CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA MONOGRAFIA CLASSES DE EQUIVALÊNCIA SOCIALMENTE CONTAMINADAS E ESTEREÓTIPOS SOBRE PESO CORPORAL E ATRATIVIDADE GISELE STRAATMANN ORIENTADOR: PROF. DR. JÚLIO CÉSAR COELHO DE ROSE SÃO CARLOS DEZEMBRO/ 2004
Se as coisas são inatingíveis...ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes seriam os caminhos, se não fora A mágica presença das estrelas! (Mário Quintana) Aos meus pais, Gilberto e Dinalva, que nunca pouparam esforços para que eu chegasse até aqui. Ao meu irmão Jeferson, pela amizade e amor. Aos meus amigos e namorado, companheiros sempre presentes... Ao meu querido professor Júlio, pela paciência, dedicação e conhecimento compartilhado. Pelas muitas lições de solidariedade: o meu maior respeito, o meu melhor afeto. 1
ÍNDICE RESUMO... 03 INTRODUÇÃO... 04 MÉTODO... 09 PROCEDIMENTO... 10 RESULTADOS... 15 DISCUSSÃO... 18 REFERÊNCIAS... 20 ANEXO 1... 23 2
Pode-se afirmar que estímulos são equivalentes quando se tornam intercambiáveis, substituíveis uns pelos outros no controle do comportamento, ou seja, quando as funções adquiridas por um estímulo, no controle de um comportamento operante, são transferidas para outro estímulo. Alguns símbolos já são conhecidos pela sociedade, isso é, são estímulos socialmente contaminados pois supostamente adquiriram importantes funções sociais e emocionais através das contingências que operaram numa comunidade verbal específica. Atualmente há uma atenção direcionada a questão do peso em nossa sociedade, sendo que a maior parte dela é voltada para as mulheres. O peso desempenha um papel crucial na avaliação sobre elas. As mulheres são consideradas mais atrativas se são magras e aquelas com sobrepeso são estereotipadas como preguiçosas e não atraentes. Baseando-se nesses dados, o presente experimento tentou verificar qual é a força do estereótipo sobre peso corporal relacionado à atratividade física em universitários do sexo masculino. No primeiro grupo experimental, os sujeitos foram treinados a selecionar na presença de uma fotografia de uma mulher magra, dois estímulos arbitrários e conseqüentemente, a selecionar o atributo ATRAENTE. Ao mesmo tempo, eles foram treinados também a escolher na presença de uma fotografia de uma mulher com sobrepeso, dois estímulos arbitrários e conseqüentemente, a selecionar o atributo NÃO ATRAENTE. Já um segundo grupo experimental, teve que relacionar a fotografia de uma mulher magra com a palavra NÃO ATRAENTE e a outra fotografia com ATRAENTE. Os sujeitos foram testados para determinar se as classes experimentais treinadas iriam ser relacionadas através de simetria e transitividade. Palavras-chave: classes de equivalência, estímulo socialmente contaminado, atratividade física, estereótipo social. 3
Arranjos experimentais que geram discriminação ou controle de estímulos condicional, como, por exemplo, o procedimento de pareamento com o modelo (matching to sample), têm freqüentemente sido utilizadas para o estudo do comportamento complexo, cuja ocorrência depende da discriminação de relações entre os eventos ambientais (Cumming & Berryman, 1965; Mackay, 1991; Sidman, 1994). Dependendo das contingências de reforço estabelecidas, três tipos de procedimentos de pareamento podem ser estudados: identidade, não-identidade e arbitrário ou simbólico. No procedimento de pareamento por identidade (identity matching to sample), uma resposta de escolha ao estímulo de comparação idêntico ao modelo produz um estímulo reforçador. No procedimento de pareamento por não-identidade, ou por singularidade (oddity from sample), a seleção do estímulo de comparação fisicamente diferente do modelo é reforçada. No pareamento arbitrário com o modelo (arbitrary matching to sample), a resposta correta é definida pelo experimentador (Garotti, 2001). O controle de estímulos condicional, ou relacional, é produzido quando contingências de reforço com três termos (E D R E R ) passam a ficar sob controle de um outro estímulo, o condicional ou contextual (E C ), ampliando as contingências para quatro termos (E C E D R E R ). Assim, em uma discriminação condicional entre estímulos dos grupos A e B (relação AB), o indivíduo aprende a selecionar B1 (E D ), e não B2 (E ), na presença de A1, e, a selecionar B2 (E D ), e não B1 (E ), na presença de A2 (Garotti, 2001). A relação entre modelo e respectivo estímulo de comparação correto é, portanto, convencional. Por este motivo, este arranjo experimental vem sendo muito utilizado para investigar as relações simbólicas entre estímulos. Os analistas comportamentais têm aceito, atualmente, que relações convencionais entre estímulos são simbólicos quando elas têm as propriedades de simetria e transitividade. Portanto, essa concepção 4
assume que relações simbólicas são relações de equivalência entre estímulos (de Rose, 2000). De acordo com Sidman (Sidman, 1994; Sidman & col., 1982; Sidman & Tailby, 1982), uma classe de equivalência se desenvolve somente quando os estímulos envolvidos tornam-se funcionalmente substituíveis e as relações entre eles apresentam as propriedades de reflexividade, simetria e transitividade. A transferência de funções psicologicamente relevantes de um estímulo para outro pode ocorrer em algumas situações pela retidão de membros compartilhados em uma classe de equivalência. Isso é dizer que, quando um membro de uma classe de equivalência adquire uma função específica de estímulo através de um treino direto, outros membros da classe adquirem a mesma função sem treino direto (Egli, Ioseph e Thompson,1997). Atualmente, a transferência de função com classe de equivalência tem sido demonstrada por respostas condicionais clássicas (Dougher, et al., 1994), funções discriminativas simples de estímulos (Barnes & Keenan, 1993; Hayes, Devaney, Kohlenberg, Brownstein, & Shelby, 1987), funções discriminativas condicionais (Kohlenberg, Hayes, & Hayes, 1991), inter-relações quantitativas, propriedades de reforçamento e punição. Além desses estudos, alguns pesquisadores desenvolveram estudos de equivalência de estímulos usando no procedimento de emparelhamento de amostras, símbolos conhecidos anteriormente pelos participantes, o que foi denominado de estímulo contaminado. Isso é, usaram o termo estímulo socialmente contaminado para descrever os estímulos que se supõe ter adquirido importantes funções social e emocional através das contingências que operaram numa comunidade verbal específica. 5
Quando esses estímulos com atributos pré-experimentais fornecem terreno adicional para categorização, a formação de classes de equivalência pode ser emparelhada se itens de categorias dicotômicas são arbitrariamente relacionadas um ao outro em um contexto de matching to sample. Por exemplo, no estudo de Watt et al. (1991), os participantes foram treinados a relacionar três nomes Católicos a três sílabas sem sentido e, em seguida, relacioná-las a três símbolos Protestantes. Foi usado um procedimento padrão de equivalência de estímulos. Durante a fase de teste um novo nome Protestante foi introduzido como um dos três estímulos de comparação. Os grupos de participantes no estudo foram organizados de acordo com afiliação religiosa e de nacionalidade. Em seguida, três novos nomes (Católicos, Protestantes e neutros) foram usados para um teste de generalização. Quando nomes Católicos e símbolos Protestantes foram empregados no procedimento de equivalência, ocorreu falha no desempenho dos participantes da Irlanda do Norte para emergir as relações de equivalência esperadas, em acordo com o procedimento. Embora o procedimento experimental previsse a formação de relações de equivalência ligando nomes Católicos a símbolos Protestantes, muitos participantes da Irlanda do Norte escolhiam nomes Protestantes não treinados na presença desses símbolos. O efeito não foi observado em sujeitos ingleses, em que os nomes e os símbolos presumivelmente não tinham uma relação de categorias conflitantes com as classes experimentais treinadas. Baseado nesse estudo, o presente experimento tentou verificar qual é a força do estereótipo sobre peso corporal relacionado à atratividade física em universitários do sexo masculino. No primeiro grupo experimental, os sujeitos foram treinados a selecionar na presença de uma fotografia de uma mulher magra, dois estímulos arbitrários e conseqüentemente, a selecionar o atributo ATRAENTE. Ao mesmo tempo, eles foram treinados também a escolher na presença de uma fotografia de uma 6
mulher com sobrepeso, dois estímulos arbitrários e conseqüentemente, a selecionar o atributo NÃO ATRAENTE. Já um segundo grupo experimental, teve que relacionar a fotografia de uma mulher magra com a palavra NÃO ATRAENTE e a outra fotografia com ATRAENTE. Os sujeitos foram testados para determinar se as classes experimentais treinadas vão ser relacionadas através de simetria e transitividade. Segundo Andersen (1999) os julgamentos interpessoais são freqüentemente influenciados por estereótipos. Esses, independentemente de estarem certos ou errados, fazem parte de um processo humano inevitável, constituindo-se numa espécie de atalho para avaliar as pessoas quando ainda não se dispõe de muitas informações sobre elas. Dion, Berscheid e Walster (1972) cunharam a expressão quem é bonito é bom para designar a tendência a atribuir diversas características positivas como inteligência, sociabilidade e sucesso ocupacional a pessoas consideradas atraentes, em detrimento daquelas apreciadas como pouco atraentes. A existência desse estereótipo associando a beleza a valores pessoais sugere que pessoas percebidas como atraentes podem desenvolver qualidades desejáveis em resposta às expectativas dos outros (Lee- Manoel et al, 2002). As pesquisas apontam que na hora da avaliação da atratividade física de mulheres pelos homens, o tamanho do corpo passa a ser um importante componente enquanto que as mulheres não são influenciadas pelo tamanho do corpo quando avaliam homens (Martins et al, 2004; Kniffin & Wilson, 2004). Em teoria, os homens se focam em atributos físicos da mulher que indicam um potencial para reprodução, especificamente para a habilidade de conceber e carregar crianças saudáveis. Esses atributos incluem idade, tamanho corporal simetria entre outros (Geary, Vigil & Byrd- Craven, 2004). 7
Como os estudos acima mostraram, muita atenção é direcionada a questão do peso em nossa sociedade, sendo que a maior parte dela é voltada para as mulheres. O peso desempenha um papel crucial na avaliação sobre elas. As mulheres são consideradas mais atrativas, tidas como melhores companheiras, e avaliadas mais positivamente no geral, se são magras (Harris & Smith, 1983). E, segundo Larkin e Pines (1979), pessoas com sobrepeso são estereotipadas como preguiçosas, famintas e egoístas, características que vão contra elas em contextos de trabalho. 8
MÉTODO Sujeitos Participaram da pesquisa dezessete sujeitos universitários do sexo masculino, dividos aleatoriamente em dois grupos experimentais (8 participantes no grupo experimental 1 e 9 no grupo experimental 2), recrutados através de anúncios no campus e de contato pessoal. Não foram aceitos estudantes do curso de Psicologia devido à possibilidade de viés na pesquisa. Como forma de incentivo para a participação nas sessões, metade dos sujeitos receberam quinze reais e a outra metade doze reais. Local, material e equipamentos O treino a que foram submetidos os participantes dos grupos experimentais foi realizado no Laboratório de Estudos do Comportamento Humano (LECH), do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos. Para este treino foi necessário o auxílio de computadores Macintosh com tela sensível ao toque, e com software MTS v 10.32, desenvolvido por William V. Dube do Shriver Center of Mental Retardation (EUA). Avaliação de Atratividade das Fotografias de Mulheres Magras e com Sobrepeso Através de computadores Macintosh foi realizada uma avaliação de 20 fotografias de mulheres (ANEXO 1), sendo 10 magras e 10 com sobrepeso. Essas fotos foram retiradas do site: www.gettyimages.com/. O objetivo foi obter duas fotos de mulheres atraentes que diferiam apenas em relação ao peso para serem usadas no treino da pesquisa. Para isso, foi solicitado a oito juízes que escolhessem a foto mais atraente entre duas apresentadas na tela. A avaliação consistiu de 190 apresentações, onde as fotografias permutaram entre si de forma balanceada. 9
PROCEDIMENTO GRUPO EXPERIMENTAL 1: A seqüência de treinos e testes variou ao longo das etapas do procedimento, em função do repertório a ser estabelecido ou sondado em cada etapa como mostra a Figura 1. 1. Pré-treino (ensino da tarefa de emparelhamento com o modelo) 2. Treino de discriminações condicionais AB 3. Treino de discriminações condicionais AC 4. Treino de discriminações condicionais BD 5. Treino de discriminações condicionais AB AC BD (linha de base integral) 6. Teste de equivalência (CD, DC) Figura 1 Passos do procedimento geral. Pré-treino Primeiramente realizou-se um pré-treino com o objetivo de ensinar a tarefa pelo procedimento de emparelhamento com o modelo (matching-to-sample). Consistiu em um bloco de 34 tentativas de emparelhamento de identidade. Esse bloco ensinou pareamentos de identidade empregando figuras de objetos simples (como carro, girassol e cachorro) extraídas do MTS, comparadas com a figura modelo (quadrados coloridos: azul, amarelo e marrom, respectivamente) em que o estímulo discriminativo (S+) é a figura com a mesma cor do modelo. O critério para a finalização desta tarefa foi o acerto de no mínimo 33 tentativas. 10
Treino das discriminações condicionais O treino de discriminações condicionais foi realizado no esquema de matchingto-sample simultâneo (MTS simultâneo), constituído de três blocos de tentativas das relações AB, AC e BD. Ensino das relações AB O treino começou com a apresentação de um estímulo amostra do conjunto A, formado por duas fotografias de mulheres: uma magra (A1) e a outra com sobrepeso (A2), em uma janela de 5x5 cm, no centro da tela do microcomputador. Após tocá-la, outros dois estímulos abstratos do conjunto B foram apresentados, formado por estímulos escolhidos a partir do software MTS, sendo um S+ e dois S-. A apresentação desses estímulos apareceu em janelas de tamanho idêntico à janela do estímulo amostra, dispostas lateral e inferiormente, ou lateral e superiormente à janela central. Para demonstrar qual é o par emparelhado corretamente (modelo e S+), foi apresentado inicialmente apenas o modelo e o S+ correspondente, duas vezes cada relação (A1B1, A2B2), randomicamente distribuídas. Na seqüência apareceu o modelo com um S+ e um S-, sendo dez apresentações de cada relação. Assim, esse primeiro bloco de treino AB foi composto de 24 tentativas. Para avançar ao próximo bloco, o sujeito deveria obter o mínimo de 23 acertos. Caso esse critério não fosse atingido, o bloco era iniciado novamente na mesma seqüência e assim consequentemente até o critério de aprendizagem ser estabelecido. Todas as tentativas tiveram conseqüência programada em esquema de reforçamento contínuo (CRF), ou seja, cada tarefa era conseqüenciada com acerto ou erro. No caso de acerto, a conseqüência era o aparecimento de estímulo visual (estrelas 11
coloridas) e sonoro simultaneamente; para o erro, aparecia uma tela preta e nenhum sinal sonoro. Ensino das relações AC O bloco seguinte treinou a relação AC, isso é, as fotografias com dois estímulos abstratos (escolhidos a partir do software MTS) totalmente distintos do conjunto B, formando, portanto, o conjunto C. Este bloco também apresentou 24 tentativas, com as mesmas características: seqüência gradual de apresentações, conseqüência de acertos e erros e critério de acertos do primeiro bloco (AB). Ensino das relações BD A pesquisa seguiu com um terceiro bloco que treinou a discriminação condicional BD. A classe de estímulos D foi composta pela palavra escrita ATRAENTE (D1) e NÃO ATRAENTE (D2). O número de tentativas, seqüência gradual de apresentações, conseqüência de acertos e erros e o critério de acertos foram idênticos aos blocos anteriores. Treino da linha de base integral Depois de seguidas as etapas anteriores, os sujeitos foram expostos ao ensino da linha de base integral, ou seja, treinou-se todas as 6 relações condicionais ensinadas anteriormente (A1B1, A2B2, A1C1, A2C2, B1D1, B2D2). Este bloco foi constituído de 24 tentativas, sendo 8 de cada relação, portanto, 4 apresentações de cada par de 12
estímulos. O objetivo de manter quatro apresentações é propiciar o aparecimento de S+ nas quatro diferentes janelas possíveis alternadas randomicamente. Portanto, este quarto bloco não apresentou as seqüências: modelo/s+ e modelo/s+/s-. Entretanto atendeu ao mesmo critério e conseqüenciação dos blocos anteriores. Teste Esse teste iniciou com uma instrução verbal informando ao participante da ausência, a partir daquele momento, de qualquer tipo de reforço. Na seqüência, 12 apresentações randômicas avaliaram as respostas contingentes, sendo três de cada relação (C1D1, C2D2, D1C1, D2C2 ). Essas relações do teste são mostradas na Figura 2. A1 (MAGRA) A2 (SOBREPESO) Relações treinadas C1 (abstrato) B1 (abstrato) C2 (abstrato) B2 (abstrato) Relações Testadas D1 (ATRAENTE) D2 (NÃO ATRAENTE) Figura 2 - Diagrama das relações treinadas e testadas nos Grupo Experimental 1. 13
GRUPO EXPERIMENTAL 2: Os participantes deste grupo seguiram a mesma seqüência de treino AB e AC descritos para o grupo experimental 1. Porém, este grupo de sujeitos se diferenciou pela reversão do bloco de treino BD. Isso é, as relações treinadas foram B1D2 e B2D1. Conseqüentemente, o teste de equivalência avaliou as relações C1D2, D2C1, C2D1 e D1C2, como mostra a Figura 3. A1 (MAGRA) A2 (SOBREPESO) Relações treinadas C1 (abstrato) B1 (abstrato) C2 (abstrato) B2 (abstrato) Relações Testadas D2 (NÃO ATRAENTE) D1 (ATRAENTE) Figura 3- Diagrama das relações treinadas e testadas nos Grupo Experimental 2. 14
RESULTADOS Avaliação de Atratividade das Fotografias pelos Juízes No geral, as fotografias das mulheres magras foram escolhidas mais vezes do que as com sobrepeso, como pode ser verificado nas Tabelas 1 e 2. Fotografias Mulheres Magras Número de vezes selecionado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 113 142 117 107 130 128 75 68 101 97 Tabela 1 Avaliação das fotos de mulheres magras pelos juízes: número de vezes selecionado por fotografia. Fotografias Mulheres Sobrepeso Número de vezes selecionado 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 83 75 45 16 18 9 48 47 77 15 Tabela 2 Avaliação das fotos de mulheres com sobrepeso pelos juízes: número de vezes selecionado por fotografia. Baseando-se nesses dados, foram escolhidas duas fotografias, uma de cada grupo, que tiveram o maior número de seleção. Portanto, do grupo de mulheres magras foi escolhida a fotografia 2 e do grupo de mulheres com sobrepeso, a fotografia 11. 15
Grupo Experimental 1 A maioria dos participantes do Grupo Experimental 1 responderam de acordo com a classe treinada (mulher magra como sendo atraente e mulher com sobrepeso como não atraente) no teste de formação de classe de equivalência (Tabela 3). Apenas um sujeito (S7) errou uma relação, não sendo, portanto, um dado significativo para a amostra. GRUPO EXPERIMENTAL 1 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 Número Total de Relações Corretas da Classe/ Número Total de Relações Testadas 11/12 Tabela 3 Número total de relações corretas na formação de classe de equivalência de cada sujeito do Grupo Experimental 1 pelo número total de relações testadas. Grupo Experimental 2 No teste de formação de classe de equivalência do Grupo Experimental 2, sete sujeitos responderam de acordo com a classe treinada (mulher magra como sendo não atraente e mulher com sobrepeso como atraente). Apenas dois sujeitos apresentaram dados diferentes: o sujeito S10 inverteu toda a classe na hora do teste de equivalência e o participante S9 errou uma relação. No entanto, esses dados não são relevantes para a amostra. 16
GRUPO EXPERIMENTAL 2 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 Número Total de Relações Corretas da Classe/ Número Total de Relações Testadas 11/12 0/12 Tabela 4 Número total de relações corretas na formação de classe de equivalência de cada sujeito do Grupo Experimental 2 pelo número total de relações testada 17
DISCUSSÃO De acordo com os resultados, nos dois grupos experimentais os participantes responderam no teste de formação de equivalência o que foi treinado durante a pesquisa. Isso é, o primeiro grupo teve como treino a relação de mulher magra como atraente e mulher com sobrepeso como não atraente; e o segundo grupo o contrário: mulher magra como não atraente e com sobrepeso como atraente. Alguns fatores podem ter interferido nesses resultados. Primeiramente, uma única forma de avaliação das fotografias das mulheres possivelmente não foi um método muito eficaz. Além disso, a opção de utilizar apenas as fotografias mais selecionadas na avaliação pode ter enviesado a pesquisa, pois estas estão fora da tendência da média central. Ademais, há uma grande diferença na avaliação dos juízes entre as fotos escolhidas para o treino (mulher magra: 142; mulher com sobrepeso: 83). Segundo Lee-Manoel et al (2002), os julgamentos da aparência física são determinados por uma série de fatores além da mera harmonia e equilíbrio dos traços fisionômicos. Dentre os parâmetros em que se baseiam as pessoas em sua apreciação do aspecto exterior de outras, encontram-se também a forma e a proporção do corpo (Queiroz & Otta, 1999), a maneira de se vestir, de gestualizar (Andersen, 1999), a higiene e cuidados corporais e o quanto o conjunto e composição de traços faciais aproximam-se do ideal de beleza de determinada cultura, o que nos remete à cor/ raça/ etnia da pessoa que está sendo avaliada. Assim, é importante que se considere essa variável na investigação da atratividade. Portanto, um questionamento importante seria em relação à influência e à força desse estereótipo no Brasil apesar de ter tido uma diferença significativa de avaliação de atratividade pelos juízes quando comparado os grupos de fotos magras e com sobrepeso. 18
Talvez, outros atributos podem ser mais fortes no Brasil, como é o caso do futebol. No estudo de Regra (2003), os participantes tiveram seus nomes emparelhados ao time de futebol oponente, exceto um, que teve seu nome emparelhado ao time que torcia. Cinco participantes com problemas de aprendizagem tiveram dificuldades em atingir o critério no teste de equivalência. As dificuldades ficaram evidentes quando seus nomes foram emparelhados com palavras negativas. O estudo supõe que o controle exercido pela aversividade da palavra foi maior para esses participantes. Novos estudos poderiam ser realizados a partir deste, operando mudanças metodológicas como, por exemplo, adicionando ao método de avaliação das fotografias uma escala de cinco ou sete pontos, fazendo uma média dos resultados e descartando os extremos obtidos. Esta escala poderia ser considerada como o pré e pós-teste da pesquisa. Além disso, um grupo de comparação com participantes do sexo feminino possivelmente poderia incrementar o estudo. Pesquisas mostram que a raça desempenha um papel importante na percepção do peso pelas mulheres. Uma figura magra é preferida por mulheres brancas (Cohn & Adler, 1992). Entretanto, para mulheres negras não há uma preferência clara a respeito do peso. Thomas e James (1988) relatam que a magreza é preferida por mulheres negras. Mas Powell e Kahn (1995) dizem que corpos pesados são os preferidos por elas. No estudo de Wade, Loyden, Renninger e Tobey (2003), as mulheres brancas que tiveram que avaliar mulheres negras se sentiram apreendidas na questão de julgar outra raça em termos de peso. 19
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Watt, A., Keenan, M., Barnes, D. & Cairns, E. (1991). Social Categorization and Stimulus Equivalence. Psychological Record, 41, 33-50. 22
ANEXO 1 23
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 24
13 14 15 16 17 18 19 20 25