II023 CARACTERIZAÇÃO DA ÁGUA DE LAVAGEM DE FILTROS RÁPIDOS DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA E DOS SOBRENADANTES E SEDIMENTOS OBTIDOS APÓS ENSAIOS DE CLARIFICAÇÃO UTILIZAO POLÍMERO ANIÔNICO Paulo Sérgio Scalize Graduado em Ciências Biológicas, Modalidade Médica pela Faculdade Barão de Mauá Ribeirão Preto. Mestre em Hidráulica e Saneamento e estudante de Doutorado na Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. Luiz Di Bernardo (1) Professor Titular da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. FOTOGRAFIA NÃO DISPONÍVEL Endereço (1) : Av. Trabalhador SãoCarlense, 400 São Carlos SP CEP: 13566590 Brasil Tel: (16) 27395 Fax: (16) 2739550 email: bernardo@sc.usp.br RESUMO No presente trabalho são apresentados e discutidos os resultados obtidos na caracterização da água de lavagem de filtros rápidos de uma Estação de Tratamento de Água, que trata água proveniente de manancial superficial e utiliza sulfato de alumínio como coagulante primário. Após ensaios de clarificação em coluna de sedimentação, sem e com uso de aniônico, foi realizada a caracterização dos sobrenadantes e sedimentos obtidos. Concluiuse, principalmente, que: i) foram obtidos sobrenadantes de melhor qualidade nos ensaios de clarificação com uso de aniônico em comparação aos ensaios sem, tendo sido empregada a relação massa de / SST, de 24 mg/g; ii) há necessidade de cuidados quanto ao reúso do sobrenadante, apesar do número de coliformes ter resultado menor que o da água bruta; iii) considerando apenas a presença de coliformes, a recirculação do sobrenadante não requer desinfecção prévia, no entanto, como foram encontrados cistos, ovos e larvas de parasitas patogênicos de interesse da saúde pública, a desinfeção prévia do sobrenadante parece ser necessária; iv) a quantidade de formas parasitárias presentes no sedimento foi superior à encontrada nos sobrenadantes, devendose tomar os devidos cuidados em sua manipulação, disposição ou reutilização; v) com o uso de, os valores de resistência específica do sedimento mostraram tratar de material com média desidratação; sem o uso do condicionante, os valores de resistência específica foram maiores, indicando um sedimento de difícil desidratação; vi) o lodo obtido apresentou grande quantidade de metais, sendo o ferro encontrado em maior concentração, da ordem a g/l, e o cromo em menor quantidade, entre 0,30 a 4mg/L. PALAVRASCHAVE: Estação de Tratamento de Água; Resíduos, Água de lavagem de filtro, Clarificação, Polímeros sintéticos. INTRODUÇÃO Várias são as fontes de resíduos líquidos de ETAs (Estações de Tratamento de Água), destacandose o proveniente da lavagem dos filtros, o qual normalmente é lançado no curso de água mais próximo, representando, no caso de uma ETA convencional como a de São Carlos (ETASC), cerca de % do volume total da água tratada, SCALIZE (1997). O estudo das características das águas a serem reutilizadas ou dispostas é de suma importância, visando obtêlas com características conhecidas e aceitáveis, com a finalidade de evitar possíveis contaminações. Como a água desempenha um papel importante na disseminação de doenças, tornase importante pesquisar a presença de contaminantes nas amostras de sobrenadantes e no sedimento obtidos após clarificação da água de lavagem de filtro, os quais poderão acarretar contaminação quando dispostos ou reutilizados inadequadamente. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1
METODOLOGIA Durante a lavagem de um mesmo filtro da ETASC, o resíduo líquido produzido foi continuamente coletado com auxílio de uma bomba, resultando a amostra composta. A partir desta amostra (Amostra 1) foram preparadas duas outras amostras com valores de turbidez e concentração de sólidos suspensos totais (SST) maiores que na inicial. A amostra composta inicial apresentou turbidez de 60 ut e SST igual a 58mg/L, enquanto nas outras duas, resultaram valores de turbidez iguais a 149 ut (Amostra 2) e 232 ut (Amostra 3) e de SST iguais a 156mg/L (Amostra 2) e 248mg/L (Amostra 3). As três amostras foram caracterizadas segundo os parâmetros da tabela 1, sendo, posteriormente, submetidas a ensaios em coluna de sedimentação após condicionamento com aniônico em diferentes dosagens (ver tabela 2). A coluna utilizada nos ensaios possuía 91,4 mm de diâmetro e 1,4 m de altura, apresentando em sua extensão três pontos de coletas, um ponto para injeção de, um registro de descarga lateral e um dispositivo para descarga de fundo. As dimensões estão mostradas na Figura 1. Os ensaios em coluna foram realizados utilizandose 7,5L de amostra e, após adição do, empregavase, durante três minutos, agitação com gradiente de velocidade da ordem de 100s 1. Após este tempo a agitação era interrompida e a amostra permanecia em repouso durante 24 minutos. Obtinhamse, como produtos finais, sobrenadantes e sedimentos, os quais foram caracterizados, de acordo com os parâmetros apresentados nas tabelas 3 e 4. Todos os ensaios foram realizados com temperatura inicial de 25 1 o C. Figura 1: Esquema da coluna utilizada nos ensaios de clarificação por sedimentação de água resultante de lavagem de filtro. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a coleta da água de lavagem de um filtro da ETA SC e preparação das outras amostras, foram efetuadas suas caracterizações, cujos dados são mostradas na tabela 1, tendo resultado concentrações de SST de 58 a 248 mg/l e volume de sólidos sedimentáveis de 2,6 a 29 ml/l. Dos metais pesquisados, o ferro apresentou maior concentração, entre 4,62 e 30,12 mg/l, seguido do alumínio, 2,60 a 4,40 mg/l e, em concentrações mais baixas, manganês, zinco, cobre e níquel, sendo que o Ni só foi detectado na amostra com turbidez igual a 60 ut e teor de SST igual a 58 mg/l. Nos exames bacteriológicos observouse a presença de coliformes totais e de Escherichia coli, e no exame parasitológico a presença de cisto de Entamoeba coli, larvas de Strongyloides stercoralis, larvas e ovos de Ancylostomidae e ovos de Hymenolepis nana, indicando a necessidade de cuidados quanto sua reutilização ou disposição. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2
Tabela 1: Características das amostras compostas utilizadas nos ensaios de clarificação. PARÂMETRO AMOSTRA 1 AMOSTRA 2 AMOSTRA 3 Turbidez (ut) 60 149 232 Cor Aparente(uC) 290 680 1400 Demanda Química de Oxigênio (mg/l) 14 33 62 ph 6.9 6.9 6.9 Alcalinidade(mg/L CaCO 3 ) 15 22 17 Dureza(mg/L CaCO 3 ) 12 13 11 Condutividade(µS/cm) 32 35 48 Sólidos Totais(mg/L) Fixos(mg/L) Voláteis(mg/L) Sólidos Suspensos Totais(mg/L) Fixos(mg/L) Voláteis(mg/L) Sólidos Dissolvidos Totais(mg/L) Fixos(mg/L) Voláteis(mg/L) 88 72 16 58 44 14 30 2 192 124 68 156 112 44 38 12 24 6 232 76 248 200 48 Sólidos Sedimentáveis(ml/L) 2.6 17 29 Nitrogênio total(mg/l N) 10 10 10 Fosfato(mg/L PO 3 4 ) 0.036 0.040 0.055 Carbono Orgânico Total (mg/l) 10.4 9.6 14.2 Coliformes Totais(NMP/100mL) 1890 80 3440 Escherichia coli(nmp/100ml) 84 145 453 Parasitológico: Cistos de Entamoeba coli Larvas de Strongyloides stercoralis Larvas de Ancylostomatidae Ovos de Hymenolepis nana Ovos de Ancylostomatidae Metais(mg/L): Ferro Alumínio Manganês Zinco Níquel Cobre 4.62 2.60 0.08 1.84 0.12 0.16 21.12 3.80 0.30 0.92 = não detectado; () positivo; () negativo. Cr e Pb não foram detectados. 38 32 30.12 4.40 0.34 0.72 Na tabela 2 são mostradas as dosagens de aniônico utilizadas nos ensaios de clarificação, sendo esta em função do teor de SST (24 mg/g de SST). Com a execução dos ensaios, foram obtidos como produtos finais, sobrenadantes e sedimentos, os quais foram devidamente caracterizados (ver tabelas 3 e 4). Nas figuras 2 a 5 são apresentados, respectivamente, os valores de coliformes totais, Escherichia coli, DQO e teor de fosfato nas amostras compostas e nos sobrenadantes obtidos nos ensaios de clarificação sem e com aniônico para os três valores de SST. Nas figuras 6 e 7 têmse os valores de turbidez e do teor de SST das amostras compostas e dos sobrenadantes. Nas fotos da figura 8 são mostrados cisto de Entamoeba coli e larva de S. stercoralis encontrados nos sobrenadantes e, na figura 9 algumas algas presentes no sobrenadante. No exame parasitológico realizado nos sobrenadantes foram encontrados, em todas as amostras, cistos de Entamoeba coli, larvas de Strongyloides stercoralis e de Ancylostomatidae. Em todos sobrenadantes provenientes dos ensaios sem uso de foram encontrados ovos de Ancylostomatidae, mas, apenas no sobrenadante do ensaio com, utilizando amostra com maior turbidez e teor de SST, foi encontrada tal forma parasitária. Por ter sido um método qualitativo, não se pode quantificar a concentração remanescente, em relação à amostra composta, após o ensaio em coluna, mas afirmar que, por meio da análise microscópica, o número de formas parasitárias encontradas nos sobrenadantes foram inferiores ao das amostras compostas e nos sedimentos, mostrando que um tratamento prévio é efetivo na diminuição desses organismos. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3
Tabela 2: Dosagens utilizadas na clarificação (24 mg de / g SST). TURBIDEZ (ut) SST (mg/l) DOSAGEM (mg/l) 60 58 1,4 149 156 3,8 232 248 6,0 Tabela 3: Características dos sobrenadantes obtidos dos ensaios em coluna com e sem utilização de aniônico em diferentes dosagens em função da concentração de SST. PARÂMETRO AMOSTRA AMOSTRA AMOSTRA 1 2 3 sem com sem com sem com Turbidez (ut) 30.7 8.97 40.8 8.12 40.1 7.33 Demanda Química de Oxigênio (mg/l) 12 4 22 4 30 6 ph 6.9 6.9 6.9 6.9 6.9 6.9 Alcalinidade(mg/L CaCO 3 ) 18 14 17 15 17 14 Dureza(mg/L CaCO 3 ) 13 8 14 9 12 8 Condutividade(µS/cm) 38 22 40 26 39 24 Sólidos Suspensos Totais(mg/L) Fixos(mg/L) Voláteis(mg/L) 34 26 8 16 10 4 20 8 14 4 10 21 7 18 10 8 Nitrogênio(mg/L N) 8.0 5.0 5.5 4.2 6.0 4.0 Fosfato(mg/L PO 3 4 ) 4 0.018 0.031 0 0.050 0 Carbono Orgânico Total (mg/l) 8.3 3.3 6.3 4.0 6.1 5.2 Coliformes Totais(NMP/100mL) 612 200 741 324 943 429 Escherichia coli(nmp/100ml) 24 3 42 11 64 18 Parasitológico: Cistos de Entamoeba coli Larvas de Strongyloides stercoralis Larvas de Ancylostomatidae Ovos de Ancylostomatidae Metais(mg/L): Ferro Alumínio Manganês Zinco Cobre Chumbo, Cromo e Níquel 2.2 0.12 0.04 0.68 0.03 = não detectado; () positivo; () negativo. Podese observar na tabela 3 que as concentrações dos metais nos sobrenadantes provenientes dos ensaios sem foram superiores aos encontrados nos sobrenadantes dos ensaios com. Verificouse que nestes sobrenadantes, foram encontrados os metais ferro, alumínio e zinco. Em contrapartida, nos sobrenadantes provenientes dos ensaios sem, além destes metais, foram observados manganês e cobre. A concentração remanescente de ferro ficou entre 1,67% e 47,62%, manganês e cobre abaixo de 50%, e do zinco entre 1,39% e 36,96%. O níquel não foi detectado nos sobrenadantes. As amostras de sobrenadantes provenientes dos ensaios com apresentaram significativas dos valores remanescentes de coliformes. Os coliformes totais foram reduzidos cerca de 8 a 9 vezes e, a Escherichia coli, que é indicativa de contaminação fecal, de 13 a vezes; já nos sobrenadantes oriundos dos ensaios sem houve redução de 3 a 7 vezes para Escherichia coli e de 3 a 4 vezes para coliformes totais. Observouse que, quanto maior a quantidade de SST presentes nas amostras estudadas, maior foi o número de coliformes totais e Escherichia coli (ver figuras 2 e 3), refletindo em número maior destas nos sobrenadantes. 1.05 0.07 4.46 0.26 0.12 0.12 0.46 5.58 0.14 0.14 0.09 0.01 0.50 0.01 Houve uma redução significativa dos valores de turbidez nos sobrenadantes, sendo que, com a utilização de aniônico, os valores de turbidez foram inferiores aos encontrados nos ensaios sem e, à ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4
medida que os valores de turbidez nas amostras estudadas aumentavam sua porcentagem remanescente diminuía. Os valores remanescentes nos sobrenadantes ficaram em cerca de 51% sem condicionamento das amostras e, quando condicionadas, chegou a aproximadamente 3%, (ver figura 6). A concentração de SST dos sobrenadantes obtidos nos ensaios sem e com utilização de foi inferior à encontradas nas amostras estudadas, com valor remanescente de 57% para sobrenadante sem e, mínimo de 7% para o sobrenadante da amostra 3, com. Podese observar na Figura 6 que os teores de SST encontrados nos três sobrenadantes apresentaramse entre 14 e 18 mg/l, enquanto, sem o uso de resultou de a 34 mg/l, sendo quase o dobro do valor. Os valores de DQO encontrados nas amostras de sobrenadantes com foram inferiores aos obtidos sem utilização de. O valor remanescente de DQO ficou entre 10 e 29% quando utilizado e, entre 48 e 86% sem utilização de qualquer condicionante, mostrando que a utilização de é importante frente aos resultados mostrados; quanto maior a DQO da amostra estudada, resultou maior eficiência de remoção, o que pode ser observado na figura 4. O teor remanescente de fosfato ficou entre 67 e 91% quando não utilizouse de condicionante e, entre 36 e 50% quando utilizouse aniônico, sendo obtidos concentrações entre 18 e 20 mg/l PO 4 3 (ver figura 5). De acordo com a tabela 3, os valores remanescentes de COT foram de 32 a 80% e, os menores valores remanescentes, foram encontrados nos sobrenadantes provenientes dos ensaios com a utilização de, entre 32 e 42%(ver tabela 3). Os valores remanescentes de alcalinidade apresentaramse praticamente inalterados em todas as amostras. Na amostra estudada estavam entre 15 e 22 mg/l e, nos sobrenadantes entre 14 e 18 mg/l de CaCO 3. Nos sobrenadantes provenientes dos ensaios com foram inferiores aos demais (ver tabela 3) e, os valores de dureza apresentaram um acréscimo de 1 mg/l de CaCO 3 em todos sobrenadantes (ver tabela 3), obtidos sem o uso de condicionante e, quando utilizado o, os valores remanescentes foram de 67 a 73%. Figura 2: NMP/100mL de coliformes totais nas amostras compostas e em seus respectivos sobrenadantes após ensaios em coluna, sem e com uso de aniônico, em função do teor SST da amostra inicial. Figura 3: NMP/100mL de Escherichia coli nas amostras compostas e em seus respectivos sobrenadantes após ensaios em coluna, sem e com uso de aniônico, em função do teor SST da amostra inicial. Coliformes Totais NMP/100 ml da amostra 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 3440 80 1890 741 612 643 200 324 429 Amostra composta sem com Esherichia coli NMP/100 ml da amostra 500 400 300 200 100 84 24 3 145 42 11 453 64 18 0 58 156 248 SST (mg/l) 0 58 156 248 SST (mg/l) E h i hi li ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5
Figura 4: Valores de DQO nas amostras compostas e em seus respectivos sobrenadantes após ensaios em coluna, sem e com uso de aniônico, em função do teor SST da amostra inicial. Figura 5: Valores de fosfato nas amostras compostas e em seus respectivos sobrenadantes após ensaios em coluna, sem e com uso de aniônico, em função do teor SST da amostra inicial. DQO (mg/l) 70 60 50 40 30 20 10 14 12 4 33 22 4 62 30 6 Amostra composta sem com Ceoncentração de fosfato (mg/l (PO4)3) 5 4 3 2 1 36 24 18 40 31 20 55 50 20 0 58 156 248 SST (mg/l) FIGURA 4 V l d DQO t Figura 6: Valores de Turbidez encontrados nas amostras compostas e em seus respectivos sobrenadantes após ensaio em coluna, sem e com uso de aniônico. 0 58 156 248 SST (mg/l) FIGURA 5 V l d f f t t Figura 7: Teores de SST encontrados nas amostras compostas e em seus respectivos sobrenadantes após ensaio em coluna, sem e com uso de aniônico. 250 232 0 248 200 240 Turbidez (ut) 150 100 50 60 31 9 149 41 8 40 7 Amostra composta sem com SST (mg/l) 200 160 120 80 40 58 34 16 156 14 18 0 1 2 3 Amostras 0 1 2 3 Amostras Figura 8: Foto ilustrando cisto de Escherichia coli (A) e larva de Strongyloides stercoralis (B), presentes nos sobrenadantes obtidos após ensaios em coluna de sedimentação. A B ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6
Figura 9: Foto ilustrando algas presentes nos sobrenadantes obtidos após ensaios em coluna de sedimentação. Coelastrum sp(a), Tabellaria sp (B) e Ankistrodesmus sp(c). A B C Tabela 4: Características do sedimentos resultantes dos ensaios em coluna. AMOSTRA PARÂMETRO 1 2 3 sem com sem com sem Sólidos Suspensos Totais(g/L) Fixos(g/L) Voláteis(g/L) 5,20 3.53 1.67 7,70 5,73 1,97 8,70 6.22 2.48 10,60 8,03 7 5,92 4.58 1.34 com 12,67 9,43 3,24 Resistência Específica (x 10 12 m/kg) 13,73 3,97 7,74 2,97 36,79 2,80 Distribuição Granulométrica Tamanho médio (µm) * 7,8 * 7,0 * 1,3 Densidade (g/cm 3 ) * * * Parasitológico: Cistos de Entamoeba coli Larvas de Strongyloides stercoralis Larvas de Ancylostomatidae Ovos de Hymenolepis nana Ovos de Ancylostomatidae Metais(mg/L): Ferro Alumínio Manganês Zinco Níquel Cobre Cromo Chumbo e Cádmio 910.0 126.93 10.0 7.60 0.21 1.67 0.30 1223.0 137.80 18.14 8.60 0.32 1.86 0.41 = não detectado; () positivo; () negativo; (*) não determinado. 1104.0 204.15 14.20 8.87 0.32 1.40 0.38 1452.0 222.14 22.30 10.20 0.38 2.08 0.46 1210.0 218.01 16.40 12.02 0.51 1.37 0.36 1568.0 247.45 29.63 14.30 0.59 2.62 0.54 Na figura 10 são mostrados os gráficos utilizados para determinação da resistência específica dos sedimentos obtidos nos ensaios de clarificação com a utilização de aniônico. Os valores de resistência específica encontrados para os três materiais sedimentados decorrentes dos ensaios em coluna utilizando aniônico, indicam, segundo GRAIN (1992), lodo de média desidratação, com valores entre 2,80 e 3,97 x 10 12 m/kg (ver figura 10). Sem a utilização do condicionante, os valores de resistência específica resultaram entre 7,74 e 36,79 x 10 12 m/kg (ver tabela 4). ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7
Com relação à distribuição granulométrica, observase grande semelhança entre o tamanho das partículas nos sedimentos 1 e 2 (entre 1,8 e 15,0µm), o que não ocorre no sedimento 3, o qual apresenta partículas de diâmetros menores (0,3 a 6,0µm), conforme se vê nas figuras 11, 12 e 13. Nessas figuras são apresentadas, respectivamente, as curvas de distribuição granulométrica dos sedimentos 1, 2 e 3, e pode ser visto que, no sedimento 1, aproximadamente 50 % das partículas têm tamanho de 7,8 µm, 20 % entre 7,8 e 15,0 µm e os 30 % restante entre 7,8 e 1,8 µm; no sedimento 2, 55 % das partículas têm tamanho entre 6,0 e 8,0 µm, 15 % entre 8,0 e 15,0 µm e os 30 % restante entre 1,8 e 6,0 µm; no sedimento 3, 70 % das partículas têm tamanho entre e µm, 10 % entre e 6,0 µm e os 20 % restante entre 0,3 e µm. Verificouse que, quanto menor o tamanho médio das partículas, menores foram os valores de resistência específica, o que pode ser decorrente de maior porção de água livre e não entre estas partículas, facilitando sua passagem pelo filtro e, consequentemente proporcionando menor resistência específica. Figura 10: Relação t/v em função do volume filtrado, para os materiais provenientes dos ensaios com a utilização das amostras compostas com teor de SST = 58 (a); 156 (b) e 232 (c) mg/l, e dosagens de 1,4; 3,8 e 6,0 mg/l de aniônico para a clarificação. As figuras A de cada teste estão mostrando os pontos utilizados para a determinação da resistência específica. 3,0 Figura A r = 2.97E12m/Kg 3,0 Figura A r = 2.80E12m/Kg 3,0 Figura A r = 3.97E12m/Kg y = 832x 0,2338 R 2 = 0,9975 y = 956x 476 R 2 = 0,9871 y = 795x 0,29 R 2 = 0,9886 4 8 12 16 20 4 8 12 16 20 4 8 12 16 20 t / v (ml) t / v (ml) t / v (ml) 0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25 (a) (b) (c) Volume filtrado (ml) Da mesma forma que no sobrenadante, foram encontrados, nos sedimentos, cistos, ovos e larvas de parasitas patogênicos de interesse em saúde pública, só que em maior quantidade. Não foi possível quantificálos pois efetuouse somente observação qualitativa. Apenas no material sedimentado 3, proveniente do ensaio com amostra com 232uT e 248mg/L de SST e empregando 6,0mg/L de, foi encontrado ovo de Hymenolepis nana, sendo que esta forma parasitária não foi encontrada em nenhuma outra amostra examinada. Por meio da análise microscópica foi possível observar que, com o aumento da turbidez e concentração de SST resultou um maior número de formas parasitárias presentes no material sedimentado. Entretanto, o número destas formas nos respectivos sobrenadantes permaneceram praticamente iguais. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8
Figura 11: Tamanho das partículas presentes no sedimento 1. Figura 12: Tamanho das partículas presentes no sedimento 2. Figura 13: Tamanho das partículas presentes no sedimento 3. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 9
CONCLUSÕES E RECOMEAÇÕES Os ensaios realizados em laboratório sobre clarificação água de lavagem de um dos filtros da ETASC, que utiliza sulfato de alumínio como coagulante, permitiram concluir que: a) Com relação aos parâmetros de qualidade medidos, foram obtidos sobrenadantes de melhor qualidade nos ensaios de clarificação com uso de aniônico em comparação aos ensaios sem, tendo sido empregada a relação massa de / SST, de 24 mg/g; b) Os sobrenadantes decorrentes da clarificação com uso de aniônico apresentaram características que permitiriam sua recirculação, pois, os valores de turbidez, SST e coliformes obtidos nos sobrenadantes, mostraramse inferiores aos da água bruta. A recirculação poderá inclusive ser efetuada no canal de água decantada, antecedendo à filtração, desde que seja feito um monitoramento constante da qualidade final da água filtrada (água final) com o objetivo de verificar possíveis transpasses, visto que a qualidade da água decantada da ETA SC é melhor que a água a ser recirculada; c) Com a realização da pesquisa do grupo coliformes nos sobrenadantes, concluiuse que há necessidade de cuidados quanto ao reúso, apesar do número destes organismos não ser alto; cuidado maior se deve à presença de Escherichia coli que é indicativa de contaminação fecal. Considerando apenas a presença de coliformes, a recirculação do sobrenadante não requer desinfecção prévia, pois o número de coliformes totais e Escherichia coli presentes em 100 ml de amostra de sobrenadante resultou inferior ao encontrado na água bruta, aduzida à ETA; d) Com respeito aos exames parasitológicos realizados nos sobrenadantes, foram encontrados cistos, ovos e larvas de parasitas patogênicos de interesse da saúde pública, os quais são causadores de parasitoses no ser humano, devendose portanto, tomar os devidos cuidados em sua manipulação, disposição ou reutilização, sendo talvez necessário uma prévia desinfeção, pois estas formas poderão apresentar efeito cumulativo. Ao pesquisar a presença de formas parasitárias, talvez seja necessária uma prévia desinfecção para que o sobrenadante possa ser recirculado ao início da ETA, pois foi observado ocorrência maior destas formas nos sobrenadantes em comparação à água bruta, não podendo ser precisada a quantidade, pois a técnica usada foi apenas qualitativa; e) Em relação ao material sedimentado, através da análise microscópica, concluiuse que a quantidade de formas parasitárias presentes neste material foram superiores aos encontrados nos sobrenadantes. Em relação aos cistos de Entamoeba coli o número destas formas presentes nos sobrenadantes foi ligeiramente inferior ao do material sedimentado, talvez decorrente do fato destes cistos serem mais leves, permanecendo nos sobrenadantes. De modo geral, nos exames parasitológicos realizados com o material sedimentado, foram encontrados cistos, ovos e larvas de parasitas patogênicos de interesse da saúde pública, os quais são causadores de parasitoses no ser humano, devendose portanto, tomar os devidos cuidados em sua manipulação, disposição ou reutilização; f) Quando comparados os tempos de filtração do lodo obtido sem e com aniônico, observouse grande diferença entre os resultados, sendo que o condicionamento diminuiu consideravelmente este tempo para um mesmo volume filtrado; g) Nos ensaios para a determinação da resistência específica do material sedimentado, após filtração, foram encontrados até 14,33 g/l de SST no ensaio com utilização de aniônico, chegando a ser mais de duas vezes o teor de SST encontrados nos sedimentos sem a utilização de. Os valores de resistência específica mostraramse, para o melhor ensaio, um sedimento de média desidratação. Quando não foi utilizado, os valores de resistência específica foram maiores, indicando um sedimento de difícil desidratação; h) Através da comparação das três curvas de distribuição granulométrica, o tamanho e a distribuição das partículas diminuíram com o aumento do teor de SST no sedimento, podendo ser observado que o sedimento 1, com menor teor de SST, 7,70 g/l, apresentou, aproximadamente, 50 % das partículas com tamanho de 7,8 µm, o sedimento 2, com teor de SST = 10,6 g/l, apresentou 55 % das partículas com tamanho entre 6,0 e 8,0 µm, e o sedimento 3, com maior teor de SST, 12,67 g/l, apresentou 70 % das partículas entre e µm; ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 10
i) O tamanho e a distribuição das partículas, presentes nos sedimentos, podem ser responsáveis pela dificuldade de remoção de água, o que pode ser visto através da análise dos valores de resistência específica, onde, quanto menor o tamanho médio das partículas, menores foram os valores de resistência específica; j) O lodo obtido apresentou grande quantidade de metais, sendo o ferro encontrado em maior concentração, da ordem a g/l, e o cromo em menor quantidade, entre 0,30 a 4mg/L. Além destes metais foram encontrados outros que podem ser observados na tabela 4, mostrando que devese tomar precauções quanto à sua disposição. De acordo com as conclusões obtidas com este trabalho, é recomendado que sejam: a) estudados outros tipos de s, apesar de ter sido obtido com o aniônico sobrenadantes e materiais sedimentados com melhores características, pois cada despejo apresentam características próprias; b) realizados estudos em outras ETAs visando a recuperação deste tipo de resíduos, pois representa uma significativa parcela de água que pode ser reutilizada; c) tomadas precauções quanto à manipulação em laboratório, pois este tipo de material apresenta contaminantes nocivos, que podem acarretar problemas à saúde; d) realizados estudos futuros para verificar se a recirculação do sobrenadante pode causar efeito cumulativo de contaminantes na qualidade do afluente e prejudicar a coagulação e a filtração. AGRADECIMENTOS Os autores desejam expressar seus agradecimentos ao SAAE de São Carlos e à FAPESP (processo n o 95/9726 4) ao CNPq e FINEP (PROSAB). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALMEIDA, N. A, GONÇALVES, M. C., GUIMARÃES, S. A. Z. (1991a). Utilização do teste de resistência específica na operação de filtros prensa. Revista DAE, v. 51, n. 160, p. 2026, jan/jun. 2. ALMEIDA, N. A, GONÇALVES, M. C., GUIMARÃES, S. A. Z. (1991b). Desidratação de lodos ativados utilizando sulfato ferroso como condicionante químico. Revista DAE, v. 51, n. 161, p. 812, set/dez 3. CHRISTENSEN, G. L. (1983). Units for specific resistence. Journal WPCF, v. 55 n. 4, p. 417419, abr. 4. CHRISTENSEN, G. L., DICK, R. I. (1985). Specific resistence measurements: Nonparabolic data. Journal of Environmental Engineering,v.111, n. 6, p. 243257, jun. 5. CORDEIRO, J. S. (1993). O problema dos lodos gerados nos decantadores em estações de tratamento de água. São Carlos, 342p. Tese (Doutorado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 6. CORNWELL, D. A., LEE, R. G. Waste stream recycling: its effect on water quality. JAWWA, p. 5063, nov. 1994. 7. DELGADO, M. O. Monografia apresentada ao Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da UniversidadeFederal de São Carlos, 1995. 8. DI BERNARDO, L. (1993). Métodos e técnicas de tratamento de água. Rio de Janeiro, ABES. 9. GRAIN, S. R. (1992). Desidratação de lodos produzidos nas estações de tratamento de água. São Paulo, 456p. Dissertação (Mestrado) Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. 10. NEVES, D. P. Parasitologia Humana. Rio de Janeiro, 368p., 1979. 11. SCALIZE, P. S. Caracterização e clarificação por sedimentação da água de lavagem de filtros rápidos de estações de tratamento de água que utilizam sulfato de alumínio como coagulante primário. São Carlos: 1997, 210 p. Dissertação de mestrado Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo USP, 1997. 12. SEIXAS, A. S. S. Qualidade Sanitária de Efluentes de Biodigestores Contínuos Alimentados com Dejetos de Suínos e Empregados como Biofertilizantes. Rio Claro: 1994, 95 p. Tese de doutorado Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho UNESP, 1994. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 11