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Transcrição:

Influência do comportamento reológico de argamassas colantes na resistência de aderência de placas cerâmicas assentadas sobre revestimentos cerâmicos antigos Eduardo Pereira(A), Lucas Peres de Souza(A), Isac José da Siva(B), Marienne do R. M. M. Da Costa(A) A: UFPR - Universidade Federal do Paraná - Brasil, B: Votorantim Cimentos - Brasil engenheiroeduardopereira@gmail.com; lucasperesdesouza@yahoo.com.br; Isac.silva@vcimentos.com.br; mariennecosta@uol.com.br Resumo: A aderência entre argamassa colante e substratos é função da extensão de contato entre as camadas. Este trabalho discute a influência do comportamento reológico de argamassas colantes sobre a resistência de aderência de um sistema de revestimento do tipo Piso sobre Piso. Para isto foi assentado um piso cerâmico em uma área na cidade de Curitiba- Brasil e monitorada sua resistência. Foram retiradas também amostras dos pisos para análise em MEV da interface entre os materiais. Realizou-se também o ensaio reológico Squeeze flow das argamassas. Argamassas com menores cargas de compressão apresentaram melhores extensões de aderência e valores superiores de resistência de aderência. Palavras chave: Argamassa colante; Resistência de aderência; Squeeze Flow, Comportamento reológico. 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, acompanhando a evolução do mercado, a indústria de materiais cerâmicos, que durante muitos anos sobreviveu de forma artesanal, adotou a produção em massa de seus produtos, garantida pela indústria de equipamentos, e a introdução de técnicas de gestão, incluindo o controle de matérias-primas, dos processos e dos produtos fabricados [1]. Na medida em que cresce a produção e a utilização da cerâmica no Brasil para revestir pisos e paredes, exige-se também dos fabricantes de argamassas colantes o desenvolvimento de formulações que atendam a esta demanda, através de produtos que satisfaçam os quesitos de desempenho exigidos para este material. A resistência de aderência entre as diferentes camadas de um sistema de revestimento é umas das propriedades mais importantes do conjunto, quanto à qualidade e durabilidade [2]. Tendo em vista os mecanismos de ligação, pode-se concluir que quanto melhor for o contato entre a argamassa colante e o substrato, maior será a aderência obtida. Segundo a NBR 13528 [3] a aderência não é uma propriedade exclusiva da argamassa colante, mas sim, da interação entre as camadas constituintes do sistema de revestimento. Esta propriedade depende essencialmente da composição e reologia das argamassas, da natureza e características do substrato no qual a argamassa colante será aplicada, das condições de exposição e também dos procedimentos de assentamento do revestimento [4, 5]. Segundo Carasek [6], a aderência entre um substrato poroso e a argamassa ocorre através de um fenômeno essencialmente mecânico. Este fenômeno é caracterizado basicamente

pela transferência de água que ocorre entre a argamassa e o substrato, possibilitando a entrada da pasta de cimento nos poros do concreto que, ao hidratar, precipita hidróxidos e silicatos que promovem a ancoragem do revestimento. Por outro lado em um substrato pouco poroso, a baixa absorção não permite a entrada da pasta que promove a ancoragem, prejudicando a aderência entre os materiais. A pesquisa e o perfeito entendimento do mecanismo de aderência entre os diferentes materiais que constituem o sistema de revestimento cerâmico formado pelo assentamento de placas sobre substratos pouco porosos e os fatores intervenientes nesta ligação são importantes, pois grande parte das manifestações patológicas observadas é devida a falhas nessa aderência. A adesão inicial das argamassas colantes, por ser uma propriedade especifica das mesmas no estado fresco, é inicialmente e diretamente influenciada pelas características reológicas da pasta aglomerante [6] e suas propriedades exercem grande influência no desempenho final endurecido, pois o cobrimento das superfícies de contato dependem também dessa característica. A influência das características reológicas na tensão superficial e a influência desta na força de adesão pode ser explicada pela teoria das ligações interfaciais entre o líquido (a pasta de argamassa colante) e um sólido (substrato). Para uma adequada adesão é imprescindível que o líquido cubra completamente a superfície do sólido, sem deixar vazios na interface [7]. Esta capacidade dos líquidos, é favorecida quando há uma redução da tensão superficial, conseguida através de alterações nas características reológicas das argamassas colantes, como o aumento da plasticidade, aumento no teor de cimento e a utilização de aditivos incorporadores de ar ou retentores de água [6]. As argamassas colantes devem apresentar trabalhabilidade e plasticidade adequadas para que o espalhamento na superfície tenha um ângulo de contato próximo de zero, com contato perfeito entre os constituintes da argamassa colante e a placa [8, 6]. Cobrimentos ineficientes das interfaces resultarão em descolamentos do revestimento no estado endurecido [9]. A análise de curvas carga versus deslocamento permite avaliar o comportamento reológico das argamassas colantes nos diferentes momentos de sua aplicação, partindo de uma condição estacionária até um alto nível de deformação, cisalhamento e restrição geométrica durante a sua aplicação. O ensaio permite inferir sobre a capacidade das argamasas em cobrir toda a superficie das placas no momento do assentamento, favorecendo assim a aderencia devido a externsão de contato entre os materiais. Baseado nisto, o presente trabalho busca avaliar a influencia do comportamento reologico das argamassas colantes, obtido pelo Squeeze Flow, na capacidade das argamassas em promover a extensão de aderencia adequada na ligação entre as placas ceramicas e os substratos poucos porosos. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Para alcançar os objetivos propostos, desenvolveu-se um programa experimental com a definição das variáveis de estudo e os métodos de testar e interpretar as suas respostas. A Figura 1 apresenta um fluxograma do planejamento experimental deste trabalho.

Figura1: Fluxograma do planejamento experimental. A principal variável analisada neste trabalho foi a resistência de aderência das argamassas colantes usadas no assentamento de piso sobre piso em área externa. Para isto foram selecionadas quatro argamassas colantes industrializadas do tipo ACIII, sendo cada uma de um diferente fabricante. Para a análise da influência das argamassas colantes sobre a resistência de aderência de pisos sobre piso, foi executado o assentamento de placas com argamassa colante em escala real, onde placas cerâmicas foram assentadas sobre um piso cerâmico já existente. 2.1 Ensaio de resistência de aderência em campo Para verificar o comportamento do sistema de revestimento em uma condição real, selecionou-se uma área de testes para assentamento de placas cerâmicas. A área situada na cidade de Curitiba PR tem aproximadamente 20 m². O painel possui muretas em todas as suas extremidades, o que representa uma restrição a movimentação livre dos revestimentos, simulando-se assim a condição comum de obras. Nesta etapa buscaram-se em obras de reforma, pisos antigos que pudessem ser retirados sem danos para posteriormente serem reassentados na área de teste. Obteve-se um lote suficiente para cobrir a área com o mesmo tipo de placa cerâmica. A quantidade de água, bem como o tempo de maturação das argamassas colantes, foi respeitada conforme especificação dos fabricantes obtida na embalagem dos produtos. Para a mistura, uma vez que o volume de argamassa era grande, utilizou-se um balde de metal e um misturador mecânico. A Tabela 1 apresenta um resumo dos dados utilizados para a mistura das argamassas colantes. Tabela 1 Especificação conforme dados das embalagens das argamassas colantes. Argamassa Colante Relação água/argamassa Tempo de maturação (%) (min.) A 21 0 B 29 15 C 23 15 D 21,5 10

Após 28 dias do assentamento do piso sobre piso executaram-se os primeiros ensaios de arrancamento (10 pontos de ensaio para cada argamassa), seguindo procedimentos recomendados pela NBR 14084 [10]. Utilizou-se um maquita para cortar as placas nas dimensões iguais as das pastilhas metálicas de arrancamento (50 x 50 mm) e procedeu-se a colagem destas com um adesivo bicomponente à base de resina epóxi da marca Araldite (Figura 2). Figura 2: Ensaios de resistência de aderência no campo de testes. Após os ensaios de arrancamento, procedeu-se o tratamento dos dados. Calculou-se a média e o desvio padrão dos dez valores obtidos, de forma que todos os valores que se distanciaram mais de uma vez o desvio padrão em relação à média foram descartados. Considerou-se válido o resultado encontrado quando, após eliminar os valores espúrios, pelo menos cinco valores se encontravam nos limites estipulados. A resistência de aderência da argamassa é a média dos valores válidos após o tratamento inicial dos dados. 2.2 Comportamento reológico das argamassas pelo ensaio de Squeeze Flow Este ensaio analisa o escoamento do material decorrente da aplicação de uma carga de compressão sobre a amostra no estado fresco, a qual ocasiona deslocamentos no seu interior devido aos esforços de cisalhamento radiais originados durante o fluxo. Nesta pesquisa será utilizado as configurações de molde restritivo, sugeridas por Kudo et al. [11], que sugere que seja utilizado as mesmas configurações do ensaio Squeeze Flow normalizado pela NBR 15839 [3] para argamassa básica, com modificações para adaptarse às argamassas colante. As taxas de cisalhamento utilizadas foram de 0,1 e 1,0 mm/s. O ensaio foi executado através de uma prensa universal de ensaios EMIC. O porta amostras é feito em PVC com diâmetro de 101 mm (4 polegadas), com altura de 10 mm e sem cortes laterais. A punção (placa superior) tem diâmetro de 50,8 mm (2 polegadas). A Figura 3a, apresenta a prensa executando o ensaio de Squeeze Flow. A Figura 3b e Figura 3c apresentam detalhes do ensaio, onde a primeira demonstra a compressão executada sobre a argamasssa enquanto a segunda exemplifica a tração sobre a argamassa colante.

Figura 3: Ensaio de Squeeze Flow em argamassa colante: (a) execução do ensaio; (b) patamar de compressão e (c) patamar de tração durante o ensaio. 2.3 Microscopia das interfaces Piso antigo/argamassa colante A principal função de um microscópio é tornar visível ao olho humano o que for muito pequeno para tal. Sendo a aderência de sistemas de revestimentos de piso sobre piso resultados de ligações químicas e do contato da argamassa colante com a superfície sobre a qual ela será assentada, imagens em microscopia podem ser uma ferramenta interessante para analisar o contato entre a argamassa e as placas. Para este trabalho foram realizadas imagens em microscopia eletrônica de varredura (MEV) para verificar a eficiência da ligação entre a argamassa colante e as superfícies esmaltadas dos pisos antigos. As amostras analisadas foram retiradas dos pisos assentado no campo de teste, podendo-se assim colaborar na interpretação dos dados de resistência de aderência. O equipamento utilizado para aquisição de imagens foi um microscópio eletrônico de Bancada - Modelo FEI Phenom Tabletop Microscope do Laboratorio de Microscopia Eletronica da Universidade Federal do Paraná UFPR (Figura 4). Figura 4: Ensaio de Microscopia: (a) microscópio eletrônico de varredura MEV de bancada; (b) porta amostras para o MEV.

3. RESULTADOS A resistência de aderência de piso sobre piso assentado em ambiente externo foi executada aos 28 dias. Para cada amostra foram feitos dez arrancamentos. Estes valores foram tratados inicialmente para eliminação dos espúrios, conforme já detalhado. Após o tratamento preliminar os dados foram tratados estatisticamente com análise de variância (ANOVA) para verificar se os valores apresentam diferenças significativas entre si, sendo esta hipótese confirmada. As médias dos resultados obtidos após o tratamento estatístico estão apresentadas na Figura 5. Figura 5: Resistência de aderência aos 28 dias de amostras de Piso sobre Piso executados em ambiente externo. Para auxiliar na interpretação do comportamento de aderência das argamassas usadas no assentamento de piso sobre piso utilizou-se do Squeeze Flow que fornece um perfil do comportamento reológico das argamassas no estado fresco. As Figuras 6 e 7 referem-se ao perfil reológico das argamassas colantes ensaiadas assim que misturadas, ou seja, tempo de maturação de 0 segundo. Figura 6: Resultados de Squeeze Flow com taxa de cisalhamento de 0,1 mm/s.

Figura 7: Resultados de Squeeze Flow com taxa de cisalhamento de 1,0 mm/s. Ao analisar os perfis obtidos pelo Squeeze Flow, podem-se verificar diferenças entre as argamassas e entre as velocidades de carga. Quanto ao perfil reológico apresentado no Squeeze Flow, as argamassas C e D apresentam três patamares bem definidos durante o ensaio, com 0,1 mm/s. Por outro lado, nas argamassas A e B os períodos plásticos e de enrijecimento se confundem, não sendo possível distingui-los. Na argamassa da B quando aplicado deslocamento de 0,1 mm/s esta argamassa tem altas cargas de compressão. O fabricante desta argamassa recomenda 29% de água na mistura e isto pode ter influenciado nestas altas cargas de compressão, pois a água em excesso deixa a pasta muito fluida e ao aplicar-se a carga no Squeeze Flow o efeito do embricamento fica evidente. Ao analisar os perfis obtidos pelo Squeeze Flow, verifica-se que a curva referente à argamassa D se diferencia consideravelmente das demais, tanto com os valores de carga de compressão e adesão, sendo os menores entre as argamassas, quanto pelo formato das curvas. Para associar os resultados de Squeeze Flow com o comportamento real da argamassa e verificar a eficiência da argamassa em cobrir as interfaces, garantindo uma extensão de aderência entre as camadas utilizou-se imagens das interfaces piso antigo/argamassa colante e piso novo/argamassa colante (Figura 8 e 9). Figura 8: Imagens em microscopia eletrônica de varredura (MEV) da interface entre os pisos antigos e argamassa colante, com aumento de 540 vezes das argamassas A e B.

Figura 9: Imagens em microscopia eletrônica de varredura (MEV) da interface entre os pisos antigos e argamassa colante, com aumento de 540 vezes das argamassas C e D. Quando realizado os ensaios de resistência de aderência, já detalhado anteriormente, verifica-se que a maioria das rupturas ocorre na interface entre o piso antigo e a argamassa colante. Este comportamento foi esperado, pois além desta superfície do piso antigo ser praticamente impermeável, devido a presença do esmalte sobre a peça, esta ainda esteve em exposição durante sua vida exposta as mais diversas intempéries e tratamento, como chuva, sol, produtos de limpeza, entre outros. Todas as imagens estão com a mesma magnificação (540 vezes), logo se torna possivel tirar conclusões sobre esta interface somente com observações nas imagens. O perfil de escoamento das argamassas observado no ensaio de Squeeze Flow parece ter influenciado o comportamento das argamassas no estado endurecido, o que pode ser verificado pelas imagens das interfaces entre as argamassas e os pisos novos e antigos. As argamassas com as menores cargas de compressão no Squeeze apresentaram o melhor cobrimento das interfaces com o piso antigo. Verificam-se através do perfil da argamassa da D que esta é a que apresentou as menores cargas tanto de compressão quanto de adesão. Isto certamente foi determinante na eficiência da ligação entre a argamassa colante D e o piso antigo, pois a extensão de aderência entre estes mostrou-se muito eficiente, isto sendo comprovado inclusive pelos resultados de resistência de aderência, os maiores obtidos aos 28 dias. Em contrapartida, a argamassa A, que teve maiores cargas de compressão pelo Squeeze, claramente apresenta a menor eficiência de extensão de aderência com o piso antigo, inclusive com maior abertura entre as faces. No que se refere à taxa de cisalhamento no ensaio de Squeeze Flow, verificou-se que a taxa de cisalhamento de 1 mm/s mostra-se mais eficiente na caracterização do comportamento da argamassa no estado endurecido e ao que parece, demonstra também, com maior eficiência, a aplicação da argamassa em obra, uma vez que o operário, leva um tempo relativamente curto para aplicação das peças. Pode-se concluir também que os resultados de caracterização das argamassas no estado fresco, através do Squeeze Flow, parecem estar relacionados com a resistência de aderência das argamassas aos 28 dias, demonstrando assim a eficiência do método em caracterizar as argamassas colantes e demonstrando potencial como ferramenta na previsão de comportamento da argamassa durante sua vida.

4. CONCLUSÕES Ao observar os perfis reológicos das argamassas colantes obtidos pelo ensaio do Squeeze Flow, verificam-se diferenças entre as argamassas, tanto pelas cargas máximas quanto pelo perfil das curvas apresentadas. O perfil de escoamento das argamassas no Squeeze parece ter influenciado o comportamento das argamassas no estado endurecido. Verificouse que as argamassas com menores cargas de compressão apresentaram os melhores valores de resistência de aderência aos 28 dias. Observou-se também, após o ensaio, que a maioria das rupturas ocorre na interface entre o piso antigo e a argamassa colante. Através de imagens em MEV das interfaces entre as argamassas e os pisos antigos, constatou-se que as argamassas com as menores cargas de compressão no Squeeze apresentaram o melhor cobrimento das interfaces com o piso antigo. Pelo exposto, pode-se concluir que os resultados de caracterização das argamassas no estado fresco, através do Squeeze Flow, estão relacionados com a resistência de aderência das argamassas, demonstrando a eficiência do método em caracterizar as argamassas colantes. Por fim, verifica-se que o Squeeze apresenta-se como uma ferramenta em potencial para previsão de comportamento da argamassa, necessitando ser aprofundado o conhecimento da relação entre o perfil das curvas obtidas no ensaio e o comportamento das argamassas assentadas em obra. 5. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Votorantim Cimentos pela parceria no desenvolvimento deste trabalho. Agradecemos também ao Centro de Microscopia da Universidade Federal do Paraná, em especial ao Prof. Dr. Ney Pereira Mattoso Filho, pelo auxílio na preparação das amostras e aquisição de imagens em microscopia. 6. REFERÊNCIAS [1] ANFACER. Associação Nacional de Fabricantes de Cerâmicas. <http://www.anfacer.org.br > acessado em 01/12/2011. [2] THURLER, C. L; FERREIRA, V. A. A evolução da resistência de aderência de algumas argamassas colantes nacionais. I Simpósio de Tecnologia de Argamassas. Goiânia. 1995. [3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Argamassa colante industrializada para assentamento de placas cerâmicas Caracterização reológica pelo método Squeeze Flow - NBR 15839. Rio de Janeiro, 2010. [4] CANDIA, M. C; FRANCO, L. S. Avaliação do tipo de preparo da base nas características superficiais do substrato e dos revestimentos de argamassa. In: Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. Anais ANTAC. Salvador. 2000. [5] CARASEK, H. Argamassas. In: G. C. Isaia. (Org.). Materiais de Construção Civil. 1 ed. São Paulo: Instituto Brasileiro do Concreto - IBRACON, 2007, v. 1. [6] CARASEK, H. Aderência de argamassas à base de cimento portland a substratos porosos: avaliação dos fatores intervenientes e contribuição ao estudo do mecanismo da ligação. Tese de Doutorado. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo USP. São Paulo (SP). 1996. [7] PAES, I. N. L. Avaliação do transporte de água em revestimentos de argamassa nos momentos iniciais pós-aplicação. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília. Brasília, DF. 2004.

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