FATORES ASSOCIADOS AOS ACIDENTES BIOLÓGICOS ENTRE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM FACTORS RELATED TO BIOLOGICAL ACCIDENTS AMONG PROFESSIONAL OF NURSING

Documentos relacionados
CURSO DE ATUALIZAÇÃO. Gestão das Condições de Trabalho e Saúde dos Trabalhadores da Saúde

RESUMO DOS 120 ANOS DA EEAP ACIDENTE DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO ENTRE PROFISSIONAIS DE SAÚDE

OS RISCOS COM PERFUROCORTANTES DURANTE A ASSISTÊNCIA NOS SERVIÇOS DE SAÚDE

ACIDENTES DE TRABALHO COM PERFUROCORTANTES EM TRABALHADORES DE ENFERMAGEM

IMPLANTAÇÃO DO FLUXOGRAMA DE CONDUTAS À ACIDENTES COM PERFUROCORTANTES NA SALA DE VACINA EM UMA UNIDADE DE ATENÇÃO PRIMÁRIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

A UTILIZAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL NOS ACIDENTES COM MATERIAIS BIOLÓGICOS

ENFERMAGEM BIOSSEGURANÇA. Parte 9. Profª. Tatiane da Silva Campos

CURSO DE ATUALIZAÇÃO. Gestão das Condições de Trabalho e Saúde dos Trabalhadores da Saúde

BIOSSEGURANÇA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: O USO DOS EPIS PELOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL PERFUROCORTANTE ENVOLVENDO PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE UNIDADE DE EMERGÊNCIA HOSPITALAR

Desinfecção de alto nível: Desinfecção de médio nível: Desinfecção de baixo nível:

Jamille Guedes Monteiro Evangelista

O CONHECIMENTO DO GRADUANDO DE ENFERMAGEM SOBRE A HEPATITE B E AS IMPLICAÇÕES NO CAMPO DE ESTÁGIO

ACIDENTES DE TRABALHO FRENTE À EXPOSIÇÃO A AGENTES BIOLÓGICOS

Riscos Biológicos. Acidente Ocupacional com Material Biológico. HIV, HCV e HBV

II SIEPS XX ENFERMAIO I MOSTRA DO INTERNATO EM ENFERMAGEM

C o n c e i t o d e B i o s s e g u r a n ç a

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE PREVENÇÃO DE QUEDAS DOS PARTICIPANTES DE UM CURSO DE SEGURANÇA DO PACIENTE: USO DE QUESTIONÁRIO PRÉ E PÓS-TESTE

ENFERMAGEM BIOSSEGURANÇA. Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

OS ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAIS BIOLÓGICOS ENTRE OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

ACIDENTE OCUPACIONAL COM EXPOSIÇÃO À MATERIAL BIOLÓGICO EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Renata Soraya Marinho Fernandes

ACIDENTES COM MATERIAL BIOLÓGICO

Biossegurança. Odontológico: para você!

Elisabete Cristina Viana da Costa

BIOSSEGURANÇA EM SAÚDE

INTEGRAÇÃOESTAGIÁRIOS

MBA em Gestão e Negócio em Saúde Gestão em Serviços Hospitalares Profa. Esp. Kelly Barros

ANÁLISE DA POPULAÇÃO ACIMA DE 60 ANOS ACOMETIDA PELA AIDS NO ESTADO DA PARAÍBA NO PERÍODO DE 2008 A 2012

ACIDENTES COM PERFUROCORTANTES ENTRE OS ENFERMEIROS NUMA MATERNIDADE

Material preparado e disponibilizado por: Luiz Carlos Ribeiro Lamblet Enfermeiro Epidemiologista do Serviço de. Hospital Israelita Albert Einstein SP

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO DAS QUEDAS EM CRIANÇAS INTERNADAS EM HOSPITAL PEDIÁTRICO

Palavras chaves: Ambiente hospitalar; Perfurocortantes; Descarte.

EQUIPE DE ENFERMAGEM: ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO EM UM HOSPITAL PÚBLICO

Nara Rubia Borges da Silva Vitória Maria Lobato Paes

PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO. Código: ILMD-SLM-POP.011 Revisão/Ano: 00/2018 Classificação SIGDA:

PREVENÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO SEGUNDO O MODELO DE GREEN E KREUTER

Avila ACT 1, Sartori J 2, Bello VA 3

Terezinha Vieira Porfírio de Souza (32) /(32) CEREST Ubá/ Minas Gerais

Accidentes de trabajo del Perforar-corte con la participación biológica en profesionales del oficio de enfermera

TÍTULO: A PERCEPÇÃO DOS IDOSOS EM RELAÇÃO AO CONHECIMENTO E PREVENÇÃO DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS

WORK ACCIDENTS WITH ORGANIC MATERIAL AT UNIVERSITY HOSPITAL OF RIO DE JANEIRO

O PAPEL DO ENFERMEIRO NA PREVENCAO DE ACIDENTES E PROMOCAO DE SAUDE DOS TRABALHADORES DE UM INSTITUTO MEDICO LEGAL.

O OLHAR DO ENFERMEIRO FRENTE A EXPOSIÇÃO DE MATERIAIS PERFURO- CORTANTES NA UNIDADE HOSPITALAR

LEVANTAMENTO SOBRE AS AÇÕES DE ENFERMAGEM NO PROGRAMA DE CONTROLE DA HANSENÍASE NO ESTADO DE SÃO PAULO*

ACIDENTES OCUPACIONAIS COM MATERIAIS PERFUROCORTANTES ENVOLVENDO A EQUIPE DE ENFERMAGEM: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

ACIDENTES REGISTRADOS NO CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR DE RIBEIRÃO PRETO, SÃO PAULO

Saiba como cuidar da saúde dos colaboradores da sua empresa!

Considerar todo material biológico como potencialmente infectante, independente do conhecimento da sorologia.

ENFERMAGEM BIOSSEGURANÇA. Parte 10. Profª. Tatiane da Silva Campos

SEGURANÇA DO PACIENTE: EXECUÇÃO DE AÇÕES APÓS O PREPARO E ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS ENDOVENOSOS EM PEDIATRIA

HEPATITES VIRAIS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS EM IDOSOS: BRASIL, NORDESTE E PARAÍBA

ACIDENTES COM PERFUROCORTANTES EM TRABALHADORES

TUBERCULOSE NA TERCEIRA IDADE NO BRASIL

NR 32 - SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO EM SERVIÇOS DE SAÚDE

Adelino José Mazzini Soldati

Palavras-chave: Enfermagem; Segurança do Paciente; Enfermagem em Emergência.

A INCIDÊNCIA DE CASOS NOVOS DE AIDS EM CRIANÇA NO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA/RS/BRASIL 1

Resumo. Descritores: Acidente, Agulha, Enfermagem do Trabalho.

A OCORRÊNCIA DE ACIDENTES POR MATERIAL PERFUROCORTANTE

2,5 milhões de profissionais da área de saúde. Total de acidentes notificados correspondiam ao setor de saúde (2004)

Semana de Segurança e Saúde no Trabalho

Norma Regulamentadora nº 32

TÍTULO: INCIDÊNCIA DE AIDS NA POPULAÇÃO DE 50 ANOS OU MAIS EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP, NO PERÍODO DE 2003 A 2013

CURSO DE ATUALIZAÇÃO. Gestão das Condições de Trabalho e Saúde dos Trabalhadores da Saúde

Vigilância em Saúde e Vigilância Epidemiológica

ENFERMAGEM JUNTO AO AMBIENTE ESCOLAR NO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR: CONHECIMENTOS DE PRIMEIROS SOCORROS

INFORMAÇÕES SOBRE OS RISCOS OCUPACIONAIS E SATISFAÇÃO ENTRE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE NATAL/RN, BRASIL

PLANO DE PREVENÇÃO DE RISCOS DE ACIDENTES COM MATERIAIS PERFUROCORTANTES

Sensibilização dos trabalhadores e gestores do SUS Betim para prevenção e acompanhamento dos acidentes de trabalho com material biológico

MARCIANA HOLANDA LIMA NÁDJA MARIA PEREIRA DE DEUS SILVA

Regina Helena Santos Amaral Dias

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ANTONIO REGINALDO BAIANO DE SOUSA

CONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ACERCA DOS ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL PERFUROCORTANTE

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE COQUELUCHE NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO LAURO WANDERLEY

CULTURA DE SEGURANÇA: PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL DE ENSINO

O papel da enfermagem na prevenção da seleção e disseminação de microrganismos resistentes aos antimicrobianos

Registro de ações de imunização referente a projetos de extensão da UEPB: cobertura vacinal e fatores associados

Políticas Públicas de Prevenção e Atenção para DST/HIV/AIDS na Saúde Mental no Brasil

Juliana de Oliveira Barros

IMPLANTAÇÃO DE INDICADORES DE QUALIDADE NA CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO DE UM CENTRO CIRÚRGICO AMBULATORIAL. ATENÇÃO ESPECIALIZADA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE SAÚDE COMUNITÁRIA ESPECIALIZAÇÃO EM MEDICINA DO TRABALHO

PRODUÇÃO TÉCNICA. Campus de Botucatu

TÍTULO: PERFIL DE SENSIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS DE BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES ENCONTRADAS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ONCOLÓGICA

Plano de Ensino-Aprendizagem Roteiro de Atividades Curso: Medicina

SABERES E PRÁTICAS DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE E ENFERMEIROS SOBRE BIOSSEGURANÇA E SUA APLICAÇÃO EM SERVIÇOS DE SAÚDE

Análise de agrupamento dos estados brasileiros com base nas taxas de incidência de Aids nos anos de 1990 a 2008

A NR-32 tem por objetivo seguir todas as atividades que envolvem a questão de assistência médica, prescrevendo:

As Unidades de Pronto Atendimento (UPA) na rede de atenção às urgências no estado do Rio de Janeiro: desafios para a coordenação do cuidado

PROFISSIONAIS DA SAÚDE FRENTE AOS RISCOS BIOLÓGICOS PRESENTES NO AMBIENTE DE TRABALHO

TÍTULO: O PAPEL DO ENFERMEIRO NA TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: ENFERMAGEM

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO LABORATÓRIO DE ANÁLISE DO TRABALHO

ORIGINAL ARTICLE OCCUPATIONAL ACCIDENTS AMONG NURSING PROFESSIONAL AT HOSPITALS FROM SMALL VILLAGE OF SÃO PAULO STATE

PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM INFECTOLOGIA PEDIÁTRICA PERÍODO DE 2 ANOS DEPARTAMENTO DE INFECTOLOGIA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA

TRABALHO DO ENFERMEIRO: RISCOS OCUPACIONAIS E MEDIDAS DE PREVENÇÃO RELACIONADAS A HEPATITE B

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÃNDIA ESCOLA TÉCNICA DE SAÚDE CURSO TÉCNICO EM ANÁLISES CLÍNICAS PROFESSOR: DNIEBER CHAGAS DE ASSIS PLANO DE ENSINO

BIOSSEGURANÇA EM CLASSES HOSPITALARES

ACIDENTES DE TRABALHO NOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

Epidemiologia do Risco Biológico

RESUMO DOS 120 ANOS DA EEAP UMA CONTRIBUIÇÃO DO RESIDENTE DE ENFERMAGEM NO CAMPO DE PRÁTICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Transcrição:

87 FATORES ASSOCIADOS AOS ACIDENTES BIOLÓGICOS ENTRE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM Suzana de Almeida Fráguas Simão 1, Vanessa de Souza 2, Rhiva Alves Amaral Borges 2, Cátia Regina Garcia Soares 2, Elaine Antunes Cortez 3 RESUMO: A intensa rotina de atividades exercidas pelos profissionais de enfermagem nas emergências hospitalares pode aumentar o risco de um acidente pela sobrecarga de trabalho. Esta pesquisa teve como objetivo investigar fatores relacionados à ocorrência de acidentes com material biológico entre 101 profissionais de enfermagem atuantes em unidade de emergência. Os resultados evidenciaram que os sujeitos relacionaram a necessidade de agilidade na execução das atividades; a carga horária elevada e o reencape de agulhas como as principais causas de acidentes. Ressaltamos a grande importância de implementação de programas de orientação e treinamento, a fim de minimizar esses agravos à saúde dos trabalhadores. PALAVRAS-CHAVE: Riscos ocupacionais; Exposição a agentes biológicos; Enfermagem. FACTORS RELATED TO BIOLOGICAL ACCIDENTS AMONG PROFESSIONAL OF NURSING ABSTRACT: The intense routine of tasks performed by the nursing professionals in emergency hospital units increases the risk of an accident because of the work overload. This research aims to identify and analyze the occurrence, among the nursing team, of work accidents with biological material at the emergency hospital units. The study had a sample of 101 employees of the nursing team. The results showed that accidents related to the need for agility in the execution of activities, the shifts of 24 hours, and recapping of needles, are the major causes of accidents. It is important to emphasize the importance of implementation of guidance and training to minimize those rates. KEYWORDS: Occupational risks; Exposure to biological agents; Nursing. FACTORES ASSOCIADOS A LOS ACCIDENTES BIOLÓGICOS ENTRE PROFESIONALES DE ENFERMERÍA RESUMEN: La intensa rutina de actividades ejercidas por los profesionales de enfermería en las emergencias hospitalarias puede aumentar el riesgo de un accidente por la sobrecarga de trabajo. Esta investigación tiene como objetivo investigar factores relacionados a la ocurrencia de accidentes con material biológico entre 101 profesionales de enfermería actuantes en unidad de emergencia. Los resultados mostraron que los sujetos relacionaron la necesidad de agilidad en la ejecución de las actividades, la carga horaria elevada y el reencape de agujas como las principales causas de los accidentes. Resaltamos la gran importancia de la implementación de programas de orientación y capacitación para reducir esos agravios a la salud de los trabajadores. PALABRAS CLAVE: Riesgos laborales; Exposición a Agentes Biológicos; Enfermería. 1 Enfermeira. Mestranda em Enfermagem da Universidade Federal Fluminense-UFF. 2 Enfermeira. Discente do Curso de Especialização em Controle de Infecção em Assistência à Saúde-UFF. 3 Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem na Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ. Autor correspondente: Elaine Antunes Cortez Universidade Federal do Rio de Janeiro Rua Dr. Catrambi, 240/102-20531-005 - Rio de Janeiro-RJ, Brasil E-mail: nanicortez@hotmail.com Recebido: 10/07/09 Aprovado: 21/01/09

88 INTRODUÇÃO Em função dos ambientes hospitalares serem complexos e considerados insalubres, os trabalhadores atuantes estão expostos a inúmeros riscos durante o desenvolvimento de seu processo de trabalho. Como resultados, existem riscos potenciais aos quais podem estar expostos, dependendo da atividade que desenvolvem (1). Apesar dos profissionais de saúde estarem em constante risco de adquirir infecções, somente com o advento dos primeiros casos relatados de doentes acometidos pela Síndrome da Imunodeficiência Adquirida Aids, em 1981, surgiu grande preocupação e medo do contágio por acidente quando estes prestam cuidados a pacientes com tal diagnóstico ( ² ). No Brasil, o primeiro caso de contaminação foi notificado em 1997, referindo-se a uma auxiliar de enfermagem contaminada pelo vírus HIV, com confirmação de Aids, devido a um acidente de trabalho com material perfurocortante ocorrido em 1994, em São Paulo ( ³ ). Outro destaque é que a hepatite B de origem profissional é mais freqüente entre os trabalhadores de saúde. Em relação à população geral, o risco de hepatite B é 11 vezes mais elevado entre o pessoal de saúde, em especial os trabalhadores de laboratório e de enfermagem (4). As doenças ocupacionais e os acidentes de trabalho constituem um importante problema de saúde pública em todo o mundo. As estimativas da Organização Internacional do Trabalho revelam a ocorrência anual de 160 milhões de doenças ocupacionais, 250 milhões de acidentes de trabalho e 330 mil óbitos, baseando-se somente em doenças não transmissíveis (5). Embora acidentes com material biológico não se enquadrem na definição legal de acidente de trabalho, o registro junto à Medicina do Trabalho e Comissão de Controle de Infecção Hospitalar é fundamental, considerando-se suas consequências. No Brasil, a promulgação da Constituição brasileira, em 1988, representou importante marco na atenção à saúde do trabalhador, uma vez que o trabalho é um determinante/condicionante da saúde dos indivíduos e que a saúde dos trabalhadores deve ser viabilizada pelo Sistema Único de Saúde, segundo os princípios que o orientam (6). Os acidentes ocasionados com agulhas são responsáveis por 80 a 9 das transmissões de doenças infecciosas entre trabalhadores de saúde. O risco de transmissão de infecções por meio de agulhas contaminadas é de um em três para Hepatite B, um em trinta para Hepatite C e um em trezentos para HIV (7). Ademais, outro agravante do risco entre trabalhadores da área da saúde é o contato direto com microrganismos, transmitidos a partir de fontes de infecção não identificadas, como pacientes com diagnósticos não definidos, ou ainda problemas estruturais que habitualmente são encontrados em unidades hospitalares. O contato com microrganismos patogênicos ocorre, com frequência, na execução do trabalho de enfermagem. Conforme as estatísticas observadas, a equipe de enfermagem é uma das principais categorias profissionais sujeitas às exposições com material biológico. Este fato relaciona-se à Enfermagem ser a profissão da área da saúde a ter mais contato direto na assistência aos pacientes e também ao tipo e à frequência de procedimentos realizados (2). Diante do exposto, é importante salientar que o emprego de práticas seguras e o uso de equipamentos de proteção adequados reduzem significativamente o risco de acidente ocupacional, fazendo-se necessária também a conscientização dos profissionais para utilização de técnicas assépticas e o estabelecimento de normas de conduta e procedimentos que garantam ao profissional e ao paciente um tratamento sem risco de contaminação (8). Por isso, para se evitar o risco de exposição a material biológico, todo profissional deve ter à sua disposição Equipamentos de Proteção Individual (EPI), instrumentos de uso pessoal, cuja finalidade é neutralizar a ação de certos acidentes possíveis de causar lesões ao trabalhador e protegê-lo contra prováveis danos à saúde, causados pelas condições de trabalho (9). São recomendados alguns cuidados para o manuseio de materiais perfurocortantes e com a máxima atenção durante a realização dos procedimentos; nãoutilização de dedos como anteparo durante a realização de procedimentos; não reencapar, entortar, quebrar ou retirar agulhas da seringa com as mãos; todo material mesmo que estéril deve ser desprezado em recipientes específicos para o seu descarte, sendo os recipientes colocados sempre próximos do local onde é realizado o procedimento (10). Ainda, como medida preventiva, todo trabalhador de serviços de saúde deve receber, gratuitamente, imunização ativa contra tétano, difteria, hepatite B e os estabelecidos no Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. Sempre que houver vacinas eficazes contra outros agentes biológicos a que os

89 trabalhadores estão ou poderão estar expostos, o empregador deve fornecê-las gratuitamente (11). Esta pesquisa teve como objetivo investigar fatores relacionados à ocorrência de acidentes com material biológico entre profissionais de enfermagem atuantes em unidade de emergência. MATERIAL E MÉTODOS 6 5 1 57,7% 23,1% 11,5% 7,7% Agilidade na execução das atividades Cansaço físico e mental Ausência de EPI Pouca exp. profissional Trata-se de um estudo descritivo exploratório, com abordagem quantitativa. Foi realizado em um hospital geral público da região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, de agosto a setembro de 2008, após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob protocolo nº 057-A/08 em 22/07/2008. A população estudada foi composta pelos profissionais de enfermagem que atuam diretamente no serviço de emergência da unidade. Fizeram parte do estudo 101 sujeitos, sendo 60 auxiliares de enfermagem, 16 técnicos em enfermagem e 25 enfermeiros, que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: atuar no serviço investigado e na área de emergência há, no mínimo, seis meses consecutivos; estar de plantão no momento da entrevista; concordar em participar do estudo, após esclarecimento verbal e escrito sobre a pesquisa. Utilizou-se um roteiro estruturado, o qual foi elaborado com base na literatura pertinente e vivência das autoras. Esse instrumento foi encaminhado para validação de conteúdo, por três peritos na temática e em metodologia da pesquisa, para verificar seu potencial alcance dos objetivos traçados para este estudo. Os dados foram armazenados em banco de dados, utilizando a planilha eletrônica MicrosoftExcel 2000 e, posteriormente, analisados no programa Epi info versão 3.4.3; assim, foram dispostos em tabelas e analisados por meio de estatística descritiva. RESULTADOS Os dados foram agrupados de acordo com a especificidade das respostas, abrangendo: causas do acidente, carga horária e motivos citados como relevantes para tais ocorrências. Em relação aos fatores contribuintes à ocorrência dos acidentes, foi possível identificar que 57,7% dos entrevistados relacionaram à necessidade de agilidade na execução das atividades; 23,1% ao cansaço físico e mental; 11,5% à ausência de EPI; e 7,7% à pouca experiência profissional (Gráfico 1). Gráfico 1 - Principais fatores contribuintes para ocorrência de acidentes com material biológico. Rio de Janeiro, 2008. Quanto à carga horária de trabalho, é importante ressaltar que 52,3% dos profissionais realizam plantão de 24 horas, 45,4% plantão de 12 horas e apenas 2,3% plantão de seis horas, como demonstra o gráfico 2. 6 5 1 Gráfico 2 - Distribuição dos acidentes com material biológico, segundo a carga horária de trabalho dos profissionais de enfermagem. Rio de Janeiro, 2008. No que concerne às causas dos acidentes percebidas, o gráfico 3 mostra ser o re-encape (38,6%), seguido por movimentação do paciente no leito (29,5%), ocasionados por terceiros (22,7%), por descarte inadequado (4,5%) e ausência ou uso inadequado de EPI (4,6%). 35% 25% 15% 1 5% 38,6% Gráfico 3 - Distribuição dos acidentes com material biológico, segundo a causa. Rio de Janeiro, 2008. DISCUSSÃO 52,3% 45,4% 29,5% 22,7% 2,3% 4,6% Plantão de 24h Plantão de 12h Plantão de 6h Re-encape de agulhas Movimento do paciente Terceiros Ausência ou uso inadequado de EPI Os resultados encontrados caracterizam a distribuição dos principais fatores para a ocorrência de acidentes envolvendo material biológico entre a equipe de enfermagem. Assim, foi possível traçar os

90 principais problemas nas atividades rotineiras, percebidas pelo grupo investigado como fatores que favorecem a ocorrência deste tipo de acidente laboral. No que se refere aos profissionais de saúde como um todo, a precariedade das condições de trabalho, somadas à dificuldade de convivência com os colegas de profissão, acarretam prejuízos na vida cotidiana privada. Tendo em vista a permanência no hospital, devido às escalas extras de plantões, esses trabalhadores se vêem forçados a abdicar do seu lazer em prol de melhores condições salariais. Para isso, sacrificam parte do tempo dedicado à convivência familiar, o que gera um sentimento de vazio e fragilização dos laços afetivos (12). A duplicidade de emprego, necessária à sobrevivência nos dias atuais, em virtude da redução do poder aquisitivo da população (notadamente aos baixos salários proporcionados pela conjuntura econômica e social que o Brasil apresenta no momento), desgasta a condição física e psíquica dos profissionais (13). Portanto, a necessidade de mais um emprego exige do profissional de enfermagem a permanência da maioria dos seus anos produtivos em ambiente insalubre, o que aumenta o tempo de exposição aos riscos ocupacionais. Os acidentes envolvendo agulhas são os principais responsáveis por expor os profissionais de saúde ao risco de adquirir infecções graves como a Aids e hepatite B e C (14). Ainda assim, procedimentos de risco como o reencape de agulhas é prática rotineira. Cabe destacar que o descarte inadequado de objetos perfurocortantes também é um fator envolvido, embora pesquisadores relacionem a introdução ao uso de recipientes padronizados para descarte desse tipo de objeto como fator de incentivo ao descarte apropriado, evitando parte dos acidentes por esse motivo (15). Desta forma, medidas preventivas são importantes, necessárias e eficazes para redução de acidentes com perfurocortantes, cabendo ao enfermeiro o planejamento e implementação destas. CONCLUSÃO A partir dos dados encontrados, foram descritas e discutidas as ocorrências desse tipo de acidente com os profissionais de enfermagem, fatores relacionados aos mesmos, carga de horária de trabalho dos envolvidos e, ainda, a forma como ocorreram os acidentes. Os fatores relatados que, segundo os profissionais da pesquisa, contribuem para a ocorrência dos acidentes entre a equipe de enfermagem foram, em ordem crescente: pouca experiência profissional, ausência de EPI, cansaço físico e mental e necessidade de maior agilidade de realização das atividades de rotina em um setor de emergência. No que concerne às causas dos acidentes, o reencape de agulhas, seguido da movimentação dos pacientes, foram os mais evidenciados. É preciso valorizar a participação dos enfermeiros como educadores, sendo de extrema importância o paradigma nas práticas de saúde do trabalhador. A educação em saúde, caracterizada por propostas de mudanças, desde as atividades nas instituições de ensino, como a adoção de medidas preventivas de biossegurança no ato de cuidar do cliente, é essencial e pertinente na formação do enfermeiro e demais elementos da equipe de enfermagem. Os estudos de acidentes de trabalho na equipe de enfermagem requerem a consideração de diversas variáveis, pois esta categoria profissional é constituída por trabalhadores com formação educacional e inserções socioculturais distintas. REFERÊNCIAS 1. Nishide VM, Benatti MCC, Costa NM. Ocorrência de acidente do trabalho em uma unidade de terapia intensiva. Rev Latino-Am Enfermagem. 2004;12(2):82-9. 2. Ministério da Saúde (BR). Programa Nacional de Hepatites Virais. Avaliação da Assistência às Hepatites Virais no Brasil. Brasília; 2002;1-61. 3. Associação Brasileira de Enfermagem. Seção RJ. Cartilha do trabalhador de enfermagem: saúde, segurança e boas condições de trabalho. Rio de Janeiro;2006. 4. Do AN, Ciesielski CA, Metler RP, Hammett TA, LI J, Fleming PL. Occupational acquired human immunodeficiency virus (HIV) infection: national case surveillance data during 20 years of the HIV epidemic in the United States. Infec Control Hosp Epidemiol. 2003; 24(2):86-96. 5. Gasparini LR. Controle de infecção. São Paulo: BD; 2005. 6. Costa, TF, Felli VEA. Exposição dos trabalhadores de enfermagem às cargas químicas em um hospital público universitário da cidade de São Paulo. Rev Latino-Am Enfermagem. 2005;13(4):501-8. 7. Godfr K. Sharp practice. Nurs Times. 2001;97(2):22-4. 8. SENAI CE. Prevenção de acidentes para componentes da CIPA Segurança. Fortaleza (CE): Ética; 2000.

91 9. Ministério da Saúde (BR). Manual de DST. 2009; [acesso em 2009 Ago 10]. Disponível: http://www.aids.gov.br/ assistencia/manualdst/item11.htm. 10. Ministério da Saúde (BR). Programa Nacional DST/ Aids. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites Virais. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Secretaria de Vigilância em Saúde. Recomendações para atendimento e acompanhamento de exposição ocupacional a material biológico: HIV e Hepatite B e C. Brasília; 2004. 12. Oliveira BRG, Murofuse NT. Acidentes de trabalho e doença ocupacional: estudo sobre o conhecimento do trabalhador hospitalar dos riscos à saúde de seu trabalho. Rev Latino-Am Enfermagem. 2001; 9(1):109-15. 13. Lima FA, Pinheiro PNC, Vieira NFC. Acidentes com materiais perfurocortantes: conhecendo os sentimentos e emoções dos profissionais de enfermagem. Escola Anna Nery Rev Enferm. 2007;11(2):205-11. 14. Brevidelli MM, Cianciarullo TI. Análise dos acidentes com agulhas em um hospital universitário: situações de ocorrência e tendências. Rev Latino-Am Enfermagem. 2002;10(6):780-6. 15. Oliveira BAC, Kluthcovsky ACGC, Kluthcovsky FA. Estudo sobre a ocorrência de acidentes de trabalho com material biológico em profissionais de enfermagem de um hospital. Cogitare Enferm. 2008 Jan/Mar;13(2):194-205.