Etiologia de Bipolaris incurvata, agente causal da mancha foliar do coqueiro

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Transcrição:

doi: 10.4322/rca.2011.009 ARTIGO Miranda et al. / Rev. Ci. Agra., v.53, n.1, p.64-69, Jan/Jun 2010 www.ajaes.ufra.edu.br AUTORES: Vicente Savonitti Miranda 1 Michelle Martins do Nascimento 1 Luiz Sebastião Poltronieri 2 Benedita Elenize Gemaque Gomes 1 1 Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal Rural da Amazônia, 66.077-530, Belém, PA, Brasil. 2 Embrapa Amazônia Oriental, 66095-100, Belém, PA. Brasil. Recebido: 04/12/2009 Aprovado: 20/05/2010 AUTOR CORRESPONDENTE: Vicente Savonitti Miranda Email: vicente.miranda@ufra.edu.br PALAVRAS-CHAVE: Fitopatógeno, Agente etiológico, Cocos nucífera L. KEY WORDS: Etiologia de Bipolaris incurvata, agente causal da mancha foliar do coqueiro Etiology of bipolaris incurvata, the causal agent of coconut palm leaf spot Resumo: Na fazenda Sococo, localizada no município de Moju, Pará, entre os anos de 2000 a 2002, mais de 14.000 coqueiros morreram, devido à ocorrência de uma doença cognominada mancha foliar do coqueiro. Objetivando diagnosticar o agente etiológico dessa doença, foram coletadas nesta mesma propriedade, entre agosto de 2003 e abril de 2004, amostras no campo com os sintomas típicos da mancha e, em laboratório, foram procedidos isolamentos em meio de cultura BDA. Após análises morfológicas, em cultivos com sete dias de idade, três fungos foram identificados: Cylindrocladium pteridis, Bipolaris incurvata e Pestalotiopsis sp. Após testes de patogenicidade em folhas destacadas e mudas do híbrido PB121, verificou-se que somente o fungo Bipolaris incurvata foi capaz de incitar a doença. Em inoculações com ferimentos, os sintomas macroscópicos foram observados após dois dias, enquanto que, em inoculações feitas sem ferimentos os sintomas foram observados aos oito dias após a inoculação, comprovando que Bipolaris incurvata é o agente causal da mancha foliar do coqueiro. Abstract: In Sococo farm in the county of Moju, in the State of Para, more than 14,000 coconut palms were killed, between 2000 and 2002, by epidemics of a new disease known as coconut palm leaf spot, at Sococo plantations alone. In order to identify the cause, samples with typical symptoms of the disease were collected at the same farm, between August 2003 and April 2004, for subsequent laboratory analysis. In a BDA medium three species of fungus were isolated-cylindrocladium pteridis, Bipolaris incurvata and Pestalotiopsis sp. Pathogenicity tests on detached leaves and young palm leaves of hybrid PB 121 showed that only Bipolaris incurvata caused symptoms of the disease. In inoculated plants with damage, macroscopic symptoms appeared after two days, while, in inoculated plants without damage, symptoms were observed eight days after inoculation, thereby confirming that Bipolaris incurvata is the cause of coconut palm leaf spot. Phytopathogen,???????? Cocos nucífera L. 64

Rev. Ci. Agra., v.53, n.1, p.64-69, Jan/Jun 2010 1 Introdução O coqueiro (Cocos nucífera L.) é uma palmeira tropical de grande valor econômico que, quando explorado em agroecossistemas de monocultivo, pode ser infectado por variados microorganismos. Esse aspecto, aliado às condições climáticas do trópico úmido, favorecem o desenvolvimento de doenças bióticas causadas por patógenos já conhecidos e eventualmente por novos patógenos introduzidos e estabelecidos (NUNES, 2000). Na fazenda Sococo, localizada no município de Moju, no Estado do Pará, vem se destacando uma doença conhecida como mancha foliar, que causou, somente em fase de desenvolvimento vegetativo, a destruição de aproximadamente 14.000 plantas, entre os anos de 2000 e 2002. O quadro sintomatológico das plantas afetadas pela mancha foliar caracteriza-se inicialmente por lesões escuras (Figura 1) que, posteriormente, progridem para formas arredondadas ou ovaladas, circundadas por halo amarelo ouro e centro de coloração marrom a cinza, que coalescem e formam grandes áreas necróticas (Figura 2). Há uma grande discussão em relação ao agente causador da mancha foliar do coqueiro. Autores como: Kobayashi (1995); Anjos, Charchar e Ramos (2000); Cardoso, Barreto e Araújo (2003) relatam ser o fungo Pestalotiopsis sp. o principal responsável por essa doença. Entretanto, pesquisadores como Quillec e Renard (1975); Warwick (1997), Gazel Filho et al. (1999) e Gasparotto et al. (1999) relatam em seus trabalhos ser o fungo Bipolaris incurvata, enquanto que Silva e Souza (1981) e Trindade e Poltronieri (1998) reportam ser Cylindrocladium pteridis o agente causal da mancha foliar do co-queiro. Gasparotto et al. (1999) relataram a ocorrência dessa doença em Manaus, causada por B. incurvata, destacando estar a mesma relacionada à deficiência de potássio. No Pará, os resultados divergem dos apresentados por Silva e Souza (1981) e por Trindade e Poltronieri (1998), que relataram ser o patógeno C. pteridis o causador da mancha foliar em coqueiro. Quanto às divergências, Anjos, Charchar e Ramos (2000) relataram ser a mancha foliar do coqueiro causada por Pestalotiopsis guepinii; Kobayashi (1995) identificou o fungo Pestalotiopsis palmarum como o agente causal da doença e Cardoso, Barreto e Araújo (2003) verificaram ser o gênero Pestalotiopsis o agente causal dessa doença. As diversas espécies de fungos do gênero Pestalotiopsis que afetam as plantas da família Arecaceae são considerados patógenos fracos e ocorrem associados a 65 outros patógenos (RAM, 1989) ou a insetos (ARA- ÚJO, GASPAROTTO; GARCIA, 1991). Na Costa do Marfin, em um estudo preliminar, onde o cultivo das variedades de origem polinésica é comum, por serem resistentes ao amarelecimento letal, a doença foi descrita como sendo causada por Helminthosporium halodes (Drechs) (QUILLEC; RENARD, 1975). Esse quadro de diversidade sobre o agente etiológico da mancha foliar em coqueiro precisou ser melhor investigado, a fim de que se pudesse realizar um preciso diagnóstico do (s) agente (s) causal (is) nas condições do Município Paraense de Moju. Portanto, o objetivo deste trabalho foi efetuar testes de patogenicidade com os isolados dos fungos associados às lesões nas folhas de coqueiro, para diagnosticar e identificar o fitopatógeno responsável pela doença. Figura 1 - Mancha foliar causada por Bipolaris incurvata, caracterizada por pequenas lesões escurecidas Figura 2 - Progressão das lesões causadas por Bipolaris incurvata (forma ovalada, circundada por halo amarelo ouro e centro de coloração cinza coalescente, formando grandes áreas necróticas).

Miranda et al. / Rev. Ci. Agra., v.53, n.1, p.64-69, Jan/Jun 2010 2 Material e Métodos 2.1 Isolamento dos Microorganismos Associados às Lesões Foliares Para o isolamento dos agentes fitopatogênicos, folhas infectadas foram coletadas e levadas ao Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Amazônia Oriental, sendo o material submetido a um prévio processo de limpeza e seleção. Em uma capela de fluxo laminar modelo CCV Clean Bench (Hitachi), foram cortados pequenos pedaços da região de transição entre a parte sadia e lesionada, colocados por três minutos em solução de álcool etílico a 70%, em seguida tratados por três minutos em solução de hipoclorito de sódio (NaOH) a 1%, e posteriormente lavados, por cinco minutos, em água destilada esterilizada e colocados sobre papel filtro esterilizado. O isolamento do patógeno foi feito utilizando-se o meio de cultura ágar - água (15 g L -1 de H 2 O) em placas de Petri com 9 cm de diâmetro. Em cada uma das dez placas contendo o meio de cultura foram colocados três pedaços do tecido foliar previamente desinfestados. As placas foram incubadas à temperatura ambiente, por 48 horas. Após este período foi feita a repicagem, retirando-se com estilete a extremidade do micélio do fungo e transferindo-o para os dez tubos de ensaios contendo meio de cultura batata-dextrose-ágar (BDA) (39 g L -1 ). Os tubos de ensaio foram incubados sob luz contínua à distância de 40 cm da fonte e à temperatura ambiente de 26 C ± 2 C. Os isolados obtidos foram então submetidos à esporulação em placas de Petri contendo BDA, para produção do inóculo para os testes de patogenicidade. 2.2 Identificação dos Isolados Após o crescimento micelial, efetuou-se a repicagem para tubos de ensaios com meio de cultura e, após sete dias, obteve-se a cultura pura de três fungos que, após estudos morfológicos dos micélios e esporos produzidos in vitro, foram identificados como: Cylindrocladium pteridis, Bipolaris incurvata e Pestalotiopsis sp. (QUILLEC; RENARD, 1975; ALEXOPOULOS; MINS, 1979; CROUS, 2002). 2.3 Produção do Inóculo 66 O isolado de C. pteridis foi cultivado em meio de cultura BDA sob luz contínua, durante 12 dias. Após o crescimento do fungo em toda a superfície do meio de cultura contido na placa de Petri, lavouse a superfície da colônia com água estéril e, com o auxílio de um pincel de cerdas macias, o micélio aéreo foi removido, sendo acrescentado à cultura 15 ml de água destilada esterilizada, mantendo-a submersa por dois dias. Em seguida, a água contida na placa foi descartada e a cultura foi mantida sob luz difusa por mais dois dias (ALFENAS; ZAUZA; MAFIA, 2004). Para a produção de inóculo de B. incurvata foi utilizado o meio de cultura Kzapec-Dox, mantendo-se as colônias em um regime de 12 horas no escuro e 12 horas sob luz ultravioleta, por um período de quatro a cinco dias. A produção do inóculo de Pestalotiopsis sp. foi obtida em meio de cultura BDA, sob luz difusa, por um período de sete dias de incubação. 2.4 Testes de Patogenicidade Os testes de patogenicidade em folhas destacadas foram realizados em ambiente de laboratório, utilizando-se micélio dos isolados em meio BDA com sete dias de incubação. Oito folhas de coqueiro PB123, com oito meses de idade e isentas de manchas foliares foram submetidas às inoculações artificiais, com e sem ferimentos, utilizando-se discos de 0,5 cm de diâmetro dos diferentes isolados. Para o ensaio, foram estabelecidos dois grupos de quatro folhas: no primeiro, cinco folíolos receberam ferimentos com agulha esterilizada; o segundo sem ferimentos. Sobre os ferimentos e folíolos intactos foram colocados discos de micélio dos diferentes isolados em pontos distintos. Em cada grupo, uma folha foi tomada como testemunha, utilizando-se para as inoculações apenas discos de BDA. Em seguida, as folhas foram colocadas dentro de sacos plásticos transparentes e umedecidos, para formar uma câmara úmida com a base do pecíolo envolvida por algodão hidratado com água. Diariamente realizavamse observações para registrar o período de incubação, caracterizado pelo espaço de tempo decorrido entre a inoculação e o aparecimento macroscópico dos sintomas. Em mudas, o experimento foi conduzido no município de Moju-PA, na propriedade do grupo Sococo S/A, localizada nas margens da rodovia PA- 252, km 38, que liga o município de Moju à cidade de Acará, nas coordenadas geográficas 02 07 00 S e 48 de longitude W, entre os rios Moju e Acará - PA, distando 80 km de Belém. A região apresenta clima quente e úmido, com pluviosidade anual em torno de 2.800 mm e solo do tipo latossolo amarelo. A cultura é manejada com alto padrão tecnológico

Rev. Ci. Agra., v.53, n.1, p.64-69, Jan/Jun 2010 desde o preparo da área, muda, plantio, adubação balanceada, até o monitoramento de pragas e doenças. Os testes de patogenicidade foram realizados através de inoculação por aspersão em mudas de coqueiro híbrido PB123 que apresentavam oito meses de idade e foram produzidas como se fossem para plantio comercial. Para cada tratamento foram utilizadas dez mudas, totalizando quarenta mudas, incluindo a testemunha. Das dez plantas, cinco foram mantidas sem ferimentos e cinco foram submetidas a ferimentos nos folíolos, com agulha esterilizada. O inóculo de cada fungo (C. pteridis, B. incurvata e Pestalotiopsis sp.) foi preparado na concentração de 1 x 10 8 conídio ml -1 e aplicado por aspersão sobre os folíolos das mudas. As mudas testemunhas receberam aspersão com água esterilizada. Após a inoculação e a aspersão com água nas testemunhas, as mudas foram cobertas com plástico transparente por 72 horas, para produzir a umidade necessária para as fases de germinação e penetração do fungo no tecido vegetal. As plantas inoculadas foram mantidas à distância de 50 cm uma das outras e submetidas a regime de nebulização por 72 horas, para manutenção da umidade no ambiente do telado. A avaliação foi realizada no décimo quarto dia após a inoculação. As divergências encontradas entre os relatos do agente causal da mancha foliar do coqueiro são, provavelmente, devidas ao sinergismo provocado pela ocorrência desses três patógenos. O presente trabalho revela que apenas B. incurvata mostrou capacidade de iniciar o processo infeccioso, sugerindo que os outros fungos, C. pteridis e Pestalotiopsis sp., associados às lesões da mancha foliar, atuam como secundários ou oportunistas. Este é o primeiro relato de B. incurvata como o agente causal da mancha foliar do coqueiro no Estado do Pará. Nas condições ambientais da região Norte, C. pteridis e Pestalotiopsis sp. foram considerados fungos secundários ou oportunistas. 3 Resultados e Discussão 3.1 Teste de Patogenicidade A reação de folhas destacadas no campo e levadas para o laboratório e de folhas de mudas de coqueiro da variedade PB123 com oito meses de idade ao teste de patogenicidade realizado com os fungos C. pteridis, B. incurvata e Pestalotiopsis sp., em inoculações realizadas com e sem ferimentos, mostrou que somente o fungo Bipolaris incurvata causou infecção tanto nas folhas sem, quanto nas folhas com ferimento, após o período de incubação. O período de incubação foi de dois dias em folhas com ferimentos e de oito dias em folhas sem ferimentos. Os sintomas produzidos nos testes de patogenicidade pelo fungo B. incurvata nas folhas coletadas no campo e nas mudas obtidas do viveiro (Figuras 3 e 4) caracterizaram-se por apresentar lesões semelhantes às observadas no campo (Figura 2). No Brasil, Warwick et al. (1998) e Gazel Filho et al. (1999) relataram ser B. incurvata o agente causal da mancha foliar em coqueiro, concordando com o resultado deste trabalho. 67 Figura 3 - Sintoma de mancha no viveiro Figura 4 - Sintoma de mancha no campo provocado por Bipolaris incurvata provocado por B. incurvata

Miranda et al. / Rev. Ci. Agra., v.53, n.1, p.64-69, Jan/Jun 2010 4 Conclusão Nos testes realizados ficou comprovado que Bipolaris incurvata é o agente causal da mancha foliar do coqueiro nas condições ambientais, na Região Norte do Brasil. Os fungos Cylindrocladium pteridis e Pestalotiopsis sp. são agentes secundários ou oportunistas. Referências ALEXOPOULOS, C.J.; MINS, C.W. Introductory mycology. 4th ed. New York: J. Wiley, 1979. 632p. ALFENAS, A.C.; ZAUZA, E.A.V.; MAFIA, R.G.A. Clonagem e doenças do eucalipto. Viçosa: Editora da UFV, 2004. 442p. ANJOS, J.R.N.; CHARCHAR, M.J.A.; RAMOS, V.H.V. Manchas foliares causadas por Pestalotiopsis guepinii em coqueiro no Distrito Federal. Fitopatologia Brasileira, v.25, n.2, p.203, 2000. ARAÚJO, J.C.A.; GASPAROTTO, L. de; GARCIA, M.V.B. Epidemiologia de Pestalotiopsis spp em dendezeiro. Fitopatologia Brasileira, v.16, n.2, p.33, 1991. CARDOSO, D.C.; BARRETO, L.; ARAÚJO, E. Etiologia e progresso de mancha de Pestalotia do coqueiro (Cocos nucifera L.), em São Gonçalo, Paraíba. Revista Brasileira de Fruticultura, v.25, n.2, 2003. CROUS, P.W. Taxonomy and pathology of Cylindrocladium (calonectria) and Allied Genera. St. Paul: APS Press, 2002. 278p. GASPAROTTO, L. et al. Mancha foliar do coqueiro causada por Bipolaris incurvata. Manaus: Embrapa, CPAA, 1999. (Instruções Técnicas, 2). GAZEL FILHO, A.B.; POLTRONIERI, L.S.; MENEZES, A.J.E.A. de; LIMA, J.A. de S. Ocorrência de Helmintosporiose (Dreschslera incurvata) em coqueiro (Cocos nucifera L) no Estado do Amapá. Macapá: Embrapa Amapá, 1999. (Comunicado Técnico, 26). KOBAYASHI, T. Coconut palm diseases. In: TANAKA, H.; HIROYUKI, I.; TOKUJI, K. Diseases of tropical fruit trees. Tokio: Aicaf, 1995. p.79-82. NUNES, M.A.L. Comportamento ecofisiológico de bananeiras (Musa spp) em solo artificialmente infestado com Fusarium oxysporum f. sp. cubense (E. F. Smith) Sn. & Hansen. 2000. Tese (\Doutorado em Ciências Biológicas) UFPA. Centro de Ciências Biológicas/ MPEG/Embrapa Amazônia Oriental, Belém, 2000. QUILLEC, G.; RENARD, J.L. L helminthosporiose du cocotier: études preliminaires. Oleagineaux, v. 30, n.5, p.209-213, 1975. RAM, C.. Microflora associada à queima-das-folhas do coqueiro. Fitopatologia Brasileira, v.14, n.4, p.36-38, 1989. SILVA,G.S.; SOUZA, E.A.P. Mancha foliar do coqueiro causada por Cylindrocladium pteridis Wolf. Fitopatologia Brasileira, v.6, n.3, p.515-517,1981. TRINDADE, D.R.; POLTRONIERI, L.S. Ocorrência de mancha foliar em coqueiro causada por Cylindrocladium pteridis no Estado do Pará. Fitopatologia Brasileira, v.1, n.3, p.412, 1998. WARWICK, D.R.N. Coco: (Cocos nucifera L.): controle de doenças. In: VALE, F.X.R. do; ZAMBOLIM, L. (Eds.). Controle de doenças de plantas: grandes culturas. Viçosa: UFV; Brasília: Ministério da Agricultura e Abastecimento, 1997. p.765-789. 68