SINAIS DE EL NIÑO NA PRECIPITAÇÃO DA AMAZÔNIA. Alice M. Grimm (1); Paulo Zaratini; José Marengo

Documentos relacionados
INFLUÊNCIA DE LA NIÑA SOBRE A CHUVA NO NORDESTE BRASILEIRO. Alice M. Grimm (1); Simone E. T. Ferraz; Andrea de O. Cardoso

HÁ IMPACTO SIGNIFICATIVO DE EVENTOS EL NIÑO E LA NIÑA NO CENTRO-OESTE DO BRASIL?

INFLUÊNCIA DE EL NIÑO SOBRE A CHUVA NO NORDESTE BRASILEIRO. Alice M. Grimm (1); Simone E. T. Ferraz; Andrea de O. Cardoso

SINAIS DE LA NIÑA NA PRECIPITAÇÃO DA AMAZÔNIA. Alice M. Grimm (1); Paulo Zaratini; José Marengo

RELAÇÕES ENTRE TEMPERATURAS DA SUPERFÍCIE DO MAR SOBRE O ATLÂNTICO E PRECIPITAÇÃO NO SUL E SUDESTE DO BRASIL

COMO UM MODELO CLIMÁTICO REPRODUZ A CLIMATOLOGIA DA PRECIPITAÇÃO E O IMPACTO DE EL NIÑO E LA NIÑA NO SUL DA AMÉRICA DO SUL?

RELAÇÕES ENTRE OS PROCESSOS ENOS DE GRANDE ESCALA E PECULIARIDADES DO CLIMA REGIONAL NO SUL DO BRASIL

Fenômeno La Niña de maio de 2007 a abril de 2008 e a precipitação no Rio Grande do Sul

SUDESTE DO BRASIL: UMA REGIÃO DE TRANSIÇÃO NO IMPACTO DE EVENTOS EXTREMOS DA OSCILAÇÃO SUL PARTE I: EL NIÑO. Alice M. Grimm (1); Simone E. T.

Eliana Lopes Ferreira Bolsista CNPq de Iniciação Científica, Grupo de Meteorologia, Departamento de Física, UFPR ABSTRACT

Alice Grimm Departamento de Física Universidade do Paraná. Vicente Barros Departamento de Ciencias de la Atmosfera Universidad de Buenos Aires

ANÁLISE DA VARIABILIDADE E VARIAÇÃO DOS ÍNDICES EL NIÑO, OSCILAÇÃO SUL E CHUVAS NOS ESTADOS DO RIO GRANDE DO SUL E SANTA CATARINA DO BRASIL

INFLUÊNCIA DO FENÔMENO EL NIÑO - OSCILAÇÃO SUL NA OCORRÊNCIA DE CHUVAS NO SUDESTE DA BAHIA RESUMO

AS ESTIAGENS NO OESTE DE SANTA CATARINA ENTRE

Relação da precipitação no Rio Grande do Sul no bimestre janeiro-fevereiro com a TSM de áreas do Pacifico Central e Atlântico Sudoeste

PROGNÓSTICO CLIMÁTICO DE VERÃO. Características do Verão

POSICIONAMENTO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL EM ANOS DE EL NIÑO E LA NIÑA

CLIMATOLOGIA DA PRECIPITAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SANTA IZABEL DO PARÁ-PA. Castro da Costa 2

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

Análise do aquecimento anômalo sobre a América do sul no verão 2009/2010

IMPACTO DO FENÔMENO EL-NIÑO SOBRE O REGIME DE PRECIPITAÇÃO NA REGIÃO DO MÉDIO AMAZONAS. RESUMO

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

INFLUÊNCIA DOS FENÔMENOS EL NIÑO E LA NIÑA SOBRE O RENDIMENTO DO TRIGO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

BOLETIM TÉCNICO INFLUENCE OF LA NIÑA AND EL NIÑO IN PRECIPITATION VARIABILITY IN LONDRINA, PARANA STATE.

SIPAM Sistema de Proteção da Amazônia

A INFLUÊNCIA DE ALGUMAS VARIÁVEIS ATMOSFÉRICAS A EXTREMOS DE PRODUTIVIDADE DE TRIGO NO RIO GRANDE DO SUL.

IMPACTOS DA VARIABILIDADE INTERANUAL E INTERDECADAL NA FREQUÊNCIA DE EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA SOBRE O SUL DO BRASIL

UFPA- FAMET- Brasil- Belém-

CARACTERÍSTICAS DA PRECIPITAÇÃO SOBRE O BRASIL NO VERÃO E OUTONO DE 1998.

ANÁLISE PRELIMINAR DO IMPACTO DO RESERVATÓRIO DE ITÁ NO CLIMA LOCAL. Maria Laura G. Rodrigues 1 Elaine Canônica 1,2

Eventos extremos e totais mensais de precipitação na América do Sul durante ENOS e condições normais no clima presente e em cenários futuros

INFLUÊNCIA DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLÂNTICO NA VARIABILIDADE DA TEMPERATURA EM BELÉM-PARÁ.

Variabilidade da Precipitação em Belém-Pará Relacionada com os Fenômenos El Niño e La Niña

VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA PLUVIOMETRIA EM ÁREAS HOMOGÊNEAS DO ESTADO DA PARAÍBA

PRECIPITAÇÃO ME SAL O RIO GRA DE DO SUL E O Í DICE DE OSCILAÇÃO A TÁRTICA.

UM ESTUDO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE CASTANHAL-PA. Josiane Sarmento dos Santos¹, Ludmila Monteiro da Silva², Gabriel Brito Costa³.

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002 INFLUÊNCIA DA LA NIÑA NAS TEMPERATURAS MÁXIMAS E MÍNIMAS MENSAIS PARA VIÇOSA-MG

VARIABILIDADE CLIMÁTICA INTERDECADAL DA PRECIPITAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL EM SIMULAÇÕES DO PROJETO CMIP5

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA PROGNÓSTICO DE PRECIPITAÇÃO

VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO SOBRE O SUL DO NORDESTE BRASILEIRO ( ) PARTE 1 ANÁLISE ESPACIAL RESUMO

O DESEMPENHO DO MODELO ESTATÍSTICO DE PREVISÃO DAS ANOMALIAS SAZONAIS DE PRECIPITAÇÃO SOBRE A REGIÃO SUL DO BRASIL

INFLUÊNCIAS DO FENÔMENO ENSO SOBRE A CULTURA DE TRIGO NO BRASIL RESUMO

INFLUÊNCIA DO EL NIÑO/ LA NIÑA NO NÚMERO DE DIAS COM PRECIPITAÇAO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE PARNAIBA-PI

VARIABILIDADE CLIMÁTICA DA PRECIPITAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO

ÍNDICE DE ANOMALIA DE CHUVA APLICADO EM IMPERATRIZ MA

CONDIÇÕES CLIMÁTICAS OBSERVADAS NO BRASIL EM 2009

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA E DO NÚMERO DE DIAS COM CHUVA EM CALÇOENE LOCALIZADO NO SETOR COSTEIRO DO AMAPÁ

O IMPACTO DAS ANOMALIAS DE TSM DO OCEANO PACÍFICO TROPICAL SUL SOBRE O PADRÃO DE PRECIPITAÇÃO NA AMAZÔNIA ABSTRACT

CICLOGÊNESE EM SUPERFÍCIE SOBRE A AMÉRICA DO SUL POR MANOEL ALONSO GAN VADLAMUDI BRAHMANANDA RAO CPTEC - INSTITUTO DE PESQUISAS ESPACIAIS- S.J.

BOLETIM CLIMÁTICO - NOVEMBRO 2015

RELAÇÃO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA SECUNDÁRIA DO ATLÂNTICO SUL SOBRE A OCORRÊNCIA DE SISTEMAS FRONTAIS AUSTRAIS ATUANTES NO BRASIL

CLIMATOLOGIA DA PRECIPITAÇÃO NO MUNICIPIO DE TOMÉ-AÇU NO PERÍODO DE 1985 A

AVALIAÇÃO DOS DADOS DE PRECIPITAÇÃO SOBRE O BRASIL PROVENIENTES DE DIFERENTES FONTES DE DADOS RESUMO

INFLUÊNCIA DOS FENÔMENOS EL NIÑO E LA NIÑA SOBRE O RENDIMENTO E A NECESSIDADE DE IRRIGAÇÃO DO ARROZ IRRIGADO NA REGIÃO DE PELOTAS (RS)

APTIDÃO AGROCLIMÁTICA DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAUEIRA NO MUNICÍPIO DE FLORIANO, PI RESUMO

CARACTERIZAÇÃO DO REGIME PLUVIOMÉTRICO NO MUNICÍPIO DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON - PR ENTRE OS ANOS 1941 A 2008

CONEXÃO DO FENÔMENO ENOS NAS ANOMALIAS ANUAIS DE PRECIPITAÇÃO EM ÁREAS NÃO LITORÂNEAS DO RIO GRANDE DO SUL

ANÁLISE DA VARIABILIDADE PLUVIOMÉTRICA DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO-PE

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO E DO NÚMERO DE DIAS DE CHUVA NO MUNICÍPIO DE PETROLINA - PE

ESTIMATIVA DE RENDIMENTO E COMPORTAMENTO DA LA NIÑA 1998/99 PARA A REGIÃO SUL DO BRASIL

INFLUÊNCIA DO EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL (ENOS) SOBRE AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS, NO PERÍODO DE OUTUBRO A MARÇO, NA REGIÃO DE PELOTAS-RS.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO REGIME TEMPORAL DA CHUVA EM UMBUZEIRO, PB.

A RELAÇÃO ENTRE AS ANOMALIAS DE TSM NO HEMISFÉRIO SUL COM AS ANOMALIAS DA PRECIPITAÇÃO NO SUL DO BRASIL. ABSTRACT

INFORMATIVO CLIMÁTICO

BOLETIM DE DIAGNÓSTICO CLIMÁTICO NOVEMBRO DE 2011

DEMONSTRATIVO DE CÁLCULO DE APOSENTADORIA - FORMAÇÃO DE CAPITAL E ESGOTAMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

MODOS DE VARIABILIDADE INTRASAZONAL NO SUL E SUDESTE DO BRASIL E SUL DA AMÉRICA DO SUL DURANTE O VERÃO

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

CARACTERIZAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO DO RIO TURVO, Médio Paranapanema

RELAÇÃO ENTRE O FENÔMENO EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL (ENOS) E A OCORRÊNCIA DE GEADAS NA CAFEICULTURA DO ESTADO DE SÃO PAULO

INFLUÊNCIA DE FASES EXTREMAS DA OSCILAÇÃO SUL SOBRE A INTENSIDADE E FREQUÊNCIA DAS CHUVAS NO SUL DO BRASIL

MODOS DE VARIABILIDADE NA PRECIPITAÇÃO PARA A REGIÃO SUL DO BRASIL NO CLIMA PRESENTE E FUTURO

Variabilidade da Precipitação Pluviométrica no Estado do Amapá

VARIABILIDADE NO REGIME PLUVIAL NA ZONA DA MATA E AGRESTE PARAIBANO NA ESTIAGEM DE

IMPACTOS DA OSCILAÇÃO DE MADDEN-JULIAN NA AMÉRICA DO SUL E SUAS TELECONEXÕES PARA A ÁFRICA

RELAÇÕES ENTRE TEMPERATURA E PRECIPITAÇÃO NO BRASIL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE GRUPO DE ESTUDOS E SERVIÇOS AMBIENTAIS ENCHENTE DO RIO ACRE EM RIO BRANCO, ABRIL DE 2011 PARECER TÉCNICO

Análise da Pressão e Precipitação em Boa Vista em um ano de La Niña (1996) e um ano de El Niño (1997)

INFLUÊNCIA DE EVENTOS ENOS 1982/1983 NA PRECIPITAÇÃO PLUVIAL DO MUNICÍPIO DE CAMPINAS, SP.

IMPACTO DA DISTRIBUIÇÃO DA CHUVA EM JANEIRO DE 2011 NA CIDADE DE BAURU/SP E A INFLUÊNCIA DO LA NIÑA

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO NA REGIÃO DO SUB-MÉDIO SÃO FRANCISCO EM EVENTOS CLIMÁTICOS DE EL NIÑO E LA NIÑA

Variabilidade Climática em Tracuateua e Influências do Oceano Pacífico

Variabilidade da precipitação no Rio Grande do Sul e sua relação com o Índice de Oscilação Antártica

O FENÔMENO EL NIÑO DE 2015/2016 E SEUS IMPACTOS NAS CHUVAS DO PARANÁ

PRÓ-TRANSPORTE - MOBILIDADE URBANA - PAC COPA CT /10

PADRÃO ESPACIAL PLUVIOMÉTRICO NO ESTADO DO CEARÁ.

Resumo. 1. Introdução

PRÓ-TRANSPORTE - MOBILIDADE URBANA - PAC COPA CT /10

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE PÃO DE AÇÚCAR DURANTE 1977 A 2012

INFOCLIMA. BOLETIM DE INFORMAÇÕES CLIMÁTICAS Ano 9 13 de janeiro de 2003 Número 01. Sumário Executivo

DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIA DE EVENTOS INTENSOS DE PRECIPITAÇÃO SOBRE A REGIÃO NORDESTE DO BRASIL.

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

ESTUDO DA PRECIPITAÇÃO NO MUNICÍPIO DE BELTERRA-PA ULTILIZANDO SÉRIE DE FOURIER.

MONITORIZAMOS CONTRIBUÍMOS O TEMPO O CLIMA A ACTIVIDADE SÍSMICA. PARA UM MUNDO MAIS SEGURO e UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. à frente do nosso tempo

ANÁLISE COMPARATIVA DA ATUAÇÃO DO FENÔMENO EL NIÑO /OSCILAÇÃO SUL ENTRE AS CIDADES DE RIO GRANDE E PELOTAS-RS PARA O PERÍODO DE

ESTUDO PRELIMINAR DA TEMPERATURA DO AR NA CIDADE DE PELOTAS: VARIAÇÃO CLIMÁTICA. Edeon Sandmann DE DEUS¹, André Becker NUNES²

Análise da variação da temperatura e precipitação em Belém em anos de El Niño e La Niña.

BOLETIM DE INFORMAÇÕES CLIMÁTICAS

Transcrição:

SINAIS DE EL NIÑO NA PRECIPITAÇÃO DA AMAZÔNIA Alice M. Grimm (1); Paulo Zaratini; José Marengo (1) Grupo de Meteorologia - Universidade Federal do Paraná Depto de Física Caixa Postal 19081 CEP 81531-990 Curitiba Paraná E-mail: grimm@fisica.ufpr.br Fax: (041) 267-4236 ABSTRACT The influence of El Niño events on the precipitation over North Brazil is verified through the analysis of data from 125 stations. The spatial and temporal distribution of this influence along the cycle of these events and an assessment of its consistency is obtained. Palavras-chave: Previsão de tempo e clima, El Niño, Amazônia. RESUMO A influência de eventos El Niño sobre a precipitação da Região Norte é verificada através da análise de dados de 125 estações, obtendo-se a distribuição espacial e temporal do impacto destes eventos ao longo de todo o seu ciclo e uma avaliação da sua consistência. 1. Introdução O Norte do Brasil (compreendendo Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima), assim como o norte da América do Sul, tem sido incluído entre as regiões do globo nas quais a precipitação é significativamente influenciada por eventos El Niño (EN) (e. g., Ropelewski e Halpert, 1987; Kiladiz e Diaz, 1989). Contudo, tais estudos incluem poucas estações nessa região (menos de 10), o que impede a generalização dos resultados para toda a região e a formação de um quadro mais detalhado e conclusivo. Rao e Hada (1990) acharam correlação positiva significativa entre o índice da Oscilação Sul (IOS) e a precipitação em certas partes da região. A correlação foi positiva na parte nordeste para a primavera e para a parte norte no inverno, indicando chuva abaixo do normal durante EN. Na parte leste, junto à Região Nordeste, a correlação foi negativa para o verão, indicando excesso de chuva. No presente trabalho a influência de eventos EN sobre a precipitação da Região Norte é avaliada com base num conjunto mais amplo de dados, de modo a se obter a distribuição espacial e temporal do impacto destes eventos ao longo de todo o seu ciclo e uma avaliação da sua consistência. 2. Dados e Metodologia Foram utilizados totais mensais de precipitação de 125 estações no Norte do Brasil, cujas séries abrangem pelo menos 5 eventos EN. Estas séries provém principalmente de estações da ANEEL e INMET. Os dados foram submetidos a uma análise prévia para verificação de dados duvidosos e dados faltantes. Os eventos considerados neste estudo (Tabela 1) são aqueles utilizados em Grimm et al. (1998b).

TABELA 1. Lista de eventos El Niño incluídos neste estudo Episódios El Niño 1911,1913, 1915, 1918, 1923, 1925, 1930, 1932, 1939, 1941, 1944, 1951, 1953, 1957, 1963, 1965, 1969, 1972, 1976, 1979, 1982, 1986, 1991. Para ter um quadro geral do impacto desses eventos sobre todo o Brasil, foi utilizada a mesma metodologia de Grimm et al. (1998b), baseada em Ropelewski e Halpert (1987), resumida abaixo. Os primeiros três passos fornecem a estrutura espacial das anomalias de precipitação e dos três últimos passos resulta sua distribuição temporal e consistência. 1) Em cada estação, os totais mensais de chuva são representados como percentis de ordem. Composições destes percentis para eventos EN são formados para o período de 24 meses de julho (-) (ano anterior) a junho (+) (ano seguinte a um episódio). 2) O primeiro harmônico de Fourier de cada composição é representado por um vetor (amplitude e fase). A fase dos vetores refere-se ao máximo do primeiro harmônico. 3) Regiões de anomalias de chuva coerentes durante esses episódios são selecionadas, através da maximização de um índice de coerência, que é dado pela razão entre o módulo do vetor soma e a soma dos módulos dos vetores para todas as estações numa região. 4) Os totais mensais de precipitação para cada estação são transformados em percentis de distribuições gama ajustadas aos dados de cada mês do ano. Uma correção é introduzida nas distribuições gama quando há várias ocorrências de zeros nas séries. 5) Composições para eventos EN são formadas a partir dos percentis de precipitação para cada estação para o período de 36 meses de janeiro (-) a dezembro (+) e uma média de todas essas composições é formada para cada região coerente. Esta composição agregada é usada para identificar os períodos dentro do ciclo de EN com as maiores anomalias médias. Ressalta-se que muitas vezes grandes anomalias não são consistentes, isto é, não se pode afirmar que estejam associadas com eventos EN. A consistência é avaliada a seguir. 6) Séries temporais de precipitação sobre trimestres móveis no período de 36 meses centrados num evento são analisadas para avaliar a significância estatística da relação entre eventos EN e anomalias de precipitação, utilizando-se a distribuição hipergeométrica, conforme explicado em Grimm et al. (1998b). 3. Resultados e conclusões A Figura 1 mostra as regiões com índice de coerência acima de 95%. Verifica-se que a precipitação na Região Norte não responde de forma homogênea a eventos EN. Contudo, sobre a maior parte da região há aspectos comuns nessa resposta. A direção dos vetores não indica necessariamente o período de máxima anomalia de precipitação para EN, mas o máximo do primeiro harmônico. Na Tabela 2 são mostrados os níveis de significância (em %) do teste da hipótese de que as anomalias são consistentemente secas (s) ou úmidas (u) durante eventos EN, sem consideração pela magnitude das anomalias. Foram incluídos apenas os valores para o teste da hipótese que resultou em maior valor. Quanto maiores os valores, mais consistentes as anomalias. Verifica-se que a região 1, no Estado de Tocantins, apesar de apresentar tendência significativa a seca durante o outono/inverno (0), não sofre impacto tão forte, da mesma forma que parte do Nordeste (Grimm et al., 1998a). A Amazônia, contudo, tem sofrido consistente seca durante eventos EN, como se pode ver para as regiões 2, 3 e 4. Na região 2 há anomalias significativas desde o outono (0) até o outono (+), o que se repete, sem tanta consistência, na região 4. A região 3 tem anomalias mais concentradas no ano (+). As anomalias úmidas do ano (-), na maior parte não significativas, devem-se à tendência bianual da Oscilação Sul, sendo freqüente a ocorrência de pares de eventos LN/EN e EN/LN. Neste

caso, o ano (-) de EN coincide com um ano (0) de La Niña, durante o qual há tendência a chuva acima do normal (Grimm et al., 1998c). Esses resultados são coerentes com os de Ropelewski e Halpert (1987) e parcialmente consistentes com os de Rao e Hada (1990), exceto pelas tendências no verão. Há vários mecanismos que podem ser responsáveis pela seca na Amazônia associada a eventos EN. Durante esses episódios a temperatura no Atlântico tropical norte tende a ser maior que o normal durante o outono do ano (+) (Enfield e Mayer, 1997). Com isto, os alísios de nordeste, que trazem umidade do Atlântico para o norte do Brasil tendem a enfraquecer, enquanto os alísios de sudeste se intensificam, cruzando o equador. A Zona de Convergência Intertropical desloca-se para norte. Estes efeitos tendem a diminuir a chuva na Amazônia. Além disso, durante EN a convecção na costa norte do Peru tende a produzir uma subsidência compensatória a leste dos Andes. Estes mecanismos afetam principalmente a parte norte da Amazônia, que se comporta de forma mais uniforme, como mostra a Fig. 1. Na parte sul também há anomalias negativas de precipitação durante EN, mas não de forma tão coerente, como se conclui da dispersão dos vetores nessa região. Nesta parte, há dependência de outros mecanismos dinâmicos, como frentes e padrões de ondas vindos do Pacífico, que alteram a influência de EN. Embora esses mecanismos possam agir em conjunto, cada um deles tende a produzir maior impacto em uma fase do ciclo de EN e com mais intensidade em certa região. Isto resulta na regionalização da Fig. 1. Pode-se, portanto, afirmar que a Amazônia realmente sofre um impacto consistente durante eventos EN no sentido de diminuição da precipitação. Agradecimentos. Ao CNPq, pelo suporte à pesquisa e também ao auxílio da Funpar (UFPR). A Daniel Weingaertner e Rodrigo Siqueira, pelo suporte técnico, e Andréa de O. Cardoso e Angela A. Natori, pela colaboração no processamento dos dados. A ANEEL pela cessão dos dados. Referências Bibliográficas Enfield, D. B. e D. A. Mayer, 1997: Tropical Atlantic sea surface temperature variability and its relation to El Niño-Southern Oscillation. J. Geophys. Res., 102, 929-945. Grimm, A. M., S. E. T. Ferraz e A. O. Cardoso, 1998a: Influência de El Niño sobre a chuva no Nordeste brasileiro. Anais do X Congresso Brasileiro de Meteorologia. Sociedade Brasileira de Meteorologia. Grimm, A M., S. E. T. Ferraz and J. Gomes, 1998b: Precipitation anomalies in Southern Brazil associated with El Niño and La Niña events. J. Climate (em publicação). Grimm, A. M., P. Zaratini e J. Marengo, 1998c: Sinais de La Niña na precipitação da Amazônia. Anais do X Congresso Brasileiro de Meteorologia. Sociedade Brasileira de Meteorologia. Kiladis, G. N. and H. F. Diaz, 1989: Global climatic anomalies associated with extremes in the Southern Oscillation. J. Climate, 2, 1069-1090. Rao, V. B. e K. Hada, 1989:Characteristics of rainfall over Brazil: annual variations and connections with the Southern Oscillation. Theor. Appl. Climatol., 42, 81-90. Ropelewski, C. H., and S. Halpert, 1987: Global and regional scale precipitation patterns associated with the El Niño/Southern Oscillation. Mon. Wea. Rev., 115,1606-1626.

Região 1 Região 2 Região 3 Região 4 Jan(-) a Mar(-) 64,71 s 65,43 s 33,08 s 62,54 u Fev(-) a Abr(-) 45,02 s 72,62 s 96,49 s 56,08 s Mar(-) a Mai(-) 44,27 s 41,97 s 41,35 s 46,54 s Abr(-) a Jun(-) 41,95 u 39,05 s 41,35 s 41,35 s Mai(-) a Jul(-) 76,50 u 52,52 u 49,82 u 40,70 u Jun(-) a Ago(-) 22,73 u 69,07 u 66,92 u 63,16 u Jul(-) a Set (-) 42,86 u 76,43 u 31,58 u 90,23 u Ago(-) a Out(-) 44,99 u 31,34 s 58,05 s 55,04 u Set(-) a Nov(-) 55,73 u 57,83 s 59,40 s 63,16 u Out(-) a Dez(-) 45,02 u 50,00 s 76,71 s 40,70 u Nov(-) a Jan(0) 45,02 u 72,61 u 70,68 u 40,70 u Dez(-) a Fev(0) 50,00 s 86,97 u 85,24 u 55,04 u Jan(0) a Mar(0) 74,21 u 72,61 u 45,02 u 62,54 u Fev(0) a Abr(0) 45,02 s 34,31 s 81,51 u 59,42 u Mar(0) a Mai(0) 44,27 s 91,59 s 35,29 u 30,65 s Abr(0) a Jun(0) 89,95 s 90,28 s 35,29 u 64,71 s Mai(0) a Jul(0) 94,51 s 72,57 s 34,43 s 81,84 s Jun(0) a Ago(0) 22,73 u 93,76 s 45,02 u 95,67 s Jul(0) a Set (0) 42,86 u 98,71 s 31,58 u 97,69 s Ago(0) a Out(0) 44,99 u 85,30 s 41,95 u 52,32 s Set(0) a Nov(0) 44,27 s 86,96 s 59,40 s 77,09 s Out(0) a Dez(0) 87,41 s 81,09 s 76,71 s 44,27 s Nov(0) a Jan(+) 54,98 s 98,90 s 93,30 s 81,84 s Dez(0) a Fev(+) 50,00 u 100,00 s 98,86 s 68,42 s Jan(+) a Mar(+) 41,35 s 98,90 s 87,41 s 60,45 s Fev(+) a Abr(+) 66,92 s 77,00 s 87,41 s 79,32 s Mar(+) a Mai(+) 59,30 s 66,78 s 91,95 s 70,38 s Abr(+) a Jun(+) 70,81 s 63,72 s 91,95 s 64,71 s Mai(+) a Jul(+) 79,02 s 94,07 s 95,25 s 44,27 s Jun(+) a Ago(+) 18,18 u 41,08 u 98,76 s 40,60 u Jul(+) a Set (+) 35,24 u 88,22 u 93,30 s 31,58 u Ago(+) a Out(+) 68,42 s 80,22 u 58,05 s 68,42 s Set(+) a Nov(+) 59,30 s 40,43 s 89,47 s 59,40 s Out(+) a Dez(+) 66,92 u 32,24 s 38,01 s 81,84 s Tabela 2. Nível de significância (%) do teste da hipótese de que os períodos indicados são mais úmidos (u) ou mais secos (s) que o normal durante eventos El Niño, dentro das regiões coerentes indicadas. Foram incluídos apenas os níveis de significância para o teste da hipótese que resultou em maior valor. Valores acima de 90% estão destacados.