Fotodocumentação em Oftalmologia

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Transcrição:

Fotodocumentação em Oftalmologia JOÃO BORGES FORTES FILHO (1) WILSON DE OLIVEIRA LEITE FILHO (2) (1) Professor do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia - Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do sul e do Serviço de Retina do Hospital Banco de Olhos de Porto Alegre. Pós-Graduando (nível mestrado) da Disciplina de oftalmologia da Escola Paulista de Medicina. (2) Do Serviço de Uveítes da Enf. 25 - Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre - Serviço do Prof. Luis Assumpção Osório - e do Serviço de Uveítes do Hospital Banco de Olhos de Porto Alegre. Rua Eng. Walter Bohel, 285 Porto Alegre - RS - CEP 91.360 - BRASIL Fone: (0512)40-2200 - R. 48. RESUMO Neste trabalho, os autores procuram fazer uma análise das possibilidades atualmente existentes para a fotodocumentação de patologias na área da Oftalmologia chamando a atenção para a existência de equipamentos simples e pouco dispendiosos que podem ser utilizados por todos com excelentes resultados práticos. Este trabalho contém considerações em quatro áreas específicas a saber: fotografia ocular externa ou macrofotografia, fotografias em limpada de fenda, goniofotografia e preparação de slides didáticos para apresentações. PRIMEIRA PARTE - FOTOGRAFIA OCULAR EXTERNA INTRODUÇÃO ARTIGO COMPLETO A utilização da fotografia em Oftalmologia está cada vez mais difundida prestando um inestimável auxílio tanto para o diagnóstico quanto para o acompanhamento evolutivo em inúmeras patologias oculares. Além disto, a fotodocumentação é indispensável em muitas áreas de pesquisa e ensino. O motivo deste trabalho é a quase total ausência de publicações sobre o tema na literatura científica nacional e o objetivo é mostrar que se pode obter excelentes fotografias de patologias oculares com a utilização de equipamentos simples, pouco dispendiosos, facilmente disponíveis na maioria dos estabelecimentos comerciais do ramo, e principalmente, com apenas um mínimo de conhecimento técnico especializado em fotografia. Devemos salientar os trabalhos de QUEIROGA [6,7] de 1960 e 1962, demonstrando a adaptação de um equipamento fotográfico, a lâmpada de fenda Haag-Streit e ao oftalmoscópio binocular direto da Bausch & Lomb, tendo assim obtido boas fotografias também do fundo do olho. Modernamente, com o desenvolvimento de novos equipamentos, tanto na área da Oftalmologia quanto na de Fotografia, faz-se necessário uma análise atualizada das possibilidades existentes para o fotodocumentação. ESCOLHA DO EQUIPAMENTO TIPO E MARCA DA CÂMARA - O tipo de máquina fotográfica mais utilizado hoje em dia é o chamado "SINGLE REFLEX LENS" ou SLR, de 35mm. São equipamentos de pequeno custo, com uma enorme gama de acessórios que permitem uma ampla utilização no dia-a dia e também na Oftalmologia. A marca do equipamento não é importante, varia segundo uma preferência pessoal, preço, quantidade de acessórios disponíveis, etc., mas, para a Oftalmologia, é ESSENCIAL que o equipamento permite a visualização do objeto diretamente através da própria lente da máquina fotográfica e isto é essencial para a macrofotografia. MACROFOTOGRAFIA - É simplesmente uma fotografia em grande aumento de um objeto qualquer, no caso o olho humano. A ampliação é conseguida através de acessórios que permitem uma maior aproximação e focalização da lente objetiva da máquina fotográfica com o objeto a ser fotografado. A lente de 50mm, que normalmente acompanha a máquina de fotografia, não permite a focalização de objetos a uma distância inferior em média a uns 40cm é, portando, insuficiente para visualização de detalhes essenciais para a Oftalmologia. Se forem utilizados alguns acessórios, a lente original de 50mm poderá ser de grande utilidade para a obtenção de macrofotografias, conforme vamos comentar agora. ACESSÓRIOS PARA A MACROFOTOGRAFIA - O acessório mais simples é a chamada LENTE CLOSE-UP disponível de +1, +2, +3 dioptrias ou mais, e se adapta na lente original de 50mm de qualquer máquina fotográfica. Estas lentes podem ser utilizadas isoladas ou combinadas, dependendo da ampliação que se deseja obter.

Também podem ser utilizadas os chamados ANÉIS ou TUBOS DE EXTENSÃO, que se adaptam entre a lente original da máquina e o corpo da mesma. Geralmente são vendidos em grupos de 3 anéis, de diferentes tamanhos, que podem ser também utilizados isolados ou combinados. São acessórios extremamente úteis e de pouco custo. Outra possibilidade é a utilização de um anel INVERSOR da LENTE ORIGINAL, ou seja, a face frontal da lente original fica voltada para o corpo da máquina e a face interna da lente fica voltada para o objeto. Isto permite uma boa ampliação da imagem, mas também é um acessório de difícil utilização, pois fica-se sem diafragma automático e também porque a inversão da lente gera algumas distorções periféricas na macrofotografia. A maneira mais sofisticada e portanto mais dispendiosa de se conseguir uma macrofotografia, é com as chamadas LENTES MACRO, sendo as mais utilizadas as de 50mm ou 100mm de distância focal. A diferença principal entre elas é a distância de trabalho, ou seja, a distância que o equipamento deve ficar do objeto para obter uma determinada ampliação. A vantagem de uma maior distância focal (100mm) é que permite uma maior distância de trabalho e isto é muito importante, por exemplo, em fotografias de atos cirúrgicos, onde o equipamento contaminado não pode entrar em contato com o objeto a ser fotografado. Em macrofotografia, a distância de trabalho é sempre muito pequena, ao redor de uns 10 a 25 cm, sempre dependendo da ampliação desejada. ILUMINAÇÃO - A qualidade da fotografia depende sempre de uma boa iluminação. A fotografia ocular externa poderá ser obtida com luz natural do dia ou com a utilização de um flash eletrônico. Pensamos que a opção de utilizar a luz natural não seja a melhor pois pode-se necessitar um diafragma muito aberto e menor velocidade para se chegar à fotometragem ideal e um diafragma muito aberto faz com que a profundidade de foco seja pequena e, portanto, facilmente pode-se obter fotos pouco nítidas, total ou parcialmente fora de foco. A melhor possibilidade de iluminação é através de um flash eletrônico. Este flash não deve ser grande ou de grande potência pois toda a luz excessiva vai ser refletida pela córnea e a qualidade das fotografias não vai ser boa. Pode-se adquirir sem nenhum constrangimento um flash bem simples e barato, porque, na macrofotografia, a distância na qual o flash vai atuar é sempre muito pequena. É, inclusive recomendado que coloque na frente do vidro do flash um esparadrapo mais ou menos transparente. Isto vai causar uma melhor dispersão da luz emitida e não vai aparecer na fotografia um reflexo de luz muito exagerado. A principal vantagem deste tipo de iluminação é a alta velocidade de sincronização do flash permitindo o uso de diafragma bastante fechado e com isto se obtendo grande profundidade de foco. Eventuais pequenos movimentos do olho do paciente não chegam a causar prejuízo significativo à qualidade da fotografia. Em relação aos flashes circulares ou em anel, de tão grande utilização em várias áreas da medicina, não recomendamos seu uso em Oftalmologia pois o reflexo produzido por sua luz quando refletida na córnea é bastante amplo e exagerado. Para se ter uma idéia precisa de que abertura do diafragma da lente utilizar para uma macrofotografia com flash disparado a tão curta distância, é necessário que se faça inicialmente algumas fotografias de teste porque a abertura da lente a ser utilizada depende do exato equipamento disponível. De um modo geral, podem-se obter ótimas fotografias com aberturas de lente entre 8 e 16. Depois de alguns testes já se pode, com segurança, saber qual a abertura do diafragma ideal para a obtenção de uma boa fotografia e esta combinação do número da abertura do diafragma junto com a velocidade de sincronização do flash que é sempre constante em flashes eletrônicos, são parâmetros que poderão ser repetidos e o resultado final será mais ou menos sempre o mesmo. Salientamos que quando realizarmos este mesmo tipo de fotografia em pacientes de pele escura, devemos abrir 1/2 ou 1 ponto do diafragma senão toda a composição fotográfica poderá ficar muito escura. Testes de fotometragem deverão ser realizados também em pacientes de raça negra. O flash devera ser sempre posicionado no lado temporal do paciente quando se deseja fotografar apenas um olho e isto evitará sombras incômodas na fotografia ocasionada pela presença do nariz, proeminência da testa, etc. Quando se deseja fotografar ambos os olhos simultaneamente, a fonte de luz deverá estar situada no centro próximo à lente objetiva da máquina. O resultado será uma iluminação uniforme da área a ser fotografada sem sombras perturbando o campo desejado. Este cuidado é muito importante quando se fotografa pacientes estrábicos, por exemplo, onde também é importante que os pontos luminosos de reflexo corneano do flash coincidam com as pupilas do paciente. TIPOS DE FILMES - O filme a ser utilizado em macrofotografias com flash é o de slides do tipo DAYLIGHT, ou seja, exatamente o mesmo tipo de filme utilizado para fotografias sem flash e em situações que NÃO sejam de macrofotografia. No Brasil, os filmes mais comumente encontrados são o Ektachrome, o Fujichrome e também o Agfachrome. A macrofotografia é utilizada largamente na Oftalmologia para a documentação de lesões cutâneas, lesões palpebrais, patologias da conjuntiva, estrabismos fotografias de atos cirúrgicos, tumores com extensão orbitária, etc. (Fig. 1). SEGUNDA PARTE - FOTOGRAFIAS EM LÂMPADA DE FENDA

INTRODUÇÃO Muitas condições que afetam o globo ocular somente podem ser documentadas fotograficamente se for utilizado um biomicroscópio. Alterações corneanas, humor aquoso ou vítreo, alterações cristalinianas, íris, etc., necessitam de um exame sob biomicroscopia e podem inclusive, ser fotografadas sem maior dificuldade, uma vez que a fotografia é a melhor possibilidade para fazer-se acompanhamento de casos clínicos ou mesmo cirúrgicos. ACESSÓRIOS DISPONÍVEIS PARA A BIOFOTOGRAFIA Acessórios para fotodocumentar patologias em limpada de fenda já são conhecidos desde 1949[5] ou antes. Devemos salientar o trabalho de QUEIROGA[4] datado de 1960, publicado na Ophtalmologica, onde existe referência à montagem de um equipamento fotográfico acoplado ao Biomicroscópio Haag-Streit, bem como dados técnicos para a obtenção de fotos em cortes ópticos. Atualmente estão disponíveis no comércio vários biomicroscópios com equipamento fotográfico incorporado[2], não requerendo do usuário nenhum tipo de adaptação à lâmpada de fenda original. Os mais conhecidos são os equipamentos da linha Topcon, Nikon ou Zeiss. São equipamentos de custo bastante significativo. Possuem uma unidade de flash acoplada à fonte de iluminação do biomicroscópio permitindo, com isso, uma alta velocidade de disparo da fotografia, eliminando, assim, pequenos movimentos que o paciente possa fazer com os olhos. Nestes equipamentos, são utilizados sistemas de flash que não causam no paciente tanta fotofobia, muito comum em patologias corneanas e inflamações do segmento anterior. O filme mais empregado é o de slide do tipo Daylight de ASA 100 ou 200. Por outro lado, pode-se adapatar aos biomicroscópios convencionais um equipamento fotográfico. Esta adaptação é bastante fácil e, portanto, de custo bastante acessível. O biomicroscópio Haag-Streit ou seus similares como o Topcon, Inami e outros, podem acoplar uma máquina fotográfica diretamente em uma de suas oculares[1,2]. Os acessórios atualmente disponíveis para esta adaptação estão relacionados no trabalho de MARTONYI[2] publicado em 1987. Nossa experiência em fotografar através da lâmpada de fenda está baseada principalmente na utilização de um acessório produzido no Brasil (Fig. 1), que substitui a lente objetiva da máquina fotográfica por uma das oculares de 10 X do biomicroscópio. Tal dispositivo pode ser comparado ao Olivari Photo Attachment, produzido pela Jadmed ou ao TE-400 Photo System, produzido pela Technical Enterprises[2]. FOTOGRAFANDO COM BIOMICROSCÓPIO ADAPTADO Com este sistema não se utiliza flash. A iluminação é conseguida com a própria luz da fonte de iluminação da lâmpada de fenda. A máquina fotográfica necessita ser do tipo Reflex, tendo sua lente original substituída por um acessório que vai ser introduzido na lente ocular do biomicroscópio. Isto faz com que não se disponha de diafragma para controlar a entrada de luz e, conseqüentemente, a fotometragem deverá ser realizada variando-se a abertura da fenda do biomicroscópio ou então variando-se a velocidade de disparo na máquina fotográfica. Como a quantidade de luz disponível não é muito grande, a velocidade de disparo da máquina vai ser lenta e isto deixa a fotografia mais vulnerável a pequenos movimentos que o paciente possa fazer com os olhos. Outro inconveniente nesta adaptação é o tipo de luz emitida pelas lâmpadas de filamento de tungstênio que os biomicroscópios possuem. Em primeiro lugar, emitem uma grande quantidade de calor que faz com que o paciente não suporte com muito conforto um tempo excessivo aguardando fotometragens, centralização da foto, focalização, disparo, etc. Algumas vezes, a utilização de anestésico tópico pode se fazer necessária, porém salientamos que alterações epiteliais na córnea poderão aparecer dificultando ainda mais a visualização desejada. Outro inconveniente do tipo de luz emitida é a necessidade da utilização constante de filmes do tipo Tungstênio que compensa a tendência à radiação amarela emitida pelo filamento da fonte de iluminação. Se for utilizado um filme normal do tipo Daylight, todas as cores tenderão ao amarelo. O filme de Tungstênio que se consegue no Brasil é o Kodak EPT 160. Este filme poderá ser conseguido em lojas para profissionais. Poderá também ser tentado localizar o filme 3M ASA 640 TUNGSTÊNIO, cujo resultado final ainda seria superior devido à maior sensibilidade do mesmo. Nós não temos experiência pessoal com este último tipo de filme. Se quisermos fotografar unicamente a córnea, não será necessário utilizar o filme de Tungstênio e neste caso em particular, a utilização de um filme Kodak Ektachrome Daylight ASA 400 será a melhor indicação. Tal tipo de filme também poderá ser empregado na documentação de células no aquoso ou flare(fenômeno de TYNDALL). Não se pode esquecer que a biomicroscopia é um exame dinâmico, onde se utiliza permanentemente vários tipos de iluminação como: direta, tangencial, retroiluminação, transiluminação etc., sempre buscando uma melhor demonstração de alguma patologia ou de alguma estrutura especificamente. Sempre que for possível, será interessante se obter fotos com diferentes tipos de iluminação, uma vez que a fotografia capta apenas um momento deste exame. Também variações na abertura da fenda e diferentes filtro, do biomicroscópio poderão ajudar em determinadas fotografias. Exemplo: uma úlcera de córnea poderá ser fotografada com a luz azul do filtro excitador da fluoresceína e isto irá salientar a

lesão corada. Pode-se obter outra foto com a fenda ampla para se ter uma visão em conjunto da lesão com as demais estruturas oculares e sua localização em relação à área pupilar e, finalmente, podemos obter esta fotografia em corte óptico para se poder estudar a maior ou menor profundidade da úlcera no parênquima corneano. A propósito dos corantes tópicos, é útil lembrar que são mais utilizados a Fluoresceína e a Rosa de Bengala. Ambos podem ser facilmente fotografados. A Rosa de Bengala tem a vantagem de não necessitar filtro excitador e, conseqüentemente, não será necessário compensação de diafragma no momento de fotografar qualquer lesão por ela corada. A lesão corada pela Fluoresceína poderá ser melhor visualizada pela utilização do filtro Azul Cobalto e para ser melhor fotografada pode-se até aumentar em 2 ou 3 vezes a abertura do diafragma. O resultado final com esta superexposição será superior ao da mesma lesão fotografada com fotometragam normal. TERCEIRA PARTE - GONIOFOTOGRAFIA INTRODUÇÃO É bem conhecido de todos a impossibilidade de se visualizar as estruturas do ângulo da câmara anterior e o trabeculado, sem o auxílio das lentes de gonioscopia. Isto se deve ao fato da luz emanada do seio camerular sofrer uma reflexão total devido à curvatura da córnea (Fig. 1). Por este motivo, sempre se utilizam lentes especiais para se fazer a gonioscopia. Basicamente existem dois tipos de lentes para a gonioscopia: as lentes diretas, tipo KOEPPE e as lentes indiretas, tipo GOLDMANN (Fig. 2 e 3). As lentes diretas são utilizadas com o paciente deitado e com o auxílio de uma fonte iluminadora auxiliar, como, por exemplo, o próprio microscópio cirúrgico, ou o gonioscópio de HEINE ou mesmo o iluminador de BARKAN. São extremamente úteis em exames de crianças,sob anestesia geral. Estas lentes também permitem uma excelente visualização o fundo de olho tanto com a oftalmoscopia direta quanto com a oftalmoscopia binocular indireta[6]. As lentes indiretas são mais populares em nosso meio. São lentes espelhadas e foram primeiro desenvolvidas por GOLDMANN. Permitem o exame do ângulo camerular com o paciente sentado ao Biomicroscópio. Recebem o nome de indiretas porque se utilizam de espelhos com diferentes angulações para melhor visualização das estruturas angulares ou do fundo de olho (Fig. 4). Ambas permitem que o seio camerular seja bem examinado e conseqüentemente fotografado. GONIOFOTOGRAFIA SLOAN E LICHTER[7], publicaram, em 1967, um método de fotodocumentação do seio camerular com as lentes do tipo direto de KOEPPE e utilizando uma câmera portátil para fundo de olho produzida pela Kowa. KIMURA e WATANABE[2,3,4]. desenvolveram outro método fotográfico para a gonioscopia utilizando também as lentes diretas de KOEPPE e o biomicroscópio fotográfico da Zeiss. Os adeptos das lentes indiretas poderão utilizar, com excelentes resultados fotográficos, as lentes de 1, 2 ou 3 espelhos de GOLDMANN. Existe também disponível a lente de 3 espelhos de GOLDMANN com uma lente acessória plano convexa, alinhada com o espelho de gonioscopia. É a lente de WURTH (5) que permite maior magnificação da imagem das estruturas angulares. Nossa experiência em goniofotografia está principalmente baseada na utilização do biomicroscópio Haag-Streit 900 com o dispositivo fotográfico adaptado a uma das oculares e com a utilização da lente de 3 espelhos de GOLDMANN. Como já foi descrito na segunda parte deste trabalho, é necessário o emprego de filme do tipo Tungstênio e o resultado final é bastante satisfatório (Fig. 5). Lembramos sempre que este tipo de fotografia necessita tempo e bastante prática para ser realizado com recursos tão limitados e que as lentes velhas e riscadas por poucos cuidados fazem diminuir muito a qualidade das fotografias obtidas. Sugerimos, inclusive, que novas lentes sejam adquiridas e utilizadas exclusivamente para a goniofotografia. QUARTA PARTE - PREPARAÇÃO DE SLIDES DIDÁTICOS INTRODUÇÃO Bons slides para utilização em aulas, congressos ou conferências são muito importantes para se conseguir manter o público atento à apresentação, facilitando assim o aprendizado. A confecção deste tipo de diapositivos é bastante simples e necessita-se apenas alguns poucos acessórios e conhecimentos

básicos de fotografia. ACESSÓRIOS PARA CONFECCIONAR SLIDES DIDÁTICOS Inicialmente necessitamos de uma mesa de cópia. Esta mesa possui um suporte móvel onde se fixa a câmera fotográfica. Geralmente, estas mesas de cópia já se acompanham de iluminação. A iluminação é conseguida através de 2 lâmpadas do tipo "fotoflood" de 250 ou 500 W. A máquina fotográfica precisa ser REFLEX e equipada com algum dos acessórios para a macrofotografia que já foram descritos na primeira parte deste trabalho. Filtros de diferentes cores serão utilizados, dependendo da cor escolhida para fundo nos slides (Fig. 1). QUANTO AO TEXTO A SER FOTOGRAFADO O texto nunca deverá ser extenso e sim bastante simplificado para possibilitar a leitura rápida do mesmo por parte do público. Preferencialmente, deverá conter poucas palavras ou então o mínimo de frases indispensáveis. Lembre-se que o orador deverá utilizar-se do slide apenas para se orientar durante a palestra e jamais para dar aula lendo os dizeres contidos no slide. Este texto deverá ser escrito de preferência numa máquina de escrever elétrica do tipo IBM ou similar, porque, nestas máquinas, a impressão é sempre uniforme. Defeitos na impressão e correções nas palavras serão muito visíveis na macrofotografia, diminuindo assim a beleza do diapositivo. TÉCNICAS SUGERIDAS Inicialmente datilografa-se o texto, sem rasuras ou correções, distribuindo-se as palavras de modo harmônico sobre o papel. Coloca-se a máquina fotográfica com o acessório para a macrofotografia no local próprio na mesa de cópia. Usa-se um filtro colorido sobre a lente objetiva da máquina. A escolha da cor desse filtro dependerá da cor que se deseja obter para fundo nos slides. Utiliza-se filme de slides tipo Daylight de qualquer sensibilidade, sendo mais empregado o Ektachrome de ASA 100. Deverá ser utilizado o fotômetro da máquina fotográfica para uma adequada exposição. Na fotometragem deve-se tomar o cuidado especial de se SUPEREXPOR o filme, ou seja, utiliza-se uma velocidade de abertura do diafragma padrão, por exemplo, 30. Esta velocidade poderá ser sempre a mesma para todos os slides necessários. Com o fotômetro da máquina ligado, faz-se a leitura da abertura do diafragma da lente objetiva que se adeqúe a uma fotometragem normal. Após isto, abre-se o diafragma exatamente 2 números a mais e isto vai gerar uma superexposição melhorando muito a cor do fundo que ficará bem mais forte, mais carregado. Exemplo: com a velocidade em 30, o fotômetro marcará para abertura do diafragma o número 8 como fotometragem ideal. Devemos, portanto, abrir o diafragma mais ainda até o número 4, isto significa abrir o diafragma o dobro do que o necessário e assim por diante. Apôs a obtenção das fotografias, o filme devera ser enviado para revelação e é NECESSÁRIO pedir ao laboratório para este ser revelado no processo C-41 que é o utilizado para processar fotografias coloridas e NÃO usar o processo E-6 que é o processo empregado para revelação de slides. Isto fará que o texto datilografado com letras pretas em papel branco fique com as letras brancas e o fundo na cor complementar da cor do filtro utilizado, ou seja, se for utilizado um filtro da cor amarela, conseguiremos slides com a cor do fundo azul. Outro método seria a utilização do filme para fotografias coloridas em papel tipo Kodakolor ou Fujicolor ASA 100, sem nenhum filtro colorido. Também a revelação deverá ser no processo C-41. O filme processado poderá ser cortado e colocado em molduras para slides os quais terão sempre letras brancas sobre fundo marron. Ainda-outra possibilidade seria a utilização do filme Kodalith Ortho 6556 topo 3 de alto contraste. É uma técnica muito utilizada principalmente por profissionais, tornando assim bastante significativo o custo final de cada slide. O resultado com esta última técnica será um slide de fundo preto com letras brancas bastante contrastado. Estas letras poderão ainda serem pintadas com tinta Ecoline, variando-se as cores das mesmas segundo a necessidade didática do texto. Na Fig. 2 pode-se verificar o resultado obtido com estas 3 técnicas. PRIMEIRA PARTE - FOTOGRAFIA OCULAR EXTERNA REFERÊNCIAS 1. COOPER, J. D.; ABBOTT, J. C. - Nikon Handbook Series: Close-up Photography and Copying. Garden City, N. Y.: American Photographic Book Publishing Co., 1979.

2. DOUVAS, N. - Anterior segment photography. Am. J. Ophtalmol. 33: 291-292,1950. 3. JUSTICE JR, J. - Ophthalmic Photography - Linie, Brown and Company. Boston USA - 1982. 4. LICHTER, P. - Transillumination photography of the eye. Am. J. Ophthalmol. 73: 927-931, 1972. 5. MARTONYI, C. - Ophthalmic Photography. In: The Ophthalmic Assistant., 4 ed. - The C. V. MosbyCompany - st. Louis,Toronto, pg. 617-649.1983. 6. QUEIROGA, G. - Lampe a fente et photographie. Ophtalmologia, 140: 129-134, 1960. 7. QUEIROGA, G. - Fotografia em Oftalmologia. Anais do XII Congresso Brasileiro de Oftalmologia, Belo Horizonte, 1962. SEGUNDA PARTE - FOTOGRAFIAS EM LÂMPADA DE FENDA 1. GUILLEBON, H. F. de; LEE, P. - An electronic photo-flash unit for Haag-Streit Slit Lamp model 900) photography. Arch. Ophthalmol., 81: 1-3,1969. 2. MARTONYI, C. L. - Photographic slit-lamp biomicroscopes. Ophthalmology, 94 sup: 31-45, 1987. 3. PRINCE,I.H. - New slit-lamp color camera. Arch.Ophthalmol., 57:49-51, 1957. 4. QUEIROGA, G. - Lampe a fente et photographie. Ophthalmologica, 140:129-134, 1960. 5. SYSI, R. - A simple device supplementary to the slit-lamp to photograph the parts of the eye. Acta Ophthalmol, 27:403-408, TERCEIRA PARTE - GONIOFOTOGRAFIA 1. CASTROVIEIO, R. - Goniophotography. Photography of the angle of the anterior chamber in living animais and human subjects. Am. J. Ophthalmol., 18:524, 1935. 2. KIMURA, R.; WATANABE, T. - A new method of high power goniophotography. Jap. J. Ophthalmol., 16: 123,1972. 3. KIMURA, L; WATANABE, T - A new method of goniophotography. Magnifying goniophotography. Acta soc. Ophthalmol. Jap., 76:126, 1972. 4. KIMURA, R. - Color atlas of gonioscopy. Igaku Shoin ltda. Tokyo, The Williams & Wilkins Company. Baltimore USA, First editions, 1974. 5. RIEDEL, H. - Photography.Equipment for examination and photography of the chamber angle. Em Glaucoma. Conceptions of a Disease. W.B. Saunders Company. Philadelphia, London, Toronto and George Thieme Publishers, Stuttgart, 1978 6. SHAFFER, R N. - Gonioscopy. Em Symposium on glaucoma. Transactions of the New Orleans Academy of Opthalmology 1975 - The C. V. Mosby Company, Saint Louis, 210,1975. 7. SLOAN, D. B.; LICHTER, P. R. - Simplified goniophotography. Am. J. Ophthalmol., 63 1801-1802, 1963. ABSTRACT Through this paper the authors seek to analyse the present possibilities of the ophthalmic photography. It should be noted that the equipment used is simple and not costly enabling its use by anyone with excellent practical results. This paper regards four specific areas as follows: external eye photography, equipment and technique; slit-lamp photography; goniophotography and the preparation of slides for showing and didactic purposes.