O ORÇAMENTO PÚBLICO MUNICIPAL E OS RECURSOS PARA A INFÂNCIA A ORIGEM DOS RECURSOS E O PLANEJAMENTO PARA O ORÇAMENTO

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Transcrição:

O ORÇAMENTO PÚBLICO MUNICIPAL E OS RECURSOS PARA A INFÂNCIA A ORIGEM DOS RECURSOS E O PLANEJAMENTO PARA O ORÇAMENTO

1. Qual a origem dos recursos disponíveis no orçamento para a área da INFÂNCIA? Todos os recursos de que os municípios dispõem para custear as despesas, para realizar os investimentos e para implantar políticas públicas têm origem nos impostos, nas transferências que vêm da União e do Estado, e, em menor parte, em receitas próprias, como resultados de alienações de bens pelo poder público e de parcerias com instituições privadas. As fontes que mais nos interessam são as seguintes: as receitas provenientes dos impostos (municipais ou aos quais o município tenha acesso); as transferências na forma de convênios e participação em programas estabelecidos pelo Estado ou pela União; a aplicação das obrigações constitucionais; o Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente, criado nos Estados e municípios pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Exemplo Os recursos do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente são um exemplo de recursos vinculados que devem ser utilizados em benefício das crianças e adolescentes, em conformidade com a lei que criou o fundo em cada localidade. Os recursos do fundo têm uma contabilidade própria e seguem o mesmo processo orçamentário dos demais recursos públicos. Geralmente o fundo está ligado à Secretaria de Assistência Social e é acessado para financiar ações definidas e aprovadas pelo Conselho da Criança e do Adolescente de cada município.

A importância do tema da INFÂNCIA exige esforço e criatividade para a proposição de ações prioritárias, para a identificação de fontes alternativas de apoio e para a inclusão de programas de interesse da INFÂNCIA nos orçamentos municipais. O conhecimento das classificações orçamentárias nos auxilia a realizar esta última tarefa. Precisamos entender com precisão a linguagem orçamentária e as técnicas de lançamento das despesas de um projeto no orçamento do município, para podermos compor as ações e os recursos de modo a usá-los com eficácia. 2. Em quais áreas podemos aplicar recursos que apoiem as políticas destinadas à INFÂNCIA? As políticas de interesse da INFÂNCIA podem ser encontradas em várias ações de governo. Uma obra de saneamento, um programa de melhoria do ensino voltado à qualificação de professores, um programa de esporte e recreação, um programa de difusão cultural, um programa de educação especial, um programa de alimentação escolar: são exemplos de ações que direta ou indiretamente impactam a qualidade de vida das crianças. Em todos estes casos será sempre essencial a correta e precisa consignação no orçamento, de modo a tornar explícito que as ações não são apenas intenções genéricas, mas representam despesas e compromissos concretos em benefício das crianças. O processo orçamentário deve detalhar as prioridades para a INFÂNCIA, apontando os recursos que serão despendidos e transformados em lei orçamentária e em obrigação a ser cumprida pelo poder público.

Os gastos públicos na área da INFÂNCIA assumem frequentemente uma dimensão intersetorial. Até mesmo quantias modestas, aplicadas em ações bem definidas de áreas correlatas, são importantes para vincular as políticas públicas e potencializar os investimentos. Os instrumentos para fazer esta vinculação entre programas variados, áreas administrativas e finalidades que interessam à INFÂNCIA, são os conceitos de função e subfunção, que serão apresentados adiante e que permitem incluir e especificar os recursos para a INFÂNCIA nas mais variadas ações. Para compreendermos como um programa pode vincular diversas áreas e englobar ações de várias Secretarias Municipais no interesse da INFÂNCIA, podemos considerar um exemplo que será usado mais adiante para explicar a codificação e classificação nas peças orçamentárias. Suponha um programa com várias frentes de ação que pretenda proteger as crianças em uma região e promover a melhoria da sua qualidade de vida. Esse programa poderá conter atividades como: construção de um equipamento urbano apropriado; manutenção desse equipamento; serviço de atendimento odontológico; serviço de apoio a crianças com necessidades especiais; programa médico da família na área de pediatria; saneamento da região no entorno do equipamento; obras de engenharia para acesso; realocação geográfica de um aterro sanitário; programa cultural na comunidade; programa de combate à desnutrição infantil; programa de enfrentamento de violências contra crianças. Os órgãos

envolvidos serão as Secretarias Municipais de Saúde, Educação, Assistência Social, Obras e Serviços Urbanos e Cultura, a empresa municipal ou concessionária de saneamento, o Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente e outros. Os recursos poderão advir do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente, de convênios com órgãos federais e estaduais, de receitas do próprio município e de recursos vinculados à Saúde e à Educação, desde que aplicados de acordo com as suas regras. Os recursos para o aterro sanitário ou para o saneamento não serão buscados no Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente, pois este se destina prioritariamente à proteção das crianças contra violações de direitos, mas sim em receitas municipais ou em transferências. Os recursos do Fundo poderão financiar o programa de enfrentamento das violências contras as crianças. Os recursos da saúde poderão financiar as ações de combate à desnutrição infantil. Assim, o orçamento público é o instrumento que indicará com precisão as despesas relativas a cada órgão e a origem dos recursos destinados ao programa em questão. Nele, os recursos orçamentários envolvidos deverão ser identificados por diferentes codificações orçamentárias. A precisão desta codificação facilitará o adequado monitoramento da execução de cada ação. O orçamento permite esta composição e torna a aplicação dos recursos uma obrigação legal. 3. Como podemos identificar o caráter estratégico da aplicação dos recursos na área da INFÂNCIA? Um orçamento bem feito, claro e propositivo é resultado de um bom planejamento. O processo orçamentário de elaboração e aprovação da lei do orçamento deve se basear em um plano de governo

construído com mecanismos de participação social previstos nas leis e que estabeleça as áreas estruturais que devem ser priorizadas para os gastos públicos. O conhecimento do processo orçamentário permite incluir os recursos de interesse da INFÂNCIA nas ações propostas para atuar nestas áreas estruturais. O orçamento deve ser a consequência de um processo de diagnóstico da realidade local e da situação das crianças e adolescentes, que possibilite o estabelecimento de prioridades e a alocação de recursos com finalidades bem definidas que deverão ser cumpridas e poderão ser monitoradas. Quando idealizamos um programa de interesse da INFÂNCIA podemos adotar a perspectiva intersetorial para projetar gastos nas áreas estruturais (educação, saúde, assistência social, cultura, saneamento, habitação etc.) e buscar um impacto mais amplo das ações. O programa terá recursos definidos para serem despendidos em áreas diversas desde que sua previsão orçamentária contemple esta diversidade. O Senado Federal mantém um sistema de informações - o Portal do Orçamento - http://www8a.senado.gov.br que permite o acesso ao orçamento da União na internet. Uma página deste portal oferece os dados consolidados em várias formas de agrupamento de informações acerca dos gastos públicos na área da criança e do adolescente. Este serviço pode ser acessado através do endereço http://www8a.senado.gov.br/dwweb/abredoc.html?docid=39890 e é um exemplo da diversidade de ações que podem ser articuladas em torno do interesse da INFÂNCIA e da variedade de contribuições das diversas áreas do Poder Executivo Federal.

4. Por que conhecer o orçamento municipal é ponto de partida para melhorar o desenvolvimento de políticas na área da infância? As ações de governo municipal só poderão ser concretizadas se existir previsão orçamentária. O orçamento é o documento legal que trata dos planos, das prioridades, dos recursos necessários e das despesas previstas para a criação, ampliação ou manutenção de serviços e programas de atendimento à primeira infância. O orçamento se constitui no ponto de partida para que o Poder Público local exerça seu dever legal e constitucional de proporcionar proteção integral às crianças e adolescentes (cf. arts. 1º e 4º, caput, da Lei nº 8.069/90 e arts. 226 e 227, da Constituição Federal). Os aspectos técnicos deverão ser compreendidos para que os programas sejam inseridos no orçamento e agreguem as diversas ações e áreas de execução de forma correta.