ANÁLISE DA CERÂMICA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO TURVO II- SP

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Transcrição:

ANÁLISE DA CERÂMICA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO TURVO II- SP 1 Rodrigues, B. G; 2 Faccio, N. B bia_geo51@hotmail.com RESUMO Esta pesquisa teve por finalidade o estudo das cerâmicas do Sítio Turvo II, a fim de procurar correlacionar o material estudado com uma Tradição Arqueológica e se possível com um grupo indígena. No Brasil, o estudo da cerâmica aborda a evolução e adaptações culturais de populações indígenas, que em muitos casos foram extintas. O Sítio Turvo II está localizado ao norte do Estado de São Paulo, no Município de Cardoso, nas coordenadas geográficas Sul igual a 20º04'55" e oeste igual a 49º54'51", estando a uma altitude de 422 metros. Com base nas análises do material cerâmico, podemos notar a grande importância que esses fragmentos cerâmicos têm para a compreensão do modus vivendi das populações pré-históricas. Palavras-Chave: Turvo, Material Cerâmico, Tradição. ABSTRACT This research was conducted for the study of ceramics Turvo Site II, to seek to correlate the studied material with a tradition Archaeological and if possible with an indigenous group. In Brazil, the study focuses on the evolution of pottery and cultural adaptations of indigenous peoples, who in many cases were closed. The Site Turvo II is located in the northern state of Sao Paulo, the municipality of Castro, in South geographical coordinates equal to 20 º 04'55 "and west equal to 49 54'51", with an altitude of 422 meters. Based on the analysis of ceramic material, we note the great importance that these ceramic fragments have to understand the modus vivendi of prehistoric populations. Keyworks: Turvo, ceramic material, Tradition. 1 Aluna de graduação do Curso de Licenciatura em Geografia da FCT/UNESP, Programa de Formação Complementar. 2 Professora doutora do Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente, da FCT UNESP.

INTRODUÇÃO O Sítio Arqueológico Turvo II se apresentou como área de ocorrência de materiais arqueológicos, possuindo materiais cerâmicos e pedra lascada. O material cerâmico do Sítio Arqueológico Turvo II é proveniente de coleta de superfície e de cortes de verificação, realizados no momento da prospecção. Pelo fato do Sítio Turvo II não ter apresentado vasilhas cerâmicas inteiras, o primeiro encaminhamento proposto para a análise do material foi o de agrupar os fragmentos de um mesmo vaso em conjuntos. Esse encaminhamento mostrou a ausência de conjuntos. Dessa forma, trabalhou-se com os fragmentos individualmente. A maior parte desse sítio está localizada dentro de um plantio de cana-deaçúcar. Dessa forma, uma parte do sítio pode ser vista nas áreas dos carreadores. Como esse sítio está localizado em uma área de plantio, ele encontra-se em má conservação. Contudo, o trabalho de escavação pode proporcionar um esclarecimento no se refere ao tipo de ocupação de grupo indígena que ocupou a área em tempo pretérito. Sabe-se que o material cerâmico é de extrema importância na vida cotidiana dos povos pré-históricos. Elas eram usadas tanto no dia-a-dia como em ocasiões especiais, como, por exemplo, nos momentos de rituais. A cerâmica era utilizada por eles para diversos fins. Eram utilizadas em forma de jarros de água ou de armazenamento de comida, como panelas, pratos, urnas funerárias, entre outros. No sítio em apreço não foi identificada nenhuma peça inteira, pois, o solo se apresenta todo remexido por subsolador e arado. A área do sítio trabalhada até o momento está inserida em um carreador adjacente a plantação de cana-de-açúcar. Foram identificadas as classes parede, borda e parede angular, totalizando 620 fragmentos. DESENVOLVIMENTO A análise e classificação dos materiais cerâmicos do Sítio Arqueológico Turvo II foram realizadas de acordo com os parâmetros metodológicos elaborados por Brochado & La Salvia (1989). Nesse sentido, procuramos reconstituir vasilhas por meio dos fragmentos encontrados e fazer uma correlação das vasilhas reconstituídas com a cultura do grupo indígena que as confeccionou. Para tanto, foi de fundamental importância a realização de levantamentos bibliográficos e de visita a coleções de cerâmicas indígenas provenientes da região em estudo, presentes em exposições ou em reservas técnicas de museus.

Para a análise e classificação da cerâmica foi levado em consideração etapas que contemplaram as discussões tecnológicas e de cadeia operatória (Produção/ Distribuição/ Uso/ Reciclagem/ Descarte de artefatos). Com a análise da formação da cadeia operatória rompe-se aquela análise tecnicista, onde se encontra somente os atributos de forma e função, passando para uma maior compreensão do gesto e ação do artesão. A cadeia operatória tem seu início na fonte de matéria-prima e seu término no momento de descarte da peça. A primeira etapa se dá na Jazida, na fonte de matériaprima. A segunda ocorre no preparo da massa para a construção do vaso cerâmico. A terceira se dáno modo de produção, é ai que a oleira escolhe o formato que irá dar a vasilha. Por conseguinte temos o tratamento de superfície, o acabamento visual da peça. E por fim temos a decoração da peça, que é para o artesão opcional, onde ele pode demonstrar seus símbolos sagrados na peça confeccionada. A representação da suposta cadeia operatória envolve processos retroativos que utiliza processos de interpretações de outras ciências, como a antropologia, a etnologia e a geografia. Esse processo deve envolver todo o processo histórico dos materiais, desde a aquisição da matéria-prima, as várias etapas de sua produção, seu uso e finalmente o descarte. A análise e classificação dos materiais cerâmicos do Sítio Arqueológico Turvo II foram realizadas no sentido de reconstituir vasilhas por meio dos fragmentos encontrados e fazer correlações das vasilhas reconstituídas com a cultura do grupo indígena que as confeccionaram. Tendo isso em vista,o material foi analisado de forma a podermos relacioná-lo com unidades culturais de comportamento, levando em consideração que o estudo das sociedades é realizado por meio de seus objetos. Dentro da coleção cerâmica do Sitio Turvo II foram identificadas 46 bordas, 543 paredes, uma parede angular, sete bases e 23 fragmentos não identificados. Dentre essas 46 bordas apenas quatro foram passíveis de reconstituição na forma do vaso. Ocorreu o predomínio das queimas 2, 3 e 4. A queima 2 apresentou seção transversal sem presença de núcleos, com cor uniforme variando cinza-claro ao pardo. A queima 3 apresentou seção transversal com presença do núcleo central escuro e uma camada interna e externa clara. A queima 4 apresentou seção transversal sem presença de núcleos, com cor uniforme variando do cinza escuro ao preto. Existe essa variação no tipo de queima porque o procedimento era feito em fogueira a céu aberto, não havendo o controle da temperatura.

SegundoProus (1992, p. 94), nas Américas, [...] o forno nunca veio a ser conhecido e a cerâmica era queimada em fogueiras simples, cobrindo-se os potes com lenha. Sobre o processo de queima dos potes Willey (1987), diz que a queima era feita: [...] a céu aberto ou em fornos. Quando feita em fogueiras produzia vasos sujos de fuligem, marrons, pretos ou castanhos. [...] Em sua maior parte, a queima a céu aberto foi e é característica das terras baixas orientais e do sul da América do Sul. A queima em forno é típica das regiões andinas (WILLEY, 1987, p. 233). Para a análise da queima, optou-se pela queima dominante. Quanto à categoria referente à cor, como elemento definidor do tipo de queima, Faccio (1998), escreve que: As diferenças na cor indicam diferentes condições de duração da queima, ventilação e temperatura. A presença de núcleo com cor variando do laranja ao amarelo indica uma queima boa, com ventilação suficiente para ocasionar a oxidação da argila. A presença de tons que variam do cinza ao preto indica uma queima incompleta em baixa temperatura e tempo insuficiente para expelir toda a matéria carbonária da argila (FACCIO, 1998, p. 135). O sitio em tela apresentou em sua coleção de fragmentos o predomínio de paredes médias. Sendo que foram evidenciadas 241 peças com paredes finas (0,6 a 1 cm de espessura), 344 peças com paredes médias (1,1 a 1,6 cm de espessura) e 35 peças com paredes grossas (1,7 a 2,1 cm de espessura). No antiplástico (material usado para dar liga e elasticidade na preparação da cerâmica) nota-se a presença de mineral e domineral associado ao caco-moído. Foram evidenciadas 617 peças compresença de mineral e três com mineral associado ao caco-moído. Encontra-se o predomínio do antiplástico fino na composição dos fragmentos cerâmicos do Turvo II. São 505 peças com antiplástico fino (0,1 a 0,2 cm de espessura), 101 peças com antiplástico médio (0, 21 a 0,4 cm de espessura) e 14 peças com antiplático grosso (0,41 a 0,9 cm de espessura). O sítio apresentou, em todos os fragmentos, cerâmica lisa. Não foram evidenciadas peças com decoração ou algum tipo de engobo. A barbotina (camada

líquida de argila aplicada sobre a peça após seu acabamento) foi encontrada, tanto na parte externa, quanto na face interna. Em 22 peças não foi possível identificar o tratamento de superfície ou a presença de decoração. Na categoria de decoração interna e externa de vasilhas Faccio (1998) afirma que: Esse item possui as seguintes variantes: liso, entalhado, ungulado, inciso, corrugado, escovado, ponteado, pinçado, serrungulado, engobo preto, engobo vermelho, engobo branco, engobo laranja, engobo preto associado ao vermelho, engobo preto associado ao branco, engobo vermelho associado ao branco e pintado. Em alguns fragmentos esses tipos decorativos estão associados em mais de uma variável (FACCIO, 1998, p. 135). Analisando os resultados obtidos, verificamos que o Sítio Arqueológico Turvo II apresentou uma ocupação indígena associada à denominada Tradição Aratu. A Tradição Aratu foi identificada por Valentim Calderón (1969/70). As cerâmicas pertencentes à Tradição Aratu apresentam pouca ou nenhuma decoração e suas vasilhas são predominantemente feitas de forma simples. A Tradição Aratu localiza-se desde o litoral de Pernambuco, Bahia e Espírito Santo até o interflúvio dos Rios Araguaia e Tocantins e no sul até o Rio Paranaíba. No Estado de São Paulo a Tradição Aratu é identificada apenas na região Norte e Nordeste. Segundo Morales (2008), podemos definir a fase Mossâmedes como sendo a mais antiga dentro da Tradição Aratu. Ainda segundo esse autor pode-se fazer correlações dessa fase com os grupos Caiapós, afirmando que: Embora não tenha sido encontrada nenhuma continuidade entre o registro arqueológico e o presente etnográfico, Schimity, Wüst, Cope e Thies (1982) acreditam que a fase mossãmedes possa estar associada aos grupos Kayapó do sul. Suas suposições foram baseadas principalmente na correspondência existente entre a localização desses grupos no mapa lingiostico de Loukotka (1950) e no etno-histórico Nimuendajú (IBGE,1987) e dos sítios arqueológicos dessa fase às evidências etnográficas (MORALES, 2008, Pg. 42). A partir dos dados etnológicos estabelecidos para o norte de São Paulo (IBGE, 1981) pode-se propor a associação da Tradição Cerâmica Aratu com os povos históricos da família linguística Jê. No entanto, até o presente momento não há

evidências que possibilitam estabelecer correlações, ainda que apriorísticas, desse material cultural com quaisquer grupos reconhecidamente Macro Jê, que ali estavam estabelecidos durante o período colonial ou em tempos mais recentes (OLIVEIRA, 1995 pg. 51). Todavia, ficam expostas hipóteses a serem testadas. Os dados etnológicos apontam que os Caiapós, de língua pertencente à família Jê, estavam na região norte do Estado de São Paulo, localidade onde está inserido o Sítio Turvo II, desde o final do século XIX. O grupo Caiapó pertence ao tronco Macro Jê, da família Jê, possuindo internamente mais sete subdivisões de dialetos. Segundo Cunha e Salzano (1992) a família Jê pode ser datada entre cinco ou seis mil anos pelo menos. O tronco macro Jê passou por uma divisão linguística que começou aproximadamente hátrês mil anos. A primeira cisão teria ocorrido entre os Jê meridionais, onde se encontram os Kaingang e os Xokleng, com o resto de sua filiação. Eles teriam descido em direção ao sul, onde se encontram atualmente. A segunda cisão teria ocorrido entre o grupo central e o setentrional por volta de um a dois mil anos. O grupo setentrional teria migrado em direção à bacia amazônica, se expandindo aos poucos para o oeste. A diferenciação interna entre os dialetos timbira orientais e entre os vários dialetos caiapó, teria ocorrido somente nos últimos quinhentos anos. Segundo os autores citados, se considerado a língua Jê como um todo, veremos que ela forma um laço em torno do Brasil central-oriental. Seu limite setentrional vai dos Fulniô, extremo leste do Brasil (junto ao Rio São Francisco) aos Rikbaktisá localizado ao longo do rio Jurema. Seu limite ocidental vai desde os Rikbaktsá, ao norte, até os Ofaié. Já sua divisa meridional vai desde os Ofaié para o leste até os Puri, estremo leste do Brasil. Segundo Verswijver (2002), os Caiapó ou (Kaiapó/Kayapó) vivem em aldeias espalhadas ao longo dos cursos dos rios Iriri, Bacajá, Fresco e de outros afluentes do rio Xingu. Seu habitat é praticamente todo recoberto por florestas equatoriais, excetuando a porção oriental, onde são encontradas algumas áreas de cerrado. O termo caiapó não foi designado pelos próprios grupos dessa tradição, mas sim por seus vizinhos para nomeá-los como aqueles que se assemelham aos macacos, Esse termo surgiu provavelmente quando um vizinho da tribo ou os colonizadores europeusviram um ritual no qual, durante muitas semanas os homens caiapós, enfeitados com máscaras de macacos, executavam pequenas danças. Mesmo sabendo que assim são chamados por outros povos, eles se autodenominam

de Mebêngôkre, que significa os homens do buraco/lugar d água (VERSWIJVER.2002). Já no dicionário de Montoya (1879/1880) o termo caiapó sofre uma distinção, aparecendo com o significado de incendiário/queimador (MONTOYA, 1879/1880 pg. 72). Se formos desconstruir a palavra em seu termo literal, cáiterá o significado de queimado/envergonhado, acanhado, medroso/nome de um macaquinho (MONTOYA, 1879/1880, pg. 65) e apó com o significado de fazer, obrar, agir/raiz, origem, fundamento, base (MONTOYA, 1879/1880, pg. 72). As aldeias tradicionais caiapó são feitas em forma circular, contendo no centro a casa dos homens, um lugar simbólico, centro da organização social e ritual dos caiapó. Nas periferias das aldeias são encontradas as casas, dispostas em círculos e de forma regular, onde habitam famílias extensas, essa porção da aldeia é vinculada às atividades domésticas, culturais e sociais. O círculo das casas é tido como lugar de mulher, direcionado a assuntos femininos. As aldeias são consideradas o centro do universo Caiapó, o espaço mais socializado (VERSWIJVER. 2002). A Floresta que circunda a aldeia é vista como um espaço anti-social, onde os homens não possuem segurança, podendo se transformar em animais ou em espíritos, podendo adoecer de repente sem explicação, ou até mesmo matar seus parentes (VERSWIJVER. 2002). Os povos caiapós possuem inúmeros e diversos rituais, sua importância e duração variam de acordo com cada ritual. Esses rituais são divididos em três categorias, a primeira se refere às grandes cerimônias tais como a confirmação de nomes pessoais; as outras são os ritos agrícolas de caça, pesca e o rito de ocasião. Nessas ocasiões, a maior parte das sequências rituais ocorre na praça central da aldeia. Nota-se aqui uma inversão do espaço social ordinário: o centro da aldeia, normalmente organizado com base na amizade e no não-parentesco, é convertido no domínio de atividades em que tanto os laços pessoais familiares como os elementos naturais - portanto "selvagens", como os nomes pessoais ou da caça abatida - são centrais (VERSWIJVER, 2002). Um chefe caiapó jamais toma uma decisão sozinho, haja vista que um chefe que impõe sua vontade não é ouvido pela aldeia, devendo estar sempre atento às ideias que circulam entre seu grupo de discípulos.(verswijver. 2002). CONCLUSÃO

O artigo teve como meta principal a análise e classificação do material cerâmico do Sítio Turvo II. Por conseguinte fez-se uma abordagem cultural e etnológica na tentativa de propor uma resposta a possível ocupação do local em sitio. A análise dos fragmentos cerâmicos foi feita separadamente, haja vista que não foram encontradas peças inteiras. Após essa análise foram classificadas as bordas aptas á reconstituição da forma gráfica da vasilha cerâmica. Foramanalisados o tipo de matéria-prima utilizada na confecção, o tipo e espessura do antiplástico, o tipo de queima, a presença ou não da barbotina e os diferentes tipos de pastas encontradas nos fragmentos. Essa análise nos possibilitou uma referência das possíveis culturas que ali viveram, podendo a partir disso fazer inferências a respeito do tipo de ocupação que ocorreu no local hoje denominado Sítio Arqueológico Turvo II.Chegou-se a conclusão de que se tratava de um grupo indígena que confeccionou a cerâmicada Tradição Aratu. Fez-se posteriormente uma análise etnológica dessa possível Tradição (Aratu) e a partir de estudos de dados etnológicos foi possível fazer inferências sobre a família que pertenceu a cerâmica dessa tradição. Obteve-se o seguinte resultado: a Tradição Aratu pertence, possivelmente, a família linguística jê, do Tronco Macro-Jê. Com base nos estudos apresentados podemos notar a relação entre a tipologia cerâmica e a tradição associada a ela. Nesse sentido a análise de fragmentos cerâmicos constitui-se em importante instrumento para a reconstrução da história, ou melhor, da pré-história de nosso país. Compreender como ocorreu o processo de fabricação dos artefatos indígenas e seu uso é primordial para sabermos como se deu o modo de vida das culturas pré-históricas. No caso em tela, o estudo de fragmentos de cerâmica nos possibilita fazer inferências a respeito dos índios que as confeccionaram. Verificamos que o Sítio Arqueológico Turvo II apresenta, possivelmente, vestígios de uma ocupação indígena associada à denominada Tradição Aratu. A Tradição Aratu foi identificada por Valentim Calderón (1969/70). As cerâmicas pertencentes àessa tradição apresenta pouca ou nenhuma decoração e suas vasilhas são predominantemente feitas de forma simples. A Tradição Aratu pode ser encontrada desde o litoral de Pernambuco, Bahia e Espírito Santo até o interflúvio dos rios Araguaia e Tocantins. No sul até o rio Paranaíba. No Estado de São Paulo a Tradição Aratu é vista apenas na região Norte e Nordeste.

Aratu é um termo utilizado para designar uma tradição ceramista baseado nas técnicas de confecção do material. Dentro dessa tradição foi encontrada a Fase Mossâmedes, denominada por Morales (2008) a mais antiga e mais conhecida dentro da Tradição Aratu. Levando em consideração a localidade do sítio e os registros etnológicos da região, podemos relacionar essa tradição com os povos históricos da família linguística Jê pertencente ao tronco Macro-Jê. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: <F:\Arqueologia\Aratu-jê\tronco_macro-je.gif>. Acessado em 08/08/2010. <http:///:www.naya.org.ar/congreso2000/ponencias/jorge_eremites_de_oliveira>. acessado em 26/03/2010. <http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/troncos-e-familias>. Acessado em 08/08/2010 ARAÚJO, Astolfo Gomes Mello. A Tradição Cerâmica Itararé-Taquara: Caracteríticas, Área de Ocorrência e Algumas Hipóteses Sobre a Expansão dos Grupos Jê no Sudeste do Brasil. Revista de Arqueologia. 2007. BROCHADO, José. J. j. Proenza; LA SALVIA, Fernando. 1989. 2 edição. Cerâmica guarani. 2ª Edição./Porto alegre. Posenato arte e cultura. 1989 CALDERÓN, V. Nota prévia sobre arqueologia das regiões central e sudoeste do estado da Bahia. Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas. PRONAPA. 1969/70. CARVALHO, Fernando Lins. A Pré-Histótia Sergipana II. 2003 CUNHA, Manuela Carneiro. & SALZANO, Francisco. M. História dos Índios no Brasil. FACCIO, Neide Barroca. &Lugli, David. Sítio Arqueológico Célia Maria- Análise de Materiais Cerâmicos. 2010. Relatório Preliminar de Trabalho de Campo. FACCIO, Neide Barroca. Estudo do Sítio Arqueológico Alvim no contexto do Projeto Paranapanema. Dissertação de Mestrado. USP. 1992. FERANANDES, S. C. G. Captação de recursos naturais e indústria lítica de Água Limpa, Mote Alto- São Paulo. Canindé. Revista do museu de arqueologia de Xingó. 2009. FERANDES, S.C.G. Contribuição para o estudo da tradição Aratu Sapucaí. Estudo de caso: o sítio arqueológico de água Limpa, Monte Alto- São Paulo. 2001.

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