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Stomatos ISSN: 1519-4442 ppgpediatria@ulbra.br Universidade Luterana do Brasil Brasil de Oliveira Bridi, Alexandre; Schneider, Luis Eduardo; Ardenghi Vargas, Ivana; Crivellaro Crusius, Kalinka; da Silva Krause, Ricardo Guilherme; Correa Batista, Felipe; Camargo Fontanella, Vânia Regina Análise quantitativa da motivação do paciente de cirurgia ortognática da ULBRA Stomatos, vol. 13, núm. 25, julho-dezembro, 2007, pp. 95-102 Universidade Luterana do Brasil Río Grande do Sul, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=85002504 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Análise quantitativa da motivação do paciente de cirurgia ortognática da ULBRA Alexandre de Oliveira Bridi Luis Eduardo Schneider Ivana Ardenghi Vargas Kalinka Crivellaro Crusius Ricardo Guilherme da Silva Krause Felipe Corrêa Batista Vânia Regina Camargo Fontanella RESUMO O tratamento orto-cirúrgico para as deformidades dento-faciais pode apresentar motivação estética, funcional ou ambas. Contudo, devido à característica agressiva do procedimento cirúrgico ortognático, conhecer e entender os motivos que levam um paciente a submeter-se a este tratamento se torna relevante. O objetivo deste estudo foi avaliar 20 pacientes que procuraram atendimento para cirurgia ortognática no curso de Odontologia da ULBRA (Canoas/RS). Informações sobre idade, sexo, origem étnica, estado civil, nível de escolaridade, profissão, renda, orientação quanto à necessidade de tratamento e motivo do tratamento foram coletadas. Com base nos resultados obtidos, foi traçado um perfil dos pacientes que são atendidos junto ao ambulatório de cirurgia ortognática da ULBRA. Palavras-chave: Análise quantitativa. Cirurgia maxilofacial. Motivação. Motivation quantitative analysis of the ULBRA s orthognathic surgery patient ABSTRACT Dental-facial surgical-orthodontic treatment can present functional, aesthetic motivation or both. Though, duo to aggressive orthognatic surgical procedure characteristic, knowing and understanding the motives that make the patients to choose this modality of treatment are relevant. The aim of this study was evaluate 20 patients who were attended searching by Alexandre de Oliveira Bridi é especialista em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial pelo curso de Odontologia da Universidade Luterana do Brasil. Luis Eduardo Schneider é professor de Cirurgia do curso de Odontologia da Universidade Luterana do Brasil. Ivana Ardenghi Vargas é professora de Ortodontia do curso de Odontologia da Universidade Luterana do Brasil. Kalinka Crivellaro Crusius é aluna do curso de Mestrado em Odontologia da Universidade Luterana do Brasil. Ricardo Guilherme da Silva Krause é professor de Cirurgia do curso de Odontologia da Universidade Luterana do Brasil. Felipe Correa Batista é professor de Cirurgia do curso de Odontologia da Universidade Luterana do Brasil. Vânia Regina Camargo Fontanella é professora de Radiologia do curso de Odontologia da Universidade Luterana do Brasil. Endereço para correspondência: Luis Eduardo Schneider Rua Joaquim Nabuco, 828/1302 Novo Hamburgo/RS - CEP: 93310-002. Fone: (51) 3593.1835. E-mail: leschnei@terra.com.br Stomatos Canoas Stomatos, v.13 v.13, n.25 n.25, jul./dez. p.95-102 2007 jul./dez. 2007 95

orthognatic surgery in ULBRA Dentistry University (Canoas/RS). Information about age, gender, ethnical origin, civil state, school level, profession, remuneration, orientations about the motive and treatment necessity was collected. Based on the results, a profile of the patients who search ULBRA s orthognatic surgery ambulatory was obtained. Key words: Quantitative analysis. Maxillofacial surgery. Motivation. INTRODUÇÃO Conceitualmente, a deformidade dento-facial corresponde a alterações dentárias e/ou esqueléticas que causam uma alteração da função ou uma fisionomia suficientemente negativa para colocar um indivíduo ao largo da média da população (ARNETT; BERGAMN, 1993). Todos os conceitos vigentes para o diagnóstico e idealização do plano de tratamento de pacientes que apresentam alguma deformidade na face remetem ao equilíbrio e a harmonia dos traços faciais através da realização de tratamento ortocirúrgico (ARNETT; BERGAMN, 1993). Devido à característica agressiva do procedimento cirúrgico ortognático, conhecer e entender os motivos que levam um paciente a submeter-se a este tratamento se torna relevante. Muitas são as queixas que levam um paciente a procurar atendimento. Contudo, podemos classificar as principais em dois grupos: as estéticas e as funcionais (com ou sem a associação de sintomatologia dolorosa). Dentre as dificuldades funcionais, as que mais se destacam são as respiratórias e as alimentares (CUNNINGHAM et al., 1995). A iniciativa de procurar recursos cirúrgicos para resolver as possíveis discrepâncias esqueléticas nem sempre vem do próprio paciente, muitas vezes este é estimulado por amigos, familiares ou profissionais (CUNNINGHAM et al., 1995). A cirurgia ortognática envolve mais do que a correção de um problema físico. Segundo Bell et al. (1985) a autopercepção do paciente quanto ao seu problema é mais importante que a percepção do cirurgião ou análises cefalométricas. As necessidades psicológicas dos pacientes devem ser reconhecidas e analisadas, e a comunicação entre profissional e paciente é fundamental. É importante entender que qualquer procedimento que modifique a imagem do corpo pode gerar desordens psicológicas (MANGANELLO; SILVEIRA, 1998; PAVONE et al., 2005; CUNNIGHAM; FEINMANN, 1998). Pacientes que apresentam queixa há longo tempo, são melhores candidatos à cirurgia do que aqueles que recentemente decidiram realizar o tratamento e deve-se tomar cuidado com aqueles pacientes que buscam um ganho secundário com a cirurgia, como um emprego melhor ou um relacionamento amoroso, assim como aqueles pacientes que desejam resolver um problema estético muito pequeno do ponto de vista anatômico, pois se eles não perceberem uma mudança significativa ficarão desapontados (PETERSON; TOPAZIAN, 1976). 96

Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo apresentar o perfil e a motivação do paciente admitido para avaliação e tratamento junto ao serviço de Cirurgia Ortognática da ULBRA, em Canoas. METODOLOGIA Para a obtenção das informações, foram entrevistados 20 pacientes que procuraram atendimento para cirurgia ortognática na ULBRA, em Canoas, no período de 15/03/2006 à 20/12/2006. Para todos os pacientes, um questionário foi utilizado para a orientação da entrevista através do método de questionamento direto. Todas as entrevistas foram realizadas na primeira consulta ao ambulatório de cirurgia ortognática da ULBRA e sempre pelo mesmo entrevistador. RESULTADOS A média de idade dos pacientes entrevistados foi de 24,5 anos, com idades oscilando entre 15 e 37 anos. Oito pacientes eram do gênero masculino e doze do gênero feminino, o que corresponde a 40% e 60% da totalidade de entrevistados respectivamente. A distribuição dos entrevistados quanto à idade encontra-se na Figura 1 e quanto ao gênero na Figura 2. 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 15 16 18 19 22 23 24 25 27 28 31 35 37 FIGURA 1 Distribuição dos pacientes quanto a idade. 12 8 Masculino Fem inino FIGURA 2 Gênero dos pacientes. Os 20 pacientes argüidos eram da raça branca, sendo 16 solteiros (80%), 2 casados (10%) e 2 divorciados (10%) (Figura 3). Dois pacientes não haviam completado o primeiro grau (10%), cinco não haviam completado o segundo grau (25%), cinco 97

possuíam o segundo grau completo (25%) e oito ingressaram na universidade (40%) sem, no entanto, haver concluído (Figura 4). Dezesseis pacientes possuíam renda, sendo que a renda média entre estes pacientes foi de R$612,50 (Figura 5). 2 2 Solteiros Casados Divorciados 16 FIGURA 3 Distribuição dos pacientes quanto ao estado civil. 8 7 6 5 4 3 2 1 0 1 Grau Inc. 2 Grau Inc. 2 Grau Compl. 3 Grau inc. FIGURA 4 Distribuição dos pacientes quanto ao nível de escolaridade. 1200 1000 800 600 400 200 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 FIGURA 5 Renda dos pacientes. Entre os motivos que levaram os pacientes até o ambulatório de cirurgia ortognática da ULBRA, dois relataram ter procurado atendimento por livre e espontânea vontade (10%), seis foram encaminhados pelo dentista clínico (30%), nove tiveram a orientação do dentista especialista em ortodontia (45%), um procurou atendimento por conselho familiar (5%), um devido aos amigos (5%) e um por orientação do cirurgião bucomaxilofacial (5%). A respeito da motivação para se submeterem a um procedimento cirúrgico, os motivos funcionais corresponderam a 40% (8 pacientes), os estéticos a 15% (3 98

pacientes) e os funcionais e estéticos a 45% (9 pacientes). Contudo, 33,33% dos pacientes do sexo feminino (4 pacientes) relataram problemas apenas funcionais, 16,66% (2 pacientes) relataram problemas exclusivamente estéticos e 50% (6 pacientes) relataram problemas funcionais associados a problemas estéticos. Dos pacientes do sexo masculino, estes percentuais foram de 50% (4 pacientes), 12,5% (1 paciente) e 37,5% (3 pacientes) respectivamente (Figura 6). 6 5 4 Funcionais 3 Estéticos 2 Funcionais e 1 Estéticos 0 Masculino Feminino FIGURA 6 Distribuição dos pacientes quanto ao gênero e motivação. Dentre os pacientes que apresentaram alguma queixa funcional, 76,47% (13 pacientes) relataram sensação dolorosa e 23,53% (4 pacientes) não se queixavam de dor. Dos pacientes que sentiam dor, 38,46% (5 pacientes) relataram que esta dor causava limitação e 61,54% (8 pacientes) disseram que a dor não gerava limitação (Figura 7). 14 12 10 8 6 4 Sem limitação Com limitação 2 0 Com dor Sem dor FIGURA 7 Distribuição dos pacientes quanto a dor e limitação. Entre os pacientes entrevistados, 55% (11 pacientes) respiravam pelo nariz e 45% (9 pacientes) respiravam pela boca. Dos respiradores nasais, 90,90% (10 pacientes) respiravam por ambas as narinas e 9,1% (1 paciente) respirava apenas pela narina direita. Quanto à fisionomia, 85% (17 pacientes) esperavam alterações, enquanto que 15% (3 pacientes) não esperavam tais alterações. 99

DISCUSSÃO A forma como o paciente percebe sua imagem perante si mesmo e perante os outros é de fundamental importância para o plano de tratamento em cirurgia ortognática. Segundo Bell et al. (1985), muitas vezes, os problemas percebidos pelo paciente não são exatamente os mesmos percebidos pelo cirurgião. O correto conhecimento quanto ao perfil e a motivação do paciente que se submete a cirurgia ortognática é de fundamental importância para que possamos entender seus anseios e adequar o plano de tratamento a sua realidade e percepção. Dentre os pacientes analisados, percebemos que a média de idade (24,5 anos) regula com os dados encontrados na literatura, estabelecendo assim um perfil de idade do paciente orto-cirúrgico, estreitamente relacionado com a maturação do desenvolvimento facial e a agressividade do procedimento projetado e a condição sistêmica de saúde destes pacientes (OLSON; LASKIN, 1980; FINLAY et al., 1995, SIOW et al., 2002); bem como uma leve predominância do sexo feminino sobre o masculino na procura por este tipo de resolução cirúrgica (FINLAY et al., 1995; OLSON; LASKIN, 1980). Ao observarmos o estado civil desta amostra, percebemos um resultado concordante com os demais dados da literarura ao obtermos 80% de solteiros e 10% de casados e 10% de separados quando comparados com os dados encontrados por Finlay et al. (1995), com 81% solteiros e 19% casados. Não existem dados comparativos na literatura quanto ao nível de escolaridade e renda dos pacientes, no entanto, considerando a média da população brasileira, podemos afirmar que os pacientes apresentam um bom nível de escolaridade e de compreensão, como também, verificamos que o poder aquisitivo dos pacientes atendidos no ambulatório de cirurgia ortognática é baixo, no entanto, todos os que efetivamente trabalham recebem pelo menos 1 salário mínimo. Assim como Cunningham et al. (1995), observamos no presente estudo que os principais motivos que levam o paciente a procurar tratamento com o serviço de cirurgia ortognática são os funcionais e estéticos e que o ortodontista é o principal responsável pelo diagnóstico e encaminhamento destes pacientes. Olson, Laskin (1980) encontraram que 61% dos pacientes esperavam melhoras quanto a estética, isto foi observado da mesma maneira em nosso trabalho, onde 60% dos pacientes disseram esperar alguma modificação na aparência. Os pacientes do sexo masculino associaram com maior freqüência a necessidade de realizar cirurgia a problemas funcionais. Isto, no entanto, pode estar escondendo uma dificuldade cultural dos homens assumirem a vaidade. Outro fato relevante é que apenas 15% dos pacientes relataram problemas exclusivamente estéticos, o que pode ter sido estimulado pelo receio de não conseguir realizar a cirurgia por motivos estéticos, visto que muitos casos são realizados pelo SUS. Percebemos que a maioria absoluta dos pacientes, de ambos os sexos, 83,33% das mulheres e 87,5% dos homens, associou problemas funcionais aos motivos cirúrgicos, assim como percebido por Modig et al. (2006) e Forssell et al. (1998), o que difere dos resultados encontrados por Finlay et al. (1995), 100

onde do total de 61 pacientes, 52% citaram as modificações estéticas como o principal motivo para submeterem-se à cirurgia ortognática. CONCLUSÕES Os dados obtidos neste estudo concordam com os resultados dos estudos mais completos encontrados na literatura mundial, contudo, verificamos que a variação entre as metodologias utilizadas dificulta o cruzamento de informações e a possibilidade de maiores discussões sobre os resultados. Consideramos a necessidade de realizar mais estudos com a finalidade de perceber o perfil e as aspirações de nossos pacientes em cirurgia ortognática, principalmente no Brasil, onde temos características sócioeconômicas bastante diferentes dos demais paises que produzem grande parte dos resultados disponíveis. REFERÊNCIAS ARNETT, G. W.; BERGMAN, R. T. Facial keys to orthodontic diagnosis and treatment planning. Part I. Am J Orthod Dentofacial Orthop, v.103, n.4, p.299-312, 1993. ARNETT, G. W.; BERGMAN, R. T. Facial keys to orthodontic diagnosis and treatment planning. Part II. Am J Orthod Dentofacial Orthop, v.103, n.5, p.395-411, 1993. BELL, R. et al. Perceptions of facial profile and their influence on the decision to undergo orthognathic surgery. Am J Orthod, v.88, n.4, p.323-32, 1985. CUNNINGHAM, S. J.; FEINMANN, C. Psychological assessment of patients requesting orthognathic surgery and the relevance of body dysmorphic disorder. Br J Orthod, v.25, n.4, p.293-8, 1998. CUNNINGHAM, S. J.; HUNT, N. P.; FEINMANN, C. Psychological aspects of orthognathic surgery: a review of the literature. Int J Adult Orthodon Orthognath Surg, v.10, n.3, p.159-72, 1995. FINLAY, P. M.; ATKINSON, J. M.; MOOS, K. F. Orthognathic surgery: patient expectations; psychological profile and satisfaction with outcome. Br J Oral Maxillofac Surg, v.33, n.1, p.9, 1995. FORSSELL, H. et al. Expectations and perceptions regarding treatment: a prospective study of patients undergoing orthognathic surgery. Int J Adult Orthodon Orthognath Surg. 1998;13(2):107-13. MANGANELLO, L. C.; SILVEIRA, M. E. Cirurgia ortognática e ortodontia. 1.ed. São Paulo: Santos; 1998. MODIG, M.; ANDERSSON, L.; WARDH, I. Patients perception of improvement after orthognathic surgery: pilot study. Br J Oral Maxillofac Surg, v.44, n.1, p.24-7, 2006. OLSON, R. E.; LASKIN, D. M. Expectations of patients from orthognathic surgery. J Oral Surgery, v.38, n.4, p.283-5, 1980. PAVONE, I. et al. Psychological impact of self-image dissatisfaction after orthognathic surgery: a case report. World J Orthod, v.6, n.2, p.141-8, 2005. 101

PETERSON, L. J.; TOPAZIAN, R. G. Psychological considerations in corrective maxillary and midfacial surgery. Journal of Oral Surgery, v.34, n.2, p.157-64, 1976. SIOW, K. K. et al. Satisfaction of orthognathic surgical patients in a Malaysian population. J Oral Sci, v.44, n.3-4, p.165-71, 2002. Recebido em: 20/07/2007 Aceito em: 23/11/2007 102

Análise comparativa da microinfiltração marginal em retrobturações com MTA e cimento ionômero de vidro Ingeburg Hellwig Cláudia Marcela Hernandes Cancino Andrea Cabral de Mello Vanzin João Batista Blessmann Weber Marília Gerhardt de Oliveira RESUMO As cirurgias parendodônticas expõem e removem ápices dentais, promovem retrocavitações no longo-eixo dos canais radiculares e as retrobturam com materiais que promovem seu selamento. Esta pesquisa avaliou, in vitro, por intermédio do teste de microinfiltração apical, por corante Rodamina B a 0,2 % e morfometria computadorizada, 30 dentes humanos permanentes unirradiculares, submetidos a tratamento endodôntico e divididos em três grupos: A apicectomia por broca em 90 graus, retrocavidade com ultra-som e retrobturação com MTA Angelus ; B apicectomia por broca em 90 graus, retrocavidade com ultra-som e retrobturação com Vitremer ; C apicectomia por broca em 90 graus, retrocavidade com ultra-som e retrobturação com MTA ProRoot. A análise comparativa, por meio dos testes estatísticos de Kolmogorov-Smimov, Coeficiente de Correlação de Pearson e Análise de Variância, complementada pelo teste de Tukey, demonstrou que, com o Vitremer, obtiveram-se os melhores resultados, enquanto os dois materiais MTA apresentaram resultados equivalentes. Pode-se considerar os três materiais testados satisfatórios como retrobturadores apicais. Palavras-chave: Apicectomia. Obturação retrógrada. Materiais dentários. Cirurgia bucal. Comparative analises of apical microleakage in apicoectomy with MTA and glass ionomer cement ABSTRACT The purpose of periapical surgery is to remove persistent periapical disease. This procedure consists of exposure and excision of the affected dental apex, root-end cavity preparation, and retrograde filling with a sealing material. This in vitro study used apical microleakage testing, 0.2% Rhodamine B dye penetration, and computer-assisted morphometry to evaluate 30 endodontically-treated, single-rooted permanent human teeth divided in three groups. Specimens Ingeburg Hellwig é Doutora em Odontologia (CTBMF). Cláudia Marcela Hernandes Cancino é Doutora em Odontologia (CTBMF). Andrea Cabral de Mello Vanzin é Mestre em Endodontia (ULBRA). João Batista Blessmann Weber é Doutor em Odontologia (CTBMF). Marília Gerhardt de Oliveira é Professora Titular da PUCRS. Endereço para correspondência: João Batista Blessmann Weber Av. Ipiranga, 6681 Prédio 6. Fone: (51) 3320.3562. E-mail: jbbweber@terra.com.br Stomatos Stomatos, v.13 v.13, n.25 n.25, jul./dez. p.103-112 2007 jul./dez. 2007 103

in the three groups underwent apicoectomy with bur at a 90-degree cutting angle, ultrasonic rootend cavity preparation, and retrograde filling with one of three sealing materials: group A MTA Angelus ; group B Vitremer ; group C ProRoot MTA. Vitremer had the best results in the comparative analysis. The two MTA materials had similar results. Results for the three materials under study were satisfactory for apical retrograde filling. Key words: Apicoectomy. Retrograde obturation. Dental materials. Oral surgery. INTRODUÇÃO A terapia endodôntica convencional tem por objetivo remover bactérias e/ou toxinas e obliterar o sistema de canais radiculares infectados. Algumas vezes, estes canais não podem ser adequadamente tratados devido à complexidade de sua anatomia ou às dificuldades relacionadas com a técnica. Nesses casos, indica-se o retratamento como uma possibilidade terapêutica. Mas se a patologia periapical e/ou o tratamento, por via ortógrada, é impraticável, indica-se a cirurgia paraendodôntica. Esse procedimento inclui exposição cirúrgica do ápice comprometido, amputação do mesmo, preparo cavitário e retrobturação do canal radicular (TORABINEJAD et al., 1995; CALZONETTI et al., 1998; MARZOLA, 2002). O material utilizado na retrobturação é, entre outros, um fator determinante do sucesso na cirurgia parendodôntica; dessa forma, muitos materiais têm sido propostos e utilizados, com o objetivo de encontrar-se um material ideal para ser utilizado em substituição ao amálgama. O material ideal deve oferecer aderência, promover selamento hermético, ser biocompatível, radiopaco, de fácil manipulação e possibilitar um ambiente propício para regeneração tecidual (TORABINEJAD; PITT FORD, 1996). Assim, o objetivo dessa pesquisa foi realizar uma análise comparativa da microinfiltração marginal apical, com corante Rodamina B a 0,5% entre três materiais retrobturadores (dois MTAs e um cimento ionômero de vidro), através de morfometria computadorizada. METODOLOGIA Esta pesquisa, protocolada sob nº 0092/04, foi avaliada e aprovada pela Comissão Científica e de Ética da Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. A amostra foi constituída por 30 dentes humanos permanentes unirradiculares com indicação exodôntica clássica. Após a extração, os dentes foram lavados em água corrente, armazenados em um frasco contendo solução de Cloreto de Sódio a 0,9% e mantidos à temperatura ambiente, por quatro meses. Realizou-se a raspagem do ligamento periodontal e a desinfecção das amostras com Hipoclorito de Sódio a 0,5%, por 48h. As coroas foram removidas, realizando-se um corte na junção amelo-cementária, para padronizar o tamanho das amostras em 16mm. 104

Todos os espécimes foram radiografados (Aparelho Dabi Atlante ) utilizandose filme Kodak ultra-speed número 2, com distância foco filme de 30cm e tempo de exposição de 0,64 segundos. A incidência do Rx foi perpendicular ao longo-eixo das raízes. O processamento dos filmes foi realizado através de uma processadora automática A/T 2000 XR, durante 4 minutos e 30 segundos, a uma temperatura de 82ºF. Realizaram-se três tomadas radiográficas dos mesmos dentes, em diferentes momentos do preparo das amostras: antes do procedimento endodôntico, após o tratamento endodôntico e depois da retrobturação com os materiais estudados. Os 30 dentes selecionados foram tratados endodonticamente por 2 profissionais previamente treinados, utilizando-se a técnica seriada manual (PAIVA et al., 1998). Quarenta e oito horas após a endodontia, os dentes foram armazenados em solução fisiológica, durante um mês. Com o auxílio de uma peça de mão reta e de um disco de diamante, sob irrigação constante com soro fisiológico, a apicectomia foi realizada, distante 3mm do ápice radicular, formando um ângulo reto com o longo-eixo do dente. As cavidades retrógradas foram preparadas através de um sistema ultra-sônico. Todas as amostras foram identificadas por etiquetas plásticas numeradas ordinalmente de 01 a 30, colocadas na região cervical de cada dente. As retrobturações foram, então, realizadas com: agregado trióxido mineral, MTA Ângelus (dentes 01 a 10), cimento de ionômero de vidro Vitremer (dentes 11 a 20) e agregado trióxido mineral, MTA ProRoot (dentes 21 a 30). Os materiais foram manipulados de acordo com as instruções dos fabricantes e inseridos nas cavidades com auxílio de espátulas esterilizadas. A região externa da raiz foi isolada com duas camadas de esmalte cosmético, exceto a região do extremo apical. Todas as raízes tiveram condições iguais de submersão em corante Rodamina B a 0,2% (em recipiente plástico). Este recipiente foi mantido hermeticamente fechado para evitar-se a evaporação do corante que foi removido, lentamente, após 24 horas, e os dentes colocados em compressa cirúrgica para absorção do excesso da solução. Os dentes foram armazenados em temperatura ambiente, por 24 horas, após segunda remoção do corante, delicadamente, com gaze. A divisão das raízes no sentido mésio-distal, foi realizada com um disco diamantado de face dupla. Através de uma máquina digital no modo programado (com exposição de 0,3 EV, distância focal de 0,02m, foco manual, sem flash, resolução de 2560 x 1920 pixels, em qualidade fina, com posterior aumento de 2,2 vezes), fotografou-se a hemi-face dentária mais preservada sobre papel milimetrado. As imagens foram transferidas para o computador. Os resultados foram obtidos utilizando-se a morfometria computadorizada do Software Image Tool. Três examinadores avaliaram, no programa, as imagens com magnificação de 1:4, utilizando a função área e realizando as seguintes mensurações: área total de dentina e área total de dentina impregnada por corante. O valor da área corada foi dividido pelo valor da área total de dentina avaliada, obtendo-se, assim, um número fracionado que corresponde ao percentual de dentina que sofreu infiltração. 105

Para a análise estatística, utilizou-se a média e o desvio padrão. A normalidade dos dados foi verificada através do teste de Kolmogorov-Smirnov, sendo a variável normalmente atribuída. A associação entre as observações dos três avaliadores em relação ao grau de microinfiltração foi analisada pelo Coeficiente de Correlação de Pearson. RESULTADOS A partir das imagens adquiridas e digitalizadas, de acordo com a metodologia descrita, cada um dos três examinadores realizou a morfometria, com o auxílio do Software Image Toll, em uma porção de cada dente seccionado longitudinalmente, para cada um dos grupos (Figura 1). FIGURA 1 Imagem digitalizada no software Image TOOL, com MTA Ângelus. 106

Após a avaliação das amostras, chegou-se a resultados, para cada uma delas, expressos na Tabela 1. TABELA 1 Percentuais de dentina corada que sofreu infiltração, distribuídos de acordo com os materiais, pelos avaliadores 1, 2 e 3. Dentes Avaliador 1 Avaliador 2 Avaliador 3 Material 1 0,456358 0,671757 0,596570 MTA Angelus 2 0,262798 0,308432 0,261544 MTA Angelus 3 0,290030 0,293977 0,297400 MTA Angelus 4 0,709740 0,724246 0,761440 MTA Angelus 5 0,704019 0,339223 0,802025 MTA Angelus 6 0,357926 0,675004 0,563980 MTA Angelus 7 0,549688 0,435723 0,394824 MTA Angelus 8 0,334432 0,343334 0,360822 MTA Angelus 9 0,263102 0,399495 0,344631 MTA Angelus 10 0,377435 0,437521 0,362267 MTA Angelus 11 0,328715 0,346277 0,299467 Vitremer 3M 12 0,269020 0,307598 0,307591 Vitremer 3M 13 0,061499 0,175460 0,061886 Vitremer 3M 14 0,422945 0,484665 0,119093 Vitremer 3M 15 0,030064 0,254612 0,043729 Vitremer 3M 16 0,023014 0,039679 0,024207 Vitremer 3M 17 0,085646 0,080984 0,117463 Vitremer 3M 18 0,304293 0,395239 0,278207 Vitremer 3M 19 0,154450 0,146437 0,167842 Vitremer 3M 20 0,124178 0,151631 0,161748 Vitremer 3M 21 0,231144 0,285781 0,248757 MTA Pro Root 22 0,374444 0,481252 0,284616 MTA Pro Root 23 0,483753 0,685040 0,528037 MTA Pro Root 24 0,533786 0,471112 0,453648 MTA Pro Root 25 0,621859 0,590636 0,707195 MTA Pro Root 26 0,711937 0,790223 0,733271 MTA Pro Root 27 0,466692 0,449722 0,451732 MTA Pro Root 28 0,601099 0,797608 0,551720 MTA Pro Root 29 0,225502 0,821346 0,359296 MTA Pro Root 30 0,278027 0,296785 0,326934 MTA Pro Root 107

A associação entre as observações dos três avaliadores, em relação ao grau de microinfiltração, foi analisada pelo Coeficiente de Correlação de Pearson (Tabela 2). TABELA 2 Correlações, entre os avaliadores, do grau de infiltração. Avaliadores 2 3 1 r = 0,706* r = 0,593* 2 - r = 0,527* * P<0,001 (Teste da Correlação de Pearson). Percebeu-se uma associação positiva significativa entre as observações dos três avaliadores (p<0,001). Desta forma, as observações foram reunidas em uma única variável, sendo calculada a mediana do grau de infiltração em cada dente, para posterior comparação. Para descrever esta variável foram utilizados a média e o desvio-padrão. Para comparação dos materiais, em relação ao grau de microinfiltração, foi aplicada a Análise de Variância. Para complementar essa análise, o Teste de Tukey foi utilizado. Os resultados são apresentados na Tabela 3. Houve diferença estatisticamente significativa entre o Vitremer e os demais materiais estudados, sendo que o ionômero de vidro apresentou um grau de microinfiltração menor. Entre o MTA Ângelus e o MTA ProRoot não houve diferença estatisticamente significativa, ou seja, estes materiais apresentam graus de infiltração semelhantes. Conforme a Tabela 3, o grau de microinfiltração médio no dente ao utilizar-se o ionômero de vidro está contido no intervalo de 0,088 a 0,290, apresentando valores menores que qualquer um dos contidos nos intervalos dos demais materiais. TABELA 3 Comparação, entre os materiais, quanto ao grau de infiltração. Materiais Média Desvio Padrão Mta Ángelus a ** 0,465 0,170 Vitremer b ** 0,189 0,141 Mta ProRoot a ** 0,469 0,154 * P<0,001 (Análise de Variância). ** Letras iguais não diferem pelo Teste de Tukey. Para melhor visualização dos resultados apresentados na tabela 3, os dados foram inseridos no Gráfico 1, representando os intervalos de 95% para a média de microinfiltração de corante com materiais utilizados. 108

,7,6 IC 95% para infiltração média,5,4,3,2,1 0,0 Mta Ângelus Vitremer Mta ProRoot Material GRÁFICO 1 Intervalos de 95% para a média de infiltração, em cada material utilizado. DISCUSSÃO Os materiais utilizados para retrobturar são determinantes no sucesso da cirurgia parendodôntica. Sendo assim, muitos estudos têm sido realizados com o objetivo de encontrar um material que ofereça aderência, promova selamento hermético, seja biocompatível, radiopaco, de fácil manipulação e possibilite um ambiente propício para regeneração tecidual (TORABINEJAD; PITT FORD, 1996; SHIPPER et al., 2004). Da mesma forma, a técnica para realizar esse procedimento, de modo eficaz, também tem sido exaustivamente pesquisada por diversos autores. A opção técnica por retrocavitar o longo-eixo do canal radicular, com ultra-som, e não o longo-eixo da raiz dentária, com broca, é vantajoso por reduzir o risco de perfurações radiculares e possibilitar um acesso mais direto às raízes dentárias (WUCHENICH et al., 1994; ENGEL; STEIMAN,1995; CALZONETTI et al., 1998; GAGLIANI et al., 1998; LEONARDO; LEAL, 1998; BERNABÉ et al., 1999; LOPES; SIQUEIRA Jr., 1999; ZUOLO et al., 1999; VON ARX; WALKER III, 2000.) A apicectomia, nesta pesquisa, foi realizada em 90 com o longo eixo do dente (GILHEANY et al., 1994; GAGLIANI et al., 1998; LEONARDO; LEAL, 1998; LOPES; SIQUEIRA Jr., 1999; VON ARX; WALKER III, 2000) e a retrocavitação, com três milimetros de profundidade (GILHEANY et al., 1994; GAGLIANI et al., 1998; KUGA et al., 1998; LEONARDO; LEAL, 1998; LOPES; SIQUEIRA Jr., 1999; NAVARRE; STEIMAN, 109

2002), objetivando-se diminuir o grau de microinfiltração apical, devido à menor exposição de túbulos dentinários, com esta angulação de corte e profundização cavitária. Vários estudos têm mostrado que o MTA é um material de fácil manipulação, com boa resistência à compressão e capacidade seladora apical, até mesmo pela ligeira expansão que sofre, na presença de umidade (TORABINEJAD et al., 1993; TORABINEJAD et al., 1994; FISCHER et al., 1998; HOLLAND et al., 1999). Os resultados desse experimento também demonstram que não há diferença estatisticamente significante entre o MTA importado e o nacional. Quanto ao Vitremer, Pretorius, Van Herden (1995) relatam que esse material tem um selamento apical efetivo na comparação com o amálgama. Uma facilidade e praticidade em relação à manipulação também é observada. Além de ótimo selamento, o material ionomérico confere boa adaptação às paredes da retrocavidade. Pires (1996) recomenda esse material para retrobturações devido a suas excelentes propriedades. Nesse estudo, observou-se que o Vitremer obteve os melhores resultados quando comparado aos MTAs. Quando se realiza uma pesquisa que avalia materiais odontológicos em retrobturações, a partir do critério da microinfiltração apical, é necessário, também, que se justifique a opção pelo corante. Como o MTA tem Óxido e Cálcio em sua constituição, portanto, gera a descoloração do Azul de Metileno, este fato invibializa o seu uso (GREMPEL et al., 1988; WU et al., 1998) e justifica o da Rodamina B a 0,2%, que não sofre restrições, na literatura científica desponível, quanto à interação com os MTAs e/ou ionômero de vidro (TORABINEJAD et al., 1993; HOSOYA et al., 1995; FIDEL et al., 1997). CONCLUSÕES Os resultados do presente trabalho permitem concluir que: A análise comparativa da microinfiltração marginal, em ápices retrobturados com cimento de ionômero vidro Vitremer, MTA Ângelus e MTA ProRoot demonstrou que o cimento de ionômero vidro apresentou os melhores resultados. Entretanto, os dois MTAs avaliados também podem ser considerados satisfatórios como retrobturadores apicais. REFERÊNCIAS BERNABÉ, P. F. E. et al. Avaliação da capacidade seladora de alguns materiais retrobturadores. Rev Bras Odontol on-line, v.10, n.32, artigo n.14, jan. 2003. Disponível em: <www.abo-go.com.br/robrac/index.htm>. Acesso em: 10 maio 2005. CALZONETTI, K. J. et al. Ultrasonic root end cavity preparation assessed by an in situ impression technique. Oral Surg Oral Med Oral Pathol, v.85, n.3, p.210-5, 1998. 110

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