Jornalismo Esportivo no Rádio: análise das irradiações de Futebol 1 Aline Fabiane de Oliveira PINHEIRO Acadêmica do 4º ano de Jornalismo Universidade Estadual do Centro Oeste UNICENTRO / Paraná RESUMO O presente trabalho é de cunho analítico e tem como objetivo conhecer as especificidades das rádios Transamérica (FM) da cidade de Curitiba, e Sant ana (AM) da cidade de Ponta Grossa, e o seu modo de fazer jornalismo esportivo. Isso através de uma análise da linguagem utilizada na transmissão da partida de futebol entre Coritiba e Fluminense em cada uma das rádios envolvidas, além de contribuir nas discussões sobre o jornalismo esportivo no Paraná, e proporcionar um aprofundamento nos estudos sobre este tema. PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo Esportivo; Radiojornalismo; Transmissão de Futebol; Rádio Transamérica; Rádio Sant ana 1. Introdução Este trabalho destina-se a análise da transmissão, em duas rádios distintas, da partida entre Coritiba e Fluminense, no dia seis de dezembro de 2009, pela última rodada do Campeonato Brasileiro. As rádios escolhidas foram a Transamérica de Curitiba, e a Rádio Sant ana de Ponta Grossa por se tratarem de duas rádios diferentes. O objetivo do trabalho é analisar as duas transmissões, e ver quais são as especificidades de cada uma delas, já que a primeira é da capital de freqüência FM, e a outra é do interior de freqüência AM. A escolha pelo jogo entre Coritiba e Fluminense se deve a polêmica que ele trouxe. Era o centenário do clube paranaense, que disputou a última partida do campeonato em seu estádio, o Couto Pereira. Ambos lutavam pela permanência na primeira divisão do campeonato brasileiro, e o empate rebaixou o time da casa para a segunda divisão, causando revolta nos torcedores. Nas transmissões serão avaliados o discurso, o tipo de linguagem, e os jargões utilizados. 1.1 Jornalismo Esportivo, um Jornalismo Especializado O jornalismo especializado nasceu da necessidade das empresas de segmentar as informações disponíveis. Devido à correria do dia a dia o leitor/consumidor não pode 1 Trabalho apresentado no GT 4.5 História da Mídia Sonora, componente do I Encontro Paraná/Santa Catarina de História da Mídia. 1
perder tempo com assuntos que não o interessam. Segundo Ana Carolina Abiahy, o jornalismo especializado além de atender as estratégias econômicas das empresas, também democratiza a escolha do público. Os leitores podem escolher o que ler de acordo com seus interesses, e em uma linguagem que o agrade. Ou seja, ele é bom para o público, e lucrativo para as empresas de comunicação. No Brasil, o número de publicações nesse sentido cresceu muito na década de 1990, e hoje em dia, é cada vez maior o número de jornais/revistas/programas especializados. Por ter uma linguagem própria e um público determinado, o jornalismo esportivo é um jornalismo especializado. 1.2 Jornalismo Esportivo no Brasil Futebol não pega, tenho certeza, foi esse o palpite do escritor Graciliano Ramos, e de tantas outras pessoas, no início do século XX. Foi assim, no meio de preconceito e descrença que o futebol, e por conseqüência o jornalismo esportivo chega ao Brasil. Palpites. Segundo Paulo Vinicius Coelho (2003), nos primeiros anos as coberturas esportivas nada mais eram do que palpites. Poucas pessoas acreditavam que o esporte seria assunto para manchetes, tão pouco para estampar capa de jornais e/ou revistas. De acordo com Coelho (2003) o primeiro registro de notícias esportivas em jornais foi no jornal Fanfulla, na cidade de São Paulo, na década de 1910. Em uma época onde o esporte ainda não era paixão, o jornal destinava páginas para o assunto. Coelho fala que em 1925, mesmo sem o profissionalismo que chega em 1933, o futebol já era a paixão nacional, mas, no entanto, os jornais ainda dedicavam ao esporte o pouco espaço que lhes era possível, eram pequenas colunas por edição. Desde o primeiro diário, até os dias atuais, as redações de jornalismo esportivo lutam contra o preconceito, que vem inclusive de jornalistas de outras áreas. Devido a isso, durante o passar dos anos muitos jornais da área surgiram e desapareceram. Gastar papel com gols, cestas, cortadas e bandeiradas nunca foi prioridade. (COELHO, p.10, 2003). Apesar de todo preconceito e falta de credibilidade, na segunda metade dos anos 60 o Brasil entra na lista dos países com imprensa esportiva de larga extensão. A partir dos anos 40 o futebol começa a ganhar mais espaço, e junto com isso sua linguagem também muda. Nelson Rodrigues, famoso cronista, e seu irmão Mário 2
Filho, fundador do Jornal dos Sports, primeiro diário exclusivamente esportivo, fizeram dos relatos esportivos histórias apaixonantes. Paulo Vinicius Coelho fala que as crônicas de Mário e Nelson não devem ser jornalismo, porque o jornalismo, diferente da literatura deve primar pela verdade. Mas foram esses relatos inconfundíveis que levaram o torcedor ao estádio e a idolatria por seus ídolos, um bom exemplo disso é o rei Pelé. Nos anos 70, o jornalismo esportivo passa a valorizar a realidade, o mito é deixado de lado. Segundo Coelho, o resultado disso são crônicas desprovidas de paixão e emoção. A noção de realidade que o jornalismo esportivo carrega nos tempos atuais torna a cobertura esportiva tão brilhante quanto qualquer outra no jornalismo. O ponto-chave é que, muitas vezes, tal cobertura exige mais do que noção de realidade. (COELHO, pág. 22, 2005) 1.3 O Esportivo e o Rádio Segundo Edileuza Soares, o radiojornalismo esportivo foi um dos primeiros gêneros a se firmar no rádio, e até hoje ocupa grande espaço na programação radiofônica do país. No Brasil, o esporte e o rádio estão ligados, afinal a história de um completa a do outro. Aqui, o esporte foi responsável pela incorporação das novas tecnologias que surgiram na radiodifusão mundial. De acordo com Saroldi (1994) as transmissões de futebol, objeto de análise do presente artigo, é a modalidade esportiva que ocupa a maior parte da programação do rádio. (...) A transmissão esportiva na Brasil constitui um gênero à parte. Uma espécie de ópera sonora, muitas vezes superior ao espetáculo que supostamente procura descrever.(saroldi apud Soares) A primeira transmissão direta de uma partida de futebol -os 90 minutos na íntegra, lance a lance- foi feita pelo speaker, na época os locutores eram chamados assim, Roberto Tuma, no dia 19 de julho de 1931, antes disso eram apenas lidos os resultados dos jogos mais importantes, ou os textos recortados dos jornais. Desde então o formato se mantém ativo, ao contrário do radioteatro, radionovela e programas de auditório que já foram extintos. A figura do comentarista aparece ainda no início da década de 30 o locutor passou, no intervalo do primeiro para o segundo tempo, a passar o microfone para colegas da mídia imprensa, com quem fazia rápidas entrevistas sobre o andamento da partida (Soares, 1994. P.53). Depois, para que o ouvinte não se desinteresse da irradiação e des- 3
ligue o rádio, as entrevistas evoluem para dados técnicos que ocupam maior tempo durante a transmissão. O rádio contribui para a transformação do futebol em esporte profissional no Brasil. Segundo o professor americano Robert Levine a transição do amadorismo para o profissionalismo foi ajudada substancialmente pelo crescimento na divulgação do rádio em meados dos anos 30 (...) (Levine apud Soares). Como o futebol e o esporte brasileiro viveram uma fase de ascensão no período de 1938 a 1965, o radiojornalismo esportivo precisou se modernizar para se manter a frente nesse cenário. Trazendo assim, várias contribuições para a radiodifusão: Pioneiro e desbravador, o gênero antecipou soluções e mostrou caminhos, nem sempre aproveitados rapidamente pelos outros setores das empresas de radiodifusão. (...) O jornalismo radiofônico no Brasil começou a tomar forma em 1941, com o lançamento do Repórter Esso, durante a Segunda Guerra Mundial, com o texto fornecido pela agência United Press International. Isso quando o noticiário esportivo já era feito normalmente nas emissoras de rádio. (SOARES, 1994. P.58) 1.6 As rádios Uma das rádios escolhida para a análise foi a Transamérica. A rádio que tem 36 anos fez sua primeira transmissão no dia 22 de agosto de 1973. Segundo Joyce de Carvalho (2010), produtora da rádio, a Transamérica começou no Recife e visava atingir o público adulto qualificado, pertencente às classes socioeconômicas A e B com mais de 25 anos. Ela foi a primeira emissora de rádio FM no Brasil a transmitir seu sinal via satélite (analógico), no dia 25 de novembro de 1990, aberto para todo o Brasil. Com o avanço tecnológico, sua programação teve o sinal digitalizado e codificado, o que deu início ao processo de franqueamento de novas emissoras. A Transamérica chegou a capital paranaense no dia 10 de março de 1977, sendo a primeira rádio FM da cidade. Hoje, com 33 anos a Transamérica Curitiba tem duas rádios, uma delas a Rádio Transamérica Pop Curitiba (100,3) tem cinco programas locais e atende mais 46 cidades vizinhas. Segundo Carvalho (2010), características como interatividade, diversidade e irreverência estão presentes na programação da rádio Pop Curitiba que tem o público predominante entre jovem-adultos de 20 a 30 anos em sua maioria classe AB. A outra rádio é a Transamérica Light, lançada no início de 1999, que é adulto-contemporânea e leva aos ouvintes músicas clássicas e jornalismo. 4
A rádio sempre trabalhou com o jornalismo, atualmente as duas emissoras presentes em Curitiba Pop e Light retransmitem o jornal da manhã (produzido pela rede e distribuído para todo o Brasil), além de sete boletins próprios durante a programação com notícias regionais e um programa que é transmitido no período da tarde com notícias culturais e entrevistas de estúdio. No esporte a Rede Transamérica é marcada por efetuar a primeira transmissão da Copa do Mundo de 90, porém, segundo Joyce o investimento na área só veio em 2001 após a realização de um projeto de esportes na Transamérica SP. Na sede de Curitiba o jornalismo esportivo também chegou em 2001 e está até hoje no ar. O Transamérica Esportes, programa da emissora que é conhecido pela sua maneira irreverente de tratar o esporte, é transmitido das 17h30 às 19h e tem a maior audiência entre todas as FMs de Curitiba no horário. O objeto de análise - a transmissão da partida de futebol entre Coritiba e Fluminense pela última rodada do Campeonato Brasileiro de 2009 - se faz pela Transamérica Pop Curitiba (100,3). A segunda rádio escolhida foi a Sant'ana, da cidade de Ponta Grossa, interior do Paraná. A rádio começou a existir, por concessão do governo federal, em nove de agosto de 1961, mas foi no dia 28 de abril de 1962 que foi a festa de inauguração da rádio. O objetivo era com que as ondas da Rádio Sant Ana, que é uma rádio católica, pudessem chegar em todas as cidades da Diocese de Ponta Grossa. (site da Rádio Santana, capturado em 10/05/10). Segundo Vitor Hugo Gonçalves (2010), jornalista rádio, o primeiro programa jornalístico da Sant ana foi o Grande Jornal Falado Sant ana, em 1962. Apresentado por Ilson Rosa, ele ia ao ar às 20 horas, e atualmente não existe mais. O primeiro programa de esporte também foi ao ar em 1962, intitulado Sua Excelência, o Esporte o programa era comandado por Abibe Filho, Ney Costa e Arion Fernandes. Atualmente a rádio mantém três programas jornalísticos durante o dia: o Repórter Cidade às 7 horas, o Show do Esporte às 11h, e o RS Notícias às 12 horas. O Show do Esporte, apresentado por Edson Garcia, vai ao ar de segunda à sexta das 11 horas à 11h30min. O foco do programa é o esporte profissional, principalmente o Operário Ferroviário Esporte Clube, time profissional da cidade. O programa também traz algumas informações sobre o futebol amador, além de notas e entrevistas de âmbito nacional. Além das edições de segunda a sexta o Show do Esporte tem aos domingos, das 15h às 18h, uma jornada esportiva que transmite ao vivo jogos do campeonato bra- 5
sileiro e paranaense, além de falar sobre a classificação, os gols da rodada e trazer entrevistas. O objeto de análise, a partida entre Coritiba e Fluminense foi transmitida nessa jornada esportiva. De acordo com Gonçalves (2010), o esporte tem grande destaque na rádio Sant ana, principalmente quando está ligado ao time do Operário. Gonçalves (2010) fala que não tem estimativas sobre a audiência da rádio, pois atualmente na cidade de Ponta Grossa não há pesquisas metodológicas comprovadas sobre as rádios AM, mas de acordo com o portal rádios.com.br, a Santa ana é líder entre as AM da cidade há aproximadamente 18 meses. 2. Considerações Finais O trabalho ainda não está finalizado, após a conclusão da revisão bibliográfica será feita a análise dos áudios da partida já citada. Com as análises pretende-se conhecer as especificidades de cada uma das rádios envolvidas e o seu modo de fazer jornalismo esportivo, sobretudo, em seus aspectos técnicos, informativos e éticos, contribuir para fomentar a discussão sobre o jornalismo esportivo no Paraná, além de proporcionar um aprofundamento nos estudos sobre este tema. REFERÊNCIAS ABIAHY, Ana Carolina de Araújo. O jornalismo especializado na sociedade da informação. Disponível <http://www.bocc.ubi.pt/pag/abiahy-ana-jornalismoespecializado.pdf> Acesso 15 de março de 2010. CARVALHO, Joyce. Entrevista sobre área esportiva da rádio. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <linifop@hotmail.com> 25 de março de 2010 COELHO, Paulo Vinicius. Jornalismo Esportivo. Editora Contexto. 2003 SOARES, Edileuza. A Bola no Ar. Summus. 1994 GONÇALVES, Vitor Hugo. Entrevista rádio. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <linifop@hotmail.com> 9 de maio de 2010 6