EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS História do Grafite Grafite. (Do it. Graffito) S.M. Inscrição ou desenho de épocas antias, toscamente riscados à ponta ou a carvão, em rochas, paredes, vasos etc. Pichação. Brás. S.f. 1. Ato ou efeito de pichar; pichamento. 2. Dístico, em geral de caráter político, escrito em muro de via pública. Pichar. Brás. V.t.d. 1. Aplicar piche em; untar com piche. 2. Escrever (dizeres políticos, por via de regra) em muros ou paredes. (Novo Dicionário Aurélio). A palavra grafite é de origem italiana e significa "escritas feitas com carvão". Os antigos romanos tinham o costume de escrever manifestações de protesto com carvão nas paredes de suas construções. Tratavam-se de palavras proféticas, ordens comuns e outras formas de divulgação de leis e acontecimentos públicos. Alguns destes grafites ainda podem ser vistos nas catacumbas de Roma e em outros sítios arqueológicos espalhados pela Itália. No século XX, mais precisamente no final da década de 60, jovens do Bronx, bairro de Nova Iorque (EUA), restabeleceram esta forma de arte usando tintas spray. Para muitos, o grafite surgiu de forma paralela ao hip hop - cultura de periferia, originária dos guetos americanos, que une o RAP (música muito mais falada do que cantada), o "break" (dança robotizada) e o grafite (arte plástica do movimento cultural). Nesse período, academias e escolas de arte começaram a entrar em crise e jovens artistas passaram a se interessar por novas linguagens. Com isso, teve início um movimento que dava crédito às manifestações artísticas fora dos espaços fechados e acadêmicos. A rua passou a ser o cenário perfeito para as pessoas manifestarem sua arte.
-2- Os artistas do grafite, também chamados de "writers" (escritores), costumavam escrever seus próprios nomes em seus trabalhos ou chamar a atenção para problemas do governo ou questões sociais. Na Europa, no início dos anos 80, jovens de Amsterdã, Berlim, Paris e Londres passaram a criar seus próprios ateliês em edifícios e fábricas abandonadas. O objetivo era conseguirem um espaço para criarem livremente. Nesses locais, surgiram novas bandas de música, grupos de artistas plásticos, mímicos, atores, artesãos e grafiteiros. Muitos grafiteiros europeus e norte-americanos que viveram e trabalharam nesses espaços alternativos conseguiram levar mostrar suas obras além das fronteiras de seus países. Alguns exemplos desse movimento são: Jean-Michel Basquiat, Keith Haring e Kenny Scharf. Haring e Scharf expuseram seus trabalhos na XVII Bienal Internacional de São Paulo, em 1983, exercendo forte influencia entre os artistas do grafite no Brasil. A XVIII Bienal, em 1985, lançou nomes de grafiteiros brasileiros, tais como Alex Vallauri, Matuck e Zaidler. Grafite como projeto social Muitas pessoas viam os trabalhos dos grafiteiros apenas como um amontoado de letras rabiscadas e sem nexo, ou como pura poluição visual e ato de vandalismo contra o patrimônio público. Grande parte das críticas feitas contra a atividade se deve às inúmeras fachadas, monumentos, igrejas e todo um conjunto de locais pichados indiscriminadamente. Esse tipo de comportamento dos pichadores tem diversas conseqüências negativas para as cidades. Uma delas é a depredação de obras de arte e cenários históricos, o que causa prejuízo imediato ao turismo. Além do fato de estarem desrespeitando a privacidade das pessoas ao, por exemplo, fazerem pinturas em muros sem a autorização do seu proprietário. E muitas pichações estão relacionadas a conflitos entre grupos rivais. Para reverter esses problemas e aproveitar o aspecto positivo dessas manifestações, atualmente os artistas do grafite são convidados a participarem de projetos que visam embelezar as cidades. Com isso, espera-se que as pessoas interessadas nessa atividade possam continuar expressando sua arte, mas sem causar prejuízos ao planejamento urbano. Para citar alguns exemplos, a Universidade de São Paulo (USP) começou a organizar a primeira cooperativa brasileira de grafiteiros, muitos deles expichadores. O objetivo é profissionalizar esses artistas. Todos serão orientados por
-3- professores de artes plásticas e designers para fazerem seus trabalhos em painéis e muros especialmente destinados para exibição de seus trabalhos. No mesmo sentido a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) criou em 2004 o Projeto Grafite com a proposta de trocar a pichação de trens, estações e muros pela arte e, ao mesmo tempo, transformar a ferrovia em uma galeria a céu aberto. Hoje a verdadeira cultura do grafite vai além dos muros das estações, cobrem trens e o interior das próprias estações espalhadas por São Paulo, embelezando toda a cidade com a criatividade dos jovens artistas grafiteiros. E ainda em São Paulo, foi criado o projeto São Paulo Capital Graffiti. A i- niciativa deu cara nova a espaços públicos de todas as regiões da capital, valorizando a arte do graffiti com a criação de novas possibilidades de intervenção. Outro resultado é a recuperação estética de locais deteriorados da cidade. O projeto é uma parceria entre a Coordenadoria Especial da Juventude da Prefeitura de São Paulo, a Fundação Bank Boston, a ONG Cidade Escola Aprendiz, com apoio da Artbr. Por derradeiro, o Município de São Paulo (novamente vanguarda nacional) criou o programa São Paulo Capital Graffiti o qual fez parte do conjunto de atividades em comemoração ao aniversário de 450 anos da cidade, que aconteceu em 2004, e deu continuidade às ações da Prefeitura de apoio e valorização do graffiti, como o Mural Global na avenida 23 de Maio, e o projeto iniciado em janeiro com a grafitagem da agência Trianon do Bank Boston, na avenida Paulista. O Rio de Janeiro também investe em projetos como este. A prefeitura da cidade já formou uma turma de grafiteiros, com direito a certificado e tudo. Entre os diplomados, estão moradores de áreas carentes como Manguinhos, Jacarezinho e Vigário Geral. O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) lançou em Brasília o Projeto Grafitran. O objetivo é incentivar grafiteiros de oito grandes cidades brasileiras a divulgar mensagens favoráveis à humanização do trânsito, através de painéis espalhados por locais públicos, próximos às rodovias e ruas movimentadas. E ainda um belo exemplo é o Projeto Guernica, o qual é um programa da Prefeitura de Belo Horizonte, em parceria com o Centro Cultural UFMG e a FUNDEP, sendo, desde o ano 2000, sustentado não só por se constituir em espaço
-4- de estudo e pesquisa, como também por implementar proposta de política pública para a pichação e grafite na cidade, a proposta, leva em consideração o problema do patrimônio, do urbanismo e da história. Assim, diante dos motivos expostos, conclui-se importância do presente projeto, restando conclusivo através das experiências apresentadas e aplicadas em diversos municípios, que não é solução marginalizar esta arte urbana, restando necessário o apoio do Governo e da sociedade, para juntos buscarmos soluções que agradem a todos, as quais, inclusive, tornam nossa cidade mais agradável aos olhos tal qual se propõe a presente proposição. Pelo exposto e ante a incontroversa importância do programa, o qual contribui para canalizar o potencial artísticos dos artistas jovens grafiteiros, inclusive evitando que os mesmos pratiquem a infeliz prática de pichação, merece todo o apoio dos nobres Pares. Sala das Sessões, 9 de agosto de 2005. VEREADORA MANUELA d ÁVILA /js
PROJETO DE LEI Dispõe sobre a utilização de viadutos e muros das escolas públicas municipais para aplicação da arte em grafite. Art. 1º Fica autorizada a utilização dos viadutos e muros das escolas públicas municipais para a aplicação da arte em grafite. 1º As entidades e movimentos culturais interessados na utilização destes espaços deverão protocolar o respectivo projeto junto à Secretaria Municipal da Cultura. 2º Os gastos despendidos com a implantação dos projetos aprovados na forma desta Lei correrão por conta exclusiva da entidade ou movimento cultural beneficiado. Art. 2º Compete à Secretaria Municipal da Cultura a apreciação e aprovação dos projetos, bem como a emissão do Certificado de Aprovação. Art. 3º O Executivo Municipal regulamentará esta Lei a partir da data de sua publicação. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.