UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA HELOISA PAPP

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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA HELOISA PAPP ADAPTAÇÃO PARA O PORTUGUÊS DO MASLACH BURNOUT INVENTORY GENERAL SURVEY (INVENTÁRIO MASLACH DE BURNOUT POPULAÇÃO GERAL) Itajaí,(SC) 2007

1 HELOISA PAPP ADAPTAÇÃO PARA O PORTUGUÊS DO MASLACH BURNOUT INVENTORY GENERAL SURVEY (INVENTÁRIO MASLACH DE BURNOUT POPULAÇÃO GERAL) Projeto apresentado como requisito parcial para obtenção de créditos na disciplina Supervisão de Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientador: Prof Dr. Eduardo José Legal. Itajaí,(SC) 2007

2 À minha família, pela compreensão e por sempre estarem acreditando, incentivando e me apoiando.

3 AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, professor doutor Eduardo José Legal, pelo apoio, incentivo, confiança e também por todo o aprendizado e crescimento proporcionado a mim neste período de trabalho. À professora doutora Elizabeth Navas Sanches e ao professor doutor Miguel Verdinelli, pela colaboração e por aceitarem compor a banca examinadora. À meus pais, por entenderem os momentos de ausência ou até mesmo fins de semana longe de casa. Pelo apoio, incentivo e por estarem sempre me estimulando e torcendo pelo meu sucesso. Aos meus irmãos, pessoas que servem como exemplo e aos quais procuro me espelhar sempre. Aos meus amigos, pela compreensão e também pelos momentos de distração, sempre necessários.

4 SUMÁRIO Resumo... 06 INTRODUCÃO... 07 REFERENCIAL TEORICO... 10 1 O estresse... 10 1.1 Burnout... 11 1.2 Estudos realizados sobre a síndrome de burnout... 12 1.3 Instrumento de mensuração do burnout... 13 2 METODOLOGIA... 16 2.1 Traducão do instrumento... 17 2.1.1 Retraducão ( Back Translation)... 17 2.1.2 Pre testagem... 17 2.1.3 Procedimentos Éticos... 17 2.2 Populacão e Amostra... 18 2.3 Instrumento... 19 2.4 Coleta de dados... 19 2.5 Analise dos dados... 20 3 RESULTADOS... 21 3.1 Tradução da versão inglesa do MBI-GS para o português... 21 3.1.2 Avaliação da qualidade da tradução obtida através de consultas a especialistas da área de burnout no Brasil... 22 3.1.3 Avaliação da qualidade (através de painel com especialistas)... 22 3.1.4 Back Traslation ( retradução)... 23 3.1.5 Testagem da validade da tradução...23 4 DISCUSSÃO... 27 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 29 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS... 33 ANEXO... 36

5 LISTA DE QUADROS Quadro1. Correlações obtidas entre as respostas as versões inglesa e português do MBI-GS aplicado a professores de inglês (n=27)... 26 Quadro 2. Escala original e adaptada utilizada por Tamayo (1997) para o MBI- HSS... 31

6 ADAPTAÇÃO PARA O PORTUGUÊS DO MASLACH BURNOUT INVENTORY GENERAL SURVEY (INVENTÁRIO MASLACH DE BURNOUT POPULAÇÃO GERAL) Orientador: Prof. Dr. Eduardo José Legal Defesa: Junho de 2007. A síndrome de burnout, transtorno gerado em situação de trabalho, está relacionada ao absenteísmo, aposentadoria precoce e baixa produtividade. Estudos demonstraram que a síndrome não está restrita às áreas saúde e educação. Internacionalmente, o MBI-GS, sem versão brasileira, é amplamente utilizado nos estudos epidemiológicos entre profissionais de diversas áreas. Propôs-se então, tradução e adaptação desse instrumento. Foram feitas, inicialmente, três traduções literais por tradutores diferentes. As traduções foram submetidas à discussão com conhecedores da língua inglesa e da síndrome, chegando numa versão portuguesa consensual e satisfatória. Esta e a original foram aplicadas em professores bilíngües em dois momentos distintos. A análise de variância para dados não paramétricos demonstrou diferenças significativas nas questões 1 (Z=-2,05; p<0,05) e 14 (Z=-1,983; p< 0,05); e em análise de correlação, nas questões 5 e 13. A revisão com dicionários especializados e discussão mostrou que a tradução de duas palavras em duas frases distintas poderia ser melhorada (questões1 - esgotado, 5 eficiente); na 13, a palavra de confusão é realmente usada, neste contexto, na forma como foi traduzida; e, na 14 houve confusão dos respondentes devido a falsos cognatos (cynical). A versão atual já pode ser testada quanto a sua validade. Palavras chaves: Burnout, MBI-GS, Psicometria.

7 1 INTRODUÇÃO São apontados, na literatura técnica, muitos fatores relacionados ao desenvolvimento do burnout. Estudos realizados sobre a síndrome apontam que aspectos individuais ligados à condição de trabalho podem causar conseqüências emocionais/físicas (exaustão emocional), no relacionamento interpessoal (despersonalização) e na capacidade de trabalho (reduzida realização profissional), podendo, em seu estágio final, levar o trabalhador ao abandono do emprego. A literatura especializada na área de burnout, mas não a de estresse ocupacional, tem apontado índices mais altos da síndrome entre os profissionais das áreas assistenciais (saúde, educação, polícia e bombeiros). Não se pode negar o grande valor e contribuição que todas estas profissões oferecem, no entanto, outros trabalhos (teóricos e de empíricos) têm demonstrado que essas diferenças entre áreas profissionais pode ser efeito da tendência dos pesquisadores e não necessariamente em função da ocupação profissional. Apesar da maioria de estudos relacionados ao burnout serem com profissionais de origem assistencial, autores como Freudenberger (1975) que foi quem cunhou o termo para este quadro psicopatológico apontam que a síndrome também pode ocorrer em profissionais que não oferecem assistência aos demais. Este fato vai ao encontro aos achados de Golembiewsky, Munzenrider e Carter (1983 apud TAMAYO e TRÓCCOLI, 2001) que se referem ao burnout como um processo de adoecimento ocupacional provocado por fatores no ambiente de trabalho e não, necessariamente por fatores ligados a

8 personalidade do trabalhador. O burnout é um problema de saúde mental/ocupacional que afeta não apenas trabalhadores nas áreas de saúde e educação. Internacionalmente, o tema tem sido investigado nas várias áreas de atuação profissional utilizando de instrumentos padronizados. Para estas áreas profissionais especificamente o Maslach Burnout Inventory General Survey (MBI-GS), desenvolvido por Schaufelli et al., em 1996, é o instrumento mais utilizado por permitir a mensuração das três dimensões desta síndrome. O MBI- GS foi traduzido, adaptado e validado para o espanhol (GIL-MONTE, 2002), holandês (ROELOFS et al., 2004) e japonês (KITAOKA-HIGASHIGUCHI et al., 2004). No Brasil, dados sobre outros profissionais que não sejam provenientes dos que trabalham em área de assistência (médicos, enfermeiros, educadores, etc) são raros. Tal escassez de dados pode ser relativa à falta de instrumentos adaptados e validados para a população que não seja da área de saúde e educação. A única versão traduzida do principal instrumento de medida das dimensões de burnout ainda é o Inventário de burnout - MBI (Maslach Burnout Inventory Human Services Survey) versão adaptada para profissionais de saúde e o MBI-ES (Maslach Burnout Inventory Educational Survey) para profissionais da área de educação (VIEIRA et al., 2006). Este instrumento foi traduzido, adaptado e validado em diversas línguas (BARNETT, BRENNAN e GAREIS, 1999). Dada a falta de instrumentos internacionalmente importantes para estudos epidemiológicos da síndrome de burnout, fez-se necessário, então, a tradução, adaptação e validação do MBI-GS para que novo impulso no campo da saúde do

9 trabalhador seja dado e novos conhecimentos sejam adquiridos, tanto sobre a síndrome quanto suas causas. Os dois primeiros objetivos (tradução e adaptação) do MBI-GS são as contribuições deste projeto, visando contribuir para o avanço das pesquisas sobre o tema no país.

10 2 REFERENCIAL TEORICO 2.1 O estresse Quando se fala em estresse, normalmente a primeira ligação feita é relacionando-o como sendo uma conseqüência do trabalho. Porém, o estresse é um processo que pode atingir tanto adultos, como adolescentes e crianças, tendo estes uma profissão estabelecida ou não. Em sua pesquisa, Souza e Carneiro (2005) descobriram que a prevalência de estresse é maior em mulheres que em homens. O organismo tende a buscar sempre um equilíbrio, seja físico, mental ou emocional. Sendo assim, o estresse pode ser visto como um processo de adaptação e reajuste do organismo, quando este balanceamento não for alcançado (BENEVIDES-PEREIRA,2002). Nesta ação são diferenciadas três fases: a de reação de alarme, a etapa de resistência e a etapa de esgotamento (BENEVIDES- PEREIRA, 2002; GADZELLA,1994). Dentro da situação de trabalho mais detalhadamente, podem ser encontradas duas outras especificações relacionadas ao estresse: o burnout e o estresse ocupacional. Cada um destes apresenta um conceito próprio, mas assemelham-se, pois ambos têm como condição primordial o trabalho e suas implicações (BENEVIDES-PEREIRA, 2002).

11 Conforme a mesma autora, o estresse ocupacional está diretamente relacionado com a atividade que é desempenhada pelo individuo. Apresenta-se como uma constante no cotidiano de muitas pessoas, manifestando-se quando o trabalho do individuo é cansativo, frustrante e pouco compensador (REINHOLD apud CAMPOS, ROCHA, CAMPOS, 1996). Manifesta-se quando o profissional se dedica excessivamente ao trabalho resultando na sobrecarga, mas dificilmente resultará nos sintomas presentes no burnout (BENEVIDES-PEREIRA, 2002). 2.1 Burnout O burnout é caracterizado por um conjunto de sintomas agrupados em três dimensões: a exaustão emocional; despersonalização ou cinismo e reduzida realização profissional. A exaustão emocional é considerada o conjunto de sintomas mais proeminente da síndrome (MASLACH et al., 2001) e caracteriza-se por fadiga e esgotamento emocional (BENEVIDES-PERIEIRA, 2002; REINHOLD, 1996; TAMAYO e TRÓCOLLI, 2001) e negativismo (WEBER e JAEKEL- REINHARD, 2000), fazendo com que o individuo sinta que está sendo muito exigido e debilitado nos seus recursos emocionais; frieza, dureza no contato com seus clientes e colegas são os sintomas característicos da dimensão despersonalização (BENEVIDES-PEREIRA, 2002; REINHOLD, 1996; TAMAYO e TRÓCOLLI, 2001); já, sentimentos de incompetência e percepção de um desempenho insatisfatório que pode, em seu estágio final, levar o trabalhador ao abandono do trabalho, são característicos da dimensão de reduzida realização

12 profissional (BENEVIDES-PEREIRA, 2002; MARTÍNEZ, 1997; REINHOLD, 1996; TAMAYO e TRÓCOLLI, 2001). As causas do burnout não são conhecidas, mas há pelo menos três hipóteses para seu desencadeamento: 1) resulta do estresse crônico no ambiente de trabalho e da falta de recursos (psicológicos) para lidar com a situação enfatiza-se, nesta hipótese, a pressão e a sociedade; 2) resulta da inadequação do indivíduo ao ambiente organizacional, geralmente indivíduos mais idealistas e altamente motivados; quando percebem que seus esforços não são suficientes para alcançar seus objetivos desistem do que fazem e/ou sofrem com esta situação enfatizam-se, neste caso, questões individuais, pessoais; e, 3) resulta da inadequação do indivíduo (pessoa) com o ambiente de trabalho enfatiza-se aqui, as interações entre o indivíduo e seu meio social. 2.2 Estudos realizados sobre a síndrome de Burnout No Brasil, todos os estudos realizados sobre a síndrome de Burnout estão relacionados à profissionais denominados de assistenciais, ou seja, que prestam assistência a outras pessoas, trabalhando assim diretamente com o contato humano. Apesar disto, é também consenso entre os principais autores na área (GIL-MONTE, 2002; MASLACH et al., 2001; LEITER e ROBICHAUD, 1997; SHAUFELI et al., 1996) que a síndrome não afeta apenas os profissionais desta área. Sendo um processo que se desenvolve a partir das pressões encontradas no ambiente de trabalho, qualquer profissional, em qualquer função, pode desenvolver burnout. Este fato ao encontro aos achados de Golembiewsky,

13 Munzenrider e Carter (1983 apud TAMAYO e TRÓCCOLI, 2001) que se referem ao burnout como um processo virulento. Conforme estes mesmos autores o individuo susceptível ao burnout seria aquele que trabalha em condições precárias por um longo período. Organizações que possuem níveis de hierarquia bem estabelecida, muito centradas em regras têm mais susceptibilidade ao desenvolvimento de burnout entre seus colaboradores (MASLACH e LEITER, 1999). É notório que estas não são características exclusivas de pessoas que prestam ajuda à outras. Daí tem-se observado a falta, a importância, e a necessidade de ampliar os estudos, até então quase que exclusivamente voltados aos profissionais assistencialistas, para outras áreas ocupacionais. No entanto, nos falta instrumentos apropriados para tal empreitada. 2.3 Instrumentos de Mensuração do Burnout Usualmente os testes psicológicos e outros instrumentos em Psicologia têm como função medir diferenças entre indivíduos, sendo uma medida objetiva e padronizada de uma amostra de comportamento (ANASTASI e URBINA, 2000). Desta forma estes instrumentos nos possibilitam observar um comportamento e objetivá-lo através de escalas numéricas. Estes comportamentos normalmente são de difícil mensuração através da teoria pura. Uma testagem que resume o desempenho do individuo em números é chamada de testagem psicométrica (CRONBACH, 1996), e é de extrema utilidade nas diversas situações de atuação profissional.

14 A versão do principal instrumento para avaliação do burnout é o MBI (Maslach Burnout Inventory). Este instrumento possui quatro versões na língua inglesa (que já foram traduzidos para outras línguas): uma para profissionais da área de saúde (MBI-HSS), outro para educadores (MBI-ES), uma terceira, mais abrangente, para profissionais de qualquer outra área, o MBI-GS e uma versão adaptada deste último para estudandes, o MBI-SS (Maslach Burnout Inventory Students Survey) (SCHAUFELLI et al., 2002). No Brasil, existem traduções de versões que podem ser tanto utilizadas em profissionais de saúde como educadores (LAUTERT, 1997; NEPASB apud BENEVIDES-PEREIRA, 2002; TAMAYO, 1997). A mais utilizada é a de Tamayo (1997), mas seu escore não foi normatizado. Recentemente, Carlotto e Câmara (2004) realizaram a validação fatorial desta versão do MBI. Por conta deste fato, quase todos os trabalhos realizados sobre a síndrome no país, são dirigidos a profissionais de saúde e educação. Outras categorias profissionais que não mantém tanto contato com o público ainda não são alvos destas pesquisas, dada a falta de instrumentos traduzidos ou construídos. Como o MBI-HSS e o MBI-ES foram elaborados para medir o nível de burnout em profissionais da saúde e da educação, reaproveitar este mesmo instrumento para avaliar o burnout em outros profissionais não seria possível e nem coerente, dado o tipo de relações estabelecidas entre trabalhadores e clientes nestas profissões. A fim de resolver esta questão foi elaborada uma escala que permite avaliar a síndrome em qualquer área profissional. Para tanto, o MBI-HSS e ES

15 diferenciam-se do MBI-GS pois este último irá avaliar a crise do profissional em relação ao seu trabalho diretamente, já o MBI-HSS/ES avalia a relação de um profissional sobre a pessoa que está sendo assistida. Pelas razões aqui expostas, a tradução e validação do MBI-GS é de grande valia nas pesquisas sobre o fenômeno de burnout em profissionais falantes da língua portuguesa do Brasil.

16 3 METODOLOGIA 3.1 Tradução do instrumento Todo o processo de tradução e adaptação está fundamentado nos procedimentos utilizados por Alves et al. (2004). Para a realização da tradução foram levados em consideração os seis critérios de equivalência propostos por Herdman (apud ALVES et al., 2004): 1) conceitual; 2) entre os itens; 3) semântica; 4) operacional; 5) de medidas; e, 6) funcional. A tradução foi realizada simultaneamente por quatro tradutores (orientanda, orientador e professor de inglês do Núcleo de Estudos de Língua e Literatura Estrangeira NELLE UNIVALI, campus Itajaí). Os itens foram também classificados quanto a dificuldade de tradução, de acordo com uma escala ordinal de cinco itens, variando de muito difícil (5) a muito fácil (1), comentando o porquê das dificuldades encontradas na tradução. Esta três versões mais a original em inglês, foram enviadas, via correio eletrônico, para mais três pesquisadores brasileiros que trabalham com burnout a fim de se estabelecer uma primeira tradução de consenso. Os juízes avaliaram os seguintes critérios: clareza da redação, uso da linguagem coloquial e equivalência de sentido das perguntas e respostas. Os itens foram avaliados de acordo com uma escala ordinal de cinco itens, como a citada acima. Pediu-se aos juízes que comentem suas respostas sugerindo alterações.

17 3.1.1 Retradução (Back Translation) A versão preliminar obtida no procedimento descrito no item anterior foi submetida a retradução do português para o inglês por dois professores independentes de dois cursos de inglês. Estas retraduções mais a versão original do MBI-GS, em inglês, foram enviadas a três pesquisadores da área para nova avaliação de conteúdo e sugestões de mudança. 3.1.2 Pré-testagem Para testar a validade da versão adaptada para o português obtida pelos procedimentos 4.1 e 4.2, os dois instrumentos (a versão original em inglês e em português) foram administradas a professores de inglês de escolas de idiomas da cidade de Itajaí,Balneário Camboriú e Jaraguá do Sul. Primeiro eles responderam a versão em português e depois de uma semana, a versão em inglês. Os resultados foram comparados através de análise de correlação entre cada um dos itens equivalentes. 3.1.3 Procedimentos Éticos Por se tratar de um trabalho onde o profissional, no item 4.4, precisará identificar-se para que o procedimento possa ser realizado (comparação entre a primeira e a segunda testagem) os voluntários foram solicitados a assinar um

18 termo de consentimento livre e esclarecido onde concordam com os termos estabelecidos (preservação do anonimato dos respondentes e retirada do consentimento no momento que lhe convier, participar das duas fases da testagem). A todos os voluntários foram realizadas devolutivas sobre o projeto e sobre os sintomas apresentados, ainda que escores de burnout não sejam possíveis (dado que este instrumento não foi normatizado para o Brasil e nem é objetivo do trabalho fazê-lo). 3.2 População e Amostra A população constituiu em professores de Inglês das regiões de Balneário Camboriú, Itajaí e Jaraguá do Sul. No total foram 35 professores que receberam o instrumento para ser respondido. Ao fim da coleta, retornaram 27 questionários resultando na amostra da pesquisa. 3.3 Instrumento O MBI-GS mantêm a estrutura tridimensional do HSS. Contém 16 questões que visam medir a exaustão emocional, despersonalização ou cinismo, e reduzida realização profissional. Para a mensuração da realização profissional o instrumento é composto de seis itens que dão ênfase ao aspecto social e não social do trabalho centrando-se nas expectativas que o trabalhador possui. No

19 instrumento, cinco itens medem a exaustão emocional. Estes incluem aspectos de fadiga física e emocional que o trabalho proporciona, sem mencionar as pessoas que podem estar fazendo parte deste processo. A subscala da despersonalização ou cinismo é mensurada por cinco itens e apontam atitudes de distanciamento em relação ao trabalho (GIL-MONTE,2002). A escala para responder à esses itens varia da seguinte forma: 0= Nunca 1=Algumas vezes por ano ou menos 2= Uma vez por mês ou menos 3= Algumas vezes por mês 4= Uma vez por semana 5= Algumas vezes por semana 6= Todos os dias 3.4 Coleta de Dados A coleta de dados foi feita em escolas de Inglês dos municípios de Balneário Camboriu, Itajaí e Jaraguá do Sul. Primeiramente pediu-se que os professores respondessem a versão em Inglês e uma semana depois a versão em Português.

20 3.5 Análise dos Dados Os dados foram analisados a partir do programa estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences). Os resultados foram comparados através de análise de correlação entre cada um dos itens equivalentes, para assim verificar a correlação e correspondência das questões nas versões em inglês e em português.

21 4 RESULTADOS Os resultados da tradução e adaptação do Maslach Burnout Inventory General Survey (MBI-GS) foram apresentados a seguir, na seguinte ordem: (a) tradução da versão inglesa do MBI-GS para o português; (b) avaliação da qualidade da tradução obtida através de consultas a especialistas da área de burnout do Brasil; (c) back translation (retradução) para o inglês da primeira tradução adaptada do instrumento; (d) avaliação da qualidade (através de painel com especialistas) das traduções para o português e sua retradução a partir da versão original do MBI-GS; (e) testagem da validade da tradução obtida em professores de inglês respondendo a versão portuguesa e inglesa do instrumento. 4.1 Tradução da versão inglesa do MBI-GS para o português Inicialmente foi realizada a tradução literal do instrumento. Nesta etapa os pesquisadores, assim como dois professores de inglês, traduziram o MBI-GS para o português de maneira literal, ou seja, sem modificar as palavras no momento da tradução. Após este processo foi feita a comparação das quatro traduções. A partir desta checagem elaborou-se a primeira versão adaptada do MBI-GS, a qual chamamos de versão 1.

22 Na parte da retradução, foi solicitado a dois professores de inglês independentes, que retraduzissem a versão 1 para o inglês. Estas retraduções foram comparadas ao original, o MBI-GS na língua inglesa. 4.1.2 Avaliação da qualidade da tradução obtida através de consultas à especialistas da área de burnout no Brasil Foram contatados, via e-mail, três especialistas na área de burnout para que respondessem o instrumento, Porém, nenhum deles enviou seu parecer. Sendo assim, não foi possível averiguar a qualidade da tradução obtida através de consultas à especialistas na área. 4.1.3 Avaliação da qualidade (através de painel com falantes da língua inglesa) Com o objetivo de uma melhor adaptação do instrumento, foi realizado uma reunião para discutir a tradução adaptada do MBI-GS, visto que a versão 1 não obteve uma forma semanticamente coerente para o português, não trazendo o sentido correto quando traduzidas. Esta etapa foi denominada de Painel de Bilíngües e constituiu na presença de dois professores de inglês, dois pesquisadores e duas pessoas que moraram em país de língua inglesa por mais de um ano. Neste painel discutiu-se a versão 1, as melhorias que poderiam ser feitas e formas de retradução das sentenças. Por fim, chegou-se num consenso e obteve-

23 se uma nova versão do MBI-GS adaptada para o português, desta vez a versão 2. 4.1.4 Back Traslation ( retradução) Mesmo com o painel de bilingues, consideramos que a versão 2 poderia ser aperfeiçoada. A parte da retradução também deixou a desejar. Os tradutores de inglês simplesmente retraduziram as frases sem se preocupar com a adaptação para a referida língua. Neste sentido, uma nova retradução foi realizada por uma professora de português australiana. A nova retradução foi comparada a sua original através do procedimento teste-reteste em oito bilíngües, obtendo uma correlação geral de rho: 0,59. O índice demonstrou que a versão original e a retraduzida foram compreendidas de modo semelhante. 4.1.5 Testagem da validade da tradução Esta versão final foi aplicada em 35 professores de Inglês dos municípios de balneário Camboriu, Itajaí e Jaraguá do Sul. Porém, somente 27 devolveram o instrumento. O processo de aplicação consistia em aplicar primeiro a versão em inglês e uma semana depois a versão em português. Nos municípios de Balneário Camboriu e Itajaí a versão inglesa foi aplicada na última semana de férias, conseqüentemente a versão portuguesa foi aplicada quando os professores já

24 estavam em aula. Notou-se uma discrepância entre as respostas das duas versões. Devido a isso, a versão em inglês foi reaplicada num período no qual os professores não estavam mais em férias. Algumas questões não mostraram correlação signficante para um alfa de 0,05. Foram os itens 1, 2, 6, 8 e 13. A questão 1 ( I feel emotionally drained from my work ), realmente foi de difícil adaptação, pois a tradução literal seria emocionalmente seco ou sugado. A tradução mais próxima seria emocionalmente esgotado. Ainda assim, não é um termo que seja de grande utilização no vocabulário popular. Contudo, é este o sentimento que se quer medir pelo instrumento. Talvez, a análise fatorial nos faça rever a presença deste item no formato final do instrumento adaptado. O item 13 (I just want to do my job and not be bothred), foi traduzido como quero apenas fazer o meu trabalho sem ser incomodado, que é o sentido mais próximo do original em inglês. É possível que tais diferenças tenham sido reflexo da situação pessoal do respondente, no momento da aplicação. Somente uma amostra maior, ou o uso de um instrumento concorrente (sintomas de estresse, por exemplo) poderia averiguar esta diferença. Os itens 2, 6 e 8 apesar de não significantes a 0,05, estiveram próximos dela (foram quase-significantes). Levando em consideração que se trata de um instrumento de screening podemos considerá-las, então, dentro da significância de segurança para o fenômeno investigado. Nos demais itens as correlações variaram entre 0,439 e 0,841 mostrando que as questões das versões em inglês e em português foram resolvidas de modo semelhante, apontando que as questões são correspondentes. Todas as correlações podem ser observadas no quadro 1.

QUESTÃO CORRELAÇÃO (rho) SIGNIFICÂNCIA (p) 25 1 0,311 0,114 2 0,338 0,085 3 0,439 0,022 4 0,841 0,000 5 0,595 0,001 6 0,371 0,057 7 0,555 0,003 8 0,357 0,067 Quadro 1. Correlações obtidas entre as respostas as versões inglesa e português do MBI-GS aplicado a professores de inglês (n=27). 9 0,592 0,001 10 0,630 0,000 11 0,564 0,002 12 0,461 0,016 13 0,184 0,359 14 0,501 0,008 15 0,794 0,000 16 0,822 0,000 Quadro 1. Correlações obtidas entre as respostas as versões inglesa e português do MBI-GS aplicado a professores de inglês (n=27). Através de pesquisas nos dicionários Oxford e Cambridge da língua inglesa e de consultas a outros profissionais que têm conhecimento sobre o termo burnout, constatou-se que as traduções adaptadas foram adequadas. O modo como os professores de inglês responderam demonstrou que a palavra job (questão 13) foi respondida de modo diferente. Contudo, o termo job no contexto

26 da frase original, significa realmente trabalho ou tarefa. Diante deste fato, mantemos a palavra trabalho na versão traduzida.

27 5 DISCUSSÃO Os procedimentos utilizados demonstraram que: 1) há correspondência entre a versão original e a versão traduzida do MBI- GS; 2) foi constatado que as respostas dadas pelos sujeitos foi coerente, ou seja, as respostas obtidas no reteste se mantiveram estáveis em relação ao teste. 3) As etapas do processo de adaptação do MBI-GS consistiram na tradução do instrumento para o português, na avaliação da qualidade da tradução, no back translation, na avaliação da qualidade através do painel de especialistas e na testagem da validade da tradução através do preenchimento do instrumento por professores de inglês. A correlação geral foi de rho=0,59, demonstrando que a versão original e a retradução foram compreendidas da mesma maneira. 4) O MBI-GS já possui traduções em outras línguas, como por exemplo no espanhol, japonês, e holandês. No Brasil não há outros estudos da adaptação e validação do MBI-GS. Para a tradução e validação na versão japonesa, o MBI-GS foi aplicado em 691 funcionários de uma empresa no Japão. Foram avaliados os três fatores (exaustão emocional, despersonalização e cinismo) como na versão original. Percebeu-se que as dimensões

28 exaustão emocional e cinismo obtiveram índices moderados entre estes funcionários (KITAOCA-HIGASHIGUCHI et al., 2004). Na versão holandesa foram examinados indivíduos diagnosticados com ou sem burnout. Estas pessoas responderam o MBI juntamente com o Symptom Checklist-90 e seus escores nestes dois instrumentos foram comparados. A exaustão emocional foi altamente relacionada ao burnout neste estudo (ROELOFES et al., 2004) Uma versão portuguesa (Portugal) a adaptação do MBI-GS foi realizada a partir da versão espanhola (SHAUFELLI et al., 2002). Contudo, não há registros de validação do mesmo. 5) Juntamente com este trabalho de conclusão de curso, os pesquisadores estão realizando uma pesquisa com recursos do ProBIC, dando continuidade ao estudo. Nesta será feita a validação do MBI-GS. Para tal realização está se aplicando o instrumento numa população alvo de aproximadamente 400 trabalhadores, nas regiões de Balneário Camboriú, Itajaí e Jaraguá do Sul.

29 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A iniciativa deu-se pesquisa pela limitação encontrada para avaliar o burnout em qualquer tipo de profissional que não assistencialista. Considerando que o burnout atinge profissionais que trabalham em uma situação precária e que seus principais sintomas são a exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização profissionais, é de grande valia a mensuração da síndrome em todos os profissionais, sejam assistenciais ou não, uma vez que estes sintomas afetam diretamente a qualidade de vida e do trabalho destas pessoas. Sendo assim, esta pesquisa contribuiu para o avanço da área no Brasil, visto que o único instrumento adaptado e validado em relação ao burnout no país era o MBI-HSS (LAUTERT, 1996; NEPASB apud BENEVIDES-PEREIRA, 2002; TAMAYO, 1997), que mede o burnout em profissionais da saúde e/ou professores. Tamayo (1997) fez algumas mudanças no instrumento adaptado e validado para o português. No quadro 2 pode-se verificar essa alteração que diz respeito a escala utilizada para responder ao instrumento.

30 Quadro 2. Escala original e adaptada utilizada por Tamayo (1997) para o MBI- HSS. Escala Original ( 7 pontos) Escala utilizada por Tamayo ( 5 pontos) 0= Nunca 1= Nunca 1= Algumas vezes por ano 2= Raramente 2= Uma vez por mês ou menos 3= Algumas vezes 3= Algumas vezes por mês 4= Freqüentemente 4= Uma vez por semana 5= Sempre 5= Algumas vezes por semana 6= Todos os dias Admitimos que a escala original possa ter um entendimento mais complicado para os respondentes, porém é a mais adequada para medir o burnout. Isto porque a escala é mais concreta, mede exatamente a quantidade de vezes que tais sintomas aparecem. Além disso, a confiabilidade do instrumento original foi obtida a partir da escala de sete pontos e não de cinco. Isto incorre em escores que inviabilizam as comparações de aplicações internacionais. Dizer que freqüentemente sinto-me esgotado pelo trabalho ou falar que isto acontece uma vez por semana, por exemplo, pode ter uma grande diferença. Afinal, o quanto é exatamente freqüentemente? Será que todos temos a mesma percepção em relação a este termo? Portanto, torna-se difícil medir e comparar os escores quando avaliados desta maneira, podendo inclusive prejudicar o resultado final de uma pesquisa.

31 Devido a este fato, e considerando que o MBI-GS atinge uma população de profissionais que obtenham no mínimo o ensino médio completo, optamos por manter a escala original. Acreditamos que assim, os dados poderão ser medidos de uma forma mais fidedigna, tendo maior aproximação da escala original e dos sintomas de burnout entre os trabalhadores em questão. Outra importante observação refere-se a tradução e adaptação do instrumento. Os pesquisadores tiveram uma grande preocupação em não somente traduzir as frases do inglês para o português. Sabe-se que cada país tem sua cultura e modo de falar diferente um do outro. Portanto, a adaptação para a referida língua é essencial para um bom entendimento de quem vai responder o instrumento. Há que se considerar que houve dificuldade na adaptação de algumas palavras. Por exemplo, no termo burnout (que aparece na questão 6), pois não há tradução equivalente da palavra para a língua portuguesa. Um outro problema encontrado foi na tradução realizada pelos profissionais de inglês. Estes não realizaram o trabalho que esperávamos, e, portanto não utilizamos de suas traduções e adaptação. Sendo assim, o painel de bilíngües foi de grande importância possibilitando que discutíssemos os termos e as frases do instrumento. Considerando tal estudo, para trabalhos futuros, sugere-se que seja feita a validação concorrente do MBI-GS e MBI-HSS em profissionais de saúde ou educação, para que possa comparar as duas versões e seus resultados.

32 A partir da tradução do MBI-GS no Brasil, será possível aplicar este instrumento em sua população alvo, que consiste em trabalhadores em geral, e não apenas os da área de saúde ou educação.

33 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, M. G. M., CHOR, D., FAERSTEIN, E. ET AL. Versão resumida da Job stress scale : adaptação para o português. Revista Saúde Pública, 38(2), 2004, p. 164-71. ANASTASI, A.; URBINA, S. Testagem psicológica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. BARNETT, R.C.; BRENNAN, R.T.; GAREIS, K.C. A closer look at the measurement of burnout. Journal of Applied Biobehavioral Research, 4(2), 1999, p. 65-78. BENEVIDES-PEREIRA, A.M.T. Burnout: o processo de adoecer pelo trabalho. In: BENEVIDES PEREIRA, A.M.T. (Org). Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002, p.21-91. BENEVIDES-PEREIRA, A.M.T. O estado da arte do burnout no Brasil. Revista Eletrônica InterAção Psy, 1(1), 2003, p.4-11. Disponível em: http://www.dpi.uem.br/interacao/numero%201/pdf/artigos/artigo2.pdf. CARLOTTO, M.S.; CÂMARA, S.G. Análise fatorial do Maslach Burnout Inventory (MBI) em uma amostre de professores de uma instituição particular. Psicologia em Estudo, 9(3), 2004, p. 400-505. CODO, W. e VASQUES-MENEZES, I. O que é burnout. In: CODO, W. (Coord.). Educação: carinho e trabalho. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 237-54. CRONBACH, L. Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. Freudenberger, H. J. (1975). The Staff Burnout. Journal of Social Inssues, 30, 159-165. GIL-MONTE, P.R. Validez factorial de la adaptación al español del Maslach Burnout Inventory- General Survey. Salud Pública del México, 44(1), 2002, p.33-40. GOLEMBIEWSKI, R.T.; MUNZENRIDER, R.; CARTER, D. Phases of progressive burnout and their work sites covariates. J. Applied Beh. Sci.,19, 1983, p. 461-481.

34 KITAOCA-HIGASHIGUCHI, K.; NAKAGAWA, H.; MORIKAWA, Y.; ET AL. Construct validity of the Maslach Burnout Inventory- General Survey. Stress and Health, 20(5), 2004, p. 255-260. LAUTERT, L. O desgaste profissional: estudo empírico com enfermeiras que trabalham em hospitais. Revista Gaúcha de Enfermagem, 18, 1997, p. 133-144. LEITER, M.; ROBICHAUD, L. Relationships of occupational Hazards with Burnout: An assessment of measures and models. J. Occup. Health Psychol., 2(1), 1997, p. 35-44. MARTINEZ, J.C.A. Aspectos epidemiológicos del síndrome de burnout en personal sanitario. Rev. Esp. de Salud Publica, 71(3), 1997, p. 293-303. MASLACH, C.; SCHAUFELI, W.; LEITER, M. Job Burnout. Annual Reviews of Psychology, v.52, 2001, p. 397-422. MASLACH, C. P.; LEITER, P. M. Fonte de prazer ou desgaste? Guia para vencer o estresse na empresa. Campinas: Papirus, 1999. REINHOLD, H.H. Stress ocupacional do professor. In: LIPP, M. Pesquisas sobre stress no Brasil: saúde, ocupações e grupos de risco. Campinas: Papirus, 1996, p. 169-194. ROELOFES, J., VERBRAAK,M., ET AL. Psychometric properities of a Dutch version of the Maslach Burnout Inventory General Survey ( MBI-DV) in individuals with and without clinical burnout. Stress and Health., 21(1), 2004, p.17-25 SHAUFELI, W.B.; LEITER, M.P.; MASLACH, C.; JACKSON,S.E. MBI- General Survey. Palo Alto: Consulting Psychologists Press, 1996. SHAUFELI, W.B.; MARTINEZ, I.M.; PINTO, A.M.; ET AL. Burnout and engagement in university students. Journal od Cross-Cultural Psychology., 33(5), 2002, p. 464-481. TAMAYO, M.R. Relação entre síndrome de burnout e os valores organizacionais no pessoal de enfermagem de dois hospitais públicos. Dissertação de Mestrado. Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília, 1997. TAMAYO, M.R., TROCCOLI, B.T. Burnout no trabalho. In MENDES, A. M., MORRONE, C. F. (Org.). Trabalho em transição, saúde em risco. Brasília: Editora da UnB, 2002, p. 43-61.

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8 ANEXOS 36

37 Anexo 1. Versão original do MBI-GS WILMAR B. SHAUFELLI, MICHAEL P. LEITER, CHRISTINA MASLACH, SUSAN E. JACKSON MBI General Survey The purpose of this survey is to asses show staff members view their job and their reactions to their work.l On the following page there are 16 statements of job-related feelings. Please read each statement carefully and decide if you ever feel this way your job. If you have never had this feeling, write a 0 (zero) in the space before the statement. If you have had this feeling, indicate how often you feel it by writing the number (from 1 to 6) that best describes how you feel that way. An example is shown below. Example How often: 0 1 2 3 4 5 6 Never A few times a year or less Once a month or less A few times a month Once a week A few times a week Every day How Often 0-6 Statement: I. I feel depressed at work. If you never feel depressed at work, you would write the number 0 (zero) under then heading How often. If you rarely feel depressed at work (a few times a year of less), you woud write the number 1. If your feelings of depression are fairly frequent (a few times a week, but not daily) you would write a 5.

38 MBI General Survey How often: 0 1 2 3 4 5 6 Never A few times a year or less Once a month or less A few times a month Once a week A few times a week Every day How Often 0 6 Statements 1. I feel emotionally drained from my work. 2. I feel used up at the end of the workday. 3. I feel tired when I get up in the morning and have to face another day on the job. 4. Working all day is really a strain for me. 5. I can effectively solve the problems that arise in my work. 6. I feel burned out from my work. 7. I feel I am making an effective contribution to what this organization does. 8. I have become less interested in my work since I stated this job. 9. I have become less enthusiastic about my work. 10. In my opinion, I am good in my job. 11. I feel exhilarated when accomplish something at work. 12. I have accomplished many worthwhile things in this job. 13. I just want to do my job and not be bothered. 14. I have become more cynical about whether my work contributes anything. 15. I doubt the significance of my work. 16. At my work, I feel confident that I am effective at getting things done.

39 Anexo 2. Versão traduzida e adaptada do MBI-GS WILMAR B. SHAUFELLI, MICHAEL P. LEITER, CHRISTINA MASLACH, SUSAN E. JACKSON MBI General Survey O objetivo deste levantamento é saber como os membros da equipe percebem e reagem ao seu trabalho. Na página seguinte constam 16 afirmações sobre sentimentos em relação ao trabalho. Por favor, leia cuidadosamente cada afirmação e pense se você se sente deste modo em seu emprego. Se você nunca se sentiu assim assinale 0 (zero) no espaço a direita da afirmativa. Se você tem este sentimento indique a freqüência assinalando um número (de 1 a 6) que melhor descreva este sentimento. Um exemplo é mostrado abaixo: Exemplo Freqüência 0 1 2 3 4 5 6 Nunca Poucas vezes em um ano ou menos Uma vez por mês ou menos Poucas vezes em um mês Uma vez por semana Algumas vezes na semana Todos os dias Freqüência 0-6 Afirmativa: I. Sinto-me deprimido no trabalho. Se você nunca se sentiu deprimido no trabalho, assinale o número 0 (zero) na coluna à direita Freqüência. Se você raramente se sente deprimido no trabalho (poucas vezes em um ano ou menos), você pode assinalar o número 1. Se seus sentimentos depressivos são bastante freqüentes (poucas vezes na semana, mas não diariamente) você deve assinalar o número 5.

40 MBI General Survey Freqüência: 0 1 2 3 4 5 6 Nunca Poucas vezes em um ano ou menos Uma vez por mês ou menos Poucas vezes em um mês Uma vez por semana Algumas vezes na semana Todos os dias Freqüência 0 6 Afirmativas 1. Meu trabalho me deixa emocionalmente esgotado. 2. Sinto-me acabado depois de um dia de trabalho. 3. Sinto-me cansado quando acordo e tenho de enfrentar outro dia de trabalho. 4. Trabalhar o dia inteiro é muito pesado para mim. 5. Posso resolver de modo eficaz os problemas que surgem no meu trabalho. 6. Sinto-me esgotado pelo meu trabalho. 7. 8. Sinto que estou contribuindo de modo eficaz para o que esta organização faz. Tornei-me menos interessado no meu trabalho desde que comecei neste emprego. 9. Estou perdendo o entusiasmo pelo meu trabalho. 10. Em minha opinião, faço um bom trabalho nesta empresa. 11. Sinto-me realizado quando termino alguma coisa no trabalho. 12. Tenho realizado várias coisas que valem à pena neste emprego. 13. Quero apenas fazer o meu trabalho sem ser incomodado. 14. Acho que meu trabalho não contribua para nada. 15. Duvido que meu trabalho tenha alguma importância 16. Sinto-me confiante de que deixo as coisas eficientemente prontas no meu trabalho.