A INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS SAZONAIS NOS ASPECTOS NATURAIS E SOCIAIS NO CAREIRO DA VÁRZEA AM



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A INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS SAZONAIS NOS ASPECTOS NATURAIS E SOCIAIS NO CAREIRO DA VÁRZEA AM Nádia Rafaela Pereira de Abreu Universidade Federal do Amazonas nadiarafaela1@hotmail.com Hosana dos Santos Oliveira Universidade Federal do Amazonas Hosana_3d@hotmail.com EIXO TEMÁTICO: CLIMA, AMBIENTE E ATIVIDADES RURAIS RESUMO A paisagem Amazônica possui características diferenciadas, tendo assim uma vasta diversidade de fauna e flora. A várzea Amazônica representa uma das paisagens que formam a heterogeneidade do bioma Amazônico. O solo de Várzea caracteriza-se por ser um solo rico para a plantação representando para os moradores da Várzea o sustento para a vida, no entanto, mesmo a Várzea sendo uma área inundada, a cultura da pecuária se faz presente no modo de produção econômica e familiar. Contudo, a Várzea possui períodos sazonais que modificam a vida dos moradores de acordo com o nível de descida e subida do rio. Mas a variabilidade sazonal não prejudica a relação do morador da várzea e seu sustento, pois este integrou sua cultura com a dinâmica natural. Palavras Chaves: Várzea, população, sazonalidade. ABSTRACT The scenery Amazon has distinctive characteristics, thus having a wide diversity of fauna and flora. The Amazon represents a lowland landscapes that form the heterogeneity of the Amazon biome. The soil of Lowland is characterized by being a rich soil for planting to representing the residents of the Meadow sustenance for life, however, even the Lowland area being flooded, the culture of livestock is present mode of economic production and family. However, the Lowland has seasons that change the lives of residents in accordance with the level of descent and ascent of the river. But the seasonal variability does not affect the ratio of floodplain residents and their livelihood, their culture because it has integrated with the natural dynamics. Key Words: lowland, population, seasonality. INTRODUÇÃO A várzea Amazônica, segundo Cruz (2009) é o palco da produção agrícola da região. Por muito tempo, pensou-se que a Amazônia fosse improdutiva, devido ao mito de solos inférteis, pois, segundo Gonçalves (2001) existem Amazônias e Amazônias. Dessa forma, a várzea simboliza mais uma das diversas Amazônias existentes, sendo, portanto, incorreto dizer que o solo da Amazônia é 1500

pobre, pois o fato é que há uma faixa territorial na Amazônia improdutiva, assim como há a faixa de produção a Várzea. O município Careiro da Várzea revela o potencial agrícola da várzea Amazônica, no entanto, a sazonalidade climática tende a modificar as relações de produção. A relação dos moradores, com os eventos de cheias e secas, devido a vivencia no lugar, tornou-se um fato que faz parte da dinâmica da natureza, e que por isso, mesmo com a mudança sazonal, eles mantém, de maneiras diferenciadas, seus modos de produção. Contudo, eventos extremos, classificados como anomalias climáticas, de cheia e seca ainda são um desafio para a população da Várzea Amazônica. Dessa forma, o presente trabalho, fruto de uma pesquisa de campo, da disciplina Prática de Campo I, do curso de Geografia da Universidade Federal do Amazonas UFAM, buscou: Descrever a dinâmica da paisagem de acordo com os períodos sazonais; Identificar a relação Várzea e Moradores; Relatar o modo de produção durante diferentes períodos climáticos-sazonais. MATERIAIS E MÉTODOS O presente trabalho baseou-se em dados primários (coletados em campo) e secundários (a partir de referenciais teóricos pertinentes), assim: - A dinâmica da paisagem foi descrita a partir da observação de fotografias, imagens do satélite Landsat 5, georrefenciadas no Arc Gis 9.1, disponibilizado no sitio do INPE ( Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e da base de dados fluviometricos do site da ANA (Agencia Nacional de Águas). - A identificação da relação entre Várzea e Moradores baseou-se em pesquisa de campo e através de referenciais teóricos (PACHÊCO, 2004; NOGUEIRA, 2007; CRUZ, 2009). - O modo de produção durante diferentes períodos climáticos-sazonais foi analisado a partir dos relatos dos moradores e com referencial teórico (NOGUEIRA, 2007; CRUZ, 2009). ÁREA DE ESTUDO De acordo com o IBGE (2010) o município Careiro da Várzea está localizado no estado do Amazonas. Possui 2.631,141Km² de extensão territorial. Sua população está estimada em 23.930, com uma densidade demográfica de 9,09 h/km² (Figura 01). Segundo Torres e Machado (2011) o clima do Careiro está inserido no equatorial quente e úmido, sendo associado, suas mudanças sazonais, à Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). 1501

Figura 01: Localização do Careiro da Várzea. Organização: Nádia Rafaela Pereira de Abreu, 2012. (Neste Trabalho). A vegetação do município é periodicamente inundada. De acordo com Gama, et al (2005) os solos de várzea são formados por terras baixas que margeiam os rios, são áreas planas e de formação sedimentar, sendo, portanto, os solos férteis da Amazônia. Devido ao solo fértil, a agricultura se faz presente entre as formas de economia e subsistência da família, no entanto, a pecuária é a principal fonte econômica de trabalho, dessa forma no município há vegetação rasteira, de pasto, para criação do gado. Além disso, há locais para a plantação de alimentos. A VÁRZEA E A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA Segundo Gonçalves (2001), por muito tempo pensou-se que a Amazônia fosse uma área homogênea, com solos improdutivos e de vegetação sem muita distinção entre as espécies. Contudo, estudos avançados revelam que a Amazônia é rica em diversidade natural, possuindo assim, floresta de várzea, floreta ombrófila, Latossolo, Organossolo, Espodossolo, diferentes hábitos culturais e modos de produção. 1502

A cultura de cultivo e de criação bovina, denominada de agropecuária (agricultura e pecuária) está presente na Amazônia, principalmente depois da chegada de Nordestinos e Sulinos (PAULA e SILVA, 2006). No Careiro da Várzea, segundo (STERNBERG apud PACHÊCO, 2004, p.153) essa tendência se alavancou com a chegada dos migrantes Nordestinos, no ano de 1956, pois eles foram responsáveis por adensarem o povoamento do Município. A pecuária, a agricultura e a pesca são à base da economia do município. No entanto de acordo com Pachêco (2004), a pecuária é a principal atividade entre os moradores, tendo em quase todas as casas, lugares para pasto. Em pesquisa teórica e de campo, observou-se que a prática econômica-produtiva do município Careiro da Várzea encontra-se na pesca, agricultura e pecuária. Contudo, no site do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) obteve-se a quantificação dos dados de pecuária e agricultura, além do pescado. Os dados obtidos revelaram o quanto à pecuária predomina na produção econômica do município, assim como descrito por Pachêco (2004). Contudo, mesmo a várzea sendo periodicamente inundada, com uma dinâmica naturalclimática, a produção agrícola e pecuária faz parte da economia do lugar. Tal fato deve-se a relação de pertencimento dos moradores a várzea, fazendo assim com que eles absorvam a sazonalidade ao seu modo de vida. A produção é maior em período de repiquete (na passagem de período inundado para período mais seco). No entanto em cada período há adaptações. Contudo, pesquisas de campo revelaram que eventos extremos incomuns (de anomalia climática) de seca extrema e cheia extrema, são os maiores desafios dos moradores com a Várzea, em nossas pesquisas, eles citaram a seca de 2005 como um momento de desconforto e a cheia de 2009 como um desafio. A SAZONALIDADE Segundo Ab Saber (1994), o regime pluviométrico rege os aspectos naturais e antrópicos na Amazônia. A quantidade de chuva precipitada anualmente origina a vida na floresta, os rios e proporciona o desenvolvimento de espécies de animais, além dos seres humanos. O regime climático na Amazônia, não é estático. Sua dinâmica modifica o espaço Amazônico, assim como sua paisagem, com regimes de secas e cheias, tal fato se denomina de sazonalidade. No Careiro da Várzea, a dinâmica climática é visível, periodicamente o município é inundado, e suas relações econômicas-espaciais modificam-se. 1503

RESULTADOS E DISCUSSÕES A dinâmica da paisagem A paisagem do Careiro é sazonalmente modificada devido a dinâmica climática-natural. Apesar da cidade ser um espaço que possui modificações de origem antrópica, a natureza realiza novas espacialidade para o município. Na imagem de satélite Landsat (Figura 02), procurou-se realizar uma análise comparativa entre o ano de maior seca (2005) e o ano de cheia (2010). Através das imagens, percebe-se o quanto a paisagem foi modificada pelo evento sazonal, sendo portanto, a paisagem do Careiro da Várzea, uma moldura dinâmica-natural. Figura 02: Imagens do satélite Landsat5 demonstrando a variabilidade da paisagem do Careiro da Várzea. A seta em vermelho indica o ponto de seca. A seta em amarelo indica o ponto de cheia. Organização: Nádia Rafaela Pereira de Abreu, 2012. (Neste trabalho) A sazonalidade no município do Careiro da Várzea AM é demonstrada pelo gráfico abaixo (Figura 03). Nos meses de Dezembro até Julho o rio vai enchendo, tendo sua maior cota no mês de Junho. Nos meses de Setembro, até Novembro há uma descida do rio, representando os meses em que se predominam as menores cotas. 1504

GRÁFICO DADOS DA COTA DO CAREIRO DO RIO NO MUNICÍPIO DA VÁRZEA CAREIRO ( MAX/MIN/MED) DA VÁRZEA - AM 2500 2000 1500 1000 H (COTA) Max H(COTA) Min H(COTA) Med 500 0 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Fonte: Agencia Nacional de Águas (ANA) Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Figura 03: Dados da variação do rio no período de um ano. Organização: Nádia Rafaela Pereira de Abreu, 2012. (Neste trabalho) A identificação da relação entre Várzea e Moradores A adaptação à sazonalidade nas práticas produtivas, o amor ao careiro e o apego ao lugar, são características básicas dos que vivem na várzea (NOGUEIRA, 2007). A paisagem vista pelo morador é construída a partir da sua relação com o ambiente vivido, conceitos técnico-científicos se baseiam em conhecimentos gerados através de leituras sobre uma realidade equivalente a que se apresenta no local de estudo, o que torna diferente os conceitos dos moradores em relação à paisagem do careiro. Para o pesquisador, não-morador, o Careiro da Várzea é um ambiente com uma natureza dinâmica, alagado pelo rio, e com vegetação típica de várzea. No entanto, para os moradores, segundo Nogueira (2007) o Careiro da Várzea é o seu lugar, onde possuem vínculos com o ambiente, sendo a paisagem construída pela cultura dos que habitam a cidade. Como exemplo, para eles, a igreja (Figura 04), representa um elemento essencial na formação da paisagem do município, já para quem possui um olhar técnico, a igreja é um elemento antrópico que se instalou na paisagem natural da cidade, pois para o olhar técnico a dinâmica da paisagem está na sazonalidade do rio, desconsiderando o processo de construção cultural que é exercido pela população. 1505

Figura 04: Igreja do Careiro da Várzea, elemento formador da paisagem pelos moradores. Fonte: Hosana dos Santos Oliveira, 2010. (Neste trabalho). Contudo, devido a sazonalidade, a cidade modifica, de acordo com o período sazonal as suas práticas produtivas. Na cheia a plantação diminui, o gado é transportado e a pescaria ocorre de acordo com a necessidade da população de consumir e vender o excedente desse alimento. O modo de produção durante diferentes períodos climáticos-sazonais De acordo com o IBGE (2010) há 1844 unidades agropecuárias e 3 cooperativas. A prática Pecuária possui como principal elemento o gado, no entanto outros tipos de animais são criados e comercializados (Figura 05). PECUÁRIA_PRODUÇÃO AGRICULTURA_PRODUÇÃO Figura 05: Produtividade Agropecuária no Careiro da Várzea. Em (a) Produtividade Pecuária. Em (b) Produtividade Agrícola. Fonte: IBGE, 2010. Organização: Nádia Rafaela Pereira de Abreu, 2012. (Neste trabalho) Segundo Pachêco (2004) na época de cheia, o gado é levado para a terra firme (Figura 06). Em nossa pesquisa, identificamos que o gado é conduzido para a terra firme, nos períodos de cheia, por um curral flutuante. 1506

Figura 06: Pecuária na Amazônia. A várzea vira pastagem para gados na época de seca. Fonte: Hosana dos Santos Oliveira, 2010. (Neste Trabalho) A agricultura possui a maior paralisação, pois fica sem terra firme para a plantação. Contudo há pequenas plantações de hortas suspensas. No entanto, a plantação é familiar, sem comercialização (Figura 07). Figura 07: Horta suspensa para consumo da família. Fonte: Hosana dos Santos Oliveira, 2010. (Neste trabalho) A pescaria não paralisa, mas tem uma intensidade menor, no período de cheia. Na seca (sem anomalia climática) ocorre a fase em que há uma maior tendência para a pescaria, pois na seca formam-se lagos, sendo o lago do rei (Figura 08) o lugar em que há a maior predominância de peixes, sendo uma nova forma de produção e economia para os moradores. 1507

Figura 08: Lago do Rei no Careiro da Várzea. Organização: Nádia Rafaela Pereira de Abreu, 2012. (Neste trabalho) CONCLUSÃO Apesar da sazonalidade, os moradores mantem suas práticas culturais de produção. Contudo, acredita-se que deve haver uma junção política-cietífica-popular, para que a produção na várzea ganhe uma maior extensão. Além disso, incentivo a comercialização dos produtos, com participação da população nos lucros seria um ato que poderá valorizar os produtos da área de várzea, pois os moradores possuem uma cultura que é atrelada a dinamica sazonal, e a ciencia, possui técnicas que poderão auxiliar a melhor produtividade dos moradores. Em períodos de seca (sem anomalia climática) os moradores pescam e realizam a agricultura familiar, além também da criação de gado. Na cheia eles continuam suas plantações para a familia, em hortas suspensas, e conduzem seu gado para a terra firme. No entanto, não há ajuda estatal para auxiliá-los a obterem um maior ganho com sua produção que é medida pela sazonalidade do rio. A criatividade se faz presente, e a relação dos moradores do Careiro da Várzea com a natureza é harmonica, sendo a sazonalidade, parte integrante da vida e cultura dos moradores da várzea. REFERÊNCIAS 1508

AB SABÉR, A. N. Amazônia Brasileira: Um Macro Domínio. In: LEONEL, Katz; Salvador, Mendonça (Orgs.), Amazônia, Flora e Fauna, Rio de Janeiro, Alumbramento, 1994. ANA Agência Nacional de Águas. Disponível em: http://hidroweb.ana.gov.br/estacao.asp?codigo=15040000&criaarq=true&tipoarq=2. Acesso em 23.07.2012. CRUZ, M. J. M. Campesinato e meio ambiente na várzea da Amazônia. In: Rosa Maria Vieira Medeiros; Ivanira Falcade, (Org.). Tradição versus tecnologia: novas territorialidades do espaço agrário brasileiro. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009, v.1, p. 296-. GONÇALVES, C. W. Amazônia, Amazônias, São Paulo, ed. Contexto, 2001. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1244&z=t&o=24&i=p. Acesso em 23.07.2012. INPE Instituo Nacional de Pesquisa Espaciais. Disponível em: http://hidroweb.ana.gov.br/estacao.asp?codigo=15040000&criaarq=true&tipoarq=2. Acesso em 23.07.2012. NOGUEIRA, A. R. B. Lugar e Cultura: a produção da vida no careiro da várzea. Manaus AM, 2007. PACHÊCO, J. B.; BRANDÃO, J. C. A Cidade nas Várzeas da Amazônia. Manaus AM, Editora sem nome, 2004. TORRES, F. T. P.; MACHADO, P. J. O. Introdução à Climatologia. São Paulo, 2011. 1509