4 Brasil Econômico Quinta-feira, 10 de março, 2011 DESTAQUE MEIO AMBIENTE São Paulo avança no controle de madeira ilegal HÁ DOIS ANOS, SÃO PAULO TINHA APENAS UMA ESPECIALISTA Fiscalização ganha reforço da tecnologia e das ONGs para coibir desmatamento, mas medidas ainda são insuficientes Martha San Juan França mfranca@brasileconomico.com.br Calcula-se que o estado de São Paulo é o maior consumidor de madeira nativa do mundo, recebendo 5,6 milhões de metros cúbicos, ou 20% do que sai da floresta. Entre 43% e 80% dessa produção temorigemilegal Embora ainda sejam insuficientes, as blitze nas estradas e os cursos de capacitação dos policiais que fazem a apreensão e a fiscalização nos depósitosquecompramamadeira com documentação irregular estãotornandomaisdifícila vida dos destruidores da floresta amazônica no seu principal destino: São Paulo. Calcula-se que o estado é o maior consumidor de madeira nativa do mundo, recebendo 5,6 milhões de metros cúbicos ou 20% do que sai da floresta. Entre 43% e 80% dessa produção tem origem ilegal. Diante da dificuldade de fiscalizar as serrarias na floresta, o esforço volta-se para os consumidores. O ponto de partida é bastante óbvio se existe oferta de madeira ilegal é porque há quem compre. Em São Paulo, estado mais adiantado no tema, o governo treinouemdoisanoscercade 250 policiais da Polícia Militar Ambiental, ou 10% do seu efetivo, para recolher amostras de toras e tábuas que circulam pelas rodovias. O percentual mostra que ainda há muito a ser feito em território paulista e nacional. Os dados colhidos durante as inspeções são transmitidos ao Instituto Florestal, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, que faz a comparação com o Documento de Origem Florestal (DOF) (leia mais no box ao lado). Uma das dificuldades dos policiais era identificar os tipos de madeira transportados muitas vezes a autorização fornecida pelos vendedores não podia ser comprovada por desconhecimento das espécies transportadas. Agora, notebooks acoplados a microscópios digitais são usados nas operações. Via internet, imagens ampliadas das toras chegam para análise no Instituto Florestal. O estado tem hoje oito desses aparelhos doados pela organização ambientalista WWF-Brasil. Até o fim do ano, teremos 20% dos policiais treinados e a meta é chegar a 50%, diz Carlos Eduardo Beduschi, diretor do Centro de Programas de Uso Sustentável e gerente do programa São Paulo Amigo da Amazônia, uma parceria com o Greenpeace, que prevê a fiscalizaçãoeocompromissodo público de usar apenas madeira legal em suas obras e compras. Há também projeto para licitação de mais 30 microscópios. O cerco contra os madeireiros ilegais não para por aí. A organização ambientalista WWF-Brasileogovernodoestadoestudam a possibilidade de fazer o rastreamento dos caminhões transportadores via satélite, demarcando cada ponto de parada. A ideia é que, no futuro, todos deverão portar um equipamento que permita acompanhar o seu trajeto e comparar com o que está escrito na documentação. Dessa forma, a Polícia Ambiental terá condições de rastrear a movimentação da madeira desdeaorigemnaserrariaatéaentrega ao consumidor. Outras iniciativas Contorna-se assim o maior gargalo da fiscalização, diz Estevão Braga, engenheiro florestal responsável pela Rede Global de Floresta e Comércio (GFTN, na sigla em inglês), uma parceria internacional de ONGs, liderada pelo WWF, destinada a implementar melhores práticas e atuação responsável nas áreas de manejo e comércio florestal. Ele explica que normalmente a ilegalidade ocorre no início do processo, quando um caminhão com autorização para transportar toras de uma área pública ou privada, acrescenta em sua carroceria madeira vinda de outras fontes. Um projeto piloto do sistema de rastreamento está sendo aplicado com a participação voluntária de algumas empresas do Acre, interessadas em eliminar a competição com a madeira ilegal. Depois da aprovação do sistema, uma portaria do Estado fará com que a instalação dos equipamentos seja obrigatória, afirma Braga. O sistema, no entanto, não prescinde da fiscalização. Colaborou Fabiana Parajara
Quinta-feira, 10 de março, 2011 Brasil Econômico 5 LEIA MAIS Programas visam estimular uso de madeira da Amazônia na construção civil. Maior problema é a falta de conhecimento das empresas para evitar a compra ilegal. Universidades e cursos técnicos não ensinam a utiizar variedade de espécies. Maior parte é destruída por madeireiros atrás de produto de maior aceitação no mercado. Governo federal começa a usar florestas públicas para plano de manejo em sistema de concessão. Primeira experiência começa a funcionar em Jamari, Rondônia. EM IDENTIFICAÇÃO DE MADEIRAS Murillo Constantino Atualmente, a Polícia Ambiental paulista pode saber, quase em tempo real, se a espécie de madeira objeto de fiscalização nas rodovias pode ou não ser comercializada. Há dois anos, isso era quase impossível. Havia apenas uma pessoa capaz de fazer essa identificação emtodooestado, a pesquisadora Sandra Florsheim, do Laboratório de Anatomia, Identificação e Qualidade de Madeiras do Instituto Florestal. Ela treinou outros oito técnicos para o trabalho, porém o número ainda era insuficiente para cobrir todas as blitze do estado. Sandra conta que a variedade de espécies da Amazônia é muito grande e seria preciso a formação de dezenas de técnicos para a fiscalização. Foi quando criamos o sistema de identificação via análise dos planos anatômicos da madeira, afirma. A polícia não identifica as amostras, mas aprendeu como mandar as imagens que são avaliadas no laboratório. O programa fez tanto sucesso que Sandra foi convidada para ministrar cursos em outros estados, inclusive da Amazônia e até mesmo nos Estados Unidos para compradores de madeira nativa. Ela diz que isso ainda não é suficiente. Seu plano é criar um programa padrão de identificação digital para as espécies mais conhecidas, o que agilizaria o serviço, e um manual técnico a ser distribuído para a Polícia Ambiental. E, claro, formar mais especialistas na identificação da madeira. M.F. ONGs e FGV se unem contra desmatamento Rede Amigos da Amazônia envolve 25 entidades públicas e privadas na legalização O aumento da fiscalização da madeira no estado de São Paulo é uma das faces da Rede Amigos da Amazônia, programa que incentiva o consumo de madeira de origem não predatória criado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas. A Rede nasceu de uma iniciativa do Greenpeace, que criou os projetos Cidade Amiga da Amazônia e Estado Amigo da Amazônia, e que tem hoje a participação de 41 municípios e dos estados de São Paulo, Bahia, Acre e Minas Gerais. Em São Paulo, onde o programa está mais adiantado, foi criado o Cadmadeira, cadastro voluntário de madeireiras que comercializam legalmente material de origem nativa. Ao acessar o site, qualquer pessoa pode identificar as empresas que exigem controle de origem do produto que revendem, diz Carlos Eduardo Beduschi, gerente do programa São Paulo Amigo da Amazônia. O próprio governo, ao consumir madeira nativa, consulta se a empresa está legalizada no CadMadeira. Certificação Hoje, 225 empresas fazem parte do cadastro, número bastante reduzido. Calcula-se que existam pelo menos 6 mil operando noestado.masonúmerodeve crescer à medida que mais consumidores exigirem a participação no sistema. Até agora, 25 entidades entre empresas privadas, ONGs, representantes de órgãos públicos e de entidades de representação da indústria fazem parte do programa. Além disso, 355 cidades paulistas criaram legislação que determinam o uso de madeira legal e 337 usam apenas fornecedores listados no Cadmadeira. Depois de estar com o cadastro válido no Cadmadeira, as empresas podem obter o selo Madeira Legal, que certifica a origem do MADEIREIRAS PAULISTAS 6mil é o número estimado de empresas que comercializam madeira nativa em São Paulo. Apenas 225 fazem parte do cadastro que comprova a legalidade da operação. Apenas 34 empresas conseguiram a certificação ou pré-selo Madeira Legal, atestando a origem dos produtos produto. A obtenção do selo está condicionada a uma fiscalização da Polícia Ambiental e da Secretaria do Meio Ambiente para comprovar se a madeira estocada no pátio da companhia corresponde ao material declarado em seus documentos de compra e venda. É um processo que está começando e, por enquanto, o esforço é no sentido de educar as empresas para que participem do programa. Ele exige que as madeireiras organizem o pátio por espécie, tipo de madeira e tamanho, o que não fazia parte até agora da cultura corporativa. Além, é claro, de discriminar todas as compras e vendas em notas fiscais expedidas para que esteja compatível com o volume de madeira em estoque. Apenas 34 empresas conseguiram a certificação ou o préselo, atestando que estão em processo de obtenção. Mas a proposta da Secretaria do Meio Ambiente é ajudá-las a conseguir a sua capacitação. O selo é um incentivo para que as empresas se regularizem, afirma Malu Villela, coordenadora da Rede Amigos da Amazônia. É uma iniciativa que aredeapoiaetemtotalparticipação nossa. M.F. e F.P. EXEMPLO 337 cidades paulistas usam o mesmo critério do governo do estado para a compra direta ou indireta de madeira, em que apenas as empresas do Cadmadeira podem ser fornecedoras.
6 Brasil Econômico Quinta-feira, 10 de março, 2011 DESTAQUE MEIO AMBIENTE Rede estimula uso de madeira nativa Programas visam ampliar o consumo de árvore da Amazônia na construção civil, desde que proveniente de plano de manejo Martha San Juan França mfranca@brasileconomico.com.br Notícias sobre desmatamento da Amazôniaeaimpunidadedas madeireiras ilegais que destroem a floresta costumam assustar os consumidores que buscam utilizar madeira de reflorestamento ou mesmo outros materiais, como plástico e vidro. Nãoéessaafilosofiadeempresas e entidades do setor. Não adianta impedir ou mesmo proibir a retirada de árvores da Amazônia, afirma Malu Vilella, coordenadoradaredeamigos da Amazônia. A madeira é a única matéria-prima da construção civil que armazena carbono queéoobjetivo de todos os que defendem a transição para uma economia de baixo impacto e de conservação da biodiversidade. A Rede aposta no incentivo ao consumo de madeira desde que seja de origem legal, de preferência certificada. Para isso, o primeiro passo tem sido qualificar o consumidor. Foi esta a proposta do programa Madeira é Legal, uma parceria entre o governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura de São Paulo, além do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Grandes Estruturas do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), dos Produtores Florestais Certificados da Amazônia (PFCA) e de outras organizações da sociedade civil e de setor privado. Desconhecimento O programa já trouxe algumas constatações surpreendentes. Uma delas, segundo Lílian Sarrouf, coordenadora técnica do Comitê de Meio Ambiente do SindusCon-SP, é que o setor da construção civil, o maior consumidor, ignora o que fazer para evitar a compra de madeira ilegal. Uma de nossas primeiras iniciativas foi fazer um programa de capacitação técnica destinado a desenvolver mecanismos de controle, como a exigência de apresentação do Documento de Origem Florestal (DOF) e o incentivo ao uso da madeira certificada nos departamentos de compra do setor público e privado, explicou. O projeto também envolve a capacitação dos compradores para que consigam identificar a origem da madeira disponível, além de realizar pesquisas e desenvolver produtos de espécies mais adequadas à construção civil. Para isso, lançou duas Iniciativa paulista capacitou sete construtoras de médio e grande porte para utilizar apenas madeira legal; novos cursos devem ser dirigidos a revendedores de madeira e escritórios de arquitetura publicações o Manual Madeira de Uso Sustentável na Construção Civil e o Guia Seja Legal, de boas práticas para manter a madeira ilegal fora dos negócios, destinado a empresários, consumidores e formuladores de políticas públicas. O Programa Aquisição Responsável de Madeira na Construção Civil, do qual participaram sete construtoras, permitiu a aquisição de 15 mil metros cúbicos com preocupação sobre sua origem, o equivalente a 700 caminhões de madeira. Novos cursos estão em discussão destinados à capacitação das revendedoras de madeira e para escritórios de arquitetura. Outra constatação interessante, segundo Lilian Sarrouf, é que as construtoras de médio e grande porte preferem utilizar madeira de reflorestamento para formas e usos temporários, enquanto o consumo de madeira nativa é maior entre os pequenos consumidores. Boa parte do consumo está nas mãos dos construtores e arquitetos que fazem casas de praia porexemplo,comtorasdemadeira. É importante que esses profissionais sejam esclarecidos sobre a utilização correta do produto e as possibilidades alternativas às espécies mais visadas e mais ameaçadas. Malu Villela, da Rede Amigos da Amazônia: incentivo ao uso da madeira nativa, desde que seja proveniente de manejo sustentável Construção civil ainda aproveita pouco os recursos das diferentes espécies de madeira
Quinta-feira, 10 de março, 2011 Brasil Econômico 7 Marcela Beltrão AÇÕES DO PODER PÚBLICO 1. Rede prioriza movimento de legalidade em compras públicas A Rede Amigos da Amazônia propõe que o governo dê o exemplo, criando um movimento de legalidade e responsabilidade em toda a cadeia produtiva da madeira. O objetivo é fomentar uma nova tendência de consumo exigindo dos prestadores de serviço que apresentem provas de utilização legal da madeira. 2. CEF exige madeira legal para financiamento de obras A Caixa Econômica Federal incorporou a exigência de uso de madeira legal em novos contratos de financiamento dos empreendimentos habitacionai, especialmente do Minha Casa, Minha Vida. Entre os documentos, é obrigatória a apresentação do DOF, comprovando volume e destinação do produto na obra. 3. Lei paulista exige reposição de árvores pelas empresas A lei estadual 10.780 de 2001, que determina às empresas que plantem um número de árvores equivalente ao retirado para suas atividades comerciais é outro grande incentivo ao reflorestamento em São Paulo. Em 2009, foram repostas 3,4 milhões de árvores. No ano passado, foram 4,8 milhões. Falta de especialistas em espécies tropicais dificulta uso sustentado Universidades e cursos técnicos favorecem outros materiais; espécies provenientes da Amazônia são pouco aproveitadas Tanto as empresas de construção civil como as entidades do setor consideram fundamental a formaçãodepessoaltécnicoespecializado capaz de identificar as espécies de madeira e estabelecer quais as diferenças entre o uso de um tipo ou de outro. A formação ainda é falha, tanto no nível superior como no médio, afirma Estevão Braga, da WWF-Brasil. A falta de capacitação, segundo ele, se aplica tanto na área de manejo na Amazônia como na profissionalização no Sudeste. Precisamos de mais mão de obra nesse setor, diz. O problema começa nas universidades que não ensinam os profissionais em formação a usar madeira, favorecendo o aço, o plástico e o vidro. Perdeu-se o hábito de ver esse produto como um recurso interessante na construção. Acrescente-se a isso que existemcentenasdeespéciesde madeiranaamazônia,amaioria desperdiçada no corte por falta de informação sobre o seu uso. Só agora, entidades como a International Wood Products Association (IWPA), ligada aos compradores de outros países, apostam na ampliação das espécies de madeira tropical a serem utilizadas. Começam a fazer testes para verificar a resistência, os predadores biológicos, a cor e a viabilidade das espécies menos Compradores internacionais começam a testar possíveis aplicações de árvores que até agora eram desperdiçadas no corte conhecidas para estabelecer suas possíveis aplicações. O mercado vai ter que se adaptar, uma vez que o volume exigido não comporta o uso de poucas espécies em extinção, afirma Braga, da WWF. As principais aplicações são para estrutura de telhados de casas (42%), andaimes e formas para concreto (28%), móveis (15%), além de forros, pisos e esquadrias (11%). Segundo Braga, é importante divulgar informações na mídia e nas redes sociais sobre uso de madeira nativa para que o consumidor final também se sinta engajado. Entre as sugestões do Programa Madeira é Legal está a ideia de criar uma espécie de selo da madeira que declare pormeiodeumaetiquetaas características técnicas e as indicações para sua aplicação. Esta etiqueta seria desenvolvida para as diversas espécies de madeiras nativas disponíveis no mercado. O selo, semelhante ao do Programa Procel da Eletrobrás, permitiria ao consumidor, na hora de adquirir um produto, escolher tendo como base informações do tipo uso recomendado (pisos, janelas etc), resistência e durabilidade (importante para elaboração dos projetos e especificações dos produtos). M.F.
8 Brasil Econômico Quinta-feira, 10 de março, 2011 DESTAQUE MEIO AMBIENTE Manejo sustentável é solução do governo para conter destruição País deve encerrar o ano com 1 milhão de hectares de florestas públicas sob concessão. Primeiras áreas licitadas começam a produzir, mas ainda são insuficientes para reduzir a ilegalidade Fabiana Parajara fparajara@brasileconomico.com.br Até o fim deste ano, o Brasil deve ter um milhão de hectares de florestas públicas sob concessão de empresas privadas que se comprometem a fazer o manejo sustentável da madeira dessas reservas. Mas, para atender a demanda nacional por madeira que é estimada entre 15 milhões e 20 milhões de metros cúbicos pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB), seriam necessários entre 25 milhões e 30 milhões de hectares de floresta com manejo sustentável. Esse é um número que só deve ser alcançado em 2020, diz Antônio Carlos Hummel, diretor-geral do SFB. Na semana passada foi realizada a primeira venda de 6 mil metros cúbicos de madeira serrada proveniente de manejo sustentável na floresta de Jamari, em Rondônia, em uma área de quase 100 mil hectares que pertence à União. É um volume ainda pequeno, mas um marco simbólico importante, afirma Roberto Waack, presidente da Amata, uma das três empresas (as outras são a Madeflona e a Sakura) que venceu a licitação do SFB em 2008 para testar a exploração sustentável da floresta em regime de concessão. Apenas a Amata investiu R$ 5 milhões no projeto. A empresa recebeu o primeiro aporte no setor de florestas nativas da história do BNDES, que inaugurou assim uma nova frente de investimentos no mercado de capitais, além de investimentos dos fundos de private equity Brasil Agronegócios (gerido pela BRZ Investimentos), Brasil Sustentabilidade (cogerido pela BRZ e Latour Capital) e o alemão Áquila. Avanços na fiscalização Foramtrêsanosdeesperaaté que a concessão de Jamari recebesse a autorização do Ibama para começar a funcionar, mas Waack não se queixa. É normal, pois se trata de um processo novo, a consolidação de uma A empresa Amata esperou três anos pela autorização do Ibama para explorar a floresta de Jamari. Primeiro lote de madeira do local foi vendido na semana passada nova instituição e de uma nova lei no país, diz. Além do mais, argumenta, no setor florestal tradicional, a demora de anos para ter lucro é comum. O pinus demora vinte anos para crescer, afirma. Na floresta europeia, o investimento demora 80 anos.oquenãoénormaléosetor madeireiro brasileiro que tira tudo no primeiro ano. Mesmo tratando-se de um negócio novo e arriscado, Waack acredita que a produção de madeira legal acabará suplantando a ilegal. A questão é sobretudo institucional, afirma. Se conseguirmos que a única fonte de madeira seja legal e proveniente de manejo, não haverá concorrência com o desmatamento. Haverá então um ajuste de preço e custos. Ele acredita que a madeira é um produto caro e custoso e assim deve ser tratado. À medida que a legalização se impuser, aumentaráataxaderetornoeo lucro do empreendimento, diz. Isso já está ocorrendo em relação a muitos empreendimentos. Hoje, é impensável a realização de uma Olimpíada com obras que utilizem madeira ilegal. Segundo Hummel, do SFB, os próximos contratos devem ser agilizados. Dois deles, para exploração nos mesmos moldes de Jamari, estão sendo oferecidos para a floresta de Saracá-Taquera, no Pará. Temos ainda projetos para licitação de mais 210 mil hectares da Floresta do Amana e outros 600 mil hectaresemcrepori,altamiraejacundá, diz Hummel, sobre áreas também paraenses. Oprimeirolevantamentosobre o retorno deste tipo de projeto deve ser divulgado no mês que vem, quando serão fechadas as contas de extração e comercialização das toras retiradas de Jamari. O diretor do SFB explica que a fiscalização de áreas sob concessão ou mesmo externas foi intensificada nos últimos anos, o que ajuda a coibir a retirada ilegal de madeira. Colaborou Martha San Juan França Toras retiradas por manejo sustentável da Floresta de Jamari, em Rondônia Jefferson Rudy/divulgação
Quinta-feira, 10 de março, 2011 Brasil Econômico 9 MERCADO POTENCIAL Entre 15 milhões e 20 milhões de metros cúbicos de madeira é a demanda interna atual do Brasil, segundo estimativa do Serviço Florestal Brasileiro. Para supri-la, seriam necessários pelos menos 25 milhões de hectares de floresta sob manejo sustentável, número que só deve ser alcançado em 2020. 1 milhão de hectares de floresta nativa devem estar sob concessão da iniciativa privada até o fim deste ano. Estão em processo de licitação áreas em Saracá-Taquera (PA) e há projetos para licitação de mais 210 mil hectares da Floresta do Amana e de 600 mil hectares em Crepori, Altamira e Jacundá, também no Pará. 6 mil metros cúbicos de madeira serrada fizeram parte do primeiro lote proveniente de manejo sustentável na floresta de Jamari, em Rondônia. A venda ocorreu na semana passada, após a Amata, empresa responsável pela área, investir R$ 5 milhões no projeto. Pressão externa contribui para coibir desmatamento Brasil, Camarões, Gana, Indonésia e Malásia, países que detêm as maiores florestas tropicais do planeta, pouco a pouco avançam no combate ao comércio ilegal de madeira. Estudo da Chatham House, câmara inglesa de assuntos internacionais, divulgado no ano passado, mostra queda média de 22% da ilegalidade. No Brasil e na Indonésia, a redução foi mais expressiva, de até 75%. Durante o período avaliado, de 2000 a 2009, 17milhõesdehectaresdeixaramde ser desmatados. Os resultados são decorrentes da comparação entre a quantidade de madeira legalizada extraída e o consumo interno e externo. A diferença entre os números indica a exploração ilegal. No caso do Brasil, o estudo afirma que a impunidade ainda é alta, o que dificulta uma redução mais acentuada do desmatamento. Para os pesquisadores, Sam Lawson e Larry McFault, responsáveis pelo levantamento, para que o declínio continue, outros países, como Japão e China, devem adotar políticas rígidas de importação e uso de madeira, a exemplo dosestadosunidosedaunião Europeia. Esse tipo de medida incentiva os países produtores a coibir a extração ilegal.