Seguro de Responsabilidade Civil Maxime Contrato de Seguro Automóvel



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Transcrição:

2º Ciclo 1º Semestre 2010/ 2011 Mestrado em Direito Ciências Jurídicas Forenses Direito dos Seguros Seguro de Responsabilidade Civil Maxime Contrato de Seguro Automóvel Inês Lopes Raimundo, 1230 Rita Correia Martins, 1239 1

Índice Introdução..Página 3; Responsabilidade Civil Generalidades...Páginas 4 a 8; Responsabilidade Civil Objectiva em especial, danos causados por veículos..páginas 9 a 18; Contrato de Seguro Breve Síntese. Páginas 16 a 19; Contrato de Seguro de Responsabilidade Civil em especial... Páginas 20 a 28; Seguro de Responsabilidade Civil automóvel - Regime do DL 291/2007, de 21 de Agosto; Parte uniforme das condições gerais da apólice de seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel, Norma Regulamentar do ISP n.º 14/2008 R......Páginas 29 a 34; Exemplo: Contrato de Seguro Automóvel análise...páginas 35 a 37; Bibliografia Página 38. 2

Introdução Na vida social os comportamentos adoptados por uma pessoa causam muitas vezes prejuízos a outrem Carlos Alberto da Mota Pinto A actuação jurídica das pessoas pode atingir o interesse de outrem, causando-lhe danos Carvalho Fernandes Nem sempre apenas aos outros acontece. Lançamos este como mote do trabalho que se segue e o qual nos propusemos realizar, acerca do Seguro de Responsabilidade Civil. Muitas são as vezes em que diariamente, milhares de pessoas são assoladas pela ideia de que não há, de facto, uma necessidade real em contratar um seguro para cobrir riscos de eventos que só acontecem aos outros e que as levam a despender bens que poderiam ser utilizados com outros fins tão diversificados. Outras são as vezes em que é reconhecida a importância do seguro mas o mesmo fica adiado para outra altura. Pode também acontecer que não seja celebrado um contrato de seguro por ignorância da obrigatoriedade do mesmo. Pode designar-se Direito dos Seguros o conjunto sistemático de normas jurídicas que disciplinam o regime jurídico da actividade seguradora; é concretizado por um contrato, designado, Contrato de Seguro. O contrato de seguro é o contrato entre o cliente e uma companhia de seguros, através do qual é possível garantir que, em certas ocasiões, o segurado poderá contar com um suporte financeiro complementar, existindo um sem número de situações que, pelos montantes em causa, se tornam agressivas pelo montante que a pessoa teria de envolver, não fosse o contrato. Este texto pretende ser uma contribuição para o estudo do Contrato de Seguro de Responsabilidade Civil, no exemplo do Seguro de Responsabilidade Civil Automóvel, com as respectivas delimitações pelo intitulado Contrato de Seguro no geral, que permitirá uma visão mais completa do tema. 3

Regime da Responsabilidade Civil Generalidades Dispõe o art. 483.º do Código Civil que, Aquele que com dolo ou mera culpa violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios, fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação. Esta disposição versa de uma das modalidades de Responsabilidade Civil previstas no Código Civil, a Responsabilidade Civil Subjectiva, Extracontratual ou delitual, resultante da violação de direitos absolutos, ou da prática de certos actos ilícitos que causem prejuízo a outrem. Não obstante, não é o único modelo existente no nosso ordenamento, conhecendo-se outras modalidades como a Responsabilidade Civil Contratual, proveniente do não cumprimento das obrigações emergentes dos contratos, negócios unilaterais ou Lei. Poder-se-á ainda reconhecer a existência de um modelo de Responsabilidade Civil Objectiva, pelo risco, onde a culpa não é um pressuposto e, a Responsabilidade Civil Pré Contratual, relativa à violação de deveres pré contratuais nas práticas que os envolvam. O Código Civil trata as várias modalidades em lugares distintos, deslocando o regime de Responsabilidade Civil Contratual para o capítulo onde regula, perto do cumprimento, as formas e efeitos do não cumprimento das obrigações. Há todavia, uma série de problemas comuns às modalidades de Responsabilidade Civil, tendo neste caso, o Código, tratado as mesmas conjuntamente, ao fixar o regime próprio da obrigação de indemnizar, art. 562.º e seguintes. Vários pressupostos são condicionantes da obrigação de indemnizar imposta ao lesante, a saber 1) o facto voluntário do agente; 2) que infrinja objectivamente quaisquer das regras disciplinadoras da vida social ilicitude; 3) nexo de imputação do facto ao lesante; 4) que à violação provenha um dano; 5) nexo de causalidade entre o facto praticado pelo agente e os danos sofridos na esfera do lesado. 4

Começaremos a nossa análise, que passará pela exposição dos pressupostos que foram indicados, pelo facto voluntário praticado pelo lesante. O elemento básico da responsabilidade é o facto do agente, dominável pela vontade, um comportamento ou forma de conduta humana. Este facto é positivo, supõe a violação de um dever geral de abstenção, do dever de não ingerência da esfera de acção do titular do direito absoluto. Também pode, não obstante, traduzir-se num facto negativo, numa abstenção ou mesmo omissão a omissão não pode, como pura omissão, gerar física ou materialmente o dano sofrido pelo lesado, mas entende-se que, a omissão é causa do dano sempre que haja dever jurídico de praticar um acto que teria impedido a consumação desse dano. Quando se alude a facto voluntário do agente, não se pretende restringir os factos humanos relevantes, em matéria de responsabilidade, aos actos queridos. Há inúmeros casos negligência consciente em que não existe semelhante representação mental e ninguém contesta a obrigação de indemnizar. Não está também inteiramente excluída a responsabilidade das pessoas que, por carência de capacidade de exercício não possuem vontade juridicamente relevante no domínio dos negócios jurídicos conquanto que tenham capacidade natural de entendimento e de acção, como se percebe pelo art. 488.º, n.º1 do Código Civil. Mas o que significa facto voluntário? Facto voluntário significa facto objectivamente controlável ou dominável pela vontade para fundamentar a Responsabilidade Civil basta a possibilidade de controlar o acto ou a omissão. De fora, ficam apenas os danos provocados por causas de força maior ou pela actuação irreversível de circunstâncias fortuitas. Por outro lado, não é bastante que alguém pratique um facto prejudicial aos interesses de outrem para que seja obrigado a compensar o lesado entramos no pressuposto da ilicitude. O Código procurou fixar em termos exactos e precisos o conceito, descrevendo concretamente as duas variantes fundamentais através das quais se pode revelar o carácter anti-jurídico ou ilícito do facto. 5

Apela-se a critérios de bom senso e equilíbrio, percebendo-se a intenção do legislador em auxiliar o intérprete na tarefa de delimitar o campo de actuação ilícita perante a zona de comportamentos que muito embora possam causar danos a outrem, são ou não sancionados pelo direito. Duas são as formas de ilicitude, a saber, violação de um direito de outrem e, violação da lei que protege interesses alheios. Ilicitude e violação de um direito de outrem não constituem expressões sinónimas. Precisamente porque reparação constitui uma sanção é que o dever de indemnizar pressupõe em regra a culpa do agente. Só o carácter punitivo da Responsabilidade Civil permite explicar que a indemnização possa variar consoante o grau de culpabilidade, que a repartição da indemnização se faça na medida das respectivas culpas quando solidária e, que a graduação da reparação, quando haja culpa do lesado, se faça com base na gravidade da culpa de ambas as partes. A ilicitude traduz assim a reprovação da culpa do agente, embora no plano geral e abstracto em que a Lei se coloca. Subjacente a requisitos de ilicitude, a função preventiva subordina-se à reparadora, na medida em que só excepcionalmente o montante da indemnização excede o valor do dano. Apesar de tudo, existem condutas ilícitas que se entendem não passíveis de aplicação das regras relativas à Responsabilidade Civil por redundarem em causas de exclusão da ilicitude. O facto, embora prejudicial aos interesses de outrem ou violando direitos alheios, considera-se justificado, e por consequência lícito, sempre que praticado no exercício regular de um direito ou cumprimento de um dever. Entendem-se como causas de exclusão da ilicitude a acção directa, a legítima defesa, o estado de necessidade e, o consentimento do lesado. Entende-se por acção directa o recurso à força para realizar ou assegurar o direito, sendo necessário que o agente que a leva a cabo seja titular de um direito que procura assegurar. O recurso à força terá de ser indispensável pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais para evitar 6

a inutilização prática do direito desse agente. Por outro lado, de referir que o agente não pode exceder o estritamente necessário para evitar o prejuízo. Se os requisitos se verificarem, não haverá lugar a indemnização pelos danos proferidos. Não se verificando algum requisito será o autor da acção directa obrigado a indemnizar os danos causados, salvo se tiver agido na persuasão errónea da sua verificação e o erro for desculpável. Já acerca da legítima defesa, a mesma traduz-se na reacção destinada a afastar a agressão actual e ilícita da pessoa ou património. Necessário é que os bens lesados por quem se defende sejam do agressor e que se verifique uma situação de agressão, actualidade e ilicitude, necessidade de reacção e adequação. O autor da legítima defesa é isento de compensar os danos por si causados aliás, considera-se o acto de legítima defesa desculpável mesmo com excesso da mesma, provindo o mesmo de perturbação ou medo não culposo o chamado medo invencível. No que ao estado de necessidade toca, o mesmo designa o acto daquele que para remover o perigo actual de um dano manifestamente superior, quer do agente, quer de terceiro, destrói ou danifica coisa alheia. Haverá obrigação de indemnização por parte do autor sempre que a situação de perigo for resultado de sua culpa exclusiva. Finalmente, refere-se o consentimento do lesado como a aquiescência do titular do direito à prática do acto que sem ela constituiria violação desse direito ou a ofensa da norma de interesse tutelada. Ressalva-se, claro está, o caso de o acto autorizado ser contrário a uma proibição legal e constitua crime, não integrando a previsão desta modalidade. Ultrapassando a questão anterior, entramos no pressuposto do nexo de imputação do facto ao lesante. Presente está a necessidade de que o autor aja com culpa para a indemnização proceder, entenda-se, actuar em moldes de a conduta do agente merecer a reprovação pelo direito vigente considerar-se que o autor podia e devia ter agido de outro modo. Desta questão provém a da imputabilidade, sendo imputável aquele com capacidade natural para prever os efeitos e medir o valor dos actos que pratica e para se determinar de harmonia com o juízo que se faça acerca deles. Excepciona-se esta situação com a verificação da previsão do art. 488.º do Código 7

Civil, não respondendo pelas consequências de um facto danoso quem no momento em que o facto ocorreu, estava incapacitado de entender ou de o querer. No caso onde não se verifique haver pessoas obrigadas à vigilância do agente ou em que se verifiquem as circunstâncias do art. 491.º do Código civil, a lesão tende a ficar sem reparação, por falta de quem responda por ela. De seguida, é necessário aferir a culpa do agente, quando a mesma se observa. Para que o facto possa ser imputável, é necessário que o autor tenha agido com culpa, exprimindo um juízo de reprovabilidade da conduta do autor face às circunstâncias. A culpa pode ser uma culpa dolosa quando o lesado contribui conscientemente para o dano ou negligente quando existe por parte do autor do dano uma omissão da conduta que se lhe exigia. Por outro lado, cumpre referir que para que se possa legitimar uma conduta nos termos da Responsabilidade Civil, tem de haver dano que o facto ilícito tenha causado prejuízos. Entenda-se como dano a perda in natura que o lesado sofreu em consequência de certo facto, nos interesses que o direito violado ou a norma infringida visavam proteger. Finalmente, resta abordar a temática do nexo de causalidade. Sabe-se que, apenas os danos resultantes do facto relevam a uma responsabilidade do lesante. Por um lado, afirmar em primeiro lugar, que casos existem em que se presume a culpa do autor do dano, art. 491.º e seguintes do Código. Em todos eles, com excepção do exercício de actividades perigosas, se isenta o autor do dano da responsabilidade, se se provar que não houve culpa da sua parte. Havendo, terá então de se mostrar que o dano teria ocorrido ainda que o facto se não tivesse verificado relevância negativa da causa virtual de um determinado dano. É titular do direito à indemnização, aquele que for titular de Direito violado ou do interesse imediatamente lesado com a violação da disposição legal não o é o terceiro só indirectamente prejudicado. 8

Responsabilidade Objectiva ou pelo Risco Há sectores da vida ou necessidade sociais que se sobrepõem à justiça. Daqui advém a teoria do risco, nos termos da qual, quem cria um risco deve suportar as consequências prejudiciais já que colhe o benefício que dele advém. A excepcionalidade do regime que se está a analisar não provém somente da responsabilidade, nos seus pressupostos, prescindir da culpa do lesante. Reside em não exigir, ainda, ilicitude. Responsabilidade do Comitente Na sequência do art. 500.º do Código Civil, o comitente responde em determinados moldes independentemente da culpa que tenha, pelos danos que o comissário cause a algum terceiro, desde que o comissário tenha culpa. Percebe-se neste modelo de Responsabilidade que possui um verdadeiro carácter objectivo, independente da culpa, não cessando pelo facto de o comissário ter agido de alguma forma, contra as instruções que lhe deram. Aliás, não adianta provar a não culpa do comitente ou a ocorrência de facto danoso ainda que não houvesse actuação culposa se houver culpa do comitente e do comissário, qualquer um responde solidariamente perante o lesado, repartindo-se a indemnização por estes agentes na proporção da sua culpa. Só havendo culpa do comitente só ele tem de levar a cabo uma indemnização nos termos da responsabilidade por factos ilícitos. Se não houver culpa do comissário, o comitente que houver já pago, poderá exigir o regresso total. Os pressupostos desta modalidade de Responsabilidade Civil assentam, em primeiro lugar, na existência de um vínculo entre o Comissário e o Comitente, havendo comissão. Por outro lado, verificar-se a prática do facto ilícito em exercício de função. O comissário tem ainda de procedes intencionalmente ou contra as instruções do comitente. O Comitente só responde havendo culpa do comissário art. 506.º, n.º 1 e art. 503.º, n.º 3, do Código Civil, podendo ser uma culpa aferida por simples presunção de culpa do Comissário, que ele não consiga ilidir. Havendo responsabilidade do comitente, haverá responsabilidade solidária do comissário, operando-se a repartição do montante da indemnização, nos termos do 9

art. 497.º, do Código Civil tem no entanto, o comitente, direito de regresso contra o comissário, nos termos do art. 500.º, n.º 3 do Código Civil. Danos Causados por veículos em especial No caso de danos causados por veículos, vigora o princípio da Responsabilidade pelo Risco. Em primeiro lugar, será responsável o dono do veículo, visto ser o mesmo a aproveitar as vantagens do meio de transporte e que tem de se responsabilizar pelos riscos próprios da utilização do veículo. Não obstante, se há direito de usufruto sobre a viatura ou, tendo o dono emprestado/ alugado o veículo ou ainda, tendo o mesmo sido furtado, ou sido abusivamente usado por motorista ou empregado, já não se justifica a responsabilização do dono. Geralmente, a lei identifica a pessoa responsável através de a) direcção efectiva do veículo; b) utilização deste no próprio interesse. Nos termos do art. 503.º do Código Civil, responde pelos danos que o veículo causar, quem tiver a direcção efectiva do mesmo e o utilizar no seu próprio interesse ainda que por intermédio de comissário tratando-se das pessoas a quem especialmente incumbe tomar providências adequadas para que o veículo funcione. A direcção efectiva do veículo é o poder real sobre o mesmo. Não equivale a ter o volante nas mãos. Tem a direcção efectiva a pessoa que goza ou usufrui das suas vantagens e a quem cabe controlar todo o seu funcionamento o detentor. Responsabilidade do Comissário O condutor não responde provando não haver culpa sua. Havendo culpa sua porque se prova ou não se ilidiu a presunção de culpa, responderão solidariamente perante terceiro, o condutor e o detentor do veículo, tendo este, se pagar, direito de regresso contra aquele nos termos do art. 500.º, n.º 3 do Código Civil. Nos termos do art. 503.º, n.º 3 do Código Civil, quanto a danos causados pelo condutor do veículo por conta de outrem, estabelece-se presunção de culpa. Afasta-se o espectro de limitação do campo de aplicação do preceito legal à hipótese da responsabilidade objectiva do dono do veículo, nas relações deste com o Comissário, 10

mediante determinação explícita da aplicabilidade da presunção de culpa às relações entre condutor do veículo e o lesado. Defendeu-se num Assento de 1994 que, a responsabilidade por culpa presumida do Comissário, nos termos do art. 503.º, n.º 3, do Código Civil, é aplicável no caso de colisão de veículos, art. 506.º, do Código Civil. Presume-se que o comissário que conduz o veículo tem culpa no dano pelo perigo sério de desleixo na segurança pelo veículo não lhe pertencer. Além disso, os comissários geralmente serão profissionais, pessoas de quem se pode exigir perícia na condução. Nos casos em que há culpa do condutor no acidente, o detentor ou utente pode ser chamado a responder nos termos da Responsabilidade Civil por um duplo fundamento, a) como detentor do veículo, criador do risco aplicam-se os limites máximos da Responsabilidade fixados no art. 508.º do Código Civil; b) como comitente, garante da obrigação de indemnizar a cargo do comissário a responsabilidade do comitente cobre toda a obrigação de indemnizar do comissário. Se o acidente se verifica quando o comissário utilizou o veículo fora das suas funções, passa o condutor a responder independentemente da culpa, ainda que habitualmente o conduza por conta de outrem, nos termos do art. 503.º, n.º 1 do Código Civil. Diferente é a situação de o veículo que circula contra a vontade da pessoa por quem habitualmente é utilizado não há fundamento para se lhe assacar responsabilidade nos termos do art. supra referido tendo obrigação de indemnizar quem tenha a direcção efectiva do veículo. Mesmo nos casos em que a utilização abusiva tenha sido facilitada por falta de precaução do dono do veículo. Em caso de aluguer de veículos, os mesmos são conduzidos no interesse do locatário e do locador, respondendo ambos solidariamente por qualquer dano que se venha a provocar. Danos Indemnizáveis Os danos que a pessoa responsável é obrigada a indemnizar são os que tiverem como causa o acidente provocado pelo veículo. A responsabilidade objectiva estende-se apenas aos danos provenientes dos riscos próprios do veículo, mesmo que este não se encontre em circulação. 11

Ficam de fora os danos sem conexão com os riscos específicos do veículo e os danos estranhos aos meios de circulação ou transporte terrestre. Beneficiários da Responsabilidade Nos termos do art. 504.º, do Código Civil, tanto podem ser beneficiários terceiros como as pessoas transportadas quanto a pessoas transportadas gratuitamente só serão beneficiárias quanto aos danos causados na sua pessoa, danos pessoais DL 14/96, de 6 de Março. Exclusão de Responsabilidade Nos termos do art. 505.º do Código Civil, exclui-se a responsabilidade do utente do veículo, quando o acidente puder ser imputável ao lesado ou ao terceiro ou, quando resulte de causa de força maior estranha ao veículo. Verificado qualquer dos pressupostos entende-se haver uma ruptura no nexo de causalidade o dano passa a não ser efeito adequado do risco. Também a culpa do lesado, não havendo culpa do agente, exclui a obrigação da reparação do dano. Havendo causa de força maior, concorrendo com a culpa do condutor, mantém-se a responsabilidade deste embora a mesma se verifique atenuada. Acidente imputável ao próprio lesado Acidente devido a facto culposo do lesado, apurando-se quando não devem os danos causados pelo acidente serem considerados um risco próprio do veículo mas, antes como consequência de facto imputável à vítima. Tendo havido culpa simultânea de condutor e vítima lesada, vem o art. 570.º, do código Civil tecer que o Tribunal será encarregado de verificar se a indemnização deve ser excluída, diminuída. Acidente imputável a terceiro Entenda-se como terceiro, outro condutor, peão ou passageiro. A circunstância de o acidente ter como causa o facto de terceiro, exclui a responsabilidade objectiva do detentor do veículo, não se admitindo concorrência de risco e culpa de terceiro apenas se poderá verificar concorrência entre a culpa de terceiro e a do condutor, nos termos do art. 570.º, do Código Civil, que já se referiu. 12

Quando se imputa um acidente a uma terceiro que se verifique ser provocado por animal poder-se-á responsabilizar ou, quem o assume no seu interesse, art. 505.º, do Código Civil ou, quem assume o encargo de vigilância, art. 493.º, n.º1, do Código Civil. Caso de força maior estranha ao funcionamento do veículo Neste caso, entende-se como caso de força maior o acontecimento imprevisível cujo efeito danoso é inevitável com as precauções normais exigidas. Se tal acontecimento for causa estranha ao funcionamento do veículo o detentor não responde na verificação de danos. Colisão de veículos No caso em questão, havendo culpa dos dois condutores, cada um vai responder pelos danos do facto que praticou. Só sendo um o culpado, será esse o responsável. No caso de culpa de ambos em que não se possa determinar a medida da culpa respondem em igual proporção. Limites da Responsabilidade Reconhecendo os inconvenientes e dificuldades que as indemnizações, para além de certo montante, podem causar ao detentor do veículo e a violência que podem representar, quando não haja culpa do responsável, a lei estabeleceu limites máximos de indemnização para a responsabilidade objectiva. Havendo dolo ou mera culpa não se estabelece um limite. Se não houver culpa do condutor mas responsabilidade objectiva pelo 503.º, do Código Civil, há limites quantitativos art. 508.º, n.º1 do Código Civil, fixando-se como limite máximo o capital mínimo do seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel. Pluralidade de Responsáveis Pode suceder que várias pessoas sejam responsáveis pelo dano. Se o acidente não envolver culpa do condutor mas o veículo pertencia a duas ou mais pessoas, serão essas as responsáveis pelo dano, salvo verificando-se alguma causa de exclusão da ilicitude. 13

Noutra perspectiva, o dano pode ser causado num terceiro, pela colisão de dois outros veículos. Nos termos do art. 507.º, n.º 1, do Código Civil, respondem ambos os detentores dos veículos. Ainda nos termos do art. supra mencionado, em face de terceiros ou pessoas transportadas, sempre que haja vários responsáveis, respondem estes solidariamente. Se apenas um dos intervenientes teve culpa, o que pagou sem culpa terá direito de regresso contra o culpado, nos termos do n.º 2 do mesmo art. e do art. 497.º, n.º2, do Código Civil. Não havendo culpa de nenhum, a indemnização repartir-se-á de harmonia com o interesse de cada detentor na utilização do automóvel e em caso de dúvida considera-se que o interesse de cada um dos responsáveis é igual, aplicando-se o art. 506.º, n.º2, do Código Civil, analogicamente. Concorrência de responsabilidades Neste tema opera o facto de o dano ser provocado por acidente considerando o chamado acidente de trabalho. O mesmo facto integra várias fontes de responsabilidade pela concorrência de normas legais qualificadoras do facto. Se o detentor do veículo e a entidade patronal não forem a mesma pessoa, haverá pluralidade de responsáveis. Não obstante, distingam-se as relações externas das internas. No âmbito das relações externas entre cada um dos responsáveis e o lesado a doutrina e a jurisprudência aceitam que os responsáveis respondam solidariamente pelos danos que o lesado tenha sofrido. O lesado poderá exigir a reparação dos danos da entidade patronal, invocando o facto de ter sido atingido em serviço, e do condutor ou detentor, como responsáveis pelo risco de utilização do veículo. As indemnizações não se somam. No âmbito das relações internas entre os responsáveis pela reparação se é o detentor quem paga a indemnização, nenhum direito lhe competirá em relação à entidade patronal. Pelo contrário, sendo a entidade patronal a responder pelos danos, fica esta subrogada nos direitos do sinistrado. 14

Competência, Responsabilidade Civil e Responsabilidade Criminal Os Tribunais Cíveis são competentes em razão da matéria para acções de indemnização propostas contra o condutor ou proprietário do veículo, pelos danos resultantes de acidente de viação quando em acção penal contra os mesmos movida tenha sido proferida condenação para indemnização. A decisão penal constitui caso julgado quanto à indemnização arbitrada entre o condutor e lesado. Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel O contrato de seguro é o negócio jurídico pelo qual uma das partes se obriga a cobrir o risco que certo facto futuro e incerto constitui para a outra parte, mediante prestação certa e periódica que esta efectivará. O sinistro coberto é a obrigação de indemnizar que por virtude do acidente recaia sobre o segurado. O seguro não acompanha o veículo no caso de alienação deste. Nos casos em que o réu é incógnito ou, não possua contrato de seguro, poderse-á accionar o fundo de garantia automóvel para, deste modo, assegurar a cobertura dos danos pelo acidente causados. 15

Breve síntese sobre o contrato de seguro A actividade humana é uma actividade de risco, como tal foram criadas as empresas de seguros, que desenvolvem uma actividade de cobertura remunerada de riscos alheios, permitindo assim aos indivíduos e às organizações gerir riscos que resultam das suas acções e omissões; esta gestão do risco será feita mediante a transferência do custo económico ligado a tal risco (para a empresa de seguros), mediante um pagamento de prémio. Nas palavras de Engrácia Antunes: com o seguro as pessoas compram paz de espírito e as organizações compram alguma segurança (podendo desenvolver uma actividade de maneira mais estável e previsível). O mesmo autor define contrato de seguro como o contrato pelo qual uma pessoa singular ou colectiva (tomador de seguro) transfere para outra (uma empresa especialmente habilitada segurador; sob pena de nulidade do contrato art. 16/2 LCS) o risco económico da verificação de um dano, na esfera jurídica própria ou alheia, mediante o pagamento de uma remuneração. O tomador obriga-se a pagar uma determinada contrapartida prémio e o segurador obriga-se a efectuar uma determinada prestação pecuniária em caso de ocorrência do evento aleatório convencionado (sinistro). Assim, para o autor existem obrigações recíprocas das partes contratantes: o segurador tem o dever de realizar a prestação convencionada em casa de verificação dos eventos compreendidos no risco coberto pelo contrato, e o tomador tem o dever de pagar o prémio. Para a professora Margarida Lima Rego seguro é o contrato pelo qual uma parte, mediante retribuição (prémio), suporta o risco económico da outra parte ou de 3.º, obrigando-se a dotar a contraparte ou o 3.º dos meios adequados à supressão ou atenuação de consequências negativas reais ou potenciais da verificação de um determinado facto. Na verdade, para a autora não se pode falar em obrigações constituídas para ambas as partes, com a celebração do contrato; porque a cobertura do risco depende do pagamento do prémio, ou seja, da análise do art.59.º LCS se conclui que até ao pagamento do prémio o contrato tem a sua eficácia suspensa. Logo, o tomador de seguro não está obrigado a pagar o prémio; tem, sim, a opção de pagar ou não, sendo que se não pagar o contrato não produz os seus efeitos. Deste modo, o que existe é 16

um contrato celebrado condicionalmente, isto é, a eficácia do contrato depende do preenchimento da condição: pagamento do prémio. Na perspectiva do segurador que vai pagar a indemnização em caso de sinistro, não se pode falar em obrigação de indemnizar, na medida em que o segurador, no contrato, apenas se vincula-se a uma obrigação condicional, ou seja, vincula-se a que seja constituída na sua esfera jurídica uma obrigação mas só na eventualidade de ocorrer um sinistro. Daí a que o contrato de seguro seja sinalagmático, uma vez que existe uma troca entre vinculações (que é a expressão mais correcta do que obrigações). São pressupostos do contrato de seguro: o risco e o interesse. A existência de risco significa a possibilidade de ocorrência de um evento futuro (não se sabe se o evento vai acontecer, nem quando irá acontecer e nem quais as consequências que trará) gerador de perdas no património próprio ou alheio (o contrato é nulo se não existir risco no momento da sua conclusão, e caduca se o risco desaparecer durante a sua vigência). O âmbito do risco coberto deve ser delimitado em concreto pelas partes (é elemento obrigatório em todas as apólices art.37.º/2/d), havendo uma delimitação da cobertura de base, o que significa que, se fixam os factos cuja ocorrência gera o dever de pagar a indemnização pelo segurador; e uma delimitação negativa, enumerando as exclusões e limitações. Por outro lado, o interesse implica uma relação económica entre o sujeito do risco e os bens ou pessoas que beneficiam da cobertura do seguro; tem de haver uma necessidade económica do interessado no seguro (a ausência ou desaparecimento superveniente têm as mesmas consequências da ausência o desaparecimento do risco). Engrácia Antunes, caracteriza o contrato de seguro como um contrato de adesão, uma vez que a regra é que o tomador de seguro apenas pode aderir ou rejeitar em bloco um conjunto de cláusulas contratuais padronizadas elaboradas prévia e unilateralmente pelo segurador. E é também um contrato aleatório na medida em que existe um estado de incerteza relativamente ao significado patrimonial do contrato para os contraentes, pois é impossível saber à partida quais os ganhos ou perdas dele decorrentes para eles. Quanto aos tipos de seguros, a LCS divide-os em seguros de danos (art.123.º a 174.º) e seguros de pessoas (art.175.º a 217.º). Os seguros de danos visam uma cobertura de riscos respeitantes a coisas, bens imateriais, créditos e outros direitos patrimoniais (art.123.º); e a própria lei prevê 17

expressamente alguns sub tipos: como o seguro de responsabilidade civil (art.137.º e ss.), seguro de incêndio (149.º), de colheitas e pecuário (152.º), de transporte de coisas (155.º), de crédito (161.º), de caução (162.º), de protecção judiciária (167.º) e de assistência (173.º). Os seguros de pessoas visam a cobertura de riscos relativos à vida, saúde e integridade física de uma pessoa ou grupo de pessoas (art.175.º). Vale a pena referir que paralelamente a estes tipos, existem inúmeras classificações de cariz legal e doutrinal. Além disso, no direito institucional dos seguros desenvolveu-se uma divisão, legalmente estabelecida (art.123.º e 124.º RGES), entre seguros de ramos vida e não vida. Os primeiros correspondem parcialmente ao seguro de pessoas, e abrangem os seguros de vida, natalidade e nupcialidade, de fundos de investimento, de capitalização e gestão de fundos colectivos de reforma. Os segundos abrangem a maioria dos seguros existentes: seguros de acidentes, doença, veículos terrestres, incêndio, responsabilidade civil geral, etc. Voltando, ao regime do contrato de seguro, ao lado dos sujeitos contratuais encontramos terceiros: segurado, pessoa segura, e terceiros beneficiários. O segurado é o sujeito que está coberto pelo seguro, podendo ser o tomador (seguro por conta própria) ou um terceiro determinado ou determinável (seguro por conta de outrem). A pessoa segura, é, nos seguros de pessoas, a pessoa singular cuja vida, saúde, ou integridade física representa o objecto material seguro realizado. Os terceiros beneficiários são as pessoas que têm o direito de exigir a prestação do segurador em caso de liquidação do sinistro. Na fase pré-contratual, quer segurador quer tomador do seguro ou segurado têm amplos deveres de informação. Por um lado, o segurador deve prestar todas as informações e esclarecimentos necessários à compreensão do contrato; devendo também aconselhar acerca das modalidades alternativas de seguro tendo em conta o perfil do tomador (o incumprimento gera responsabilidade civil do segurador e confere ao tomador um direito de resolução do contrato); por outro lado, o tomador de seguro ou o segurado têm o dever de prestar todas as informações necessárias para que o segurador possa fazer uma correcta avaliação do risco, e possa calcular correctamente o prémio devido, e decidir conscientemente se aceita ou recusa a proposta do tomador de seguro. 18

Vale a pena referir que, regra geral, no contrato de seguro é proponente o tomador, e aceitante o segurador (a aceitação pode ser expressa ou tácita; o silencio do segurador no prazo de 14 dias após a recepção da proposta é considerado aceitação art.27.º). Por outro lado, a apólice de seguro é, nas palavras de Engrácia Antunes: o documento escrito, físico ou electrónico, que formaliza e titula o contrato de seguro celebrado entre segurador e tomador, de onde constam as respectivas condições gerais, especiais e particulares. As condições gerais são aquelas cláusulas no contrato que são aplicáveis em todos os seguros de um determinado ramo ou modalidade; as condições especiais são cláusulas que concretizam, completam ou delimitam as gerais, dizendo respeito a certa sub modalidade ou tipo de contrato; as condições particulares dizem respeito a cada contrato concreto, permitindo a adaptação do mesmo às características daquele risco ou daquelas pessoas ou coisas seguras. Quanto ao regime do prémio vale a pena referir que o pagamento do prémio é um pressuposto da cobertura de risco: sem prémio não há cobertura (59.º), logo na falta de pagamento do prémio ou fracção inicial existe caducidade do contrato desde a data da sua celebração (art.61.º); se não forem pagas as fracções ulteriores do prémio, os prémios adicionais na data do vencimento, haverá na mesma caducidade a partir de tal data; nos contratos de renovação automática, a falta de pagamento de anuidades subsequentes ou suas fracções iniciais na data do vencimento, impede a prorrogação do contrato. Noutro prisma, podem existir alterações supervenientes do risco coberto, podendo este agravar-se ou atenuar-se. Se existirem circunstâncias que agravem o risco, o segurador tem o direito de propor ao tomador a alteração do contrato, ou a resolução do mesmo (93.º). Caso ocorram circunstâncias que diminuam o risco, o segurador tem o dever de reduzir o montante do prémio, e se o tomador não concordar com o novo valor poderá resolver o contrato (92.º). Por fim, os contratos podem cessar por força de nulidade ou anulabilidade, o que significa que, por ocorrência de eventos contemporâneos a sua formação; mas também por factos ocorridos durante a sua vigência: caducidade (decurso do tempo, desaparecimento do risco coberto), revogação (as partes acordam a cessação), denúncia (feita por qualquer das partes a qualquer momento), e resolução (fundada em justa causa). 19

REGIME DO CONTRATO DE SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL (LCS) Nota Prévia Com o evoluir dos tempos surgiram, por um lado, novos riscos a que está exposto o Homem, e por outro aumentou bastante a probabilidade de uma qualquer pessoa ser civilmente responsável e consequentemente detentora de uma obrigação de indemnizar os danos causados ao terceiro lesado (ou terceiros) vítima. De facto, a partir do momento em que desapareceu o princípio de que não existe responsabilidade sem culpa, surgindo a responsabilidade civil objectiva; e com a utilização cada vez maior de instrumentos perigosos (essenciais muitas vezes ao desenvolvimento), que causavam inúmeros acidentes e lesados, foi incrementada a celebração de seguros de responsabilidade civil. Realmente, a possibilidade de causar danos a outrem pode estar relacionada com qualquer sector da vida de uma pessoa, isto é, os prejuízos causados a terceiros tanto podem surgir nas relações da vida pessoal, como profissional, empresarial ou comercial; na medida em que qualquer actuação é apta para, de algum modo, causar prejuízos a terceiros. Assim, como existe essa obrigação de indemnizar os lesados, decorrente do instituto da responsabilidade civil, e como essa situação pode deixar o autor dos danos numa posição económico-financeira difícil ou mesmo sem capacidade de indemnizar o lesado por falta de meios económicos, foi criado o SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL. Alguns autores defendem que o seguro de responsabilidade tem dois objectivos: o primeiro diz respeito à tutela do segurado, de modo a que não sofra um grande prejuízo no seu património, pois a não celebração do contrato de seguro poderia deixá-lo numa situação económica complicada, ou mesmo numa situação de insolvência; e o segundo prende-se com a protecção do lesado, uma vez que garante que este seja ressarcido dos danos que sofreu. Estes autores consideram que o seguro de responsabilidade civil é um instrumento de interesse social, pois protegem interesses da vítima e do segurado, na medida em que existe a figura da acção directa que permite ao terceiro lesado accionar a seguradora directamente, para que esta responda pelos danos causados 20