entre esses, o educandário Brandão de Amorim é o que desenvolve o trabalho de inclusão há mais tempo, desde 1991. Em 2012, foi a escola que apresentou maior número de alunos com necessidades especiais matriculados, num total de 52, e também um número maior de professores especializados na educação inclusiva, 12. Para discutir a questão da inclusão social na educação, escolhemos o gênero documentário jornalístico, definido por Barbosa Filho (2009) como o programa que configura-se em análise sobre o tema escolhido e que exige do repórter um tempo maior de investigação na obtenção da informação. Nessa tarefa, os recursos sonoros próprios do meio vão contribuir para a reconstrução do fato, como aponta Ferrareto (2001) sobre o processo de produção do radiodocumentário: [...] Baseia-se em uma pesquisa de dados e de arquivos sonoros, reconstituindo ou analisando um fato importante. Inclui, ainda, recursos de sonoplastia, envolvendo montagens e elaboração de um roteiro prévio (FERRARETO, 2001, p. 57) Esses recursos de sonoplastia, por sua vez, ao serem captados pelo ouvinte, ajudam a criar um ambiente imaginário, por meio dos simples ruídos e sons, e contribuem para uma melhor compreensão da notícia. A informação aprofundada no radiodocumentário faz dele o formato mais rico no jornalismo. Sem contar que a realização de uma reportagem investigativa e bem apurada proporciona ao ouvinte conhecimento aprofundado sobre o tema difundido. Por outro lado, o radiodocumentário ainda é pouco difundido no Brasil, limitando-se a espaços como universidades e congressos de Comunicação. Por conta de suas características, já abordadas, o formato radiodocumentário foi escolhido como produção final do presente trabalho, tendo em vista, o objetivo do mesmo de disseminar, seja por meio de uma emissora comercial, seja na apresentação do projeto em eventos da área de comunicação, um assunto de relevância social, que tem pouco espaço na mídia local: a educação inclusiva. 2

OBJETIVO A proposta do trabalho é discutir como acontece a inclusão de alunos com necessidades especiais na Escola Brandão de Amorim, em Parintins. A partir de uma breve pesquisa entre as 22 escolas da rede estadual de ensino em Parintins, identificamos que apenas cinco promovem educação inclusiva, confirmando hipótese levantada pelos pesquisadores acadêmicos de que o processo de inclusão de pessoas com necessidades especiais no ensino regular não ocorre como deveria. Esperamos que o radiodocumentário possa ser veiculado em emissoras de rádio em Parintins, assim como em outros espaços a fim de compartilhar o conhecimento adquirido, no campo da Comunicação e de difundir as discussões sobre educação inclusiva. Pois, desde o princípio, o mesmo nasce com caráter educativo, passando dos próprios liames de mero informativo factual a espaço de debates de temas relevantes de interesse da sociedade (MEDITSCH, 2007, p.28). JUSTIFICATIVA Em Parintins, cidade do interior do Amazonas, a 429 quilômetros de Manaus, os problemas enfrentados na inclusão dos alunos com necessidades especiais não são diferentes daqueles enfrentados em outras cidades do Brasil, pois nota-se que poucas escolas da rede regular de ensino desenvolvem o trabalho de educação inclusiva no município. Na rede estadual, por exemplo, a escola que se destaca no atendimento da pessoa com necessidade especial é Brandão de Amorim, por desenvolver a prática há 21 anos na cidade. Como o assunto é de relevância social e necessita ser debatido de forma ampla com a comunidade, optou-se pela produção de um gênero jornalístico como meio de difundir a problemática da educação inclusiva no Brasil e em Parintins, especificamente na escola estadual Brandão Amorim. A proposta resultou no pruduto final identificado como radiodocumentário, escolhido por dois motivos. O primeiro, pelo fato de o formato abordar com mais profundidade os fatos do tema trabalhado, proporcionando ao ouvinte conhecimento maior sobre o assunto difundido. O segundo, em razão de o rádio ser, até o momento, o veículo mais ouvido pelos parintinenses. Em Parintins, no Amazonas, não há dados sobre a audiência do veículo na cidade, mas acredita-se que pela carência da veiculação de jornais impressos e pela ausência de conteúdo nos noticiários de TV local, o rádio seja o meio de comunicação mais utilizado. E, apesar de 45 anos de existência do 3

rádio no município, é notável a escassez de programações voltadas à educação nos poucos meios de comunicação da cidade como aponta Ribeiro (ENTREVISTA, 2012). Beneton (2004) afirma que o Brasil é o segundo país com maior prática de radiodifusão, o que faz do brasileiro um alfabetizado global. Por esse motivo, escolhemos o veículo como plataforma para difusão do tema a ser trabalhado, visto que, na Amazônia, o rádio atinge o público que os demais meios de comunicação, devido às condições geográficas, não alcançam como as comunidades ribeirinhas. Assim, esperamos que a ação possa contribuir na consolidação de um veículo capaz de assumir o papel de informar e comunicar, configurando-se como mediador entre emissor e receptor, proporcionando ao ouvinte conhecimentos, para que o mesmo possa atuar como cidadão crítico-reflexivo na sociedade. MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica buscando informações referentes ao radiodocumentário e educação inclusiva. No caso do primeiro tema, buscou-se especialmente conhecer os gêneros de programas veiculados no rádio, focando no gênero jornalístico como o radiodocumentário. Quanto à educação inclusiva, resgatamos inicialmente as leis que buscaram garantir o acesso de pessoas com necessidades ao ensino regular. A leitura das obras, também, ajudou a entender a importância do gênero jornalístico na difusão de assuntos relevantes na sociedade, como o de educação inclusiva proposto neste trabalho. Para entender melhor a estrutura do formato jornalístico pesquisamos na internet modelos de radiodocumentário que pudessem orientar sobre a montagem do produto. Devido à escassa produção de programas do gênero, poucos exemplos foram encontrados, a maior parte produzida por alunos de curso de Comunicação Social de universidades federais brasileiras. Na Ufam, encontramos apenas um radiodocumentário produzido por alunos da turma Comunicação Social/Jornalismo de Manaus e ganhador de prêmio Intercom Norte de 2008 e cujo modelo buscamos seguir. Percebe-se uma escassez sobre o tema, não apenas em produtos, mas também na bibliografia da área. Entendemos assim a importância deste trabalho para a reflexão sobre o gênero radiodocumentário, além, claro, de oferecer um modelo para outros alunos de Comunicação que, como nós, possam necessitar de um parâmetro para a construção do produto. 4

Antes de iniciar o processo de entrevistas foi realizada uma visita na escola Brandão de Amorim com intuito de conhecer o espaço escolar e as pessoas inseridas nesse contexto. No primeiro contato, tivemos a oportunidade de conhecer a sala do AEE e os professores que desenvolvem o trabalho de educação inclusiva na escola. A partir das informações obtidas, as fontes escolhidas para serem entrevistadas no Brandão de Amorim foram: gestora, coordenadora de educação inclusiva, alunos com deficiência, alunos sem deficiência, professor regular, professor do atendimento especializado e pais de alunos com necessidades especiais, num total de 24 pessoas. Há também algumas pessoas que não são funcionárias do Brandão de Amorim, mas foram selecionadas como: a coordenadora da Educação Inclusiva do Estado, o coordenador pedagógico da SEDUC de Parintins, a coordenadora da sala de recursos da escola São José. Estas por considerarmos relevante conhecer quais as políticas inclusivas propostas pelos órgãos os quais representam. A partir desse primeiro contato, elaboramos questionário aberto com cinco perguntas relacionadas ao tema educação inclusiva para cada entrevistado. As visitas foram divididas por etapas. A escola Brandão de Amorim foi o primeiro local onde aplicamos os questionários com os professores, alunos e demais funcionários da escola. Depois, visitamos os pais nas residências e, por fim, entrevistamos cada coordenador no seu respectivo local de trabalho. Esse processo nos ajudou a conhecer e colher informações importantes a respeito da execução do trabalho de inclusão na rede estadual e principalmente na Escola Estadual Brandão de Amorim. Um dia após as entrevistas, retornamos ao educandário para acompanhar durante uma tarde as atividades desenvolvidas na sala de aula com o professor regular, professor intérprete e alunos. Para esse contato mais próximo optamos por assistir a aula da disciplina Física na sala do terceiro ano por ter um número maior de alunos com necessidades especiais. Na sala, observamos como a disciplina é ministrada pelo professor regular e como o professor intérprete transmite os conteúdos para os alunos. Também percebemos como é a forma de aprendizagem de cada um de acordo com suas especificidades. As sonoras obtidas foram ouvidas e transcritas em sete dias. Ambos os processos foram fundamentais para a construção do radiodocumentário, pois ouvir as entrevistas nos possibilitou traçar o caminho de edição das sonoras, o que durou duas semanas. Essa etapa também nos ajudou a elaborar um script que foi gravado e editado no laboratório da Ufam. Em seguida, uma montagem prévia do radiodocumentário com as sonoras e o texto do locutor foi realizada com objetivo de realizar os ajustes necessários antes da versão final. O 5

modelo foi ouvido várias vezes e percebemos que algumas mudanças precisavam ser feitas como a ordem de sonoras e a inserção de entrevistas de ex-alunos. As alterações foram feitas e o script reescrito. Em seguida, a gravação oficial do formato jornalístico foi concluída. Algumas informações não foram obtidas porque alguns professores se recusarem a falar sobre as dificuldades em desenvolver a prática de ensino na sala de aula com os alunos com deficiência. Talvez, o fato de a pesquisa ser ligada à produção de um formato jornalístico justifique tais atitudes, por receio de ser veiculado. A outra dificuldade foi encontrar dados de alunos com necessidades especiais formados na escola, pois apesar de desenvolver o trabalho de inclusão desde 1991, só há registros a partir de 2009. Também não foi possível aproveitar algumas sonoras de alunos com deficiência, pois a maioria deles tinha dificuldades na fala a ponto de ser difícil compreender o que estava sendo dito. Acreditamos que tais entrevistas, tanto dos professores quanto de alguns alunos, enriqueceriam ainda mais o radiodocumentário, mas entendemos que tais limitações não comprometeram o trabalho cujo principal objetivo foi apresentar aos ouvintes como é desenvolvido o trabalho de inclusão na sala de aula e os resultados desse atendimento. Na etapa de observação em sala de aula, percebemos discriminação com os alunos com deficiência por parte de outros sem deficiência. O desrespeito com uso de apelidos e brincadeiras desagradáveis são atitudes que ainda existem no âmbito escolar, mas, quando percebidas, foram repreendidas pelos professores. Outra questão são os trabalhos em grupos, a maioria dos alunos com surdez sempre realiza as atividades juntos, pois muitos alunos sem deficiência não dominam a linguagem dos sinais. Esses comportamentos procederam até o fim da aula, momento no qual nos identificamos e falamos qual era o nosso objetivo entre eles. Após isso, os alunos sem deficiência, que foram desrespeitosos, sentiram-se constrangidos pela forma como trataram os colegas. DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO De início, pensou-se em um radiodocumentário de, no máximo, 15 minutos de duração a fim de não tornar o produto cansativo. Mas, no decorrer do trabalho, percebemos que o tempo estipulado não seria suficiente para difundir informações importantes que obtivemos por meio das entrevistas. Assim, o radiodocumentário Desafios da educação inclusiva: uma experiência na Escola Estadual Brandão de Amorim foi concluído com vinte e oito minutos e dezoito segundos. 6

As sonoras foram captadas com dois gravadores do Laboratório de Rádio da marca Olympus e a edição realizada nos computadores pessoais dos autores do radiodocumentário com o software livre Audacity. A gravação final do produto foi feita no Laboratório de Rádio da Ufam e a edição em estúdio profissional. O radiodocumentário ficou com a seguinte estrutura: Primeiro bloco: o resgate histórico sobre a inclusão e as leis que contribuíram para a educação inclusiva; Segundo bloco: o início da educação inclusiva em Parintins, especificamente na escola Brandão de Amorim; Terceiro bloco: tratamos sobre as políticas educacionais da escola, formação docente e dificuldades enfrentadas pelo aluno com necessidade especial e professores na sala de aula; Quarto bloco: resultados da política de inclusão na escola a partir do relato de professores e alunos. Também nesse último bloco foram acrescentadas algumas músicas como: Tente outra vez, do cantor Raul Seixas, É preciso saber viver, do Grupo Titãs e Nada impede que eu seja feliz, da cantora Leci Brandão. Todas as músicas falam sobre superação emocional e física, o que entendemos ter relação com o tema abordado nesse produto. CONSIDERAÇÕES A educação inclusiva tem provocado mudanças nas escolas e na formação docente, propondo uma reestruturação da educação que beneficie todos os alunos, sem discriminação. Nessa perspectiva, a organização de uma escola aberta para todos prevê o acesso de alunos com necessidades especiais a classes comuns em todos os níveis de ensino. Durante a produção do radiodocumentário, percebemos que a educação inclusiva é vista pelos professores da Escola Estadual Brandão de Amorim como algo que está sendo desenvolvido paulatinamente e, para alcançar os resultados esperados são necessárias mudanças nas políticas pedagógicas. A maioria deles é a favor da inclusão, porém, o que observamos é a falta de estrutura para desenvolver metodologia de ensino que favoreça a aprendizagem do aluno, respeitando as especificidades e limites de cada um. Destacamos como positiva a experiência, pois, além de conhecer o processo de educação inclusiva, percebemos a necessidade de garantir o direito da pessoa com 7

necessidade especial à educação, reconhecendo a importância do convívio social para formação do aluno com deficiência. Ressaltamos ainda, apesar da falta de estrutura revelada pelos entrevistados, a Escola Brandão de Amorim tem tentado realmente fazer um trabalho de educação inclusiva e tem conseguido por meio do incentivo do trabalho em equipe. Trata-se de uma tarefa constante e a escola deverá sempre buscar alternativas que garantam o acesso e a permanência de todas as pessoas com deficiência, para a construção de uma sociedade inclusiva compromissada com a minoria. Foi essa reflexão sobre a educação inclusiva que buscamos com o trabalho e que acreditamos ter alcançado, não significando, entretanto que a implantação de uma política de inclusão às pessoas com necessidades especiais esteja concluída. Pelo contrário, falta muito a ser feito e esperamos que este produto contribua com esta tarefa provocando ações que levem a políticas que atendam a esses alunos. É nosso objetivo também para este trabalho que o mesmo possa conseguir espaço nas emissoras de rádio de Parintins, pois proporcionará ao ouvinte parintinense informações importantes sobre o processo de educação inclusiva na escola Brandão de Amorim e conhecer sobre os direitos da pessoa com necessidade especial em frenquentar a sala de aula regular. Esperamos também despertar os órgãos ligados à educação para a necessidade de apoiar o trabalho desenvolvido pelas escolas, oferecendo estrutura e formação docente e disponibilidade de tempo para realizar tal atividade. REFERÊNCIAS ÁVILA, Lazslo Antônio. Grupos e exclusão escolar: os nós que amarram a inclusão e os laços que a envolvem. São José do Rio Preto, São Paulo, 15 maio 2008. Disponível em: <http:// www.scielo.br/paideia>. Acesso em: 03 nov. 2011 BARBOSA FILHO, André. Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas em áudio. São Paulo, Paulinas, 2009 BENETON, Rosana. Rádio: sintonia do futuro. São Paulo: Paulinas, 2004. BRASIL. Decreto no. 3.956, de 8 de outubro de 2001. Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Disponível em: <http://www.portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/guatemala.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2012. 8

FERRARETO, Luiz Arthur. Rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Editora Sagra Luzzatto, 2001. GOFFREDO, Vera Lúcia Flor. Educação: Direito de Todos os Brasileiros: Salto para o futuro: Educação Especial: Tendências atuais/ Secretaria de Educação a Distância. Brasília, 1999. HONORA, Márcia; FRIZANCO Mary. Ciranda da inclusão: esclarecendo as deficiências. São Paulo, 2007. LANNA JÚNIOR, Mário Cléber Martins. História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2010. MEDITSCH, Eduardo. O Rádio na era da informação: teorias e técnicas no novo radiojornalismo. Florianópolis, 2007. MANTOAN, Maria Egiér; PRIETO Rosângela. Inclusão escolar: ponto e contrapontos. São Paulo: Summus, 2006. MACHADO, L. M.; LABEGALINI, A. C. F. B. A educação inclusiva na legislação de ensino. Marília: Edições M3T Tecnologia e Educação, 2007. MAZZOTTA, Marcos José Silveira. Educação especial no Brasil: História e políticaas públicas. São Paulo: Cortez, 2003. ROPOL, Edilene; MANTOAN, Maria Tereza; SANTOS, Maria Terezinha; MACHADO, Rosângela. A educação especial na perspectiva da inclusão escolar: a escola comum inclusiva. Universidade Federal do Ceará UFC. RIBEIRO, Raimunda. Entrevista concedida à Regina Franco (gravador digital). Parintins, 2012. 9