O efeito fotoeléctrico

Documentos relacionados
Determinação da constante de Planck Protocolos dos laboratórios de Física Departamento de Física, UAlg

EFEITO FOTOELÉCTRICO

EFEITO FOTO-ELÉCTRICO DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE DE PLANCK

Termodinâmica e Estrutura da Matéria

defi departamento de física

Determinação da constante de Planck: o efeito fotoeléctrico

Determinação da constante de Plank: o efeito fotoelectrico

Física Experimental V. Aula 1

ESCOLA SECUNDÁRIA FILIPA DE VILHENA. Utilização e Organização dos Laboratórios Escolares. Actividade Laboratorial Física 12º Ano

2. Introdução à física quântica

Física Experimental C. Efeito fotoelétrico

As seguintes considerações devem ser feitas inicialmente ou ao longo do trabalho:

Introdução à Física Quântica

EFEITO FOTOELÉTRICO (RELATÓRIO / EXPERIMENTO - 3)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DO PONTAL

2. Propriedades Corpusculares das Ondas

Introd. Física Médica

Seleção de comprimento de onda com filtros de interferência

Física Moderna I Aula 04. Marcelo G Munhoz Edifício HEPIC, sala 202, ramal

Efeito Foto-Elétrico

Parte 2. Licenciatura em Química Física III

Aula 2 Evidências experimentais da teoria quântica: efeito fotoelétrico e efeito Compton

Introdução: A teoria de Einstein para o efeito fotoelétrico

Problema 1. (15 pontos)

Efeito Fotoelétrico. André de Freitas Smaira Thereza Cury Fortunato. 27 de setembro de 2012

4º bimestre - Volume 3, Capítulo 19

1 - EFEITO FOTOELÉTRICO

CIRCUITOS ELÉTRICOS : Elementos lineares e não lineares. Autores : Bernardo Moreira Bruno Gonçalves Diogo Duarte Gonçalo Pinho Pedro Monteiro

Efeito Fotoelétrico. AULA 3 META: Determinar a constante de Planck e da função trabalho do material que compõe uma célula fotoelétrica.

1º Laboratório Informação Geral

EFEITO FOTOELÉTRICO. Propriedade corpuscular da radiação eletromagnética Reforço à teoria quântica de Planck (quanta de energia)

ESCOLA SECUNDÁRIA 2/3 LIMA DE FREITAS 10.º ANO FÍSICA E QUÍMICA A 2010/2011 NOME: Nº: TURMA:

Apostila de Laboratório. ZAB0474 Física Geral e Experimental IV

Biosensores e Sinais Biomédicos 2009/2010

Laboratório de Física Moderna Efeito Fotoelétrico Aula 02

Componentes eletrónicos. Maria do Anjo Albuquerque

PROVA TEÓRICA Escalão B. Problema 1 CRISTAIS

FÍSICA IV PROF. PIERRE VILAR DANTAS AULA 10-28/10/2017 TURMA: A HORÁRIO: 7M PIERREDANTASBLOG.WORDPRESS.COM

Física D Extensivo V. 8

Radiação do Corpo Negro

PROTOTIPAGEM ELETRÔNICA DO IMD PENTATRONIX

Apêndice Efeito Fotoelétrico, Laboratório de Estrutura da Matéria Fis101.

Origens históricas dos raios-x. Tubos de Crookes

Instituto de Física USP. Física V - Aula 11. Professora: Mazé Bechara

1ª sessão de preparação para a EUSO2010. Características eléctricas de saída de um painel fotovoltaico

Efeito Fotoelétrico. Elétron ejetado. luz. Originalmente observado por Hertz em 1887

Sumário. Espectros, Radiação e Energia

Uma breve história do mundo dos quanta. Érica Polycarpo Equipe de Física Coordenação: Prof. Marta Barroso

5 META: Medir a constante de Planck.

EFEITO FOTOELÉTRICO. Propriedade corpuscular da radiação eletromagnética Reforço à teoria quântica de Planck (quanta de energia)

Capítulo 5. Circuitos RC e díodos. 5.1 Actividade prática

1318 Raios X / Espectro contínuo e característico Medida da razão h/e.

O Efeito Fotoelétrico

Circuitos com díodos: exercícios. CESDig & CEletro 2018/19 - Elect. Fundamentals Floyd & Buchla Pearson Education. Trustees of Boston University

O osciloscópio é um aparelho de medida que utiliza um tubo de raios catódicos para vizualisar num écran fluorescente a variação

Prof. Dr. Lucas Barboza Sarno da Silva

AULA METAS: Introduzir o conceito de fóton no contexto. usar a teoria de Einstein para o efeito fotoelétrico

Efeito Fotoelétrico: ao tema

Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico Dr. Joaquim de Carvalho. 6º Teste de Avaliação de Física. GRUPO I (Versão 1)

Olimpíadas de Física Prova Experimental B

1.4 Resistência elétrica

Estimativa do Comprimento de Onda de um LED

Regras de Kirchoff dos circuitos eléctricos. Descarga de um condensador. Verificar experimentalmente as regras de Kirchoff para circuitos eléctricos.

FENÓMENOS CORPUSCULARES E ONDULATÓRIOS

Versão Online ISBN Cadernos PDE VOLUME II. O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica

A.L.2.2 CONDENSADOR PLANO

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Efeito Fotoelétrico

NOTAS DE AULAS DE FÍSICA MODERNA

Circuitos Electrónicos

PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA

Escola Secundária Alexandre Herculano 2009/2010

Caracterização de uma Lâmpada

Curso Científico-Humanístico de Ciências e Tecnologias Disciplina de Física e Química A 10ºAno

Apostila de Laboratório. ZAB0474 Física Geral e Experimental IV

5.º Teste de Física e Química A 10.º A Abril minutos /


NOTAS DE AULAS DE FÍSICA MODERNA

RADIAÇÃO, ENERGIA E ESPECTROS

Laboratório de Circuitos Elétricos I

Capacitores. Prof. Carlos T. Matsumi

Origens históricas dos raios-x. Tubos de Crookes

Aula Prática 6. Carga e Descarga de Capacitores. Depto Química e Física - CCENS/UFES

Avaliação Teórica I Seleção Final 2018 Olimpíadas Internacionais de Física 14 de Março de 2018

Medição de Tensões e Correntes Eléctricas. Leis de Ohm e de Kirchoff

Física II. Laboratório 1 Instrumentação electrónica

Olimpíadas de Física Seleção para as provas internacionais. Prova Experimental B

NOTAS DE AULAS DE FÍSICA MODERNA

Aula 21 Fótons e ondas de matéria I. Física Geral IV FIS503

Instituto de Física USP. Física Moderna I. Aula 10. Professora: Mazé Bechara

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO Instituto de Ciências Exatas e Biológicas

Estrutura eletrônica da matéria - resumo

Departamento de Matemática e Ciências Experimentais

Medição de Tensões e Correntes Eléctricas. Leis de Ohm e de Kirchhoff

Determinação Experimental da Constante Dieléctrica de um Filme de Poliéster (Folha de Acetato)

FLUORESCÊNCIA DE RAIOS X

Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Física Disciplina: Física IV-A Data: 03/07/2019. (c) I 1 = I 2.

Espectroscopia do Visível

O circuito RLC. 1. Introdução

Electromagnetismo. Campo Magnético:

Estratégia de ensino-aprendizagem usando o JEF.

Transcrição:

O efeito fotoeléctrico 27 de Outubro de 2005 1 O efeito fotoeléctrico Desde os ns do século 19 que se sabe que certos metais podem emitir electrões por incidência da luz. A este efeito chama-se efeito fotoeléctrico e aos electrões emitidos chamamos fotoelectrões Na gura 1 temos um circuito para observar o efeito fotoeléctrico. Figura 1: Circuito para observar o efeito fotoeléctrico 1

A célula fotoeléctrica é um tubo de vidro ou quartzo contendo dois eléctrodos de metal no vazio. Um dos eléctrodos chama-se o emissor, pois é ele que vai emitir os electrões; o outro chama-se de colector, pois vai recolhê-los. Um colector está a um potencial positivo relativamente ao emissor, pois assim os electrões para ele vão ser atraídos. A bateria que está na gura tem precisamente esse papel. Quando a célula está no escuro completo não há emissão de electrões e não há corrente. Quando a célula é iuminada (pode) passar a haver corrente. Esta corrente é originada por electrões que são arrancados ao emissor e se deslocam até ao colector, fechando depois o circuito através da bateria Quando se faz incidir luz monocromática pode observar-se ou não o efeito fotoeléctrico, ou seja só se observa efeito fotoeléctrico a partir de um comprimento de onda mínimo, valor esse que depende do metal. Este é um aspecto que a teoria clássica da radiação não podia explicar. A teoria clássica previa que se observasse sempre efeito fotoeléctrico desde que a intensidade da radiação fosse suciente. Na verdade não é isso que acontece: se o comprimento de onda mínimo para haver efeito num dado metal está no verde, não adianta iluminá-lo com luz vermelha muitissimo intensa, pois o efeito não se observa. Em contrapartida observar-se-á mesmo com uma ténue luz azul. Vejamos agora em mais detalhe o que acontece com luz monocromática (que produz efeito). Isto está na gura 2. Podemos observar os seguintes factos: A corrente satura a partir de uma dada tensão aplicada. Isto é compreensível: não é a tensão aplicada que aumenta o número de fotoelectrões. A tensão aplicada torna simplesmente a sua colecção mais eciente. No entanto, a partir de um certo valor de V todos os fotoelectrões possíveis já foram recolhidos não se pode melhorar mais, portanto. A corrente aumenta com a intensidade da luz. Isto está de acordo até com o que classicamente esperamos: mais intensidade quer dizer mais energia, mais electrões arrancados e logo maior corrente. O que acontece se o emissor se tornar negativo? Neste caso os electrões são repelidos e só chegam ao colector se tiverem energia cinética K suciente, isto é se, K > ev. (1) 2

Figura 2: Circuito para observar o efeito fotoeléctrico O que se observa portanto é que a corrente diminui para V < 0: há menos electrões a chegar ao colector porque estão a ser repelidos. Em particular, há um valor de tensão, a tensão de paragem, V s (s de stopping potential), para a qual a corrente se reduz a zero. A tensão de paragem dá portanto o valor máximo da energia cinética dos fotoelectrões: K max = ev s. (2) O que também é inexplicável pela teoria clássica é que o valor máximo da energia potencial não depende da intensidade da luz (como se vê na gura). Com efeito, espera-se que a mais intensidade correspondesse mais energia dos electrões e logo um maior valor da energia cinética máxima. Outro facto inexplicável, mas não patente na gura, é a K max depende da frequência. 2 A explicação do efeito A explicação do efeito foi dada por Einstein em 1905. Se assumirmos que a radiação está quanticada, então um fotão cede toda a sua energia a um electrão, 3

e é por isso que K max não depende da intensidade da luz: porque basta um fotão para que o efeito se dê. A explicação para o facto de que há um comprimento de onda mínimo a partir do qual não se observa o efeito tem a ver com a expressão agora bem conhecida E = hν, (3) em que E é a energia do fotão, h a constante de Planck e ν a frequência da luz. Assim, se ω for a energia de arranque do metal (e que depende do metal), a energia cinética máxima possível para o fotoelectrão é Assim o efeito está explicado: K max = hν ω. (4) Só há efeito se hν > ω, e por isso a selectividade do efeito em comprimento de onda; como se vê de (4), K max não depende da intensidade da luz, mas apenas do metal e da frequência. K max depende linearmente de ν. 3 A experiência determinação da constante de Planck Se pudermos determinar experimentalmente uma curva de K max em função de ν temos uma forma de determinar a constante de Planck: é o declive da recta! No trabalho de laboratório vamos usar duas montagens diferentes. Vejamos cada uma delas. 3.1 Montagem 1 A montagem 1 está na gura 3. A caixa sombreada representa a caixa preta com que vamos trabalhar. Temos acesso ao que está fora desta caixa. O procedimento explica-se brevemente: A luz proveniente da fonte (luz natural, lâmpada normal ou lâmpada) passa por um ltro. Assim selecciona-se o comprimento de onda. A luz incide na célula fotoeléctrica e dá-se emissão de electrões do emissor para o colector. Estes electrões dão pois origem à fotocorrente A fotocorrente provoca uma ddp aos terminais da resistência de 1 kω. Essa ddp é depois amplicadapor um amplicador e a saída do amploicador é ligada a um voltímetro, para fazer a medição do sinal amplicado. 4

Figura 3: Circuito da montagem 1, para observar o efeito fotoeléctrico Varia-se então a tensão aplicada à célula até que a corrente seja nula (e portanto até que a tensão medida aos terminais da resistência também seja nula). Esta tensão é a tensão de paragem. O valor desta tensão mede-se através do voltímetro da esquerda. A ddp variável é conseguida através de uma bateria de 9V e de um potenciómetro de 10 kω. A ddp entre emissor e colector varia pois entre 0 e -9 V. 3.2 Montagem 2 A montagem 2 é mais simples e não usa sequer um potencial aplicado externamente à célula. Esta montagem está na gura 4. Quando se faz incidir luz no emissor os electrões são arrancados e vão começar a depositar-se no colector (ânodo). O ânodo começa portanto a car negativo relativamente ao emissor (cátodo). À medida que o processo continua o ânodo ca cada vez mais negativo e origina um campo que se opõe à passagem dos electrões cada vez mais intenso. A partir de certa altura o campo é sucientemente forte para impedir que os electrões cheguem ao ânodo a diferença de potencial entre ânodo e cátodo atinge portanto o valor do potencial de paragem. Em resumo, uma fotocélula iluminada acaba por tender para um estado em que a ddp ânodo-cátodo é igual ao potencial de paragem. Como medir esta ddp? Um voltímetro habitual não serve porque não tem uma resistência interna sucientemente elevada para fazer a medição. É preciso usar um electrómetro. Um electrómetro serve para medir cargas e diferenças de potencial. e tem uma resistência interna muito elavada 5

Figura 4: Circuito da montagem 2 (R i 10 13 Ω). Para todos efeitos podemos pensar que realmente um voltímetro ideal, com resistência de entrada innita. Os seus terminais são equivalentes aos terminais de um condensador, e é a ddp entre as placas deste condensador que o electrómetro lê (ver gura 5). Figura 5: Modelo de um electr+ometro ideal. A carga que está acumulada no ânodo é transferida para uma das placas do condensador do electrómetro, que passa portanto a estar carregado. O electrómetro lê então o valor da ddp entre as suas placas, que é precisamente o potencial de paragem. Para fazer nova medida há que descarregar o condensador. Por isso todos os electrómetros têm geralmente um botão de descarga, que curto-circuita as placas do condensador. 3.3 Determinação de h Em qualquer dos casos as montagens dão o valor do potencial de paragem em função do de onda da radiação. 6

De acordo com (2) e (4) temos então que ev max = K max = hν ω V max = h e ν ω e. (5) Desta forma o declive do gráco V max por ν tem por declive h/e, e daqui podemos determinar o valor de h. Figura 6: Determinação da constante de Planck 7