ARQUIVOS PRIVADOS E PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA DAS ARTES NO BRASIL: A CONTRIBUIÇÃO DO CEDOC/FUNARTE



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Transcrição:

ARQUIVOS PRIVADOS E PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA DAS ARTES NO BRASIL: A CONTRIBUIÇÃO DO CEDOC/FUNARTE Caroline Cantanhede 1 Fabiana Fontana 2 Resumo: Este artigo tem como objetivo tratar de alguns aspectos relativos à preservação de arquivos pessoais para a memória das artes no Brasil, particularmente aqueles custodiados pelo Cedoc/Funarte. Para tanto serão abordados brevemente os seguintes pontos: a trajetória institucional do Cedoc, algumas das características do arquivo pessoal de Paschoal Carlos Magno e da Família Vianna e a importância desse material como fonte de estudo e pesquisa historiográfica. Palavras-chaves: Cedoc/Funarte; arquivos pessoais; memória das artes no Brasil. Este artigo visa propor uma breve reflexão a respeito de uma parcela do vasto e significativo acervo do Centro de Documentação e Informação em Arte da Funarte (Cedoc): os arquivos pessoais de personalidades ligadas às linguagens artísticas, acondicionados no setor de arquivos privados do órgão. Para ilustrar nosso esforço, destacaremos dois conjuntos de grande valor e extensão. São eles o Acervo Paschoal Carlos Magno, composto por seu arquivo privado e sua biblioteca, e o Arquivo Privado Família Vianna. Antes, contudo, se faz necessária uma rápida apresentação das atividades do Cedoc, bem como de seus antecedentes, pois esse histórico é fundamental para demarcarmos sua importância na preservação da memória das artes brasileiras. Cabe ainda ressaltar que este trabalho advém da prática de organização dos acervos anteriormente citados. Cedoc: antecedentes e atribuições A origem do Cedoc está diretamente relacionado com o surgimento da própria Funarte, criada pela Lei nº 6.312, de 16 de dezembro de 1975 e em funcionamento em 1 Mestre em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC/FGV. Documentalista Cedoc/Funarte. Email: caroline.cantanhede@gmail.com. 2 Doutoranda em Artes Cênicas pelo PPGAC/Unirio. Email: fontanafabiana@yahoo.com.br. 1

16 de março de 1976. Dotada de personalidade jurídica de direito privado e com jurisdição em todo o território nacional, tinha por atribuições: 1. Formular, coordenar e executar programas de incentivo às manifestações artísticas nacionais; 2. Apoiar a preservação dos valores culturais caracterizados nas manifestações artísticas e tradicionais, representativas da personalidade do povo brasileiro; 3. Apoiar as instituições culturais oficiais ou privadas que visem ao desenvolvimento artístico nacional. 3 Já em 1977, o Centro de Documentação e Pesquisa da Funarte (Cedop) iniciou suas atividades, a fim de atender às demandas geradas pela própria instituição. Suas atribuições eram muito diversificadas e englobavam as áreas de documentação, pesquisa e edições. De acordo com a demanda dos Institutos da Funarte, o Centro editava obras variadas, procedia ao acompanhamento de pesquisas, além de realizar o levantamento e análise da bibliografia relativa a artes plásticas no país, com o objetivo de constituir uma fonte primordial para consulta dos especialistas nesse campo. 4 O Cedop passou a denominar-se CDO (Centro de Documentação da Funarte) em 1979. Como se tratava de uma instituição bastante recente, a Funarte teve muitos de seus setores reestruturados e, assim, a pesquisa e a edição desvincularam-se do CDO, um ano mais tarde, originando o Departamento de Editoração e o Núcleo de Estudos e Pesquisas. 5 O CDO pôde se concentrar, por conseguinte, no tratamento técnico da documentação, mas atendo-se à preocupação de constituir um acervo sobre cultura e arte brasileiras. Como resultado, o CDO detinha em quatro anos de funcionamento um acervo de 60 mil peças, fruto da produção intelectual da Funarte, de aquisição com recursos próprios ou, ainda, doação ou permuta, ao mesmo tempo em que definia gradativamente o seu papel e importância 6. No entanto, mudanças na estrutura da administração pública, principalmente as ocorridas a partir dos anos 1990, interferiram diretamente nas atividades do CDO e da instituição como um todo. Em 15 de março de 1990, o presidente Fernando Collor de Melo assinou a Medida Provisória nº 151, regulamentada pela lei n o 8.029, de 12 de abril de 1990. De acordo com as suas disposições foram extintas 24 entidades da administração pública 3 FUNARTE. Legislação Básica da Funarte. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1976. p.1. 4 FUNARTE. Relatório de atividades 1976-1978. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1979. p.48. 5 FUNARTE. Relatório de atividades 1979-1980. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1981. 6 FUNARTE. Op. Cit., 1981. 2

federal, dentre elas a Funarte, a Fundacen (Fundação Nacional de Artes Cênicas) e FCB (Fundação do Cinema Brasileiro), demitindo-se e desarticulando-se sensivelmente as instituições culturais federais do país. Após a extinção da Funarte, da Fundacen e da FCB foi criado o IBAC (Instituto Brasileiro de Arte e Cultura), o qual absorveu as funções das extintas instituições, suas receitas e dotações orçamentárias, direitos e obrigações, acervos documentais e patrimoniais e parte do pessoal. 7 Apesar das duas últimas terem sido transformadas em fundação em finais de 1987, seus acervos detinham documentos que remontavam o Estado Novo, quando foram criadas as instituições que as antecederam. Tendo em vista a nova conjuntura, o Centro de Documentação do IBAC tinha por principal tarefa a sua reestruturação, o qual passou a abrigar efetivamente, em agosto de 1991, os acervos da Funarte, da FCB e da Fundacen. Com um número menor de pessoal para tratamento técnico do acervo resultado da reforma administrativa foi iniciado um esforço de planejamento da fusão dos acervos documentais das fundações extintas, em termos de sua reunião física e da padronização de procedimentos. 8 Há de se ressaltar, ainda, como a extinção desorganizada das instituições culturais gerou uma série de inconveniente, alguns observados até os dias atuais. No tocante ao acervo de arquivos privados, destacamos a seguinte passagem de um dos planos de ação e metas para serem cumpridas, a qual aponta as ações que deveriam ser priorizadas: A identificação e acondicionamento de todos os arquivos ditos privados da Fundacen, que se encontravam em caixas, na mais completa desordem (...). 9 A expressão dito privados, ilustra bem o grau de desconhecimento sobre a totalidade do acervo custodiado pela nova instituição que resultou do desmantelamento das instituições culturais antecessoras. No final do governo Itamar Franco, em 1994, ocorreu mais uma modificação: o IBAC passou a denominar-se Funarte 10. No entanto, a nova Funarte configura-se como uma instituição diferente da anterior, no que diz respeito à estrutura básica e ao objeto. Se antes ela abarcava principalmente as artes plásticas e a música, a Funarte de então comporta todas as formas de manifestações artísticas previstas no Estatuto do IBAC. A modificação consistiu apenas em uma troca de nomes, não representando 7 Criação do IBAC também foi regulamentada pela lei n o 8.029, de 12 de abril de 1990, a qual dispõe sobre a extinção da Funarte, da Fundacen e da FCB. 8 IBAC, Relatório de Atividades 1991. Rio de Janeiro: IBAC, 1992. p.43. 9 IBAC. Departamento de pesquisa e Documentação. Relatório de atividades 1993. Rio de Janeiro, 1993. 10 Medida Provisória n 610 de 8 de setembro de 1994. 3

qualquer retomada da instituição extinta, e sim da continuidade do que era exercido pelo IBAC. Esse dado é importante para que a reutilização do nome Funarte não seja tomado como uma espécie de refundação da instituição criada em 1975. Mesmo após perpassar um período tão conturbado para a cultura nacional, o Cedoc 11 contabilizava, já em 2003, mais de um milhão de itens, além de sua documentação administrativa. Para melhor empreender suas atividades, o Cedoc subdivide-se em: a Biblioteca Edmundo Moniz, Setor de Arquivos Institucionais, o Setor de Arquivo Audiovisual, o Setor de Processamento Técnico e o Setor de Arquivos Privados. De todos os setores do Cedoc, este último é, sem dúvida, o mais recente, visto que fora inaugurado com processamento técnico dos arquivos da Família Oduvaldo Vianna e de Paschoal Carlos Magno, em 2006, possibilitado a partir do convênio estabelecido entre a Funarte e a Petrobras, o qual deu origem ao projeto Brasil Memória das Artes. Nas palavras de Helena Ferrez, então coordenadora do Cedoc: Estes dois grandes conjuntos que privilegiam as artes cênicas são exemplos da originalidade e do ineditismo dos arquivos privados sob a guarda do Cedoc 12. Ainda que os arquivos e coleções pessoais já estivessem armazenados no Cedoc muito antes de 2006, o Setor de Arquivos Privados surge para atender a uma demanda específica, relativa à organização, disponibilização e divulgação deste material. Muitos desses arquivos e coleções chegaram a Funarte ainda no final da década de 1970, na época do Inacen (Instituto Nacional de Artes Cências, antecessor a Fundacen), quando foi inciada uma campanha de doação e recolhimento de fontes documentais denominada Projeto Memória das Artes Cênicas. Arquivos Pessoais: considerações introdutórias Para entender melhor a importância que há na existência de um setor próprio aos arquivos privados no Cedoc é preciso atentar-se para a diferença que existe entre um arquivo e uma coleção. De tal diferença advém a necessidade de tratamento distinto para um e outro tipo de conjunto documental. De forma que o emprego de 11 Identificamos a sigla em uma minuta de relatório interno referente aos meses maio/junho de 1992, de 13 de julho de 1992, ainda sob vigência do IBAC. Entretanto, a mesma continua a ser amplamente utilizada, até os dias atuais. 12 Disponível em: <http://www.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/o-projeto/o-cedoc-e-oprojeto-brasil-memoria-das-artes/>. Consultado em: 03 set 2011. 4

processamento técnico adequado aos arquivos privados implica na própria constituição de um tipo de fonte histórica distinta àquela que o pesquisador encontra em outras parcelas do acervo do Cedoc, como os dossiês de impressos e o arquivo audiovisual. O que difere um arquivo, de modo geral, de uma coleção é o motivo e a maneira pela qual se dá a reunião dos seus registros. A coleção provém, em sua maioria, de uma junção de documentos realizada de forma desconectada à produção dos mesmos; ou seja, o que dita à composição de um determinado conjunto é o interesse de quem coleta os elementos que dele farão parte, seja o colecionador um indivíduo ou uma instituição (museu, biblioteca, etc.). Enquanto que no arquivo os documentos são acumulados no decorrer de sua produção, sendo que a procedência destes registros implica na determinação mesma daquilo que será o arquivo. Portanto, o que assegura a um conjunto documental a sua condição de arquivo é o princípio da proveniência, que segundo Duchein (1986), consiste em manter grupados, sem misturá-los a outros, arquivos (documentos de qualquer natureza) provenientes de uma administração, de uma instituição ou de uma pessoa física ou jurídica (p.14). Esta ação de conservar reunido aquilo que foi originalmente produzido e mantido junto resulta no fundo, que de acordo com Delmas (2010) é um conjunto solidário e orgânico constituído a partir de documentos reunidos por uma pessoa ou instituição em razão de suas necessidades (p. 56). Uma das características fundamentais do documento de arquivo, a qual o diferencia, inclusive, dos demais registros, é a organicidade. Segundo José Maria Jardim e Maria Odila Fonseca (1998), a organicidade é uma característica decorrente do fato de que os documentos de arquivo estabelecem relações no decorrer do andamento das transações para os quais foram criados, de forma que eles estão ligados por um elo, compondo um conjunto indivisível de relações (p. 375). Tais relações redimensionam o caráter de fonte deste tipo de registro, pois o seu valor de prova ultrapassa o seu valor de informação. Rousseau e Couture (1998) explicam esta diferenciação e sobreposição do valor de informação e de prova de um documento de arquivo, lembrando que no arquivo o todo é maior que a soma das partes : Cada documento [...] comprova uma ou mais informações nele encerradas e que, obviamente, nos dá a conhecer. É o valor de informação do documento. Além disso, o agrupamento de todos os documentos de uma pessoa física ou moral num conjunto permite, sob certas condições, recriar o contexto de realização de um acontecimento, o que rodeia a vida de uma personagem ou de um 5

organismo. Em suma, este conjunto volta a situar esse contexto ou esse meio circundante no tempo e no espaço, destacando-os através de uma perspectivação. É este o valor de prova que faz dos arquivos testemunhos privilegiados e objectivos das componentes da vida de uma pessoa física e moral que os constituiu. (p. 90). Logo, percebe-se que coleção e arquivo são duas noções que não podem ser confundidas, pois caracterizam conjuntos documentais de naturezas muito distintas. Hilary Jenkison, um importante teórico da disciplina arquivística, já em 1948, alertava para o perigo que há em considerar o arquivo como uma coleção de documentos: Os arquivos não são colecionados. Quem dera a palavra coleção fosse banida do vocabulário dos arquivistas, ao menos para firmar este fato. Sua existência não é devida, ou pelo menos não o deve ser, ao fato de alguém os haver reunido com a idéia de que pudessem ser úteis aos estudiosos do futuro ou para provar uma questão ou ilustrar uma teoria. Agrupam-se e atingem a fase do seu arranjo por um processo natural [...]. Têm, por conseguinte, uma estruturação, uma articulação e uma inter-relação natural das partes que são essenciais ao seu valor. Um documento avulso de um fundo de arquivo não teria, por si só, maior expressão do que teria um único osso separado do esqueleto de um animal extinto e desconhecido. (apud Schellenberg, 2006, p. 45) Apesar dos arquivos pessoais diferirem, de forma bastante significativa, dos arquivos institucionais de governos ou organizações privadas, eles necessitam também de um tratamento que os preservem enquanto um conjunto documental orgânico. Ana Maria de Almeida Camargo (2010), numa colocação similar a de Hilary Jenkison transcrita acima, aponta para o problema dos arquivos pessoais serem, muitas vezes, tratados enquanto coleções de documentos, consequência da prática tradicional de depositar nas bibliotecas as obras e os papéis de escritores consagrados: Considerados como coleções de documentos, os arquivos pessoais têm sido abordados por meio de critérios originários das bibliotecas [...]. Dessa perspectiva, os documentos são tratados um a um, gerando unidades descritivas autônomas. Resultado: transferemse para o documento de arquivo os atributos do livro, cuja autonomia de significado [...] corresponde à possibilidade de ser descrito a partir de regras gerais, sem levar em conta o contexto em que foi produzido. (p. 37) Desta forma, o que a historiadora e arquivista reclama é a aplicação de um tratamento arquivístico a um arquivo pessoal, ou seja, o emprego de um modo de 6

organização que garanta a conexão entre os documentos e as atividades e funções a partir das quais eles foram originados (p. 36). Mas, apesar da importante contribuição de Camargo, em ressaltar o caráter de todo indissociável dos arquivos pessoais, tais conjuntos documentais apresentam algumas particularidades que, em muitos casos, dificulta a utilização de métodos puramente arquivísticos em seu processamento técnico. Esta dificuldade é resultado da complexidade que os arquivos pessoais apresentam enquanto constructos. O arquivo pessoal é formado por documentos provenientes de um indivíduo. De modo que, em uma primeira instância, pode-se dizer que o arquivo pessoal é resultado de uma atividade inerente ao homem de acumular papéis. Papéis estes que são oriundos do seu agir no mundo, pois representam escolhas, idéias, atividades, práticas sociais e culturais, enfim, um sem número de impressões e percepções da realidade. Apesar dos documentos que compõe um arquivo pessoal serem tão diversos entre si, tanto no que diz respeito a sua forma quanto a sua função, são dotados de um sentido de conjunto uma vez que foram gerados por ou para um mesmo indivíduo. E é esta procedência, o titular de um papelório, que garante que um conjunto documental desta natureza seja um arquivo. Porém, apesar dos arquivos pessoais requererem um tratamento enquanto arquivo, porque sua força enquanto fonte reside no seu caráter de conjunto, Luciana Heymann (2009a) defende que os arquivos pessoais devem ser tratados tendo em vista não só o critério funcional que marca a disciplina arquivística. Segundo ela, é necessário que o arquivista, no processamento técnico de um conjunto documental deste tipo, atente para a especificidade da acumulação documental produzida por indivíduos, procurando incorporar ao trabalho de contextualização ao qual se dedica dimensões que remetem à lógica de construção desses arquivos (p. 44). Esta colocação de Heymann é resultado de sua percepção de que os arquivos pessoais, ao contrário dos institucionais, não são produtos naturais e espontâneos, resultado da dinâmica e da prática organizacional de alguma entidade. Os arquivos pessoais são objetos marcados pela intencionalidade de um indivíduo, que, ao longo da vida, decidi o que e como guardar, atribuindo aos seus papéis diferentes usos e significados. Porém para tratar, de forma mais clara, de algumas das particularidades dos arquivos pessoais enquanto conjuntos dotados de intencionalidade, constructos documentais, serão abordados alguns aspectos do arquivo de Paschoal Carlos Magno e 7

da Família Vianna, ambos antes citados por representarem o ineditismo dos arquivos privados no Cedoc. O arquivo pessoal de Paschoal Carlos Magno Paschoal Carlos Magno foi um homem múltiplo crítico teatral, dramaturgo, poeta, romancista, diplomata, vereador e animador cultural. Dentre as suas principais realizações, cabe destacar a fundação da Casa do Estudante do Brasil e a criação de inúmeras campanhas culturais, como a Caravana da Cultura, a Barca da Cultura, a Aldeia de Arcozelo e os Encontros de Escolas Nacionais de Dança. Porém, foi no âmbito do teatro que Paschoal atuou de forma mais contundente. Ele criou o Teatro do Estudante do Brasil, o Teatro Duse e o Festival Nacional do Teatro do Estudante, além de contribuir para a fundação do Teatro Experimental do Negro e do Teatro Experimental de Ópera. Paschoal também presidiu o Conselho Nacional de Cultura e fez parte do Gabinete do Presidente Juscelino Kubitschek. Seu arquivo pessoal de Paschoal Carlos Magno é composto por uma infinidade de tipos de documentos: cartas, estatutos de instituições, programas de espetáculos, recortes de revistas e jornais, fotografias, manuscritos, atas de reuniões, fichas de inscrição em eventos, diplomas, etc. Estes registros estão distribuídos em oito séries que correspondem, em sua maioria, às áreas de atuação de Paschoal Carlos Magno. Sendo elas: Escritor e Homem de Imprensa, Estudante Perpétuo, Homem de Teatro, Diplomata, Político, Homem de Cultura, Documentos Pessoais e Família Carlos Magno. O que impressiona no arquivo de Paschoal Carlos Magno é a sua monumentalidade, expressa pela sua massa documental são cerca de 50.000 documentos que compõem este conjunto. Esse número evidencia o grau exaustivo de acumulação deste material, que não foi resultado apenas da ação de seu titular. Luciana Heymann (2009b) chama a atenção para este fato de que o processo de acumulação do material que forma um arquivo pessoal, em muitos casos, é feito a várias mãos (p. 183). O que guardar e como organizar o papelório não são decisões impostas apenas ao dono do arquivo, que é geralmente auxiliado por secretárias, assistentes ou familiares no cuidado com os seus documentos. No caso do arquivo pessoal de Paschoal Carlos Magno percebe-se que esse conjunto documental é resultado, em muito, da atividade de acumulação e organização de Orlanda Carlos Magno, que se definia como uma zeladora dos papéis do seu 8

irmão. É possível inclusive em alguns documentos identificar traços da ordenação dada por Orlanda ao arquivo de Paschoal Carlos Magno. Com um lápis azul e outro vermelho ela marcava documentos de forma a impor-lhes uma espécie de classificação. Assim como ela compunha pastas para a organização de conjuntos de cartas trocadas entre Paschoal Carlos Magno e seus familiares, quando este estava no exterior. Orlanda Carlos Magno era responsável também pela ordenação dos documentos referentes à administração dos empreendimentos teatrais de Paschoal, como o Teatro do Estudante do Brasil e o Teatro Duse. Estes metadados, as marcas de classificação de Orlanda Carlos Magno, auxiliarem inclusive no tratamento deste conjunto documental. Por exemplo: alguns recortes de jornais que tratavam de diversos aspectos da vida de Paschoal Carlos Magno eram difíceis de serem classificados tendo em vista as unidades de arquivamento estabelecidas no interior deste conjunto. Porém, nestes documentos foram observados grifos pelos quais Orlanda Carlos Magno destacava um item dentre muitos dos assuntos relatados nesses inventários de realizações. Essas indicações permitiam aos documentalistas perceber a razão pela qual aquele registro foi guardado, e a partir daí arquivar o documento levando em conta o motivo de sua presença em meio ao papelório de Paschoal Carlos Magno. Assim, o que se percebe é que parte da documentação do arquivo de Paschoal Carlos Magno não pôde ser classificada de acordo com a atividade que originou tais registros, visto não ser possível identificar o motivo que deu origem a uma parcela deste conjunto documental. De modo que o arquivamento de determinados itens se deu em razão do porquê este foi guardado e mantido no arquivo de Paschoal Carlos Magno. Logo, para além do critério funcional, foi preciso atentar-se para aquilo que Heymann (2009a) chama de intenção acumuladora (p. 50) para o processamento técnico deste material. Arquivo Privado Família Vianna Estão sob a guarda do Cedoc os arquivos pessoais de Oduvaldo Vianna, de Oduvaldo Vianna Filho, mais conhecido como Vianninha e o de Deocélia Vianna, os quais compõem um conjunto arquivístico familiar organizado segundo a origem dos documentos, ou seja, foi preservada suas titularidades. A reunião desses três arquivos pessoais é denominada Arquivo Privado Família Vianna. Preservar a procedência de 9

cada documento, ao invés de se optar por uma forma que os classificasse dentro dessa lógica familiar, consistiu em preservar as particularidades que envolvem a ação de acumulação e a relação existente entre seus papéis e o titular. O Arquivo Privado Família Oduvaldo Vianna é composto por uma grande variedade de documentos referentes, sobretudo, à produção intelectual de seus titulares: Seu conteúdo abrange cerca de 50 anos (1930-1984) de realizações nas áreas de teatro, rádio, televisão e cinema. A doação desse vasto arquivo ocorreu em duas etapas, ainda na década de 1980. Tal processo elucida bem os percalços que um arquivo pessoal pode sofrer até a sua guarda definitiva numa instituição de custódia. Na primeira etapa, Maria Lúcia Lousada Marins doou ao Cedoc, em 1982, obras de seu marido Oduvaldo Vianna Filho, principalmente seus textos para televisão, além de textos teatrais e outros documentos, contabilizando aproximadamente 100 títulos. Alguns anos depois, em 1987, Vinícius Vianna, filho de Vianninha, realizou uma segunda doação. Além de algumas obras de seu pai, essa doação continha uma coleção inédita e original de textos de Oduvaldo Vianna e Deuscélia Vianna (cerca de 1.150 títulos), criados principalmente para o rádio, e tantos outros documentos que dão ao conjunto documental da família Oduvaldo Vianna uma importância singular. Certamente, desse somatório, a maioria absoluta consiste em papéis do patriarca dos Vianna, tendo em vista a impressionante produção de Oduvaldo só para o rádio, escreveu 123 radionovelas, sem contar radioteatros unitários. Em duas ocasiões mais recentes, nos anos de 2006 e 2008, a viúva de Vianninha, Maria Lúcia, realizou duas pequenas doações contendo originais e cópias de textos, cartazes, programas e convites de peças teatrais, revistas e fotografias. Este material, por certo complementa e enriquece o conjunto já existente com mais informações sobre a trajetória e a produção de Oduvaldo Vianna Filho, mas, no entanto, traz consigo algumas problemáticas em torno do seu processamento. Ainda que alheio ao nosso interesse específico, as constantes doações em parcelas dificultam a organização dos documentos, sendo também uma informação importante para os pesquisadores que se debruçam sobre o arquivo pessoal do dramaturgo. O acervo da família compreende, em linhas gerais, textos diversos (teatro, radioteatro, radionovela, telenovelas, teleteatros, roteiros cinematográficos), fotografias, artigos de jornais, documentos pessoais, correspondências e notas de trabalho. O patriarca da família, Oduvaldo Vianna (1892-1972) nasceu em São Paulo e veio para o Rio de Janeiro em 1916. Foi um dos mais ativos fundadores da Sociedade 10

Brasileira de Autores Teatrais SBAT, em 1917, além de ter tido relevante participação no teatro, como autor e diretor, no rádio, no cinema e na televisão. Exerceu ainda atividades como diretor e professor da Escola de Arte Dramática do Distrito Federal, atualmente Escola de Teatro Martins Penna, entre 1935 e 1939. Já Deocélia Vianna (1914-1987), com quem Oduvaldo casou-se, em 1935, teve uma carreira muito bem sucedida e intimamente relacionada com o rádio, além ter escrito teleteatros e textos para fotonovelas. Seu filho Vianninha (1936-1974) nos legou uma dramaturgia extremamente comprometida com a luta política que caracterizou o momento da sua produção. Além de dramaturgos, seus pais também participavam das atividades do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o que certamente exerceu grande influência no seu posicionamento ideológico. Após ser devidamente organizado, o Arquivo Família Oduvaldo Vianna ocupa, ao todo, 150 caixas de documentos. Este conteúdo foi disposto segundo 3 arranjos distintos, um para cada personalidade integrante do arquivo. Os arranjos são divididos em séries segundo as áreas de atuação de seus respectivos titulares, tais como rádio, teatro, televisão, cinema, além de documentos pessoais. Arquivos pessoais enquanto fonte histórica A emergência dos arquivos pessoais enquanto alvo de interesse de historiadores não representa um evento isolado. Ela está compreendida em um processo de modificação bastante significativo no campo historiográfico, quando novos objetos, novas abordagens e fontes não usuais ganharam espaço em decorrência da renovação metodológica e teórica em curso, cuja principal transformação foi uma explícita variedade de representar a história. (Gomes, 1998.) A essa efervescência historiográfica se junta o fato da história cultural tomar corpo e se definir a partir da afirmação do indivíduo na história, rejeitando cortes estruturalistas que, segundo esta abordagem, negligenciaram a participação dos atores históricos e sua vivências. A história cultural traz à luz a importância da experiência humana em seu tempo e lugar para a compreensão dos processos de formação e transformação das sociedades. No bojo dessa revalorização do indivíduo, fruto das reflexões e problematizações propostas por essa corrente historiográfica, os arquivos pessoais ganharam novos 11

contornos, apresentando-se efetivamente como mais uma possibilidade para a pesquisa histórica. No âmbito das artes, os arquivos pessoais representam fonte fecunda para a pesquisa historiográfica porque a partir deles pode-se entrever a dinâmica produtiva de determinado bem cultural. Logo, é imprescindível a preservação e disseminação desses conjuntos documentais, pois eles proporcionam ao pesquisador entrever a arte como um campo marcado por disputas, intercâmbios e diálogos. De modo que a arte não deve ser investigada apenas a partir de produtos culturais ou artistas, e sim analisada a partir de processos e contextos históricos. 12

Bibliografia: BOTELHO, Isaura. Romance de formação: Funarte e política cultural, 1976-90. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 2000. CAMARGO, Ana Maria de Almeida; GOULART, Silvana. Tempo e circunstância: a abordagem contextual dos arquivos pessoais: procedimentos metodológicos adotados na organização dos documentos de Fernando Henrique Cardoso. São Paulo: Instituto Fernando Henrique Cardoso, 2007. DELMAS, Bruno. Arquivos para quê?: textos escolhidos. São Paulo: Instituto Fesnando Henrique Cardoso, 2010. DUCHEIN, Michel. O respeito aos fundos na arquivística: princípios teóricos e problemas práticos. Arquivo & Administração, Rio de Janeiro, 10-14 (1): 14-33, abr. 1982/ago. 1986. FONSECA, Márcia Silva. O Arquivo Institucional da FUNARTE: problemas estruturais. 2007. Trabalho de conclusão de curso (Especialização em organização, planejamento e direção de arquivos) Universidade Federal Fluminense e Arquivo Nacional, Niterói, 2007. FUNARTE. Legislação Básica da FUNARTE. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1976.. Relatório de Atividades 1976-1978. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1979.. Relatório de Atividades 1979-1980. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1981.. Relatório de Atividades 1982. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1983. GOMES, Ângela de Castro. Nas malhas do feitiço: o historiador e os encantos dos arquivos privados. In: Revista Estudos Históricos, n o 21, 1998. HEYMANN, Luciana. O indivíduo fora de lugar. In: Revista do Arquivo Público Mineiro. Ano XLV, n.2, julho-dezembro 2009a, p. 40-57.. De arquivo pessoal a patrimônio nacional: reflexões sobre a construção social do legado de Darcy Ribeiro. 2009. Tese (Doutorado em Ciências Humanas: Sociologia) Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009b. IBAC. Relatório de Atividades 1991. Rio de Janeiro: IBAC, 1992.. Departamento de Pesquisa e Documentação. Relatório de Atividades 1993. Rio de Janeiro, 1993. JARDIM, J. M. FONSECA, M. O. Arquivos In: CAMPELLO, B. S., CALDEIRA, P. T., MACEDO, V. A. A. (Org.). Formas e Expressões do conhecimento: introdução às fontes de informação. Belo Horizonte: Autêntica, 1998, p. 367-389. 13

ROUSSEAU, J. Y., COUTURE, C. Os Fundamentos da disciplina arquivística. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1998. SCHELLENBERG, T. R. Arquivos modernos: princípios e técnicas. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. Legislação consultada: Lei n o 8.029 de 12 de abril de 1990. Medida Provisória nº 151 de 15 de março de 1990. Medida Provisória n 610 de 8 de setembro de 1994. 14