RESUMO DO RELATÓRIO FINAL DE EXECUÇÃO CIENTÍFICA DO PROJECTO INSPECT (PTDC/MAR/73579/2006) O projecto Espécies exóticas marinhas introduzidas em estuários e zonas costeiras Portugueses: padrões de distribuição e abundância, vectores e potencial de invasão - INSPECT, teve como instituições participantes o Instituto de Oceanografia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (IO-FCUL), a Universidade dos Açores (UAC), a Universidade de Évora (UE), o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, I.P. (ICNB), o Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos, I.P. (IPTM) e a Liga para a Protecção da Natureza (LPN). O principal objectivo do projecto foi investigar a ocorrência de espécies exóticas marinhas nos estuários e zonas costeiras portuguesas, avaliar a ocorrência de condições ambientais favoráveis à fixação de potenciais espécies invasoras e contribuir para a sensibilização do público para esta ameaça. O estudo teve uma abrangência espacial nacional, incluindo os arquipélagos da Madeira e Açores, incidindo sobre diferentes grupos taxonómicos, nomeadamente fitoplâncton, zooplâncton, macroalgas e invertebrados em substrato móvel e rochoso, através da utilização de técnicas adequadas. Foram realizadas amostragens em diferentes sistemas estuarinos e costeiros, nomeadamente os estuários do Tejo, Sado e Mira, diversas marinas ao longo de todo o território nacional e as áreas portuárias de Lisboa, Sines e Ponta Delgada e respectivas zonas adjacentes, assim como em tanques de lastro de nove navios seleccionados nos portos mencionados. No âmbito do presente projecto estava prevista a realização de um conjunto de seis tarefas distintas: 1. Revisão bibliográfica e compilação de dados 2. Aferição e intercalibração taxonómica 3. Espécies de invertebrados e macroalgas 4. Comunidades planctónicas 5. Integração de dados e avaliação dos padrões de introdução de espécies exóticas 6. Disseminação de informação e sensibilização do público No final do período de vigência do INSPECT, reportamos que foram completados os trabalhos referentes a todas as tarefas. Assim, a compilação dos elementos pré-existentes e a recolha de novas amostras em meio natural permitiu o desenvolvimento da base de dados de espécies exóticas marinhas para Portugal. A integração de todos os estudos efectuados no âmbito deste
projecto deu um importante contributo para a sistematização da informação existente sobre a ocorrência de espécies exóticas em meio marinho e estuarino, em Portugal. Para além disso, os resultados obtidos conferem conhecimentos adicionais para a compreensão dos processos de introdução de espécies exóticas e sucesso de colonização nos ecossistemas aquáticos em Portugal. Checklist de espécies exóticas para Portugal O levantamento bibliográfico, contacto com especialistas e amostragens realizadas no âmbito do projecto INSPECT permitiram identificar um total de 80 espécies exóticas para Portugal Continental, Madeira e Açores. No âmbito deste projecto foi observada a ocorrência de 26 espécies exóticas já registadas para Portugal, das quais 13 foram registadas para novos locais de ocorrência, e foram efectuados dois novos registos para Portugal, nomeadamente o briozoário Watersipora subtorquata e o cirrípede Perforatus perforatus. O trabalho de compilação e amostragem realizado evidenciou a escassez de dados existentes sobre a introdução de espécies em Portugal, uma vez que a base de dados europeia resultante do projecto DAISIE (www.europe-aliens.org) registava apenas um total de 43 espécies, 23 referenciadas para Portugal continental e 24 para os Açores. Estes números apontam para que o menor registo de espécies exóticas para Portugal esteja relacionado com a ausência de estudos específicos para esta temática e não para a ocorrência de condições desfavoráveis à fixação e colonização dos habitats nacionais por estas espécies, que era uma das hipóteses colocadas no início deste projecto. As datas do primeiro registo para cada espécie confirmam que a ausência de estudos anteriores justifica o baixo número de espécies registadas para Portugal, uma vez que a grande maioria dos registos foi efectuada após 2000 (60%), cerca de 16% e 13% nas décadas de 90 e 80, respectivamente, e sendo apenas 11% dos registos realizados antes de 1980. A maioria das espécies tem distribuição nativa na zona do Pacífico (34%) e Ásia (22%), sendo ainda relevante a presença de espécies originárias da região da Austrália (16%), Noroeste do Atlântico (10%) e Mediterrânio (7%). Grande parte das espécies exóticas está instalada nas zonas costeiras de Portugal continental, no entanto, 29 espécies foram registadas no arquipélago dos Açores e 26 ocorrem em zonas estuarinas, com destaque para o estuário do Tejo, onde foram registadas 17 espécies exóticas. Vias de introdução O conhecimento sobre as potenciais vias de introdução das espécies exóticas identificadas indica o tráfego marítimo como principal vector, com 32% das espécies potencialmente introduzidas através de águas de lastro e 33% através de incrustação em cascos de embarcações. Foram obtidos dados de tráfego marítimo nacional para os portos de Leixões (2006-2008), Aveiro (2006-2008), Lisboa (2006-2008), Setúbal (2006-2008), Sines (2006-2008), Faro (2006-2007), Ponta Delgada (2008), Caniçal (2006-2007), Funchal (2006-2008) e Porto Santo (2006-2007). A análise dos dados recolhidos indica uma predominância de tráfego
nacional e navios provenientes de portos localizados na Europa. Os portos de Leixões, Aveiro, Lisboa e Setúbal são aqueles que registam maior incidência de tráfego internacional, maioritariamente proveniente de países da Europa do Norte (i.e. Espanha, Reino Unido, Holanda, França, Itália e Bélgica, sendo o tráfego dos restantes portos nacionais dominado por navios provenientes do território nacional continental. O tráfego proveniente do Mar Mediterrâneo ocidental assume alguma relevância nos portos de Lisboa, Setúbal e Sines. Os navios cujas rotas incluem o arquipélago da Madeira e Açores são maioritariamente de circulação interna aos próprios arquipélagos, fazendo também percursos entre as ilhas e Portugal continental. O facto da maioria das espécies exóticas registadas ter distribuições nativas no Pacífico, Ásia e Austrália indica que grande parte das introduções será provavelmente secundária. Foi ainda efectuada uma análise dos tipos de navio mais frequentes nos portos nacionais, sendo os porta contentores (34%) e os graneleiros de líquidos (22%) e sólidos (19%) os navios mais frequentes a nível nacional. No entanto, os diferentes portos nacionais possuem especificidades relacionadas com o tipo de importações/exportações dominantes na região onde estão localizados, que determinam a frequência de cada categoria de navio. O porto de Lisboa é aquele onde há uma maior diversidade de tipos de navio, com dominância dos porta contentores, graneleiros de sólidos e líquidos e navios combiship (misto carga/contentores). No entanto, os portos de Leixões, Ponta Delgada e Caniçal operam sobretudo com porta contentores, enquanto que em Aveiro a maioria dos navios são graneleiros de sólidos e em Sines e Faro graneleiros de líquidos, maioritariamente petroleiros. Já os portos do Funchal e Porto Santo apresentam uma predominância de tráfego de navios de passageiros, uma vez que a Madeira é um destino turístico prioritário. Estas diferenças no tipo de navios a operar em cada porto tem potencial relevância para a introdução de espécies exóticas, tendo em conta as necessidades diferenciadas de efectuar trocas de lastro consoante o tipo de operação de carga/descarga que é efectuada. Os porta contentores teriam pouca necessidade de efectuar trocas de lastro, tendo em conta que carregam e descarregam volumes aproximados, no entanto são frequentes as operações de lastragem/deslastragem de pequena volumetria, para equilíbrio dos navios durante essas operações. Em contraste, os navios graneleiros são aqueles que apresentam as maiores necessidades volumétricas de trocas de águas de lastro, tendo em conta que a maioria das operações de carga/descarga são unilaterais. No entanto, em portos com grande relevância para importação/exportação de produtos petrolíferos, como é o caso de Sines, as águas de lastro são descarregadas numa estação de tratamento antes de serem lançadas no meio natural, com uma potencial redução do risco de introduções por esta via. Tendo isto em conta, as amostragens direccionadas para esta potencial via de introdução incidiram preferencialmente nos tanques de lastro dos navios porta contentores e foram complementadas com a análise das comunidades de quistos e fitoplâncton dos portos e marinas. As amostras analisadas permitiram verificar que na maioria dos tanques de lastro não foi encontrado fitoplâncton viável. O dinoflagelado tóxico Gymnodinium catenatum foi a espécie mais abundante, sugerindo o potencial para haver
exportação desta espécie das águas portuguesas para outros países do Norte da Europa. A análise das amostras de zooplâncton indicou que, em parte das amostras, estavam presentes organismos viáveis, provenientes de águas costeiras e estuarinas, no entanto, o trabalho de identificação ainda precisa de ser aprofundado para se poderem inferir aspectos relacionados com o potencial de introduções por esta via. Foi ainda investigado o papel dos Açores como zona dadora/receptora de espécies exóticas por via do lastro e a eficiência das trocas de águas de lastro em alto mar, tendo os resultados preliminares indicado que, tanto os organismos fitoplanctónicos como os zooplanctónicos apresentam taxas de sobrevivência bastante significativas após 7 dias de viagem. As trocas em alto mar parecem ser uma forma eficaz de minimizar a introdução de espécies costeiras, uma vez que os resultados obtidos indicam alguma dificuldade de adaptação de espécies oceânicas a zonas costeiras. A bioincrustação em cascos de embarcações comerciais e de recreio é outra via de introdução bastante relevante, cuja caracterização se revelou de difícil concretização. Apesar de terem sido enviados pedidos dos registos de tráfego a todas as marinas com tráfego internacional, apenas foram recebidos dados úteis das marinas de Ponta Delgada, Vilamoura, Albufeira, Sines e Tróia. O registo do porto de origem das embarcações permitiu concluir que a maioria delas era proveniente de outras marinas nacionais, indicando que esta via de transporte de espécies poderá potenciar as introduções secundárias intrarregionais. Por outro lado, o facto dos registos disponíveis apenas indicarem o último porto de recreio de passagem, não permite estabelecer o historial dos percursos de cada embarcação, indicando que a realização de inquéritos direccionados para utilizadores específicos de cada marina deverão ser uma abordagem alternativa a considerar em estudos futuros. Os resultados do INSPECT demonstraram que os barcos de recreio são efectivamente uma via de introdução relevante, uma vez que o estudo das comunidades de macroalgas das marinas de Lisboa e Oeiras e das zonas costeiras adjacentes mostrou uma representatividade muito maior de espécies exóticas nas marinas. A aquicultura representa uma via de introdução potencial para 9% dos registos de espécies exóticas, pelo que se efectuou um levantamento das espécies de invertebrados utilizadas para este fim, junto do IPIMAR. A única espécie não indígena actualmente utilizada para produção em aquicultura é o bivalve Crassostrea japonica, licenciada na Ria de Aveiro e nos sistemas salobros e costeiros do Algarve. Esta actividade já existe nestas áreas desde o início da década de 1990. Apesar de actualmente não haver cultura de Penaeus japonicus em nenhum dos sistemas aquáticos portugueses, esta espécie foi introduzida em Portugal em 1985, tendo sido objecto de produção nos estuários do Sado, Tejo e Mondego e na região algarvia. Em 1989, 1990 e 2010 foram capturados periodicamente espécimes em meio natural no estuário do Sado. Apesar da aquicultura ser o vector mais provável de introdução do bivalve Ruditapes phillipinarum em meios estuarinos, nunca foi atribuída qualquer licença para esta espécie em Portugal. Pensa-se que terá sido inicialmente introduzida em vieiros da costa Algarvia, a partir de Espanha, por ter fecundidades e taxas de crescimento elevadas (Ruano & Sobral., 2000).
Os inquéritos realizados junto de pescadores indicam que a introdução desta espécie em outros sistemas estuarinos portugueses possa ter sido efectuada intencionalmente pelos mesmos, uma vez que esta espécie pode ser extremamente abundante e é explorada comercialmente. Não se conhecem as potenciais vias de introdução para cerca de 27% dos registos de espécies exóticas, pelo que foram ainda analisadas as autorizações de importação de animais vivos do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade ICNB, no que respeita a macroinvertebrados, referentes ao ano de 2011. Através desta análise, foi possível verificar a importação de 125 taxa destinados a aquariofilia e isco para pesca desportiva. Assim, foram identificados 2 taxa pertencentes ao filo porífera, 39 cnidários, 36 anelídeos, 23 moluscos, 21 equinodermes e 4 cordados. Dos 125 taxa inventariados, salientam-se para a aquariofilia os anelideos do género Lysmata, que totalizam aproximadamente 2000 indivíduos, os moluscos do género Neritina, com mais de 7500 efectivos, e os cordados Hemigrammus erythrozonus e Hymenochinus curtipes, com um total de 1500 indivíduos. No que concerne à importação de isco vivo para a pesca desportiva, no ano de 2011 verificouse a importação de cerca de 55 milhões de indivíduos da espécie Nereis succinea e cerca de 38 mil indivíduos da espécie Glycera dibranchiata, os primeiros oriundos da China e os segundos dos Estados Unidos da América. Estes números, no seu conjunto, são superiores aos verificados em 2002 e 2003 (Fidalgo e Costa, et al., 2006), quando se importaram cerca de 17 milhões de indivíduos da espécie Glycera dibranchiata e cerca de 13 milhões da espécie Perinereis aibuhitensis, também com a respectiva origem nos Estados Unidos da América e na China. Salienta-se que a grande maioria das importações verificadas têm como origem o Sudoeste Asiático, sendo que a generalidade das espécies são nativas dessa região. Verificase também que, para além destas espécies de macroinvertebrados, muitas espécies de peixes são importados da mesma origem com destino à aquariofilia, em especial para aquários tropicais de água salgada. É ainda de referir, que nenhuma das espécies presentes na listagem do anexo 5.4 foi ainda detectada nos sistemas aquáticos estuarinos e costeiros portugueses, pelo que nos leva a considerar, que para Portugal, este vector de introdução não é relevante. Contudo, medidas de prevenção devem ser introduzidas, na medida em que o mesmo não se verificou relativamente a outros países. Neste contexto, e tendo em conta o número de taxa e quantidades de indivíduos envolvidos, deverão ser envidados esforços no sentido de melhorar a classificação taxonómica das espécies por parte dos exportadores e fiscalização por parte das autoridades portuguesas competentes, já que é provável a existência de erros taxonómicos nos organismos importados. Impactos das espécies exóticas A avaliação de possíveis impactos resultantes da introdução de espécies exóticas apresenta dificuldades acrescidas em Portugal, pelo facto de não existirem muitos dados de referência que permitam comparar o estado actual das comunidades de microalgas, macroalgas e
invertebrados com aquele que se verificava antes de ocorrerem as introduções. Por esse motivo, este objectivo foi concretizado através do estudo de espécies seleccionadas de acordo com os impactos conhecidos para outros países. Os principais resultados indicam o seguinte: - Austrominius modestus foi efectuado um estudo quantitativo desta espécie, a nível nacional, cujos resultados são indicativos de uma expansão desta espécie para Sul. O facto de a espécie ocupar uma zona inferior da faixa intertidal, relativamente à espécie nativa Chthamalus montagui parece indicar que não ocorre uma competição directa entre ambos os cirrípedes. - Blackfordia virginica foi efectuado um estudo da distribuição espacial, abundância e estrutura dimensional da população de B. virginica no estuário do Mira, na época indicada para a ocorrência de blooms da fase medusa. Os resultados preliminares indicam a ocorrência de segregação de classes dimensionais, ocorrendo os indivíduos de menores dimensões preferencialmente na zona de montante do estuário, e os indivíduos maiores mais a jusante. As densidades encontradas para esta espécie foram muito elevadas, corroborando as descrições efectuadas anteriormente (Ré, 1996; J.L. Costa, dados não publicados) e sugerindo que possa haver um impacto significativo nas populações ictiofaunísticas deste sistema. - Watersipora subtorquata o estudo quantitativo das percentagens de cobertura nas marinas da Doca do Espanhol, Santo Amaro, Bom Sucesso, Belém, Cascais e Sines indicaram que este briozoário apresenta coberturas entre os 27% e os 55%, sendo por isso uma espécie dominante em todas as marinas. Algumas prospecções realizadas em zonas adjacentes às marinas, com substrato rochoso natural, revelaram a presença desta espécie na praia das Avencas e zonas rochosas da margem Sul do Tejo, o que indica que a mesma está a expandir a sua área de distribuição, podendo vir a competir com as espécies nativas e a ter efeitos sobre a biodiversidade natural. - Eriocheir sinensis o estudo quantitativo no estuário do Tejo confirmou a presença significativa de E. sinensis nas zonas de menor salinidade (<5) do estuário e a sua ausência na região a jusante. Estes resultados parecem confirmar os padrões de migração descritos para a espécie, uma vez que foram capturados exemplares na zona polihalina do estuário em campanhas realizadas em Maio de 2011. Os pescadores locais indicam a apanha frequente deste decápode mas não indicaram nenhum impacto sobre outras espécies. - Ruditapes philippinarum Foi efectuado um estudo da distribuição e abundância de R. philippinarum no estuário do Tejo, determinadas taxas de crescimento e uma avaliação dos possíveis efeitos sobre as espécies de bivalves acompanhantes, especialmente a congénere nativa Ruditapes decussatus. Um estudo mais pormenorizado na Baía do Seixal possibilitou
analisar os potenciais efeitos da competição desta espécie com o resto das espécies a comunidade de macroinvertebrados bentónicos. A amêijoa-japonesa apresentou-se bem distribuída no estuário, ocupando o mesmo habitat que a amêijoa-boa, zonas vasosas e relativamente profundas, de salinidade intermédia e temperaturas relativamente altas. Na Baía do Seixal, as espécies macrobentónicas estruturaram-se sobretudo em função do tipo de sedimento e da exposição à maré. R. philippinarum mostrou ser a espécie dominante no subtidal. A condição dos indivíduos de amêijoa-japonesa não diferiu entre as várias zonas do estuário. No que respeita ao crescimento, as amêijoas apresentaram parâmetros de acordo com os indicados na bibliografia. Das variações sazonais na sua população, intuem-se duas épocas de reprodução anuais. Os resultados indicam que ocorreu uma diminuição drástica das abundâncias de R. decussatus, simultânea à expansão de R. philippinarum, no entanto, os dados disponíveis não permitem concluir se o declínio da espécie nativa resulta directamente da competição com R. philippinarum, se decorre da sobrepesca ou se resulta da conjugação de ambos os factores. - Corbicula fluminea este bivalve está actualmente presente na maioria das bacias hidrográficas portuguesas e já foram indicados impactos significativos sobre as comunidades de bivalves endémicos no estuário do Minho (Sousa et al., 2008). No âmbito do projecto INSPECT foram analisadas as populações estuarinas de C. fluminea nos estuários do Mondego, Tejo e Mira, tendo-se concluído que, em algumas zonas dos estuários do Mondego e Mira, representa 20-25% da comunidade, sendo essa representação superior a 50% em algumas épocas do ano. Verificou-se ainda que no âmbito da implementação da Directiva- Quadro da Água são utilizados índices bióticos que não consideram os efeitos negativos das espécies exóticas, e desta em particular, pelo que, os mesmos deveriam sofrer algumas adaptações relativas à integração da informação sobre a representatividade de espécies introduzidas. - Asparagopsis taxiformis e Codium fragile subsp. fragile o presente estudo confirmou a presença continuada, mas com baixa cobertura, da primeira espécie no porto de recreio de Sines e a sua ausência no litoral rochoso adjacente. Na outra localidade da costa Portuguesa onde esta espécie já foi observada, Sagres, também está confinada ao porto de recreio (Berecibar, 2011), pelo que não parece colocar perigo de invasão da zona costeira em mar aberto. Por outro lado, a segunda espécie, que é invasora no Mediterrâneo, Golfo de Cadiz e Galiza, e que tinha sido assinalada na Ria Formosa, Portimão e Parede (Berecibar, 2011), foi agora também observada no porto de recreio de Oeiras. Isto parece indicar um provável vector de introdução na costa Portuguesa, em cascos de embarcações de recreio, bem como a capacidade da espécie colonizar ambientes estuarinos/lagoas costeiras e em costa aberta. Seria importante continuar a monitorizar e controlar o seu desenvolvimento na zona da costa
do Estoril-Cascais, motivando a colaboração de organizações locais de índole ambiental, pois a espécie tem a capacidade de se tornar invasiva. - Gymnodinium catenatum A espécie fotoplanctónica mais abundante nos sedimentos das marinas e portos do continente foi o dinoflagelado tóxico Gymnodinium catenatum. Estes resultados estão de acordo com a história recente dos blooms de G. catenatum na costa Portuguesa, e evidenciam a costa continental portuguesa como uma região de risco para a dispersão para outras regiões de G. catenatum. Para prevenir essa situação seria aconselhável a existência de um sistema de alerta que informasse os navios da existência de blooms de algas nocivas e da sua localização geográfica para evitar a toma de lastro nessas águas. Medidas de prevenção e minimização Durante a execução do projecto INSPECT, a equipa de trabalho procurou envolver-se em várias iniciativas relacionadas com a temática da prevenção e controlo da introdução de espécies exóticas, tanto a nível internacional, como nacional. Através da participação num workshop Ballast Water Sampling and the development of a Joint European Union Ballast Water Sampling Strategy, organizado pela European Maritime Safety Agency, em Fevereiro de 2010, em Lisboa, a equipa procurou seguir os novos desenvolvimentos relativos à implementação da Convenção das Águas de Lastro. Neste workshop foram discutidos diversos aspectos relacionados com os processos de tratamento das águas de lastro e os procedimentos de verificação da eficácia desses tratamentos, que deverão ser desenvolvidos e implementados em cada país que ratificou a convenção. Esta discussão relacionada com o tratamento das águas de lastro foi também o tema principal do encontro do Working Group on Ballast and Other Ship Vectors do ICES, no qual participou um elemento da equipa. Outro dos elementos do INSPECT participou no encontro do Working Group on Introduction and Transfers of Marine Organisms. A equipa do Inspect participou também na revisão do Decreto- Lei n.º565/99 de 21 de Dezembro, tendo apoiado o desenvolvimento de um anexo com a lista de espécies exóticas para meio marinho e estuarino. A equipa foi também convidada a participar na discussão da estratégia nacional para aplicação da Portaria n.º 85/2011 de 25 de Fevereiro, que proíbe a apanha de Ruditapes decussatus e permite o estabelecimento dum plano de exploração de Ruditapes philippinarum, ao abrigo do número de licenças já emitidas. A equipa propôs a implementação de zonas de protecção, para salvaguarda das zonas de viveiro do estuário do Tejo e outras zonas de particular relevância em termos de conservação, como é o caso das áreas onde se verificou uma regeneração dos bancos de Zostera spp. Os dados recolhidos no âmbito do projecto foram ainda muito importantes para a elaboração de diversos Estudos de Impacto Ambiental referentes a projectos portuários no estuário do Tejo, sendo ainda salientado nesses documentos a mais-valia das metodologias desenvolvidas no âmbito do INSPECT para a futura monitorização ambiental desses projectos de desenvolvimento. A importância do projecto INSPECT foi ainda reconhecida através da sua
validação para integrar o programa GEOHAB, que desenvolve acções relacionadas com as HAB (Harmful Algal Blooms). Berecibar, E. 2011. Long-term changes in the phytogeography of the Portuguese continental coast. Ph.D. Thesis, University of Algarve, 254 pp. Fidalgo e Costa, P., Gil, J., Passos, A. M., Pereira, P., Melo, P., Batista, F., Cancela da Fonseca, L., 2006. The market features in imported non-indigenous polychaetes in Portugal and consequent ecological concerns. Scientific Advances in Polychaete Research. Scientia Marina 70S3; 287 292. Ré, P. 1996. Anchovy spawning in the Mira estuary (southwestern Portugal). Scientia Marina, 60, 141-153. Sousa R., Nogueira A.J.A., Gaspar M., Antunes C. & Guilhermino L. 2008. Growth and extremely high production of the non-indigenous invasive species Corbicula fluminea (Müller, 1774): possible implications for ecosystem functioning. Estuarine, Coastal and Shelf Science 80, 289-295. Parceiros: Financiamento: