História do planejamento no Brasil

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Transcrição:

História do planejamento no Brasil 1. Um marco iniciador: o Plano de Metas de JK 2. Alguns antecedentes de 1909 a 1947-54 3. O contexto dos anos 1950 que implicava numa maior intervenção do Estado na economia com o planejamento macro-econômico 4. Os governos militares e o planejamento 5. O planejamento governamental após o final da ditadura militar 6. Um balanço: o que deu certo e porquê em geral o planejamento é um fracasso 7. Os limites do planejamento governamental no Brasil

Alguns antecedentes e precursores do Plano de Metas: o DNOCS (Depto. Nacional de Obras contra as Secas), criado em 1909 com o nome de Inspetoria (IOCS) até receber sua denominação atual em 1945 construção de açudes no Semi-árido Sob o Governo Vargas, são criados: em 1932 o Ministério da Educação e Saúde; em 1933 o Instituto Nacional do Café e o do Açúcar e do Álcool; em 1934 o Conselho Nacional de Comércio Exterior; em 1938 o IBGE e o Conselho Nacional do Petróleo. Sob o Governo Dutra são criadas a Comissão do Vale do São Francisco e a Superintendência do Plano de Valorização econômica da Amazônia; e em 1947 elabora-se o primeiro ensaio de planejamento econômico centralizado no Brasil, o Plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transportes e Energia, os setores privilegiados) recursos externos (40% do total) Em 1951-2, novamente governo GV Comissão Mista Brasil-Estados Unidos e a criação do BNDE, para fomentar o desenvolvimento de setores básicos.

O significado do Plano de Metas (1956-60) *A partir do Plano de Metas, do governo JK+ Pouco a pouco, planejamento e desenvolvimento econômico passaram a ser conceitos associados, tanto para governantes, empresários e técnicos, como para boa parte da opinião pública. (Octávio IANNI) O Plano de Metas, pela complexidade de suas formulações quando comparado com as tentativas anteriores e pela profundidade do seu impacto, pode ser considerado como a primeira experiência efetivamente posta em prática de planejamento governamental no Brasil. (Celso LAFER)

O governo JK teve quatro realizações fundamentais, todas ligadas a algum tipo de planejamento: - o Plano de Metas, - a criação da SUDENE, - a construção de Brasília - a Operação Pan-Americana (OPA), que visava combater pobreza na América Latina.

Por que o planejamento no Brasil foi instituído somente a partir dos anos 1950? 1. Fortalecimento Governo Federal e enfraquecimento dos Estados e (em termos) das oligarquias regionais desde 1927-8. 2. Crise econômica mundial desde anos 1930 e início planejamento no socialismo (URSS, 1922-1929) e no capitalismo com as idéias de Keynes 3. Industrialização e urbanização do Brasil em 1960 já mais de 45% da população vivia em cidades, contra 16% em 1920 e 31% em 1940. 4. Mudanças na vida política com pressões dos EUA para combater comunismo (e promover o desenvolvimento), com crise da política oligárquica tradicional, com avanço do populismo e da percentagem de votantes no país: até 1930 menos de 4% da população nacional votava, percentagem que subiu para 13,4% em 1945 e 17,7% em 1960. 5. Advento de uma classe média urbana cada vez mais numerosa, que reclamava planejamento para resolver problemas econômicos e sociais

O que foi o Plano de Metas? - Um plano com 30 metas (mais Brasília, incluída depois como meta n o 31) abarcando vários setores: indústria (principalm. automobilística), transportes (especialm.rodovias), educação (3,4% do orçamento = formar técnicos), + energia elétrica, +prod. de petróleo, etc. resultados de 30 a 125% do previsto Crescimento econômico anual médio de 7,7% de 1956 a 60 é maior do que antes (1945-60) e depois (1961-67) O governo JK ficou marcado por dois aparentes sucessos: a expansão da indústria automobilística no Brasil e a construção de Brasília, além de estradas até a nova capital federal (Belém-Brasília, Brasília-SP, Brasília-BH, etc.).

O contexto da época ajuda a compreender forte crescimento econômico do período 1956-60 e a ausência de grandes crises políticas (como antes e depois): a) forte inflação devido emissão moeda para elevar receita governamental; b) empréstimos externos, c) cooptação de intelectuais (ISEB), militares e (certos) políticos de oposição d) conjuntura internacional favorável = EUA vendo com bons olhos crescimento poder Estado na AL (garantia dos investimentos), os eurodólares, a expansão das multinacionais...

Planejamento após o governo JK: Criação do Ministério do Planejamento, em 1961, sob o governo de Jango, mas com pouca eficácia devido à crise política dos governos JQ e JG com enfraquecimento dos investimentos estrangeiros, diminuição dos empréstimos, etc. Houve o abortado e polêmico Plano Trienal de 1962-65, elaborado por Celso Furtado no governo JG O planejamento mais eficaz só vai ocorreu a partir de 1972, durante o regime militar. De 1964 a 72 existe uma forte disputa entre os militares (a linha-dura versus os castellistas ou mais liberais). O governo Castello Branco (1964-67) fez O Plano de Ação Econômica do Governo(PAEG) visando mais combater a inflação; também criou o IPEA e a SUDAM, fez o Estatuto da Terra, visando a reforma agrária (que ficou só no papel). Também se elaborou o Plano Decenal, na passagem do governo CB para Costa e Silva, mas que não foi aplicado.

Os PND s (Planos Nacionais de Desenvolvimento) 1972: I PND (1972-4), governo Médici = grandes projetos integração nacional (Transamazônica, Três Marias, Rio-Niterói...) e expansão das fronteiras agrícolas 1975: II PND (1974-9), governo Geisel = continua anterior + Proálcool + Itaipu + fortalecimento da Petrobrás... Período 1968 a 79 foi o do milagre brasileiro (economia cresceu a taxas de 9 até 14% ao ano), que visava transformar o Brasil num país desenvolvido e foi favorecido pelos petrodólares, pelo aumento investimentos estrangeiros, pelo clima de confiança devido à (relativa) estabilidade política, etc.

A crise dos anos 1980 e a precariedade do planejamento Contexto: crise da dívida, diminuição investimentos estrangeiros, inflação novamente em alta, carência de tecnologia, sistema educacional precário (mão-de-obra pouco qualificada para a nova revolução industrial), péssima distribuição social da renda... Planos mais monetários, visando combater a inflação: Seis no total (média de duração de 18 meses cada), que diminuíam a inflação no começo, mas ela voltava com força total depois de alguns meses, pelo menos até 1993 = Plano Cruzado (1985), Plano Cruzado II (1987), Plano Bresser (1987), Plano Collor (1990) e Plano Real (dezembro de 1993). A nova Constituição (1988) impõe a obrigatoriedade dos PPA (Planos Pluri-anuais)

Planos nos governos Itamar e FHC PPA (Plano Pluri-Anual) 1991-96 = ficou só no papel (apenas burocracia para atender à Constituição de 88) PPA 1996-1999, já no governo FHC eixos nacionais de integração (novas tecnologias, transportes, energia e telecomunicações) PPA 2000-2003 = Lei de Responsabilidade Fiscal, controle das despesas públicas... Contexto internacional desfavorável: crise econômica que afetou crescimento do Brasil: Crise do México (1994), Crise da Rússia (1997), Crise financeira da Ásia (1998)... Secretaria de Assuntos Estratégicos (que depois mudou de nome no governo Lula) criou em 1998 o Plano Brasil 2020, visando combater pobreza, promover novas tecnologias, melhorar ensino... ficou no papel

Planos no governo Lula PPA 2004-2007: junção de vários projetos de todos os ministérios (Educação, Relações Exteriores, Cidades, Saúde, Minas e Energia, Comunicações, Integração Nacional...) com inúmeras obras (ou intenções) esperadas destaque para investimentos sociais ( Fome zero, que depois se resumiu ao bolsa família ), relações exteriores (ampliação do Mercosul) e continuação política de combate à inflação e atração investimentos estrangeiros. PPA 2008-2011: continuação do anterior = com os PAC s (planos de aceleração do crescimento, conjunto de obras) + petróleo + bioenergia + novos parceiros comerciais + melhorias na educação e saúde (> inclusão) + crescimento do PIB com inflação sob controle.

As mudanças no conceito de planejamento para o desenvolvimento Após a Segunda Guerra Mundial diminui a pura ênfase no econômico (aumento do PIB) e passa a incorporar a dimensão humana e social (por ex., conceito de IDH, surgido no final dos anos 1980) A partir dos anos 1970, devido ao crescimento da consciência ambiental, passa a incorporar a dimensão ecológica e conservacionista sustentabilidade ecológica, social, econômica, demográfica, cultural...

Quais os limites para o planejamento governamental no Brasil? Falta de continuidade Frágil sistema político-partidário, predomínio de interesses eleitorais pessoais ou de grupelhos Corrupção generalizada Sistema judiciário obsoleto Falta de coordenação com setor privado (burocracia, excesso impostos, extorsão...) Predomínio valores patrimonialistas e interesses regionais ou locais fortes Baixa escolaridade média da população e precária cultura política