GT TELEVISÃO MODALIDADE DE TRABALHO: Relato de Experiência novas dinâmicas para o gênero documentário em telejornalismo Duílio Fabbri Jr. 1 Resumo: As técnicas de documentário, freqüentes para atribuir um tom autoral á matéria jornalística, produzem novas experiências na linguagem, optando-se pelo como eu vejo o objeto em detrimento de como se vê o objeto. Isso tem sido fator preeminente para diferenciar o padrão adotado pelas televisões de canal aberto. Na Facamp tem-se notado resultados diferenciados de pesquisa e desenvolvimento do objeto reportado. Os docentes são estimulados ao uso de recursos como a alteração da velocidade da imagem, ausência e saturação de chroma, trilhas e BG s em substituição ao off e o making off retratando as técnicas na busca da informação. Palavras-chave: documentário, televisão, representação, making off. 1 Mestre em Comunicação pela Fundação Cásper Líbero, professor de telejornalismo na Facamp, Gerente de Jornalismo na EPTV-Campinas. duílio@eptv.com.br
Fazer documentário hoje requer um olhar crítico. O gênero passa por um momento importante onde a sociedade, fruto talvez do processo de globalização, está insaciável por mais e mais informações e, ao mesmo tempo, exigentes e conhecedores de suas necessidades. Ao mesmo tempo em que podemos observar uma migração de diversos meios de comunicação para a Internet, unindo e modificando formas e conteúdos digitais. Entretanto produzir documentário sempre teve um significado muito abrangente, pois o histórico do gênero está profundamente ligado á capacidade de nos transmitir uma impressão de autenticidade. Bazi coloca que o próprio nome já aponta o que um documentário é. Significa provar ou mostrar ao telespectador que algo é verdade. Antes de se começar a fazer documentários, deve-se ter bastante experiência em outros tipos de programas. Entretanto, você pode preparar-se para produzir tais programas com muita leitura, ouvindo rádio, assistindo televisão, etc. 2 Nesse relato, não tenho a pretensão de ampliar a definição tradicional de documentário um gênero audiovisual que mostra a realidade do mundo através da verdade dos fatos mas fazer uma pequena reflexão sobre o que nos cerca e como reportamos esse universo aos outros. Para compreender e amenizar essa abrangência, foram criados subgêneros que se classificam pelas características comuns: científico, educativo à BBC/History Channel / National Geografic, sociológico, político, de cultura popular, etnográfico, de denúncia, sobre arte ou de arte, entre outros exemplos. Pela demanda e atual processo de globalização, o conceito de representação foi incorporado ás produções nacionais. O recurso da narrativa elabora a partir de fatos comuns, diferentes tipos de texto. Nichols (2005:49) destaca quatro modalidades de representação como formas de organização: expositiva, de observação, interativa e autoreflexiva. 2 Bazi, Rogerio Eduardo. Cedido de material interno da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
O modo expositivo defini-se quando um argumento é veiculado por arte e caracteres ou pelo off, com as imagens ilustrando o objeto reportado. Já o modo observacional mais usado pelo cinema, comunica um sentido de acesso imediato ao mundo, situando o espectador na posição de observador ideal, sem intervenção e que transmitiam a impressão de invisibilidade da equipe técnica, para que não haja nenhum de controle sobre os eventos gravados pela câmera. O modo interativo, ao contrário, enfatiza a intervenção do cineasta. A interação entre equipe e os autores sociais assumem o primeiro plano. A câmera não é escondida, aliás, assume o papel de participante e provocador. Por último, o modo reflexivo procura explicitar as convenções que regem o processo de representação. Todos esses modelos servem para consolidar e dar credibilidade ao autor, ou seja, dar a visão autoral do documentarista. É nesse momento que a produção deixa de mostrar como se vê o objeto, para adquirir o caráter de como eu vejo o objeto. É preciso salientar, que a produção de documentário tem crescido nos últimos anos, graças também a uma evolução tecnológica digital, onde os equipamentos se tornaram mais portáteis, mais baratos e se tem uma redução da equipe de produção. Deve-se levar em conta ainda que mais canais e veículos de difusão tais como o cinema e televisão aberta e a cabo, internet, celulares e DVD ficaram mais disponíveis para o gênero. Esse determinismo tecnológico, usado para desenvolvimento da produção afetou também a linguagem, deixando-a muitas vezes mais videográfica. O enfoque subjetivo na produção de sentidos Na Facamp - Faculdades de Campinas, os alunos do terceiro ano de telejornalismo são estimulados a buscarem nos autores citados a base para a produção reflexiva. Esta modalidade apresenta o aluno-diretor como um participante-testemunha e um ativo fabricante de significados, um produtor de discurso cinematográfico e não um repórter neutro e onisciente da verdade das coisas. (NICHOLS, 2005:49).
Os docentes procuram trabalhar de forma prática as vertentes da subjetividade do enfoque empregado na matéria jornalística, procurando construir sentido na edição, criando significados pelos aspectos icônicos e simbólicos da imagem. Nas ilhas de edição, a equipe de produção articula o uso das metáforas - imagens materiais articuladas de forma a sugerir relações imateriais - e das metonímias - transferência dos sentidos entre as imagens (Machado, 1997: 195). As etapas de produção são discutidas com antecedência entre alunos e professor e elas são a base de sustentação para o planejamento e a viabilização do documentário. Definidas posições, duas partes da equipe trabalham como narrador condutor e repórter-suporte. Eles têm a missão de trabalhar a narrativa á medida que desenvolvem a linguagem audiovisual focada nos aspectos icônicos da imagem e gráficos. Enquanto a terceira parte da equipe trabalha o making off, que se incorpora ao produto final. Nesse momento têm-se os depoimentos do jornalista-testemunha e resgata-se a parte humana dele. Aqui, o jornalista expõe a sua visão de mundo, seus aspectos cognitivos e desintegra-se do jornalista, que se mantém distanciado do fato. Dessa forma, o telespectador é convidado a refletir sobre quem esta fazendo e entender seus aspectos, na autoria do documentário. Conclusão Segundo Jean-Claude Bernadet (2003: 75) o filme não capta o que é, mas gera intencionalmente uma situação específica, provoca uma alteração no real, e o que se filma não é o real como seria independentemente da filmagem, mas justamente a alteração provocada. Já Bambozzi coloca que a ação do documentarista sobre o real leva a uma situação nova, criada em função da filmagem e sem a qual ela não existiria. O real não deve ser respeitado em sua intocabilidade, mas deve ser transformado, pois o próprio filme coloca-se como agente da transformação 3. 3 Texto SÍNDROME DE REALIDADE: estéticas documentais e de mediação, de Lucas Bambozzi ainda não publicado. Disponível no site http://netart.incubadora.fapesp.br/portal/members/anan_c/documentarioensaio
Essa experiência é vivenciada pelos alunos, que experimentam nas ilhas de edição, os limites da linguagem jornalística e na rua, a captação do fato noticiável, transformando e ofertando sentidos na elaboração de fatos em notícia, em documento. Referência Bibliográfica: BAZI, Rogério Eduardo-. Cedido de material interno da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 2008 BERNADET, Jean-Claude - Cineastas e imagens do povo. São Paulo: ED. Brasiliense, 1985. MACHADO, Arlindo. Máquina e Imaginário. São Paulo, Edusp, 1993. NICHOLS, Bill. La representación de la realidad : cuestiones y conceptos sobre el documental. Barcelona: Paidós, 1997.. A voz do documentário. IN: RAMOS, Fernão (org.). Teoria Contemporânea do Cinema: Documentário e narratividade ficcional. São Paulo: Editora Senac, 2005