ANÁLISE DO DESEMPENHO LUMÍNICO DE HABITAÇÕES POPULARES: CASO SANTA CRUZ - PB Prof. Jean Carlo Fechine Tavares Universidade Federal da Paraíba, Campus I, Centro de Tecnologia Departamento de Arquitetura Rua Severino T. de Brito, 101/206 Bancários João Pessoa PB Prof. Antonio Gualberto Filho Grupo de Pesquisa em Avaliação Pós-Ocupação/DEP/UFPB e-mail: gualberto@producao.ct.ufpb ABSTRACT It was made a study for observation of the characteristic of visible light from artificial sources used for interior lighting, compared with that of daylight in the interior of popular houses. In the same way was made a comparison among that labels and that labels established by NB 57. Ergonomia e Segurança do trabalho Ergonomia do produto Palavras-chave: ergonomia, habitação, conforto lumínico 1. INTRODUÇÃO Realizou-se uma pesquisa de avaliação pós-ocupação no Conjunto Santa Cruz, situado no Município de Santa Cruz PB, a partir da qual avali-ouse o desempenho das hbitações construídas com componentes pré-moldados de concreto armado. Apresenta-se neste artigo, resultados sobre os níveis de iluminância medidos nas casas durante o dia e à noite, tendo estes valores sido, posteriormente, comparados com o que estabelece a NB 57. 2. METODOLOGIA A verificação do nível de iluminância apoiou-se, metodologicamente, em investigações analítico-praticas no local e em parâmetros prescritos pelas Normas Técnicas brasileiras referentes ao assunto. Sua estruturação deu-se em três etapas. A primeira consistiu na aquisição de dados referentes à própria edificação, onde foram observados as características construtivas, estado de conservação do imóvel, as cores das paredes internas, e, principalmente, a verificação dos sistemas de iluminação natural e iluminação artificial. Esta etapa foi subdividia em três fases: Na primeira fase fez-se o reconhecimento do conjunto habitacional, para a escolha das edificações à serem trabalhadas. Para isso, considerou-se a orientação do referido conjunto frente à movimentação solar, onde verificou-se, num total de vinte e cinco casas que compõem o conjunto, a presença de quatro orientações distintas, localizadas nos extremos das quadras. São as residências D1, D8, D9 e D16. Fez-se necessária, ainda, a escolha de mais duas edificações localizadas no interior de uma quadra, para a verificação da influência do entorno sobre o nível de iluminância interno, sendo elas: as casas D4 e D12 (ver Figura. 1)
FIGURA 1: Casas onde forma feitas as medições dos níveis de ruído e do nível de iluminância. Na segunda fase, foram feitas medições no interior das seis residências citadas, no período diurno (9:00 h e 15:00 h), utilizando um luxímetro ICEL-500, objetivando o conhecimento dos níveis de iluminância média decorrente da luz natural, fundamentado na NBR-5382, que fixa o modo pelo qual se faz a verificação através da iluminância média sobre o plano de trabalho. De modo similar, na terceira fase foram feitas medições no período noturno (20:00 h) afim de verificar o nível de iluminância média emitido pelas lâmpadas em duas situações, uma com as lâmpadas sujas (condições encontradas no local) e outra com as lâmpadas limpas, utilizando-se também o procedimento de acordo com o prescrito na NBR 5382. À segunda etapa realizou-se a análise e o confronto dos dados obtidos com os valores estabelecidos na NB-57, que indicam os valores mínimos de iluminância em interiores. Em seguida, utilizando o método dos lumens, foram estudadas situações para correção das possíveis deficiências encontradas. Na terceira etapa consistiu na escolha de possíveis soluções para as deficiências encontradas nos casos do conjunto pesquisado. 3. DADOS COLETADOS NO LOCAL a) Características do local: Local limpo, bem conservado e pintado na cor branca.
b) Eficiência da iluminação natural Residência: D 1 AMBIENTE MEDIDA NB - 57 % Sala 730 150 486 Quarto 411 150 274 Cozinha 382 150 254 Banheiro 106 150 70 Sala 640 150 420 Quarto 640 150 420 Cozinha 769 150 513 Banheiro 65 150 43 TABELA 01: Nível de iluminância média na casa D1 (Fonte: Pesquisa direta e NB-57) Residência: D 4 Sala 864 150 576 Quarto 490 150 326 Cozinha 443 150 295 Banheiro 48 150 32 Sala 802 150 535 Quarto 366 150 244 Cozinha 629 150 419 Banheiro 64 150 42 TABELA 02: Nível de iluminância média na casa D4 (Fonte: Pesquisa direta e NB-57) Residência: D 8 Sala 866 150 517 Quarto 665 150 443 Cozinha 616 150 410 Banheiro 53 150 35 Sala 612 150 408 Quarto 474 150 316 Cozinha 362 150 240 Banheiro 46 150 30 TABELA 03: Nível de iluminância média na casa D8 (Fonte: Pesquisa direta e NB-57)
Residência: D 9 Sala 497 150 331 Quarto 337 150 220 Cozinha 763 150 509 Banheiro 80 150 53 Sala 1008 150 672 Quarto 509 150 339 Cozinha 707 150 473 Banheiro 52 150 34 TABELA 04: Nível de iluminância média na casa D9 (Fonte: Pesquisa direta e NB-57) Residência: D 12 ILUMINÂNCIA MÉDIA Sala 653 150 435 Quarto 651 150 434 Cozinha 733 150 488 Banheiro 61 150 40 Sala 401 150 267 Quarto 163 150 109 Cozinha 160 150 107 Banheiro 21 150 14 TABELA 05: Nível de iluminância média na casa D12 (Fonte: Pesquisa direta e NB-57) Residência: D 16 ILUMINÂNCIA MÉDIA Sala 769 150 512 Quarto 549 150 366 Cozinha 503 150 335 Banheiro 101 150 67 Hora da leitura: 15:00 Condições de céu: parcialmente nublado Sala 556 150 370 Quarto 351 150 234 Cozinha 174 150 116 Banheiro 20 150 13 TABELA 06: Nível de iluminância média na casa D16 (Fonte: Pesquisa direta e NB-57)
c) Eficiência da iluminação artificial Situação 01: lâmpada empoeiradas Residência: D 4 Hora da leitura: 20:00 h AMBIENTE DE TRABALHO MEDIA NB - 57 % Sala 20 150 13,0 Quarto 29 150 19,0 Cozinha 32 150 21,0 Banheiro 47 150 31,0 TABELA 07: Nível de iluminância média na casa D4 (Fonte: Pesquisa direta e NB-57) Situação 02: lâmpadas limpas Residência: D 4 AMBIENTE DE TRABALHO MÉDIA NB - 57 % Sala 22 150 14,0 Quarto 35 150 23,0 Cozinha 34 150 23,0 Banheiro 49 150 33,0 TABELA 08: Nível de iluminância média na casa D1 (Fonte: Pesquisa direta e NB-57) 5. ANÁLISE DOS RESULTADOS a) Iluminação natural Diante dos dados coletados, pode-se observar, que o nível de iluminância média ao longo do dia encontra-se, tanto nas casas das extremidades do conjunto, quanto nas do seu interior, algo como quatro vezes maior do que o valor indicado pela NB-57. Isto se dá em função da grande luminosidade da abóbada celeste, o que vem a ser um ponto positivo, pois, as edificações bem projetadas dispensam a utilização da iluminação artificial, durante grande parte do dia. Entretanto, para se chegar a iluminância desejada e recomendada pela NB-57, é necessário o uso de algum atenuante que reduza o nível de iluminância média, encontrada em excesso, durante o dia. Apenas o banheiro apresentou um nível de iluminância média abaixo do estabelecido, o que implica na necessidade da utilização de luz artificial, gerando assim um acréscimo no consumo de energia elétrica. Este problema pode ser solucionado através do uso de cores claras e da correção das dimensões da janela, de modo a ampliar a sua área útil para iluminação. b) Iluminação artificial O nível de iluminância média, verificado no período noturno, tanto com as lâmpadas empoeiradas quanto limpas, encontra-se bem abaixo dos valores indicados na NB-57 para cada ambiente interno. Em média, 60% abaixo do valor estabelecido pela NB-57, o que vem
a ser prejudicial ao aparelho visual do usuário, ainda que, por desconhecimento, este tenha considerado a casa clara. Tal fato demonstra a necessidade da correção do sistema de iluminação (ver Gráfico 1). Iluminância Média Natural e Artificial x Norma (NB 57) 700 600 Ilum. artificial Norma Ilum. média natural 500 400 300 200 100 0 Norma Ilum. média natural Sala Quarto Cozinha Banheiro Ilum. artificial Gráfico 1: Comparação entre os níveis de iluminância, natural e artificial e a NB-57. Com a utilização do método dos lúmens, constatou-se a insuficiência do sistema de iluminação artificial, devido ao uso de apenas uma lâmpada por ambiente instalada sem presença de luminária. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O problema com o consumo de energia no Brasil e no mundo deixou de ser apenas pauta em debates ou conferências, tornando-se real a carência de soluções alternativas e inteligentes. É necessário, sem dúvida, que tanto a produção, quanto a utilização das edificações sejam rapidamente adaptadas às novas situações caracterizadas pelas restrições das fontes energéticas. O Brasil possui um clima favorável a redução do consumo energético das edificações. Fato que, de um lado, encontra-se a sua abóbada celeste entre as mais luminosas do mundo, tornando dispensável a utilização de iluminação artificial durante grande parte do dia. E, por outro lado, porque as diferenças térmicas entre verão e inverno na maior parte do território brasileiro é pequena, permitindo um funcionamento confortável das edificações com o mínimo de despesa energética. Porém, é importante lembrar que a iluminação não deve ser projetada para a edificação, e sim, para o usuário. Portanto, os pontos a seguir são importantes para o correto dimensionamento de um sistema de iluminação natural:
a) Dimensionamento correto das superfícies iluminantes, tais como janelas, sheds, lanternins, etc, levando-se em conta não só a quantidade, mas também, o tipo de luz que entra pela abertura, possibilitando o conforto visual; b) A área superficial da janela tem limites de eficiência luminosa, porém, deve-se ter cuidados especiais com a eficiência térmica da mesma, ou seja, deve-se usar somente a superfície iluminante necessária, sendo importante ainda, o uso de proteção contra a radiação solar direta; c) As características do local oferecem importantes contribuições no desempenho energético das edificações, logo, quanto mais claras forem as superfícies do entorno e do interior do local, maior será o rendimento do sistema de iluminação; d) Outro fator de suma importância, não só do ponto de vista da eficiência energética, mas da saúde ocupacional, é o correto estabelecimento das tarefas visuais e das características de quem a executa, para que, a partir delas, se dimensione corretamente o sistema de iluminação; Para o estabelecimento do sistema de iluminação artificial, outros cuidados a serem observados, além dos anteriormente citados, são a qualidade e a capacidade energética das lâmpadas. Ao longo de anos, pesquisas e desenvolvimentos contínuos geraram um aumento na eficiência das lâmpadas. (ver Gráfico 2). 200 EFICIENCIA (LUX) 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 1930 1940 1950 1960 1970 1980 INCANDECENTE HALOGENA V. MERCURIO FLUORESCENTE V. METÁLICO V. SÓDIO (alta pressão) V. SÓDIO (baixa pressão) TEMPO Gráfico 9: Evolução da eficiência das lâmpadas Fonte: Uso racional de energia elétrica em edificações. ABILUX/AGÊNCIA PARA APLICAÇÃO DE ENERGIA/ELETROBRÁS/PROCEL. São Paulo, 1992. Estas pesquisas fornecem parâmetros para a escolha acertada, tanto do tipo de luminária, quanto do tipo de lâmpada, em função de uma boa iluminação e de um bom rendimento energético.
7. BIBLIOGRAFIA CARVALHO, Homero Jorge Matos de Carvalho. A experiência da verticalização dos conjuntos habitacionais em João Pessoa PB: o caso de Mangabeira VII. Monografia de graduação. Curso de Arquitetura e Urbanismo/UFPB. Joào Pessoa, 1997. MASCARÓ, Juan Luis; MASCARÓ, Lúcia E. R. Incidência das variáveis projetivas e de construções no consumo energético dos edifícios. Porto Alegre, Sagra, 1992. NB-57 Iluminação de interiores. NB-5382 Verificação de iluminância de interiores. SILVA, Francisco ª Gonçalves. Conforto ambiental: iluminação de interiores. João Pessoa, A União, 1992. Uso racional de energia em edificações: iluminação. ABILUX, São Paulo, 1992. 8. ANEXO Figura 2: Planta baixa da casa