DEPARTAMENTO DE AGRONOMIA ADUBOS E ADUBAÇÃO CALAGEM

Documentos relacionados
Manejo de Solos. Curso de Zootecnia Prof. Etiane Skrebsky Quadros

ACIDEZ DO SOLO CORREÇÃO DO SOLO. ph DO SOLO CORREÇÃO DO SOLO. ph DO SOLO. ph DO SOLO ACIDEZ ATIVA ACIDEZ TROCÁVEL ACIDEZ NÃO TROCÁVEL ACIDEZ POTENCIAL

Fertilidade do solo e Nutrição de Plantas Notas de aula

Feijão. 9.3 Calagem e Adubação

MANEJO DO SOLO PARA O CULTIVO DE HORTALIÇAS

É correto afirmar: Os solos da Amazônia em geral têm ph ácido?. ph logaritmo do inverso da [H + ]

A Cultura do Algodoeiro

MILHO PARA OS DIFERENTES NÍVEIS TECNOLÓGICOS

Prof. Francisco Hevilásio F. Pereira Cultivos em ambiente protegido

MILHO PARA OS DIFERENTES NÍVEIS TECNOLÓGICOS

A Cultura da Cana-de-Açúcar

DA NECESSIDADE DE CALCÁRIO (NC) Dr. José Ribamar Silva

6 CALAGEM E ADUBAÇÃO

Recomendação de calagem e adubação

Continente asiático maior produtor (80%) Arroz sequeiro perdendo área para milho e soja

Calagem e gessagem na cultura dos citros. Prof. Dr. José Eduardo Creste Presidente Prudente - SP

Cálcio Magnésio Enxofre

REAÇÃO DO SOLO. Atributos físicos e químicos do solo -Aula 11- Prof. Alexandre Paiva da Silva INTRODUÇÃO. Solos ácidos: distribuição geográfica

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Campus Experimental de Dracena Curso de Zootecnia Disciplina: Fertilidade do solo e fertilizantes

RECOMENDAÇÃO DE CALAGEM PARA OS ESTADOS DO RS E SC

ACIDEZ, CALAGEM E GESSAGEM

Nutrição, Adubação e Calagem

Recomendação de adubação e correção de solo para cultura da Cana-de-açúcar

Quadro 1 - Fatores para conversão de unidades antigas em unidades do Sistema Internacional de Unidades.

Unidade IX. José Ribamar Silva

UTILIZAÇÃO DA LAMA ABRASIVA DO MÁRMORE PARA CALAGEM, CORREÇAO DE ACIDEZ DO SOLO E ADIÇÃO DE MACRO E MICRONUTRIENTES

REAÇÃO DO SOLO E CALAGEM

6.3 CALAGEM E ADUBAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO SOLO

SUMÁRIO. Capítulo 1 ESCOPO DA FERTILIDADE DO SOLO... 1

Propriedades Químicas

CULTURA DA SOJA: NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO. Disciplina: Culturas de Plantas Oleaginosas Curso: Agronomia Responsável: Fernando Celoto

5. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES DE SOLOS

ADUBAÇÃO DE CULTURAS ANUAIS EM SOLOS ARENOSOS. Heitor Cantarella

NITROGÊNIO. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Campus Experimental de Dracena Faculdade de Zootecnia

REAÇÃO DO SOLO E CALAGEM

Condicionadores de solo - Uso eficiente do gesso agrícola

Manejo da Fertilidade do Solo para implantação do sistema ILP

Fertilidade de Solos

Condicionadores de solo - Uso eficiente do gesso agrícola

INTRODUÇÃO. Análise do solo CALAGEM E ADUBAÇÃO DE PRÉ-PLANTIO

Recomendação de correção e adubação para tomate de mesa. Giulia Simioni Lívia Akasaka Patrick Oliveira Samara Barbosa

Recomendação de Correção de Solo e Adubação de Feijão Ac. Felipe Augusto Stella Ac. João Vicente Bragança Boschiglia Ac. Luana Machado Simão

Adubação do Milho Safrinha. Aildson Pereira Duarte Instituto Agronômico (IAC), Campinas

Fertilidade de Solos

NUTRIÇÃO EQUILIBRADA DO CAFEEIRO. ROBERTO SANTINATO 40º CBPC Serra Negra - SP

Fertilidade do solo para culturas de inverno

Carlos Alberto Vasconce//os Hélio Lopes dos Santos Gonçalo Evangelista de França 1. INTRODUÇÃO

Sumário CALCÁRIO CALCINADO AGRÍCOLA - DESCRIÇÃO... 1 CALCÁRIO CALCINADO AGRÍCOLA - INSTRUÇÕES... 2 MINERCAL + S - DESCRIÇÃO...

Soluções Nutricionais Integradas via Solo

Gestão da fertilidade do solo no sistema soja e milho

Cultura da Cana-de-açúcar. Profª Msc. Flávia Luciane Bidóia Roim

MCC I Cal na Construção Civil

Indicações para equilíbrio das bases no solo. Alysson Vilela Fagundes Eng. Agr.Fundação Procafé

Adubação na Cultura de Milho

Manejo Regenerativo de Solos para Citricultura.

ADUBAÇÃO DO SISTEMA SOJA-MILHO- ALGODÃO

CALAGEM COMPACTA O SOLO? FATOS E HIPÓTESES

Conceitos Básicos sobre Fertilidade de Solo

Magnésio Nutrição Mineral de Plantas MAGNÉSIO. Prof. Volnei Pauletti. Departamento de Solos e Engenharia Agrícola

POTÁSSIO, CÁLCIO E MAGNÉSIO NO SOLO

Nutrição e Adubação Cana-de-açúcar. Fabiana Fernandes Doutoranda UNESP Ilha Solteira 2016

Otrigo é uma das principais culturas para produção

BPUFs para milho em Mato Grosso do Sul informações locais. Eng. Agr. M.Sc. Douglas de Castilho Gitti

O SOLO COMO F0RNECEDOR DE NUTRIENTES

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CAL

MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO: Amostragem, interpretação, recomendação de calagem e adubação.

Calagem no Sistema Plantio Direto para Correção da Acidez e Suprimento de Ca e Mg como Nutrientes

Recomendação da quantidade de fósforo

CLAUDINEI KURTZ Eng. Agrônomo, Dr. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

Eco new farmers. Módulo 2 Solos e nutrientes vegetais. Sessão 2 O sistema planta/solo

Construção de Perfil do Solo

Fabio Vale. Eng o Agr o, Dr. Adubai Consultoria

Enxofre Nutrição Mineral de Plantas ENXOFRE. Prof. Volnei Pauletti. Departamento de Solos e Engenharia Agrícola

HORTICULTURA EM MODO BIOLÓGICO

Recomendação de correção e adubação para a cultura do milho

CORRETIVOS DE ACIDEZ DOS SOLOS: CARACTERÍSTICAS E INTERPRETAÇÕES TÉCNICAS.

A cultura da soja. Recomendação de correção e adubação

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRONÔMICA NUCLEO DE GEOLOGIA PROPRIEDADES DO SOLO. Profa. Marciléia Silva do Carmo

Café. Amostragem do solo. Calagem. Gessagem. Produtividade esperada. Espaçamento (m)

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Campus Experimental de Dracena Curso de Zootecnia MICRO UTRIE TES. Prof. Dr.

APRESENTAÇÃO: FERTILIZANTE TERRAPLANT

Sistema Embrapa de Produção Agroindustrial de Sorgo Sacarino para Bioetanol Sistema BRS1G Tecnologia Qualidade Embrapa

Para os silicatos as condições são brandas!

A EXPERIÊNCIA DO AGRICULTOR/ PESQUISADOR NA BUSCA DA ALTA PRODUTIVIDADE

GASPAR H. KORNDÖRFER RFER UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA

Adubação de plantio para Eucalyptus sp.

Enxofre Nutrição Mineral de Plantas ENXOFRE. Prof. Volnei Pauletti. Departamento de Solos e Engenharia Agrícola

Recomendação de Calagem e Adubação para Plantações Florestais Prof. José Leonardo M. Gonçalves ESALQ/USP

MATERIAL de TREINAMENTO

Comunicado Técnico 53

BPUFs para Sistemas de Produção Envolvendo o Trigo

DIAGNOSE FOLIAR EM MILHO E SORGO

Estratégias de manejo do solo e fertilidade

Cultura da Soja Recomendação de Correção e Adubação

Recomendação de corretivos e fertilizantes para a cultura do café

Recomendação de adubação para soja

Palavras chave: doses de calcário, ph do solo, formas de manejo, produção.

CARACTERÍSTICAS DOS FERTILIZANTES MINERAIS E ORGÂNICOS

Transcrição:

DEPARTAMENTO DE AGRONOMIA ADUBOS E ADUBAÇÃO CALAGEM Prof. Dr. Gaspar H. Korndörfer Universidade Federal de Uberlândia PORQUE OS SOLOS ÁCIDOS DEVEM RECEBER CALAGEM? A acidez do solo afeta o crescimento das plantas de várias formas. Sempre que o ph é baixo (a acidez é alta) um ou mais efeitos detrimentais podem afetar o crescimento das culturas: 1 - Concentrações de elementos, tais como o Al e o Mn, podem atingir níveis tóxicos, porque sua solubilidade aumenta nos solos ácidos; 2 - Os organismos responsáveis pela decomposição da matéria orgânica e pela liberação de nitrogênio, fósforo e enxofre podem estar em pequeno número e com pouca atividade; 3 - O Ca pode ser deficiente quando a CTC do solo é baixa. O mesmo pode acontecer como o Mg; 4 - A fixação simbiótica de N pelas leguminosas é severamente reduzida. A fixação simbiótica requer uma amplitude de ph mais estreita para o crescimento ótimo das plantas do que no caso de plantas não fixadoras de N. A bactéria simbiótica da soja é mais eficiente em ph variando de 6,0 a 6,2. 5 - Os solos argilosos, com alta acidez, são menos agregados. Isto causa baixa permeabilidade e aeração, um efeito indireto, motivo pelo qual os solos que receberam calagem produzem mais resíduos das culturas. Os resíduos favorecem a estrutura; 6 - A disponibilidade de nutrientes como o P e o Mo é diminuída. A calagem dos solos ácidos corrige essas condições anteriores. Ela também diminui a tendência de lixiviação do potássio. Os calcários magnesianos e dolomítico fornecem cálcio e magnésio, sendo ambos essenciais para o crescimento das plantas. COMO O CALCÁRIO REDUZ ACIDEZ DO SOLO? Os processos e as reações pelos quais o calcário reduz a acidez do solo são muito complexos, mas uma simplificação é apresentada a seguir: Como foi mencionado anteriormente, o ph e um solo é uma expressão da atividade do íon H +. O calcário reduz a acidez do solo (eleva o ph) pela conversão de alguns desses íons H + em água. A reação acontece assim: Solo-H + CaCO 3? Solo-Ca + H 2 O + CO 2

Lembre-se de que o inverso desse processo também pode ocorrer. Um solo ácido pode tornar-se mais ácido se um programa de calagem não for seguido. À medida que os íons básicos como Ca 2+, Mg 2+ e K + são removidos, geralmente por absorção pelas culturas, eles podem ser substituídos por H +. Estes íons básicos também podem ser perdidos por lixiviação, novamente sendo substituídos por H +. A atividade do H + aumentará continuamente, abaixando o ph do solo, se não for feita a calagem adequada. ÉPOCA E FREQUÊNCIA DAS APLICAÇÕES DE CALCÁRIO Para rotações que incluem leguminosas, o calcário deve ser aplicado entre três a seis meses antes da semeadura, especialmente em solos muito ácidos. A calagem feita poucos dias antes do plantio da alfafa ou do trevo, por exemplo, geralmente produz resultados decepcionantes, porque o calcário pode não ter tido tempo suficiente para reagir com o solo. Se uma leguminosa como o trevo é plantada após o trigo de outono, o calcário deve ser aplicado no plantio do trigo. Independente da cultura, o calcário deve ser aplicado com a devida antecedência ao plantio para permitir a reação com o solo. As formas cáusticas de calcário (óxido de cálcio e hidróxido de cálcio) devem ser espalhadas com bastante antecedência ao plantio para prevenir danos às sementes na germinação. As afirmações generalizadas sobre a frequência da calagem são provavelmente inadequadas. Muitos fatores estão envolvidos. A melhor maneira para se determinar a necessidade de uma nova calagem, é analisando-se o solo. As amostras de solo devem ser feitas a cada três ou cinco anos - mais frequentemente em solos arenosos. Os seguintes fatores influenciarão a frequência da calagem. Textura do solo - Os solos arenosos precisam receber nova calagem com mais frequência do que os solos argilosos; Dose de adubação nitrogenada - Altas doses de adubos NH 4 + (amoniacais) geram considerável acidez; Taxa de remoção pelas culturas - As leguminosas removem mais Ca e Mg do que as não leguminosas; Quantidade de calcário aplicada - Doses mais elevadas normalmente significam que o solo não necessita de nova calagem com frequência. Não abuse do calcário. LOCALIZAÇÃO DO CALCÁRIO O fator mais importante, que determina a eficiência do calcário, é a sua localização. É essencial que a incorporação seja feita de modo a permitir o máximo contato com o solo da camada arável. Os materiais calcários mais comuns são apenas ligeiramente solúveis em água, assim sendo, é absolutamente necessária a incorporação para que ocorra a reação do calcário. Mesmo quando adequadamente misturado ao solo, o calcário terá pouco efeito sobre o ph, se o solo estiver seco. A umidade é essencial para que o calcário reaja no solo. Quando grandes quantidades de calcário são aplicadas em solos argilosos, a mistura fica mais bem feita aplicando-se uma parte antes da aração, e outra, depois desta operação. Em solos arenosos, que podem ser preparados à profundidade de 10-15cm, uma aplicação apenas, antes ou depois da gradagem, é suficiente. Em alguns sistemas de cultivo, como as culturas perenes e as pastagens, a mistura somente pode ser feita antes da semeadura. Uma vez estabelecida a cultura, o calcário só poderá ser aplicado a lanço, em cobertura. O calcário aplicado à superfície reage lentamente e não tão completamente quanto o calcário misturado com o solo. 2

MATERIAIS CALCÁRIOS Óxido de cálcio (CaO) - Também conhecido como cal viva, cal virgem ou calcário rápido, o CaO é um pó branco, muito desagradável na mão. É fabricado pela queima de calcário em fornos e sua pureza depende da matéria prima. Quando adicionado ao solo, ele reage quase imediatamente, de modo que, quando se desejam resultados rápidos, o CaO ou o hidróxido de cálcio são ideais. Deve ser completamente misturado ao solo, pois empedra rapidamente e pode tornar-se ineficiente. Hidróxido de cálcio [Ca(OH) 2] - Frequentemente chamado de cal apagada, cal hidratada ou cal de construção, o Ca(OH) 2 é uma substância branca, pulverulenta, difícil e não agradável de manusear. A neutralização ocorre rapidamente quando é adicionado ao solo. É preparado através da hidratação do CaO. Calcário Calcítico (CaCO 3), Magnesiano e Dolomítico [CaMg(CO 3) 2] - Eles são mais comumente explorados em mineração a céu aberto. Sua qualidade depende das impurezas - tais como argila - que eles contêm. Seu poder de neutralização (equivalente em CaCO 3 ) usualmente varia de 65 a 70% a pouco mais de 100%. São produtos apenas moídos, para posterior utilização. 0-5% Mg = Calcítico 5-12% Mg = Magnesiano >12% Mg = Dolomítico Calcário calcinado - Os calcários calcinados, que tanto podem ser calcíticos, magnesianos ou dolomíticos, são produtos muito comercializados em algumas regiões do Brasil. São fabricados pela calcinação das rochas em fornos e posterior moagem. O grau de calcinação pode ser total ou parcial, o que dá ao produto final diferentes graus de poder relativo de neutralização total. Escórias - Vários tipos de materiais são classificados como escórias. A escória de siderurgia é um sub-produto da fabricação do aço a partir do ferro gusa. As escórias básicas são geralmente aplicadas pelo seu teor de fósforo, ao invés do seu valor como material corretivo. As escórias de forno elétrico resultam da redução, em forno elétrico, do fosfato de rocha na preparação do fósforo elementar. É um resíduo, geralmente comercializado a baixo preço dentro de um raio limitado em torno do local de produção. 3

CÁLCULO DA NECESSIDADE DE CALCÁRIO Necessidade de Calcário para Cana-de-açúcar - COPERSUCAR NC (t/ha) = 3 - ( Ca + Mg ) Método de Saturação de Bases - IAC onde: V = S/T x 100 NC (t/ha) = T ( V 2 - V 1 ) 100 Método Ca e Al - Trocáveis - CFSMG/4 a Aproximação NC (t/ha) = Y x Al + [ X - (Ca + Mg)] onde: Y = 1 Arenoso (Argila < 15%) Y = 2 Médio (Argila 15-35%) Y = 3 Argiloso (Argila > 35%) X = 1 (Eucalipto, Braquiaria) X = 2 (Maioria das culturas) X = 3 (Café) Obs: Se o agricultor não indicar a textura e cultura, a recoemndação de calcário é feita usando o valor médio de "Y"e "X". Normalmente, se não há sugestão para o método à ser empregado, faz-se a recomendação para a maior dosagem. 4

BENEFÍCIOS DA CALAGEM Fornecimento de Ca e Mg Aumenta o ph Reduz o Al 3+, Mn 2+, Fe 3+ em excesso Aumenta a disponibilidade de N, P, K, Mg, S, Mo, etc Melhora a atividade bacteriana Aumenta a CTC do solo Diminui a fixação do P Diminuição da disponibilidade de micronutrientes Aumenta eficiência dos fertilizantes Aumenta a produtividade das culturas 5