AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA

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Transcrição:

AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA

Ministro de Estado do Meio Ambiente JosØ Carlos Carvalho SecretÆrio de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos - SQA Eduardo Sales Novaes Diretora do Programa Iara Verocai Equipe do Projeto Instrumentos de Gestª o - PROGESTˆ O Ana Elizabeth Fernandes Ilma das Gra as de Sousa Jorge Brito Batista Lia M arcia Silva Hora Marie Kalyva M arilia Valle dos Reis Nelson Amaral Nunan EustÆquio

Ministério do Meio Ambiente-MMA Centro de Informação e Documentação Luís Eduardo Magalhães - CID Ambiental Esplanada dos Ministérios - Bloco B - térreo 70068-900 - Brasília, DF Tel: 5561 317-1235 Fax: 5561 224-5222 e-mail: cid@mma.gov.br Impresso no Brasil Avaliação ambiental estratégica --- Brasília: MMA/SQA, 2002. 92p. 1. Meio Ambiente 2. Avaliação ambiental 3. Política ambiental 4. Planejamento I. Ministério do Meio Ambiente. CDU 504

Ministério do Meio Ambiente - MMA Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos - SQA Projeto Instrumentos de Gestão - PROGESTÃO Avaliação Ambiental Estratégica Brasília 2002

Ministério do Meio Ambiente - MMA Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos - SQA Projeto Instrumentos de Gestão - PROGESTÃO EQUIPE TÉCNICA CONSÓRCIO PRIME/TETRAPAN Maria do Rosário Partidário Consultora Carlos Henrique Aranha Prime Engenharia Ltda Lídia Biazzi Lu Tetraplan Ivan Carlos Maglio Consultor MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE Iara Verocai Edição e revisão de texto Nelson Amaral Nunan Eustáquio Revisão de texto

Sumário APRESENTAÇÃO...7 1. ANTECECENTES...9 2. FUNDAMENTOS DA AAE... 11 2.1. Objetivos... 11 2.2. Bases conceituais...12 2.2.1.Terminologia...12 2.2.2. Definição...12 2.2.3. Tipos de AAE e suas aplicações...13 2.3. Princípios diretores...15 2.4. Relações da AAE com outros instrumentos de política ambiental...17 2.5. Modelos institucionais e de procedimentos...19 2.6. Requisitos para a implementação da AAE...21 3. EXPERIÊNCIA DE APLICAÇÃO DA AAE...24 3.1. Experiência internacional...24 3.1.1. Nova Zelândia...24 3.1.2. Canadá...26 3.1.3. Dinamarca...28 3.1.4. Grã-Bretanha...31 3.1.5. Holanda...33 3.1.6. Estados Unidos da América...36 3.1.7. Diretrizes adotadas pela União Européia...39 3.1.8. Banco Mundial...40 3.2. Experiência brasileira...42 4. MÉTODOS E TÉCNICAS...48 4.1. Antecedentes...48 4.2. Procedimentos técnicos básicos...49 4.2.1. Questões iniciais...49 4.2.2. Etapas seqüenciais...50 5. SUBSÍDIOS À APLICAÇÃO DA AAE NO BRASIL...61 5.1. Consensos...61 5.2. A AAE e a realidade brasileira...62 5.3. Recomendações gerais para a instituição da AAE...64 5.4. Implementação da AAE no âmbito federal...68 5.4.1. Plano Plurianual de Investimento...68 5.4.2. Setor de energia elétrica...74 5.4.3. Setor de transporte...77 GLOSSÁRIO...81 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...89

8

Apresentação A Agenda de Prioridades do Ministério do Meio Ambiente - MMA estabelece o aprimoramento do licenciamento ambiental e dos demais instrumentos de política e gestão ambiental como um dos principais objetivos das ações a serem desenvolvidas pela Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos (SQA). Tal aprimoramento deve contemplar não só os aspectos técnicos, administrativos e políticos, mas também a efetividade do emprego desses instrumentos, com vistas à real melhoria da qualidade do meio ambiente no País. A SQA tem como objeto de trabalho, por um lado, os problemas ambientais de âmbito nacional, referentes ao controle da poluição e à implantação de empreendimentos de infra-estrutura e desenvolvimento econômico (Agenda Marrom). Por outro lado, deve fazer face aos problemas associados às carências que ainda impedem a boa prática e a modernização da gestão ambiental por parte das entidades de meio ambiente, principalmente as deficiências referentes à implementação dos instrumentos de apoio ao licenciamento ambiental (monitoramento, fiscalização, auditoria, gestão de risco, ordenamento ambiental) e à promoção da sustentabilidade financeira das ações das referidas entidades. No processo de modernização da gestão, conforme projetada pelo MMA, se destacam a implementação de diálogo e a articulação institucional com os setores estratégicos de Governo, visando à construção de agendas ambientais. A iniciativa de diálogo setorial, promovida pelo MMA, rompe com a tendência de ações corretivas e individualizadas, e passa a uma postura preventiva, mais pró-ativa, com os diferentes usuários dos ativos ambientais, notadamente os setores de energia elétrica, petróleo, transporte e assentamento rural. Por outro lado, investe no aprimoramento técnico das atividades de licenciamento e gestão ambiental, tanto em nível estadual quanto federal, por intermédio de projetos de cooperação com o IBAMA e entidades estaduais de meio ambiente, destacando-se Programa de Fortalecimento Institucional para o Licenciamento Ambiental, resultado do Acordo de Empréstimo 1013/AF BR, Banco Interamericano de Desenvolvimento BID. O referido Programa tem como objetivos fortalecer a operacionalização, estabelecer condições de sustentabilidade, modernizar, normalizar e divulgar normas e procedimentos e promover a desconcentração das atividades do sistema de licenciamento ambiental, no âmbito federal. Concentra-se no reforço e na capacitação técnica das equipes do IBAMA que operam em Brasília e suas unidades regionais, na implementação de sistemas de informação e na elaboração de uma série de manuais técnicos e de procedimentos que servirão como base de conhecimento e instrução para o aprimoramento dos processos de licenciamento ambiental de competência federal. Em que pese a ênfase dada ao licenciamento ambiental, faz parte ainda das diretrizes do MMA a consideração dos preceitos de proteção do meio ambiente nas diferentes etapas de planejamento dos demais setores de governo. Um dos problemas identificados na prática do 9

licenciamento ambiental é a interferência de questões ambientais pertinentes a esferas superiores de tomada de decisão nas discussões e negociações envolvidas na análise e na aprovação de projetos de atividades isoladas. Assim, complementando a estratégia de trabalho da SQA, estão sendo desenvolvidas algumas atividades com vistas à implementação sistemática da avaliação ambiental estratégica no País. Como parte do Programa de Fortalecimento Institucional para o Licenciamento Ambiental foi elaborado o estudo Avaliação Ambiental Estratégica, objeto desta publicação, que consolida os resultados do trabalho Estudos para Elaboração do Manual de Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), objeto de contrato firmado com Consórcio PRIME/TETRAPLAN, e incorpora elementos colhidos em seminários de trabalho realizados em 2001, com a participação de representantes de órgãos e instituições governamentais de meio ambiente e planejamento. O presente estudo constitui a primeira abordagem do MMA sobre o tema avaliação ambiental estratégica, tendo como objeto divulgá-lo para profissionais do Governo e da iniciativa privada e, como segundo, motivar dos meios acadêmicos e governamentais para o seu desenvolvimento, com vistas à sua adoção gradual no âmbito dos processos de planejamento dos diferentes setores de governo. Para isto, apresenta a síntese dos conceitos fundamentais e do conhecimento técnico básico sobre o assunto, a experiência de aplicação da avaliação ambiental na formulação de políticas, planos e programas em diversos países, na União Européia, no Banco Mundial e no Brasil, e oferece sugestões sobre as medidas e os procedimentos necessários para sua prática no contexto de alguns setores de governo. Outras iniciativas que merecem destaque dizem respeito à cooperação com o setor de petróleo voltadas para aplicação da avaliação ambiental estratégica ao planejamento dos campos de concessão de exploração de petróleo e para a realização de estudos com vistas à definição de procedimentos e critérios técnicos para a implementação da avaliação ambiental estratégica no âmbito do planejamento dos setores de petróleo e geração de energia elétrica. Ainda sobre o tema, ressalta-se as gestões realizadas pelo MMA junto ao Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão que decidiu contratar estudos de avaliação ambiental estratégica dos Eixos Norte e Oeste do Programa Avança Brasil. Eduardo Sales Novaes Secretário de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos Ministério do Meio Ambiente 10

1. Antecedentes A última década assistiu a uma rápida e controversa evolução da política ambiental: de um lado, recrudesceu o questionamento sobre decisões tomadas à revelia das devidas considerações ambientais e, de outro, não faltaram mecanismos e instrumentos legais, aparatos técnicos e metodológicos e soluções operacionais para prevenir e resolver problemas críticos de degradação ambiental. O questionamento deveu-se, fundamentalmente, ao fato de não se ter encontrado resposta para os novos desafios proclamados durante a Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e o Desenvolvimento, de 1992, além de não se ter conseguido integrar, de forma clara e definitiva, as questões ambientais, econômicas e sociais, em busca do desenvolvimento sustentável. Quanto aos mecanismos legais e outras providências de aprimoramento da gestão ambiental, os resultados sentiram-se por conta da melhoria dos instrumentos aplicáveis às decisões a respeito da implementação de novas políticas e programas de desenvolvimento que afetam a qualidade do meio ambiente. Neste sentido, foram significativos os avanços processuais e metodológicos da avaliação ambiental estratégica (AAE). Outros dizem respeito ao aumento da sensibilização ambiental dos setores público e privado e o emprego voluntário de instrumentos de controle ambiental, como a auditoria ambiental e os programas de gestão ambiental, surgidos no rastro das normas ISO 14 000, tendo sido inegável a mudança de valores e atitude, por parte dos empresários, relativa às responsabilidades de proteção do meio ambiente. No Brasil, o progresso do arcabouço jurídico institucional tem sido relevantes. Alguns marcos jurídicos importantes reforçaram, na década de 90, a base legal da gestão ambiental e os princípios e objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente, que havia sido estabelecida em 1981. A Constituição Federal de 1988 já os havia confirmado, consagrando a exigência de prévia avaliação de impacto ambiental para a implantação de atividades e obras que afetem o meio ambiente. Cumprindo outro preceito constitucional, a Lei n. º 9.433, de 08 de janeiro de 1997, criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, determinando as responsabilidades institucionais e os instrumentos de gestão de bacias hidrográficas e proteção da qualidade e uso sustentável da água. A Lei de Crimes Ambientais (Lei n.º 9.605, de 13 de fevereiro de 1998), por sua vez, definiu o que se entende por crime ambiental e estabeleceu penalidades, sujeitando a detenção e multa as pessoas físicas e jurídicas que implantarem qualquer empreendimento potencialmente poluidor sem as devidas autorizações e licenças ambientais, causarem poluição ou deixarem de cumprir dever legal ou contratual referente a obrigação de relevante interesse ambiental. Outros domínios da política ambiental também foram objeto de leis e regulamentos, tais como a proteção dos ecossistemas e a conservação da biodiversidade, o ambiente urbano, o ordenamento ambiental e a proteção das comunidades indígenas. Ao mesmo tempo, uma série de resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) regulamentou importantes aspectos da política ambiental, entre as quais se destacam os referentes à gestão ambiental das atividades potencialmente poluidoras e modificadoras do meio ambiente, em particular o licenciamento ambiental, a delegação de competência aos municípios para o licenciamento de atividades de impacto local e a compensação, por parte dos empreendedores, dos impactos negativos e do uso de recursos ambientais sob forma de investimento em conservação ambiental. 11

Nas esferas das Unidades da Federação, os avanços da legislação ambiental foram menos significativos, embora tenham surgido algumas e regulamentos referentes a instrumentos avançados de gestão ambiental, como o ICMS ecológico e a auditoria ambiental. Em alguns municípios, a partir das leis orgânicas editadas em 1990, criaram-se sistemas institucionais de meio ambiente, acompanhados da legislação pertinente. A implementação da avaliação de impacto ambiental e do licenciamento de projetos de atividades de significativo potencial poluidor, a cargo dos órgãos de meio ambiente, consolidou-se como instrumento preventivo de política e gestão ambiental, apesar das dificuldades conjunturais por que tem passado a Administração Pública. Foram significativos os programas de capacitação institucional que tentaram minorar tais dificuldades, com apoio interno e externo, embora nem sempre tenham sido inteiramente aproveitados. A efetividade da avaliação de impacto ambiental se viu, também, ameaçada pela falta de consideração das variáveis ambientais em etapas de planejamento anteriores àquela de formulação dos projetos de grandes obras públicas e empreendimentos de iniciativa privada. Foram freqüentes os casos em que o processo de licenciamento e avaliação de impacto ambiental acabou por servir de ocasião para discussões a respeitos de questões relevantes em termos de suas conseqüências ambientais, porém pertinentes a diretrizes políticas de desenvolvimento econômico ou ao planejamento setorial. Por exemplo, o licenciamento de projetos de rodovias e ferrovias foi perturbado por conflitos e discussões a respeito da política de transporte, e o de usinas de geração de energia elétrica, por questões referentes aos efeitos ambientais da matriz energética ou, no caso de hidrelétricas, ao aproveitamento múltiplo das respectivas bacias hidrográficas. O licenciamento e a avaliação de impacto ambiental são instrumentos cujos objetivos limitamse a subsidiar as decisões de aprovação de projetos de empreendimentos individuais, e não os processos de planejamento e as decisões políticas e estratégicas que os originam. As questões e situações conflituosas em termos do uso dos recursos e da proteção ambiental surgidas nas diferentes etapas de formulação de políticas públicas e planejamento devem ser respondidas e solucionadas por meio de um processo seqüencial de entendimento e avaliação das conseqüências ambientais de sua implementação. Esta foi das razões por que se desenvolveu a AAE, que é, reconhecidamente, o instrumento de política ambiental adequado para promover a articulação das várias dimensões de uma dada política, um plano ou um programa de desenvolvimento, permitir que se explicitem com clareza seus objetivos e as questões ambientais relacionadas à sua implementação, orientar os agentes envolvidos no processo e indicar os caminhos para sua viabilização econômica, social e ambiental, facilitando ainda a avaliação de impactos cumulativos porventura resultantes das diversas ações a serem desenvolvidas. Outra razão, além das insuficiências observadas na avaliação ambiental de projetos, foi a crescente consciência, em diversos países e instituições internacionais, de que a formulação e a implementação de políticas, planos e programas deve ter como base o uso racional dos recursos, a proteção do meio ambiente, a prevenção da degradação ambiental e, acima de tudo, a promoção dos princípios e das práticas do desenvolvimento sustentável. 12

2. Fundamentos da AAE 2.1 Objetivos A Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) é um instrumento de política ambiental que tem por objetivo auxiliar, antecipadamente, os tomadores de decisões no processo de identificação e avaliação dos impactos e efeitos, maximizando os positivos e minizando os negativos, que uma dada decisão estratégica a respeito da implementação de uma política, um plano ou um programa poderia desencadear no meio ambiente e na sustentabilidade do uso dos recursos naturais, qualquer que seja a instância de planejamento. Entre os benefícios que se podem esperar como resultado da aplicação da AAE, destacam-se os seguintes: visão abrangente das implicações ambientais da implementação das políticas, planos e programas governamentais, sejam eles pertinentes ao desenvolvimento setorial setoriais ou aplicados a uma região; segurança de que as questões ambientais serão devidamente tratadas; facilitação do encadeamento de ações ambientalmente estruturadas; processo de formulação de políticas e planejamento integrado e ambientalmente sustentável; antecipação dos prováveis impactos das ações e projetos necessários à implementação das políticas e dos planos e programas que estão sendo avaliados; e melhor contexto para a avaliação de impactos ambientais cumulativos potencialmente gerados pelos referidos projetos. A contribuição para um processo de sustentabilidade, a geração de um contexto de decisão mais amplo e integrado com a proteção ambiental e a melhor capacidade de avaliação de impactos cumulativos constituem os benefícios mais notáveis da AAE, em sua capacidade de instrumento de política ambiental. Além do mais, a AAE traz o benefício de facilitar a avaliação individual dos projetos implantados como resultado dos planos e programas que lhes deram origem. O Quadro 2.1, extraído do Estudo Internacional da Eficácia da Avaliação Ambiental (Sadler, 1996 e 1998), sistematiza os objetivos da AAE, relacionando-os aos citados benefícios. Apoiar o processo de promoção do desenvolvimento sustentável Decisão que integra aspectos ambientais e de desenvolvimento Formulação de políticas e planos ambientalmente sustentáveis Consideração de opções e alternativas ambientais melhores e mais praticáveis Fortalecer e facilitar a avaliação de impacto ambiental de projetos Identificação, o mais cedo possível, dos impactos potenciais das políticas, planos e programas de governo e dos efeitos ambientais cumulativos das ações e projetos necessários à sua implementação Consideração das questões estratégicas relacionadas à justificativa da necessidade e às propostas de localização dos futuros projetos Redução do tempo e dos recursos necessários à avaliação de impacto ambiental de projetos individuais 13

Quadro 2.1 - Objetivos e benefícios da AAE 2.2 Bases Conceituais 2.2.1 Terminologia A importância e a necessidade de se adotar um instrumento de política ambiental com os objetivos da AAE é amplamente reconhecida, embora o seu desenvolvimento ainda desperte algumas controvérsias. Uma delas diz respeito à terminologia. A expressão avaliação ambiental estratégica corresponde à tradução direta da inglesa strategic environmental assessment, designação genérica que se convencionou adotar para identificar o processo de avaliação ambiental de políticas, planos e programas. Tanto em inglês como em português a expressão não reúne o consenso dos profissionais da área de meio ambiente. A razão é de ordem etimológica e deve-se aos conceitos de meio ambiente e estratégia, revelando-se na aplicação prática as interpretações distintas da AAE. Com efeito, a designação adotada tem influenciado a comunicação sobre a matéria, bem como sua percepção por parte dos que a promovem e utilizam. Assim, têm surgido divergências em relação à amplitude atribuída ao conceito de meio ambiente, uma vez que, em alguns países, apenas as suas dimensões físicas e bióticas são consideradas. Em outros, meio ambiente adquire conotação mais ampla, que inclui, além dos fatores de ordem física e biótica, o homem e as atividades humanas em suas dimensões econômicas, sociais, institucionais e políticas. Por outro lado, a palavra estratégia é também passível de diversas interpretações. Para alguns, uma estratégia tem, essencialmente, natureza política de médio a longo prazo; para outros, generalizase o conceito de estratégia, passando-se ele a incluir tudo aquilo que possa acontecer no futuro, em qualquer escala temporal e espacial, desde a estratégia de implantação de um projeto até às estratégias de política e desenvolvimento regional ou setorial. Quaisquer que sejam os conceitos de meio ambiente e estratégia que se adotem, terá que existir sempre uma estratégia objeto de avaliação e, portando, de aplicação da AAE, e a avaliação ambiental deverá ser feita na mais ampla concepção de meio ambiente, considerando-se integralmente todas as suas dimensões e os princípios da sustentabilidade. 2.2.2 Definição A forma mais simples de se definir a AAE é como a avaliação dos impactos ambientais de uma política, um plano ou um programa. Esta definição, contudo, é demasiado vaga. Diversas têm sido as definições sugeridas para AAE, algumas associadas ao conceito de avaliação de impacto ambiental de projetos (Therivel, et. al., 1992), outras apoiadas no conceito de gestão ambiental e desenvolvimento sustentável (Sadler e Verheem, 1996). Propõe-se, portanto, uma definição de AAE que procure conciliar a noção de procedimento sistemático, pró-ativo e participativo, decorrente dos princípios da avaliação de impacto ambiental, com a natureza contínua e estratégica dos processos decisões a que se deve aplicar e, ainda, com a necessidade de se garantir uma perspectiva integradora das vertentes fundamentais de um processo de sustentabilidade: 14

Avaliação Ambiental Estratégica é o procedimento sistemático e contínuo de avaliação da qualidade do meio ambiente e das conseqüências ambientais decorrentes de visões e intenções alternativas de desenvolvimento, incorporadas em iniciativas tais como a formulação de políticas, planos e programas (PPP), de modo a assegurar a integração efetiva dos aspectos biofísicos, econômicos, sociais e políticos, o mais cedo possível, aos processos públicos de planejamento e tomada de decisão (Partidário, 1999). A AAE fundamenta-se nos princípios da avaliação de impacto ambiental (IAIA/IEA, 1999), constituindo, porém, um novo instrumento de gestão ambiental, que está associado aos seguintes aspectos: conceito ou visão de desenvolvimento sustentável nas políticas, nos planos e nos programa; natureza estratégica das decisões; natureza contínua do processo de decisão; e valor opcional decorrente das múltiplas alternativas típicas de um processo estratégico. A AAE é um instrumento de caráter político e técnico e tem a ver com conceitos e não com atividades específicas em termos de concepções geográficas e tecnológicas. Pode-se concluir, portanto, que a AAE não se confunde com: a avaliação de impacto ambiental de grandes projetos, como os de rodovias, aeroportos ou barragens, que normalmente afetam uma dada área ou um local específico, envolvendo apenas um tipo de atividade; as políticas, planos ou programas de desenvolvimento integrado que, embora incorporem algumas questões ambientais em suas formulações, não tenham sido submetidos aos estágios operacionais de avaliação ambiental, em especial, à uma apreciação de alternativas baseada em critérios e objetivos ambientais, com vista à tomada de decisão; e os relatórios de qualidade ambiental ou as auditorias ambientais, cujos objetivos incluem o controle periódico ou a gestão de impactos ambientais das atividades humanas, mas que não possuem como objetivo específico informar previamente a decisão relativa aos prováveis impactos de alternativas de desenvolvimento. 2.2.3 Tipos de AAE e suas aplicações A prática de aplicação da AAE ainda é limitada, mas sua importância e o papel que pode desempenhar nos processos de desenvolvimento sustentável vêm sendo discutidos há alguns anos. Sua necessidade é reconhecida e confirmada pela experiência, embora falte encontrar os modelos que melhor se ajustem a cada processo de decisão e, assim, tornem eficaz a sua aplicação. Freqüentemente, a AAE é vista como um instrumento único, pressupondo-se que sejam os mesmos os critérios, procedimentos e técnicas de avaliação a serem aplicados, quer se trate da avaliação de políticas, planos ou programas. Contudo, a prática tem demonstrado o contrário, tendo a AAE se revelado um instrumento extraordinariamente flexível. Com efeito, enquanto o processo de avaliação de impacto ambiental, dirigido ao licenciamento ambiental de projetos, apresenta aproximadamente as mesmas características, qualquer que seja a natureza do empreendimento (diferentes tipos de obra de infra-estrutura ou atividade econômica), distinguindo- 15

se apenas no conteúdo substantivo dos estudos de impacto ambiental, o processo de AAE, de acordo com o objeto de sua aplicação, assume distintas e variadas formas em termos tanto dos modelos institucionais em que opera como do seu conteúdo técnico. No Quadro 2.2, sistematizam-se os tipos de AAE mais citados na literatura e para os quais é possível reunir um conjunto de estudos de caso (CE-DGXI, 1996; Therivel & Partidário, 1996, Partidário & Clark, 2000). Contudo, uma análise mais detalhada de casos representativos permite concluir que o principal aspecto comum a esses tipos é a comunhão dos princípios de avaliação ambiental e, ainda, o fato de que todos são empregados em estágios de planejamento e decisão anteriores aos de avaliação de projetos. Processualmente, e mesmo em termos de abordagem metodológica, os tipos de AAE aplicam-se em contextos diferentes quanto aos respectivos modelos institucionais e operacionais. Por exemplo, a avaliação ambiental programática (Programmatic environmental assessment) tem sido usada, nos Estados Unidos, apenas para a avaliação ambiental de planos e programas. Esta é uma das razões pela qual, nos EUA, não se pode falar em prática de avaliação ambiental de políticas (Clark, 2000). Por outro lado, na Holanda, surgiram três abordagens distintas da AAE, a saber: teste ambiental (E-Test) para o trato de avaliação de propostas de legislação; avaliação de impacto ambiental estratégica, para planos e programas; e análise ambiental estratégica, para programas de cooperação internacional, em contextos participativos. Quadro 2.2 - Tipos Formais de AAE Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) termo genérico que identifica o processo de avaliação dos impactos ambientais de políticas, planos e programas (PPP); Avaliação de Impactos de Políticas (Policy Impact Assessment) termo adotado no Canadá para particularizar o processo de avaliação de impacto ambiental de políticas; Teste Ambiental (Environmental Test E-test) utilizado na Holanda para avaliação de políticas (propostas de legislação), utilizando um procedimento específico baseado numa listagem, critérios de sustentabilidade; Avaliação Ambiental Regional (Regional EA) tipo de AAE estabelecido pelo Banco Mundial para a avaliação das implicações ambientais e sociais de âmbito regional de propostas de desenvolvimento multisetorial, numa dada área geográfica e durante um período determinado; Avaliação Ambiental Setorial (Sectoral EA) tipo de AAE estabelecido pelo Banco Mundial para a avaliação de políticas e de programas de investimento setoriais, envolvendo sub-projetos múltiplos (apóia também a integração de questões ambientais a planos de investimento de longo prazo); Supervisão Ambiental (Environmental Overview) adotado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no processo de formulação de programas, para a identificação de oportunidades, impactos ambientais e sociais e a incorporação de medidas de mitigação na revisão de programas; Análise Ambiental Estratégica (Strategic Environmental Analysis) abordagem utilizada pela Agência Internacional de Financiamento da Holanda para a avaliação de planos e programas, por meio de procedimento participativo; Avaliação de Impacto Ambiental Estratégica (Strategic Environmental Impact Assessment) termo utilizado na Holanda para a avaliação de planos e programas, seguindo-se os mesmos procedimentos da avaliação de impacto ambiental de projetos; e Avaliação Ambiental Programática (Programmatic Environmental Assessment) tipo estabelecido nos Estados Unidos para a avaliação de grupos de projetos referidos a uma mesma área geográfica ou que guardam similaridades em termos de tecnologia e tipologia. 16

A natureza diferencial dos tipos de AAE diz respeito ao amplo leque de decisões estratégicas que seus procedimentos pode vir a subsidiar, conforme se exemplifica no Quadro 2.3. Quadro 2.3 - Âmbito de Aplicação da AAE Tratados Internacionais Processo de Privatização Programas Operacionais de Ajustamento Programas Operacionais de Estruturação Orçamentos Nacionais Planos Plurianuais de Investimento Propostas de Legislação e Regulamentação Políticas Globais e Setoriais Planejamento Físico de Uso do Solo Planejamento dos Recursos Hídricos Planejamento Setorial 2.3 Princípios Diretores Para que a AAE possa ser eficaz, um certo número de condições devem se fazer presentes, podendo elas serem entendidas como os princípios de boa prática da AAE (Quadro 2.4), grande parte dos quais se originam da boa prática da avaliação de impacto ambiental. É fundamental que a aplicação da AAE ocorra sob uma estrutura política integrada e de sustentabilidade que, por sua vez, forneça um referencial para a avaliação. No contexto da política, deverão estar definidos os objetivos de desenvolvimento sustentável e as metas de qualidade ambiental a serem alcançadas (benchmarks), que servirão de referência para a avaliação. O caráter integrador da estrutura política é que assegura a relação substantiva e de resolução que a AAE deve manter com os mecanismos tradicionais de tomada de decisão. É fundamental, ainda, definir as questões que se entendem como significativas ou relevantes no quadro da avaliação ambiental, pois, não apenas é impossível avaliar todas as prováveis implicações de uma proposta de estratégia como, em processos tão complexos, é naturalmente diverso o entendimento dos diversos atores. Finalmente, deve-se assegurar a transparência do processo de decisão, uma vez que, tal como a avaliação de impacto ambiental, a AAE é, acima de tudo, um processo público de avaliação. A AAE tem natureza política e de decisão, mais do que técnica. Deste modo, o contexto institucional em que se aplica é fundamental para a sua eficácia. Um dos princípios diretores essenciais da AAE é, portanto, a identificação do quadro de funções e responsabilidades das instituições envolvidas, assim como suas inter-relações, para que as avaliações ambientais das propostas de estratégia sejam conduzidas de forma efetiva. As regras básicas devem estar definidas em regulamento geral, mesmo quando o quadro institucional e legal em vigor e a natureza da decisão a ser tomada indiquem que se devem adotar formas e procedimentos de AAE meramente indicativos. 17