Maria França CRIANÇAS ALIENÍGENAS Crônicas
CRIANÇAS ALIENÍGENAS Crônicas Revisão: Nadir de Santana Capa e diagramação: Maria França Primeira edição 2015 São Paulo Maria França
Prefácio O conteúdo das crônicas deste livro são: o humor, a alegria, o carinho e o amor. Revelam relacionamentos humanos do seu convívio. Norteiam sua narrativa a simplicidade de passagens que deixaram fortes lembranças e sentimentos. Maria é assim, uma mulher guerreira que não percebe o quanto é grande, forte, generosa e amiga. Sinto-me gratificada por fazer parte dessas memórias e vivências, também honrada por comentar sobre as histórias que ela generosamente divide com seus amigos. Idalice Vaz
Agradecimentos Às minhas famílias: biológica e adotivas À Nadir, minha amiga querida. Outra vez personagem, incentivadora, e a revisora do texto. Enfim, aos amigos que viveram comigo as histórias contadas aqui.
SUMÁRIO Que coisa!...11 Crianças Alienígenas...15 O padre sem cabeça...21 O choro:de hoje e de ontem...25 O calendário da amizade...33 A castanha...37 Merci Beaucoup...41 O Viaduto Três Vinténs...45 Dona Santa...49 Golpe telefônico...53 Entalados...59 O tubarão...63 O relógio...67 Manuel...73 LIBRAS...77
Famosos, mas anônimos...81 Faz-me rir...85 Conversa de mesa...89 A missa...93 Desculpas paulistanas...97 Yes, temos códigos!...99 Hora do almoço...103 O que é que é isse?...109 Hallo!...113 Os alfabetizadores...117 Gotas de incompreensão (felicidade)...121 Gotas de incompreensão (educação)...123 Gotas de incompreensão (celebridades)..125 Gotas de incompreensão (domésticas)...127 Gostas de incompreensão (recusas)...129
Que coisa! Coisa - é palavra usada prá tudo, segundo uma reportagem da revista Língua que li há um tempo. Lá, os linguistas analisavam sua etmologia. Aqui, nós mesmos podemos constatar essa veracidade. - A Coisa. Nome de filme de terror. Como não gosto de filme de terror, então nem posso falar dessa: - A Coisa. Você que tem criança, já deve ter falado hoje prá ela: - Deixa essa coisa no lugar! A gente percebe também que é uma palavra muito antiga. Quando criança era o que mais ouvia de minha mãe: - Não mexe nessa coisa menina! 11
Aposto que a mãe dela, a minha avó, falava palavra prá ela também: - Não mexe nessa coisa menina! Que menina mais mexilhona! A gente pensa na antiguidade da coisa, quando pensa que a bisavó falava para a avó, a avó falava prá filha... por aí vai. Acho que puxei prá minha mãe. Sempre fui uma menina mexilhona. Gostava mesmo era de mexer nas coisas da oficina do papai. Ele tinha tanta coisa interessante que dava gosto de ficar ali. Às vezes estava tão distraída com aquela enxadinha que quando ele perguntava: - O que está fazendo com isso? - Tô coisando o capim, respondia imediatamente. Ele me tomava a enxó. Enxó era o nome daquela coisa, usada para desbastar madeira. É uma ferramenta muito bonita, ainda acho. Bonita também é a versatilidade da palavra coisa. Virou verbo, quando disse: - Tô coisando! Mas isso já é coisa para os caras lá do começo: 12
- Os linguistas. Não sei coisar como eles. Essa coisinha que escrevi era só para constatar a antiguidade da palavra coisa, o seu uso como substituta, quando esquecemos a verdadeira. Uma palavra que tem mil e uma utilidades. Parece até aquela coisa que usamos prá lavar louça...o...o...o tal do Bombril. Responda-me você: - Coisei? Quer dizer... - Consegui? 13
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Crianças alienígenas No dia primeiro de ano, numa praia do litoral paulista, descobrimos que Stephen King o autor americano tinha muito a ver com urubus. A gente tinha acabado de conhecê-los e conversávamos como velhos amigos. Ele, leitor fanático de Stephen King, o autor americano de vários best sellers. Nós, o que conhecíamos era Under the Dome, a série que estava passando em canal aberto baseada na obra dele. A curiosidade bateu para saber o que era o tal do Domus: - Posso contar mesmo? - Pode. Não tem problema, respondemos nós. - É só uma brincadeira de criança, disse ele. - Como assim, brincadeira de criança? 15