FOCOS AUTÓCTONES DE Fasciola hepatica NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, ESTADO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL

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Transcrição:

FOCOS AUTÓCTONES DE Fasciola hepatica NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, ESTADO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL FRANCIMAR FERNANDES GOMES UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOYTACAZES RJ FEVEREIRO - 2007

FOCOS AUTÓCTONES DE Fasciola hepatica NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, ESTADO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL FRANCIMAR FERNANDES GOMES Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Produção Animal. Orientador: Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira CAMPOS DOS GOYTACAZES RJ FEVEREIRO - 2007

FOCOS AUTÓCTONES DE Fasciola hepatica NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, ESTADO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL FRANCIMAR FERNANDES GOMES Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Produção Animal. Aprovada em 26 de fevereiro de 2007. Comissão Examinadora: Prof. Carlos Wilson Gomes Lopes (Doutor, Patologia) - UFRRJ Prof. Walter Flausino (Doutor, Parasitologia Veterinária) - UFRRJ Prof. Cláudio Baptista de Carvalho (Doutor, Medicina Veterinária) - UENF Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira (Doutor, Parasitologia Veterinária) - UENF (Orientador)

AGRADECIMENTOS Agradeço ao Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira, pela atenção, dedicação como orientador, e pela confiança que depositou em minha pessoa, transmitindo-me conhecimentos, no que se refere às pesquisas e à responsabilidade científica. À Prof a. Maria Angélica Vieira da Costa Pereira, responsável por meus primeiros contatos com a pesquisa e docência nesta Universidade. Ao Prof. Carlos Eurico Travassos pela amizade e companheirismo demonstrado durante minha trajetória na universidade. Ao professores Antônio Peixoto Albernaz, Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira e Maria Angélica Vieira da Costa Pereira pelos convites para co-orientação de monografias e participação em bancas examinadoras. Senti-me muito honrado. Aos técnicos, funcionários e Amigos do Laboratório de Sanidade Animal, e especialmente a Josias Alves Machado e Orlando Melo Junior pelo apoio moral e pelos ensinamentos pertinentes a rotina do laboratório clínico. À amiga Helaíne Haddad Simões Machado pelo período em que trocamos conhecimentos e estreitamos os laços de amizade. À amiga Luciana Lemos pela realização das fotografias e pelos incentivos constantes dados a este trabalho. ii

Aos companheiros de laboratório Edwards Frazão-Teixeira, Cristiane da Silva Stabenow e às amigas de Pós-graduação, Ana Paula Delgado, Bianca Brand Ederli, Ligia Cristina Chagas, Iliani Bianchi e Giselda Matos, meus sinceros agradecimentos. Aos colegas Ronaldo Barreto Paes, Rachel Ingrid Juliboni Cosendey e Vagner da Silva Fiuza pelos auxílios prestados no desenvolvimento deste trabalho. Aos integrantes da Comissão Examinadora deste trabalho Professores Carlos Wilson Gomes Lopes, Walter Flausino, Cláudio Baptista de Carvalho, Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira e Clóvis de Paula pelas considerações, correções e sugestões dadas. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq.) e Coordenação do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo suporte financeiro. À Elma Lucy Silveira Santana pela participação positiva e constante de noiva e crítica, pelo apoio, estímulo, equilíbrio e motivação necessários para prosseguir meus projetos profissionais. Expresso toda a minha gratidão aos meus pais que apoiaram todas e quaisquer decisões minhas, não tendo medido esforços para ensinar-me o essencial sendo os grandes responsáveis pela educação que tenho hoje. A todos que, de alguma forma, sugeriram, criticaram, incentivaram e colaboraram direta ou indiretamente para a realização dessa pesquisa, meus sinceros agradecimentos. A Universidade Estadual do Norte Fluminense e a todos os seus Professores e servidores técnico-administrativos que tão bem me acolheram neste importante período de minha vida acadêmica. E principalmente, a Deus por tudo de bom que tem me proporcionado ao longo de minha vida. iii

BIOGRAFIA Francimar Fernandes Gomes, filho de Benedicto Gomes e Amarílis Fernandes Gomes; nascido em 25 de fevereiro de 1976, no município de Campos dos Goytacazes, Estado do Rio de Janeiro. Realizou o curso primário no Colégio Externato Campista tendo concluído em 1986. Cursou o ginásio no Liceu de Humanidades de Campos durante o período de 1987 a 1990 onde também concluiu o 2º grau no ano de 1993. Em 1995 ingressou no curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro tendo se profissionalizado no ano 2000. Em 2001 iniciou o curso de Mestrado em Produção Animal na mesma universidade onde adquiriu experiência em docência, colaborando nas disciplinas de Zoologia Aplicada à Agropecuária, Inspeção de Produtos de Origem Animal, Parasitologia Veterinária e Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos. Desenvolveu projetos de pesquisa no Laboratório de Sanidade Animal, como bolsista da CAPES sob orientação do Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira, trabalhando com criação, identificação de moluscos e fatores predisponentes a causa de fasciolose hepática tendo trabalhado até o mês de fevereiro de 2003. iv

Neste mesmo ano foi aprovado no Curso de Pós-Graduação em Produção Animal em nível de doutorado, onde deu continuidade aos projetos de pesquisa iniciados no mestrado. Em fevereiro de 2007 defendeu tese para obtenção do título de Doutor em Produção Animal. v

CONTEÚDO RESUMO... ABSTRACT... viii ix 1. INTRODUÇÃO... 1 2. REVISÃO DE LITERATURA... 4 2.1. Fatores climáticos... 4 2.2. Fatores ambientais... 5 2.3. Achados de matadouros... 5 2.4. Patologia... 6 2.5. Diagnóstico sorológico e coproparasitológico... 7 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 9 4. TRABALHOS... 14 4.1. RASTREABILIDADE DE PROPRIEDADES RURAIS PARA O DIAGNÓSTICO DE FASCIOLOSE HEPÁTICA NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ, BRASIL... 15 vi

4.2. IDENTIFICAÇÃO DE FOCOS AUTÓCTONES DE Fasciola hepatica PELO USO DE ANIMAIS TRAÇADORES (Ovis aries) NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ... 28 4.3. CONHECIMENTOS TÉCNICOS SOBRE A PREVENÇÃO E CONTROLE DA FASCIOLOSE NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ... 44 5. CONCLUSÕES GERAIS... 60 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 61 6.1. Erros não usuais... 61 6.2. Sugestões para o controle... 63 vii

RESUMO GOMES, Francimar, F., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; fevereiro de 2007; Focos autóctones de Fasciola hepatica no município de Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro; Orientador: Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira. O presente trabalho foi dividido em três etapas. Na primeira foi realizado o rastreamento de propriedades rurais suspeitas de serem focos autóctones de Fasciola hepatica segundo o Serviço de Inspeção Estadual do município de Campos dos Goytacazes, RJ. Para tanto, exemplares de Lymnaea columella foram coletados, dissecados e amostras fecais de bovinos provenientes de 23 fazendas foram examinadas para a detecção de ovos do parasito. Apesar dos resultados dos exames de fezes terem sido positivos para os animais de grande parte das propriedades, nenhum foco autóctone foi assinalado já que a infecção dos moluscos examinados não foi confirmada. Então, um segundo experimento foi realizado, desta vez utilizando ovinos como traçadores em quatro propriedades. Constatouse a existência de três focos no distrito de Santa Maria, logo esta metodologia foi considerada mais adequada para a identificação de casos autóctones em áreas enzoóticas. Baseado nesses achados e no diagnóstico freqüente de fasciolose em bovinos abatidos no município de Campos, RJ um terceiro trabalho foi realizado para identificar os motivos pelos quais a enfermidade é altamente prevalente no município. Constatou-se que os erros de manejo fruto do desconhecimento generalizado sobre a epidemiologia dessa enfermidade são importantes fatores que predispõe sua ocorrência na região estudada. Palavras-chave: Fasciola hepatica, Lymnaea columella, traçadores, inquéritos viii

ABSTRACT GOMES, Francimar, F., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; February 2007; Autochtonal foci of fascioliasis in the municipality of Campos dos Goytacazes, state of Rio de Janeiro, Brasil; Adviser: Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira. The present work was divided in three stages. In the first the search was accomplished by several rural properties that in agreement with the State Inspection Service of the municipality of Campos dos Goytacazes were suspicious of be autochtonal foci of fascioliasis. For so much, specimens of Lymnaea columella were collected, dissected and fecal samples of bovine coming of 23 farms were examined for the detection of eggs of the parasite. In spite of the results of the exams of feces have been positive for the animals of great part of the properties, no autochtonal foci was marked since the infection of the examined mollusks was not confirmed. Then, a second experiment was accomplished, this time using ovine as tracer in four properties. The existence of three foci was verified in Santa Maria's district, soon this methodology was considered more appropriate for the identification of autochtonal foci in enzootic areas. Based on those discovered and in the frequent diagnosis of fascioliasis in bovine dead in Campos' municipality a third work was accomplished to identify the reasons for the disease to be highly prevalent and it was verified that the ignorance on the epidemiology of this illness is one of the main risk factors for this to happen in the studied area. Key words: Fasciola hepatica, Lymnaea columella, tracer, inquiries ix

1. INTRODUÇÃO A fasciolose hepática, também conhecida como distomatose é uma das mais importantes enfermidades parasitárias de bovinos (KITHUKA et al. 2002). Trata-se de uma importante parasitose na saúde pública, haja vista sua inclusão na lista das helmintose com grande impacto no desenvolvimento humano (MAS-COMA et al. 2005). É causada pelo parasito Fasciola hepatica, capaz de acometer diversas espécies (SANTOS et al. 2000). Esta enfermidade parasitária é cosmopolita (SERRA-FREIRE, 1995; GOMES et al. 2002; CARRADA-BRAVO, 2003) e no Brasil foi assinalada em estados como MG, RS, SC, PR, SP e RJ (SERRA FREIRE 1995). Seu agente etiológico é um dos helmintos que mais causam prejuízos ao rebanho brasileiro (ECHEVARRIA 1985; SERRA-FREIRE e NUERNBERG 1992), pois limitam a criação de animais de interesse zootécnico (PILE et al. 2001).Trata-se de um trematódeo pertencente ao Filo Platyhelmintes, que ao se desenvolver no fígado dependendo do grau de comprometimento pode levar a severos quadros de anemia trazendo como conseqüência à morte (BORDIN, 1995). Os trematódeos digenea possuem um ciclo biológico complexo em que obrigatoriamente dependem da presença de um molusco, gastrópode como primeiro hospedeiro (BARBOSA 1995; QUEIROZ et al. 2002) e em geral podem infectar uma enorme variedade de espécies (SERRA FREIRE, 1995).

2 Sabe-se que no Brasil os caramujos do gênero Lymnaea foram identificados por diversos pesquisadores como hospedeiros intermediários (ARAUJO et al. 2002; SOUZA e MAGALHÃES 2002) e segundo ECHEVARRIA (1985), a espécie L. columella é a mais difundida no território brasileiro e L. viatrix está mais restrita a região sul do país. Assim sendo, torna-se necessária à realização de estudos que avaliem as causas que influenciam em sua dispersão e manutenção no ambiente. Diversas são as causas que podem estar envolvidas na prevalência de fasciolose em determinada região. Segundo GOMES et al. (2002), o município de Campos dos Goytacazes reúne condições climáticas favoráveis, tanto à presença do molusco hospedeiro intermediário quanto à infecção dos hospedeiros vertebrados, dentre elas destacam-se os fatores meteorológicos como temperatura e precipitação pluviométrica, no entanto, pensa-se na influência de outros fatores no município que ainda não foram identificados ou discutidos. Alguns trabalhos apontaram o trematódeo F. hepatica como um dos principais parasitos encontrados em salas de abate no Brasil (SERRA-FREIRE 1995; GOMES et al. 2006; FILGUEIRA et al. 2006; RABELLO et al. 2006). A doença costuma ser descrita em locais baixos e úmidos, (GOMES et al. 2002) e devido a esse fato, pode facilmente se dispersar em áreas de planícies como o da região norte fluminense. Para que se tenha um conhecimento global da dinâmica de parasitoses, como a fasciolose são necessários estudos prévios e sistemáticos dos fatores ecológicos que favorecem a presença do hospedeiro intermediário no ambiente, já que estes participam e condicionam ao ciclo (PILE et al. 1994). Deve-se também atentar para a existência de espécies susceptíveis (SANTOS et al 2000), além da maneira como é realizado o manejo sanitário (SANTOS FILHO, 1999). Baseado nessas questões procurou-se identificar casos autóctones de fasciolose hepática em áreas de risco estudando a biodinâmica populacional de L. columella, realizando exames parasitológicos em amostras fecais de bovinos e ovinos, além de necropsias em animais da espécie ovina que foram utilizados como traçadores em algumas propriedades rurais. Procurou-se também avaliar a situação do controle da verminose na região para que os resultados obtidos sirvam de base para a conscientização de técnicos e produtores rurais quanto à importância da realização de um controle estratégico adequado. Espera-se que em curto prazo sejam estabelecidas medidas capazes de aumentar a produtividade do rebanho

3 bovino, bem como facilitar a expansão da ovinocultura na região Norte Fluminense já que esta pode ser inviável, haja vista a susceptibilidade da espécie ovina a este parasito (PARR e GRAY 2000) e o município de Campos dos Goytacazes ser um dos mais enzoóticos do estado do Rio de Janeiro para essa enfermidade parasitária (FILGUEIRA et al. 2006; GOMES et al. 2006).

4 2. REVISÃO DE LITERATURA No Brasil a primeira citação do molusco do gênero Lymnaea foi feita por LUTZ (1921) no Rio de Janeiro. Segundo alguns pesquisadores estes proliferam rapidamente no ambiente devido à capacidade de autofecundação (EEDEN e BROWN, 1966). Os locais onde foram encontrados foram descritos como sendo habitats de pouca profundidade, pouca vegetação e pouca correnteza (GONZALES et al. 1974). No Estado do Rio de Janeiro a presença de limneídeos foi descrita por pesquisadores como PILE (1990) e GOMES e SERRA-FREIRE (2001). 2.1. Fatores climáticos. Estes são importantes para a dinâmica populacional de moluscos. Autores como MATTOS et al. (1997), afirmaram que o declínio da população de L. columella coincide com o período de temperaturas altas e segundo AMATO et al. (1986), o efeito negativo exercido pelas altas temperaturas é minimizado pelo aumento das chuvas. Em experimento realizado no campo PILE et al. (1998), estudaram entre os anos de 1985 e 1990 os fatores que afetam e influenciam na dinâmica populacional de L. columella na pastagem. Eles observaram no decorrer dos cinco primeiros anos um grande número de moluscos no período seco de maio-outubro em uma fazenda localizada no município de Piquete, Estado de São Paulo. Continuando os estudos constataram no último ano para o município de Redenção da Serra que o maior número de moluscos ocorreu no período das chuvas de janeiro a março, concluindo assim que a dinâmica da população de moluscos está estreitamente relacionada a fatores ecológicos e climáticos e estes diferem de uma localidade para outra.

5 2.2. Fatores ambientais. Na Austrália, PONDER (1975) descreveu pela primeira vez a presença de L. columella na área metropolitana de Sidney, pensando que o seu aparecimento no país deveu-se à importação de plantas aquáticas. Por sua vez, ESCUDERO et al. (1985), revelaram a importância do conhecimento da flora e microbiota dos habitats dos moluscos hospedeiros intermediários de F. hepatica, devido ao papel que a vegetação possui no ciclo de vida destes animais. Ainda com referência aos hospedeiros intermediários ABÍLIO e WATANABE, (1998), ao realizarem estudo malacológico durante dois anos na cidade de Campina Grande no Estado da Paraíba, assinalaram pela primeira vez a presença de L. columella associada a raízes de macrófitas aquáticas. Segundo esses autores, o molusco tem preferência por águas com valores de dureza total de 300mg CaCO 3 / l e alcalinidade média de 150 CaCO 3 / l. 2.3. Achados de matadouros Não há uma constância mundial nas avaliações de prevalência de Fasciolose nos hospedeiros vertebrados, contudo podem ser mencionados o registro de 10,5% de casos em bovinos abatidos na Alemanha, entretanto no Chile foi observado 42,4% em bovinos, 19,58% em pequenos ruminantes (ovinos e caprinos) e 34,56% em suínos. Em Portugal 21,4% das infecções foi observada em bovinos; 4,8% em ovinos e caprinos e 0,3% em suínos e em Porto Rico 3,5% em bovinos (SERRA- FREIRE 1995). Considerando as primeiras citações sobre a prevalência da fasciolose em animais de abate no Brasil, REY, (1957) registrou para o Estado do Rio Grande do Sul um total de 2,24% de casos em 714.545 bovinos abatidos, bem como 10,1% em um total de 941 bovinos no Estado de São Paulo. Depois destes, diversos outros registros evidenciaram a prevalência dessa enfermidade através de achados de matadouros (SERRA-FREIRE, 1995; GOMES et al. 2006; FILGUEIRA et al. 2006; RABELLO et al. 2006 e). Nos municípios da Região Norte Fluminense constata-se uma grande preocupação quanto à possibilidade de aumento nos índices de prevalência dessa enfermidade, dada a freqüência com que a mesma é diagnosticada em animais de

6 abate pelo serviço de Inspeção Estadual S.I.E. (FILGUEIRA et al. 2006; RABELLO et al. 2006). Segundo RABELLO et al. (2006), a fasciolose tem sido considerada uma parasitose enzoótica no Estado do Rio de Janeiro tendo as regiões Norte, Noroeste e do Médio Paraíba como as principais regiões de ocorrência e de acordo com FILGUEIRA et al. (2006), é a doença com maior número de notificações seguida da cisticercose. 2.4. Patologia Constatou-se em trabalho publicado por SERRA-FREIRE (1995), que o período de incubação varia muito com a espécie do hospedeiro vertebrado, destacando-se: 70 a 150 dias para bovinos, 54 a 65 dias para coelhos, 97 dias para cobaios, 51 dias para ratos, 33 a 34 dias para hamster, 31 a 35 dias para camundongos e 60 a 120 dias para ovinos. Dentre as diferenças patológicas verificadas em ovinos e bovinos após a infecção, ECHEVARRIA, (1985) destacou, o grau de calcificação das lesões tissulares e a hiperplasia dos ductos biliares como reações mais evidentes em bovinos. O autor destacou ainda que nesta espécie pode ocorrer uma recuperação espontânea devido à calcificação dos ductos biliares que pode causar a inanição do parasito. SERRA-FREIRE (1995), argumentou que em ovinos a infecção dura aproximadamente nove meses, mas em bovinos o período parasitário tende a ser maior, sendo que nessa espécie a evolução é quase sempre crônica. O autor também relatou que a movimentação das formas jovens é mais intensa entre 40 e 60 dias pós-ingestão das metacercárias, para ruminantes, e causa extensa destruição do parênquima com marcada hemorragia e em casos de infecção maciça pode ocorrer ruptura da cápsula de Glisson acompanhada de hemorragia para a cavidade peritoneal; nessas condições a morte acontece em poucos dias e sem sintomatologia aparente. O fígado fica hipertrofiado, pálido, e com áreas de hemorragia superficial e profunda. Em casos subagudos o parênquima fica repleto de canais de migração de F. hepatica onde um infiltrado de leucócitos é bem evidente, somado ao início do processo de fibrose. Esses sinais são visíveis nos hospedeiros vertebrados

7 independentemente de seu estado nutricional ou idade. Clinicamente o hospedeiro vertebrado demonstra anorexia, dor no hipocôndrio direito, aumento do abdome e movimenta-se pouco, podendo ter febre, eosinofïlia, aumento da concentração sérica de enzimas hepáticas, evoluindo para cirrose no estágio crônico (SERRA- FREIRE 1995). A patologia em outros órgãos como o peritônio também pode ser observada e de acordo com BORDIN (1995) está ligada a quantidade de metacercárias ingerida, ao continuismo dessa ingestão e ao grau de resistência do hospedeiro, o qual também está relacionado à idade. O autor também afirmou que o momento em que F. hepatica erraticamente afeta os pulmões, resulta na formação de nódulos císticos em níveis subpleurais no parênquima e mais raramente nos brônquios. Estes cistos usualmente medem um cm de diâmetro e freqüentemente contêm mais de um exemplar do parasito adulto, ocorrendo por vezes a formação de fístulas, pelas quais os ovos do parasito escoam e atingem o lúmen bronquiolar. Nestes cistos, podem ser observados tão-somente parasitos mortos ou ovos envolvidos por reação fibrosa. 2.5. Diagnostico clínico sorológico e coproparasitológico. O diagnóstico clínico da fasciolose não é fácil já que sintomas como emaciação, anorexia, anemia e perda de peso, não são característicos, dessa forma sendo necessário a realização de diagnóstico diferencial com outras enfermidades em que se evidenciam estas mesmas manifestações clínicas. Dependendo do número de metacercárias ingeridas a fasciolose pode se manifestar sob três diferentes formas: subaguda, aguda e crônica (SERRA-FREIRE 1995). Na fasciolose aguda ou subaguda os sintomas clínicos não são muito específicos. Nesse caso o diagnóstico clínico é praticamente impossível, no entanto, podem-se empregar testes laboratoriais para mensurar o nível plasmático de enzimas, como a glutamato desidrogenase GLDH liberadas quando as células parenquimatosas são lesadas e gamaglutamiltranspeptidase * GT, que indica lesão das células que revestem os ductos biliares (URQUHART et al. 1998). Nesse caso através de dosagem enzimática pode-se acompanhar a mudança da fase aguda para a crônica. Na fase crônica a fasciolose é facilmente diagnosticada pela presença de ovos nas fezes. Várias técnicas para o diagnóstico coprológico da fasciolose encontram-se descritas na literatura. Estas técnicas se baseiam nos princípios da

8 sedimentação e tamisação (FOREYT, 2005), no entanto, para o diagnóstico do parasitismo crônico de fasciolose a técnica mais utilizada é a dos quatro tamises descrita por GIRAO e UENO (1985), para a observação dos ovos nas fezes que indica a presença de F. hepatica adulta nos ductos hepáticos e biliares. De acordo com SERRA-FREIRE (1995), a prevalência de fasciolose pode ser determinada por meio de exame de fezes com a visualização de ovos de F. hepatica em propriedades rurais. Este autor demonstrou a existência de grande variação nos índices de prevalecia citando os resultados de exames coproparasitológicos de diversos outros pesquisadores. Também pode ser citado o trabalho de AMATO et al. (1986) que no estado de São Paulo, notadamente no município de Piquete encontrou 80% de bovinos parasitados. Por sua vez, PILE (1990) comprovou a variação de 26,6 a 50,4% de fasciolose bovina no município de Redenção da Serra. Pesquisas também foram realizadas no Estado de Santa Catarina, por SERRA-FREIRE e NUERNBERG (1992) que divulgaram índices de 27,86% para bovinos, 24,72% para bubalinos, 16,92% para ovinos e 15,66% para caprinos relativos a 12 anos de investigação e finalmente, para o Estado do Rio de Janeiro, NUERNBERG et al. (1983), assinalaram prevalência de 35,8% para bovinos no município de Três Rios.

9 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABÍLIO, F.J. P e WATANABE, T. (1998) Ocorrência de Lymnaea columella (Gastropoda: Lymnaeidae), hospedeiro intermediário da Fasciola hepatica para o Estado da Paraíba, Brasil. Rev. Saúde Públ., 32 (2): 184 185. AMATO, S. B. ; REZENDE, H. E. B. de ; GOMES, D. C. e SERRA FREIRE, N, M. da (1986) Epidemiology of Fasciola hepatica infection in the Paraíba River Valley. São Paulo, Brazil. Vet. Parasitol., 22 (3-4): 275 284. ARAUJO, S.M.; PILE, E.A.M.; BARROS, J.S.L.; SANTOS, J.A.A.; VASCONCELLOS, M.C. (2002) Alterações histológicas em Lymnaea columella provocadas pelo látex de Euphorbia splendens var. hislopii. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., 39 (3): 157-159. BARBOSA, F.S. (1995). Tópicos em malacologia médica, Rio de. Janeiro: Fiocruz, 314p. BORDIN, E. L (1995) Revisão da Anatomia Patológica da fasciolose bovina. Hora Vet., 1 (Edição extra): 33 35. CARRADA-BRAVO, T. (2003) Fascioliasis: diagnosis, epidemiology and treatment. Rev Gastroenterol Mex. 68 (2):135-42. ECHEVARRIA, F. A. (1985) Fasciolose: ocorrência, diagnóstico e controle. Agroq. Ciba-Geigy., 7 (27): 4 9.

10 ESCUDERO, J. L. e CRESPO, R. F. (1985). Flora y microflora de tres habitats de caracoles hospederos intermediarios de Fasciola hepatica en Tulacingo, HGO. Téc. Pec. Méx., 49: 157 159. EDDEN, J. A. V. e BROWN, D. S. (1966). Colonization of fresh water in the Republic of South Africa by Lymnaea columella Say (Mollusca: Gastropoda). Nature, 210: 1172 1173. FILGUEIRA, I. L.; PEREIRA, L. A.; RABELLO, R. S.; PITTIGLIANI, T. M. C. GITTI, C. B. (2006) Prevalência das principais doenças relatadas em matadouros com inspeção estadual no Estado do Rio de Janeiro no período de 2002 a 2005. Rev. Univ. Rural, Ciênc. Vida, 26 (supl.1). 177-178. FOREYT, W.J. Parasitologia veterinária: manual de referência. 5ª edição. São Paulo. Roca, 2005. 240p. GIRÃO, E. S e UENO, H. (1985) Técnica de quatro tamises para diagnóstico coprológico quantitativo da fasciolose em ruminantes. Pesq. Agropec. Bras., 120: 905 912. GOMES, F. F.; OLIVEIRA, F. C. R; MAURE-PILE, E. P.; LOPES, C. W. G. (2002) Estabelecimento de foco de Fasciolose hepática em propriedade do município de Campos dos Goytacazes no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 11 (2): 53-56. GOMES, F. F.; PAES, R. B.; FIUZA, V. R. S.; OLIVEIRA, F. C. R. (2006) Fasciolose Bovina diagnosticada em matadouros da Região Norte Fluminense. Univ. Rural, Ciênc. Vida, 26 (supl.1): 509-510. GOMES, D. C. e SERRA-FREIRE, N. M. (2001) Susceptibilidade de Lymnaea columella Say, 1817 à infecção por Fasciola hepatica Linnaeus, 1758., R. Bras. Ci. Vet., 8 (2): 121 126.

11 GONZALES, J. C; SANCHEZ, V. M.; THOME, J. W.; GONÇALVES, P.C. & OLIVEIRA, C. M. B. (1974). Lymnaea columella, hospedeiro intermediário de Fasciola hepatica L. 1758, no Rio Grande do Sul, Brasil. Arq. Fac. Vet. UFRGS, 2 (1): 37-40. KITHUKA, J.M.; MAINGI, N.; NJERUH, F.M.; OMBUI, J.N. (2002) The prevalence and economic importance of bovine fasciolosis in Kenya-an analysis of abattoir data Onderstepoort, J. Vet. Res., 69 (4): 255 262. LUTZ, A. (1921) Sobre a ocorrência da Fasciola hepatica no Estado do Rio de Janeiro. Mem. Inst. Oswaldo Cruz., 1 (1): 9 13. MATTOS, M. J. T., UENO, H., GONÇALVES, P. C. e ALMEIDA, J. E. M. (1997) Ocorrência estacional e bioecologia de Lymnaea columella Say, 1817 (Mollusca Lymnaeidae) em habitat natural no Rio Grande do Sul. Revista Bras. Med. Vet., 19 (6): 248 251. MAS-COMA S, BARGUES MD, VALERO MA (2005). Fascioliasis and other plantborne trematode zoonoses. Int J Parasit 35 (11-12): 1255-1278. NUERNBERG, S. REZENDE, H. E. B. SERRA-FREIRE, N. M. GOMES, P. A. C. ARAÚJO, B. J. L. (1983) Biologia e susceptibilidade de Lymnaea cubensis (Mollusca, Lymnaeidae) a infecções por Fasciola hepatica em condições experimentais. Pesq. Vet. Bras., 3: 1 10. PARR S.L. e GRAY J.S. (2000). A strategic dosing scheme for the control of fasciolosis in cattle and sheep in Ireland. Vet Parasitol. 88 (3-4): p.187-197. PHIRI, A.M.; PHIRI, I.K.; SIKASUNGE, C.S.; MONRAD, J. (2005). Prevalence of Fasciolosis in Zambian Cattle Observed at Selected Abattoirs with Emphasis on Age, Sex and Origin Journal of veterinary medicine. B, Infectious diseases and veterinary public health, 52, (9): 414-416.

12 PILE, E. (1990) Variação mensal da densidade populacional de Lymnaea columella Say, 1871, hospedeiro intermediário de Fasciola hepatica L. 1758, e da prevalência da fasciolose em bovinos no município de Redenção da Serra- SP. Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 31p. PILE, E. BUSTAMANTE, M. SERRA-FREIRE, N. M. GOMES, D. C. (1998) Dinâmica de Lymnaea columella (Say, 1817), hospedeiro intermediário de Fasciola hepatica (Linnaeus 1758) em municípios do Estado de São Paulo, Brasil. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., 35 (4): 151 155. PILE, E.; SANTOS, J.A.A.; PASTORELLO, T.; VASCONCELLOS, M. (2001) Fasciola hepatica em búfalos (bubalus bubalis) no município de Marica, Rio de Janeiro Brasil, Braz.J. Vet. Res. Anim. Sci. 38 (1): 42-43. PONDER, W. F. (1975) The ocurrence of Lymnaea (Pseudosuccinea) columella an intermediate host of Fasciola hepatica in Australia. Aust. Vet. J., 51(10): 494 495. QUEIROZ, V.S.; LUZ, E.; LEITE, L.C.; CÍRIO, S. M. (2002) Fasciola hepatica (Trematoda, Fasciolidae): estudo epidemiológico nos municípios de Bocaiúva do Sul e Tunas do Paraná (Brasil) Acta Biol. 31 (1, 2, 3, 4): 99-111. RABELLO, R. S; PEREIRA, L. A.; FILGUEIRA, I. L.; PITTIGLIANI, T. M. C.; GITTI, C. B. (2006) Ocorrência de doenças a partir de achados de matança, nas regiões do estado do Rio de Janeiro, no período de 2002 a 2005. Univ. Rural, Ciênc. Vida, 26 (supl.1): 179-180. REY, L. (1957). Fasciola hepatica no gado do Rio Grande do Sul; investigação sobre a possibilidade de ocorrência de casos humanos. Rev Bras Malariol 9: 473-483. SANTOS FILHO, J. P. (1999) Percepção e realidade de produtores de leite e Médicos Veterinários da Mesorregião do Agreste do Estado de Pernambuco

13 sobre o controle da verminose bovina, Seropédica-RJ. Tese (Doutorado) Parasitologia Veterinária. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,111p. SANTOS, C. S. SCHERER, P. O; VASCONCELLOS, M. C; PILE, E. M; FREIRE, L. S. SANTOS, J. A. A; SERRA-FREIRE, N. M. (2000) Registro de Fasciola hepatica em eqüinos (Equus caballus), caprinos (Capra hircus) e ovinos (Ovis aries) no município de Itaguaí, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Ci. Vet. 7(1): 63 64. SERRA-FREIRE., N. M e NUERNBERG, S. (1992) Dispersão geopolítica da ocorrência de Fasciola hepatica no Estado de Santa Catarina, Brasil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro., 87 (Supl. 1): 263 269. SERRA-FREIRE., N. M. (1995) Fasciolose hepática. Hora Vet. 1 (Edição extra): 13 19. SOUZA, C.P.; MAGALHÃES, K.G. (2002).Aspects of the maintenance of the life cycle of Fasciola hepatica in Lymnaea columella in Minas Gerais, Brazil. Mem. Inst. Oswaldo. Cruz, 97 (3): 407-410. URQUHART, G.M.; ARMOUR, J.; DUNCAN, J.L.; DUNN, A.M.; JENNINGS, J.W. (1998) Parasitologia Veterinária. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 273p.

14 4. TRABALHOS Os trabalhos serão enviados para publicação respectivamente nas revistas abaixo relacionadas: 4.1. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária; 4.2. Ciência Rural; 4.3. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia.

15 RASTREABILIDADE DE PROPRIEDADES RURAIS PARA O DIAGNÓSTICO DE FASCIOLOSE HEPÁTICA NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ, BRASIL Francimar F. Gomes 1 ; Vagner Ricardo da S. Fiuza 1 ; Francisco Carlos R. de Oliveira 2 ; Carlos Wilson G. Lopes 3 ; Ronaldo B. Paes 4 ABSTRACT: - GOMES, F.F; FIUZA, V.R. da S; OLIVEIRA, F.C.R. de; LOPES, C.W.G.; PAES, R.B. Tracking ability of rural properties for fascioliasis's diagnosis in the municipality of Campos dos Goytacazes, RJ, Brazil. In the year of 2001 the State Inspection Service (S.I.E.) identified 41 rural properties at different municipalities at the Fluminense North region as being potential foci of fascioliasis. Among these, 23 belonged to the municipality of Campos dos Goytacazes. During the period from March 2002 to December 2004 at the municipality of Campos dos Goytacazes were tracked confirm by fecal examination to identify positive animals by using the technique of four sieves, as well as the withdrawal of snails of the genus Lymnaea for recovering larval stages. The results were coincided with accomplished S.I.E., because they indicated the presence of positive animals in 17 (74%) of the farms being 8 (47%) from Santa Maria, 5 (29%) from Morro do Coco and 4 (24%) from Santo Eduardo. The presence of the species Lymnaea columella was only verified in three located rural properties in Santa Maria's district however, no mollusk was sponged by larval forms of Fasciola hepatica, so the existence of autochthonal cases was not confirmed. KEY WORDS: Fasciola hepatica, epidemiology, Lymnaea columella, ruminant, bovine. RESUMO No ano de 2001 foram identificadas pelo Serviço de Inspeção Estadual (S.I.E.) 41 propriedades rurais distribuídas em diversos municípios da região Norte Fluminense 1 Curso de Pós Graduação em Produção Animal. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF). Avenida Alberto Lamego, 2000, Horto Cep 28015620, Campos dos Goytacazes, RJ. E-mail: francimar_rj@yahoo.com.br 2 Laboratório de Sanidade Animal / CCTA / UENF. E-mail: foliveira@uenf.br 3 Departamento de Parasitologia Animal/ IV/ UFRRJ. 4 Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Pesca e Desenvolvimento do Interior do Estado do Rio de Janeiro / SEAAPI-RJ

16 como sendo potenciais focos de fasciolose hepática. Dentre estas, 23 pertenciam ao município de Campos dos Goytacazes. Durante o período compreendido entre os meses de março de 2002 e dezembro de 2004 as propriedades localizadas neste município foram rastreadas para a confirmação de casos através da coleta de amostras fecais de bovinos para a realização de exames pela técnica dos quatro tamises, bem como o recolhimento de moluscos do gênero Lymnaea para sua dissecação. Os resultados coproparasitológicos coincidiram na maioria das vezes com os diagnósticos anatomopatológicos realizados pelo S.I.E., pois indicaram a presença de animais parasitados em 17 (74%) das fazendas e destas, 8 (47%) pertenciam às localidades de Santa Maria, 5 (29%) em Morro do Coco e 4 (24%) Santo Eduardo. A presença da espécie Lymnaea columella foi constatada somente em três propriedades rurais localizadas no distrito de Santa Maria, no entanto nenhum molusco estava parasitado por formas larvais de Fasciola hepatica, logo a existência de casos autóctones não foi confirmada. PALAVRAS CHAVE: Fasciola hepatica, epidemiologia, Lymnaea columella, ruminantes, bovinos INTRODUÇÃO A rastreabilidade é um sistema de controle de animais que permite sua identificação no local de origem desde o nascimento até o abate, registrando todas as ocorrências relevantes ao longo de sua vida. De acordo com Pires (2000), essa prática possui importante papel nas campanhas de erradicação de doenças, uma vez que permite a atuação imediata dos órgãos de defesa sanitária, possibilitando assim, o monitoramento e o controle de diversas enfermidades de maneira mais efetiva. No que se refere a parasitoses como a fasciolose hepática, sabe-se que sua ocorrência em animais vertebrados depende da viabilidade das formas infectantes do parasito, bem como da sobrevivência das espécies de moluscos do gênero Lymnaea na pastagem, e a presença destes está diretamente relacionada a fatores ecológicos e climáticos (MAURE-PILE et al. 1998). Após o estudo da relação existente entre alguns fatores climáticos e a dinâmica populacional de Lymnaea columella em propriedade rural localizada no

17 município de Campos, RJ, Gomes et al. (2002), registraram no distrito de Santa Maria o primeiro caso autóctone de fasciolose da região. Os autores destacaram ainda a possibilidade de existência de outros focos, no município, haja vista as freqüentes condenações de fígado registradas pelo Serviço de Inspeção Estadual (S.I.E) para bovinos provenientes dessa localidade. Esses fatos serviram de incentivo para a realização da presente pesquisa que teve como objetivo encontrar outros focos de F. hepatica no município em áreas destacadas pelo S.I.E como sendo de potencial enzoótico. MATERIAL E MÉTODOS Local e período de estudo: o trabalho foi conduzido entre os anos de 2002 e 2004, tomando-se por base os dados de condenações de fígados coletados junto ao (S.I.E) da Superintendência de Defesa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro. Estes foram relativos aos estabelecimentos Frigorífico Guarus Ltda e Matadouro Frigorífico de Campos Ltda localizados no município de Campos dos Goytacazes, RJ. Dessa forma, rastreamentos sistemáticos das propriedades caracterizadas nestes matadouros como possíveis focos de fasciolose hepática foram realizados. As propriedades em que o molusco hospedeiro intermediário foi encontrado tiveram suas coordenadas demarcadas por um guia de posicionamento por satélite - GPS (etrex GARMIN). Amostragem, coleta e transporte de material: decidiu-se que em cada fazenda seriam coletadas amostras fecais por conveniência de 10% do rebanho, entretanto em propriedades com rebanhos muito grandes estabeleceu-se a coleta o máximo de 30 amostras. Para a coleta foram selecionados por conveniência bovinos de aproximadamente um ano de idade. As amostras fecais foram coletadas diretamente da ampola retal dos animais, com auxílio de sacos plásticos de tamanho 15x30cm contendo a identificação da fazenda. Os sacos foram invertidos, acondicionados em caixa de isolamento térmico com gelo e transportados até o Setor de Clínica Médica do Laboratório de Sanidade Animal (LSA) no Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e depois de catalogadas, cada amostra foi homogeneizada e processada para pesquisa de ovos do trematóide. A técnica

18 empregada para a detecção dos ovos foi a de Quatro Tamises descrita por Girão e Ueno, (1985), utilizando para contraste o corante Verde de Metila. Coleta dos moluscos: os espécimes foram encontrados nas propriedades visitadas, contados, classificados e separados por gênero com base em suas características de morfologia externa. Alguns eram recolhidos das raízes da vegetação aquática onde se encontravam aderidos, outros eram obtidos após o agito do substrato de fundo (lama) a uma profundidade de até 20 cm utilizando para isso uma haste de madeira rígida. Após alguns segundos os moluscos que sobrenadavam eram coletados e transportados de acordo com a técnica citada por Thiengo (1995). Identificação de fauna malacológica: A identificação quanto ao gênero foi feita com base em aspectos da morfologia externa de concha (REY, 2002) e a identificação das espécies de Lymnaea baseada nas descrições feitas por Paraense (1983). Exame dos moluscos: cada molusco capturado foi colocado individualmente em uma placa de Petri de 100 x 20 mm, e a dissecção feita após o esmagamento de seus tecidos mediante o uso de uma lâmina de vidro. Em seguida os fragmentos da concha eram retirados com o auxílio de uma pinça e as vísceras examinadas sob a luz de um microscópio estereoscópico, para evidenciar as formas larvais de F. hepatica (SOUZA et al. 2002). RESULTADOS Das 23 propriedades rurais rastreadas no Município de Campos, RJ para a coleta e exame de amostras fecais, a infecção de bovinos foi constatada em 17 (74%) delas. A maioria localizada no distrito de Santa Maria 8 (47%) e parte delas nos distritos de Morro do Coco 5 (29%) e Santo Eduardo 4 (24%) respectivamente (Tabela 1 e Figura 1).

19 Tabela 1. Número de propriedades identificadas pelo Serviço de Inspeção Estadual (S.I.E) como potenciais focos de fasciolose no município de Campos dos Goytacazes e confirmação de casos através de exames de amostras fecais.. Propriedades Distritos Rastreadas Positivas n % n % Murundu 1 4 0 0 Morro do Coco 7 31 5 29 Santo Eduardo 4 17 4 24 Santa Maria 11 48 8 47 Total 23 100 17 100

20 3 2 1 LEGENDA Brasil Rio de Janeiro Campos do Goytacazes 1. Morro do Coco 2. Santo Eduardo 3. Santa Maria Figura 1- Distritos do município de Campos dos Goytacazes, com casos de bovinos portadores de Fasciola hepatica assinalados pelo Serviço de Inspeção Estadual (S.I.E).

21 No total foram encontrados seis moluscos da espécie L. columella distribuídos em três propriedades rurais (Figura 2), localizadas no distrito de Santa Maria, no entanto nenhum exemplar estava parasitado (Tabela 2). Rio de Janeiro-Brasil Figura 2- Distribuição espacial de propriedades do distrito de Santa Maria em Campos dos Goytacazes-RJ, onde foram encontrados exemplares de Lymnaea columela

22 Tabela 2- Locais onde foram encontrados exemplares de Lymnaea columella, durante os meses de setembro e outubro de 2004, no município de Campos dos Goytacazes-RJ. Coordenadas Lymnaea columella Propriedades 1 Latitude sul Longitude oeste Encontradas Parasitadas 1 21º18.60 41º27.62 1 nenhuma 2 21º17.71 41º31.61 4 nenhuma 3 21º12.36 41º27.39 1 nenhuma 1 Todas localizadas no distrito de Santa Maria DISCUSSÃO Poder-se-ia perguntar sobre a real necessidade de se rastrear e diagnosticar casos de fasciolose pelo método coproparasitológico em propriedades já apontadas pelo S.I.E. como enzoóticas para essa enfermidade. A explicação decorre da necessidade em confirmar se de fato a fasciolose ocorre nesses locais, haja vista o fato da identificação de focos baseada apenas nas informações do S.I.E e as contidas na Guia de Trânsito Animal GTA não ser um critério 100% confiável. De acordo com alguns técnicos dos serviços de Defesa e Inspeção Sanitária do município de Campos, RJ, existe a possibilidade dos frigoríficos receberem animais cuja origem verdadeira é negligenciada, o que torna inviável afirmar com segurança se a infecção dos animais ocorreu no local especificado pelo matadouro. Sabe-se que oficialmente a freqüência de algumas enfermidades parasitárias como a fasciolose via de regra é determinada a partir dos achados de matança dos serviços de inspeção sanitária (PHIRI et al. 2005). Contudo, dependendo do problema enfrentado pelo produtor pode haver resistência em destinar os animais para abate em frigoríficos. Dessa forma eles evitam as perdas econômicas decorrentes de eventuais condenações (GONZALEZ et al. 1990), no entanto, isso

23 contribui para que os dados oficiais sejam subestimados, já que muitos animais passam a ser abatidos clandestinamente (BESBES et al. 2003). Segundo Lopes, (1997) a identificação segura dos animais é a base para o controle da produção. Nesse caso, o rastreamento do local de origem para a realização de exames coproparasitológicos minimiza as chances de obtenção de informações fraudulentas quanto à origem do problema, haja vista que o pesquisador tem a opção de selecionar animais nascidos e criados na fazenda para a coleta de amostras, bem como atentar para as informações prestadas pelo criador de maneira mais adequada, no entanto, apesar das vantagens citadas, a identificação de casos autóctones nesse caso também não tem 100% de confiabilidade, já que depende do interesse do proprietário em prestar informações fidedignas quanto ao local de nascimento e criação dos animais selecionados na pesquisa. Um critério 100% seguro para a identificação de casos autóctones é a constatação da infecção do hospedeiro intermediário (GOMES et al. 2002; PREPELITCHI et al. 2004), daí a importância da coleta de moluscos do gênero Lymnaea na propriedade para a realização de exames, (Tabela 2). Basta lembrar que de acordo com os dados do S.I.E, haviam 23 potenciais focos de F. hepatica no município e a partir do momento em que esses locais foram rastreados, constatou-se a presença de L. columella em apenas três fazendas e estas passaram a ser consideradas importantes do ponto de vista epidemiológico. Ressalta-se, que as outras 20 fazendas não devem ser consideradas menos importantes na cadeia de transmissão da fasciolose, haja vista que ficam localizadas em áreas que historicamente são consideradas enzoóticas pelo S.I.E, além disso, a busca de L. columella não foi feita mensalmente em todas as propriedades, somente na ocasião da coleta das fezes dos bovinos e posteriormente concentradas entre os meses de setembro e outubro, época que segundo Gomes et al. (2002), é a mais adequada para o encontro dessa espécie na região por corresponder a um período de maior densidade populacional. Provavelmente o encontro de apenas seis moluscos no período considerado favorável seja decorrente de alterações físico-químicas como ph e oxigenação da água ou algum outro fator que não foi observado nessa pesquisa. Pensa-se também na hipótese de que os moluscos poderiam ter sido encontrados em épocas não favoráveis, já que Maure et al. (1998), reportaram esse fato citando como exemplo o

24 aumento de temperatura típico do verão, pois este exerce um efeito negativo sobre a população de limneídeos. Segundo esses autores, o aumento nos índices de precipitação pluviométrica que comumente ocorre em determinadas localidades nessa época do ano pode minimizar o efeito negativo da temperatura fazendo com que a população de moluscos não diminua. É importante salientar que o monitoramento mensal de 23 propriedades rurais para levantamento de fauna malacológica e coleta de amostras para exame laboratorial foi inviável do ponto de vista prático, já que se tratava de um numero grande de fazendas, que demandavam tempo, gastos com combustível, pessoal bem treinado, bem como o uso de veículos que nem sempre estavam disponíveis. Dessa forma procurou-se na ocasião da visita ensinar aos proprietários rurais e campeiros das fazendas a reconhecer o molusco transmissor através de suas características de morfologia externa (PARAENSE, 1983; REY 2002). Para tanto, em cada fazenda foi deixado um frasco contendo conchas vazias de L. columella e assim os proprietários poderiam fazer o monitoramento, e solicitar a presença de serviço técnico especializado em caso de aumento da população do molusco. Os profissionais de saúde pública devem servir-se de métodos epidemiológicos, como a rastreabilidade para a investigação dos fatores de risco na causa de enfermidades zoonóticas como a fasciolose, pois segundo Pires (2000), essa pratica assume importante papel nas campanhas de erradicação de doenças. Nesta pesquisa, o critério do rastreamento comprovou ser útil para o encontro de possíveis focos de fasciolose, já que os resultados dos exames coproparasitológicos confirmaram na maioria das vezes os diagnósticos anatomopatológicos realizados do S.I.E, quanto à ocorrência da doença nas localidades de Morro do Coco, Santa Maria e Santo Eduardo. A integração entre os médicos veterinários responsáveis pela Inspeção sanitária e os que atuam na Defesa Sanitária Animal valoriza as atividades inerentes ao procedimento de rastreamento, pois aliado ao apoio laboratorial estabelece a informação contínua de dados promovendo o melhor controle das doenças (DIAS, 1995). A continuidade dessa pesquisa é de extrema relevância para o conhecimento da real prevalência da doença no município, haja vista que até o momento apenas um foco autóctone foi assinalado na região (GOMES et al. 2002). Dentre as limitações observadas na presente pesquisa, destaca-se a sensibilidade de L. columella às variações climáticas como fora observado por

25 Gomes et al. (2002) e Maure-Pile et al. (1998). Caso esta espécie sobrevivesse durante todo o ano na pastagem, serviria como um ótimo modelo experimental para a identificação de focos autóctones em propriedades rurais a custos relativamente baixos, no entanto, isso não foi verificado nesta pesquisa, haja vista que durante quase três anos de estudo somente seis exemplares foram encontrados em um total de 23 propriedades rurais visitadas. Nesse caso, a introdução de animais vertebrados altamente sensíveis ao parasito e sabidamente não infectados utilizados como traçadores em localidades reconhecidas pelo S.I.E como enzoóticas para a fasciolose hepática seria de grande valia, já que sua mortalidade não está condicionada às variações de temperatura como fora observado para o molusco. Nesse caso as limitações observadas no presente trabalho não seriam problema com a vantagem dos resultados serem 100% confiáveis, logo o uso de animais traçadores pode ser uma metodologia útil a ser avaliada em trabalhos futuros na região. CONCLUSÃO Os resultados dos exames coproparasitológicos dos bovinos provenientes dos distritos estudados coincidiram na maioria das vezes com os resultados dos diagnósticos anatomopatológicos realizados pelo S.I.E em nível de sala de abate, sugerindo serem estas áreas altamente ezoóticas para F. hepatica. Embora não tenham sido encontrados casos autóctones de F. hepatica na região estudada pelo encontro de rédias e cercarias em L. columella, o achado desta espécie em três propriedades aliado aos resultados dos exames fecais sugerem a provável existência de focos autóctones, dessa forma, novos estudos são necessários para a comprovação desta hipótese. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BESBES M., SELLAMI H, CHEIKHROUHOU F, MAKNI F, AYADI A. Clandestine slaughtering in Tunisia: investigation on the knowledge and practices of butchers concerning hydatidosis., Bulletin de la Société de Pathologie Exotique v.96, n.4, p:320-322, 2003.

26 DIAS, M.A. Eficácia da Inspeção sanitária nos matadouros. Veterinary Technique, v. 5 n.3 p.20-24, 1995. GIRÃO, E. S, UENO, H. Técnica de quatro tamises para diagnóstico coprológico quantitativo da fasciolose em ruminantes. Pesquisa. Agropecuária Brasileira v. 20, n.8, p. 905 912, 1985. GOMES, F. F.; OLIVEIRA, F. C. R; MAURE-PILE, E. P.; LOPES, C. W. G. Estabelecimento de foco de Fasciolose hepática em propriedade do município de Campos dos Goytacazes no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, Seropédica, v. 11, n. 2, p. 53-56, 2002. GONZALEZ, A.E.; VITALIANO, C. V.; GILMAN, R. H.; TSANG, V.C.W.; PILCHER, J.B.; CHAVERA, A.; CASTRO, M.; VERASTEGUI. M.; MIRANDA, E.; BALAZAR.H. Prevalence and comparison of serologic assays, necropsy, and tongue examination for the diagnosis of porcine cysticercosis in Peru. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v.43, n.2, p.194-199, 1990. LOPES, M. A. Informática aplicada à bovinocultura. Jaboticabal: FUNEP, 1997. 82 p. MAURE-PILE, E. A., BUSTAMANTE, M., SERRA-FREIRE, N. M. Dinâmica de Lymnaea columella (Say, 1817), hospedeiro intermediário de Fasciola hepatica (Linnaeus, 1758) em municípios do Estado de São Paulo, Brasil. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v. 35, n. 4, p.151-155, 1998. PARAENSE, W.L., Lymnaea columella in Northern Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v.78, n.4, p.477 482, 1983. PHIRI, A.M.; PHIRI, I.K.; SIKASUNGE, C.S.; MONRAD, J. Prevalence of Fasciolosis in Zambian Cattle Observed at Selected Abattoirs with Emphasis on Age, Sex and Origin Journal of veterinary medicine. B, Infectious diseases and veterinary public health, v. 52, n. 9, p. 414-416, 2005.