AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DOS INDIVÍDUOS AFETADOS PELA EXPOSIÇÃO AO CÉSIO 137 OCORRIDO EM GOIÂNIA, EM 1987.

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Transcrição:

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DOS INDIVÍDUOS AFETADOS PELA EXPOSIÇÃO AO CÉSIO 137 OCORRIDO EM GOIÂNIA, EM 1987. Autores: Silvana Cruz FUINI (Mestranda); Profa. Dra. Rita Goreti AMARAL (Orientadora); Prof. Dr. Geraldo Francisco do AMARAL (Coorientador). Unidade Acadêmica: Programa de Pós- Graduação Ciências da Saúde UFG Endereço eletrônico: silvana.fuini@gmail.com Palavras-chave: Radioatividade, qualidade de vida, depressão, ansiedade. 1. Introdução O acidente radioativo ocorrido em setembro de 1987, na cidade de Goiânia, trouxe com ele alguns problemas sérios e que perduram até os dias de hoje. O acidente foi provocado por meio da ruptura de um aparelho radioterápico abandonado em uma clínica médica desativada; agravado pelo manuseio incorreto posterior da cápsula contendo Césio-137. Diversas pessoas foram envolvidas, cerca de uma centena diretamente e algumas outras centenas indiretamente (CNEN, 1988). Em decorrência do acidente as autoridades do estado de Goiás criaram a Fundação Leide das Neves Ferreira (FunLeide), sendo substituída, pela Superintendência Leide das Neves Ferreira (SuLeide). Desde então, vem realizando acompanhamento médico, odontológico, psicológico e social deste grupo de indivíduos afetados no acidente. O interesse pela medida da qualidade de vida (QV) nesta população é uma constante preocupação do corpo clínico da SuLeide, sobretudo porque no decorrer dos anos tem-se observado a presença de aspectos psicossociais comprometendo a QV dessas pessoas e contribuindo para a busca constante dos serviços de saúde. Corroborando com esta hipótese, estudiosos consideram o impacto na saúde mental como o maior problema de saúde pública desencadeada por acidentes dessa natureza (HELOU, 1995).

A compreensão sobre a QV, bem como as principais varáveis que podem influenciar o modo de vida do paciente contribuem para as decisões e condutas terapêuticas das equipes de saúde (FLECK, 2000). Assim, este estudo pode oferecer subsídios importantes para os profissionais encarregados da assistência a esses indivíduos e possivelmente contribuir para a sensação de bem-estar das pessoas afetadas pelo acidente radiológico ocorrido em Goiânia no ano de 1987. 2. Objetivos Objetivo Geral: Avaliar a qualidade de vida dos indivíduos afetados pela exposição ao Césio 137 ocorrido em Goiânia, sua associação com sexo, idade, dados clínicos, sintomatologia depressiva e de ansiedade. Objetivos específicos: - Avaliar a qualidade de vida dos indivíduos afetados pela exposição/contaminação com o Césio 137, estratificado por grupos de risco, de acordo com a dosimetria registrada; Analisar se há associação ente sintomas depressivos e de ansiedade com a qualidade de vida dos indivíduos envolvidos no acidente com o Césio 137; e Verificar se as variáveis sociodemográfica e clínicas influenciam a qualidade de vida dos indivíduos envolvidos no acidente com o Césio 137. 3. Material e Métodos Trata-se de um estudo descritivo e transversal, com os indivíduos envolvidos no acidente com o Césio 137 em Goiânia. Foram incluídos os indivíduos dos Grupos I (contaminação interna) e Grupo II (registros de dose para exposição externa) cadastrados na SuLeide, com idade superior a 18 anos e que não apresentem comprometimento mental. O tamanho da amostra é de 66 pacientes pelos quais estão divididos proporcionalmente entre os dois grupos, ou seja, o Grupo I com 35 e o Grupo II com 31 pessoas. Os critérios de exclusão referem-se aos menores de 18 anos e aqueles que apresentarem dificuldades nas atividades cognitivas. Para avaliar a QV dos indivíduos envolvidos, foi aplicado um questionário World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-Bref) e as Escalas de Beck para Depressão (BDI) e para Ansiedade (BAI). Também foi coletados dados sócio-

demográficos e clínicos por meio do banco de dados do software Sistema de Monitoramento dos Radioacidentados (SISRAD) disponível na SuLeide. 4. Resultados e Discussões A pesquisa encontra-se em fase de coleta de dados, ou seja, representam dados preliminares, com 38 indivíduos do total de 66 da amostra calculada. A média de idade é de 48 anos para o Grupo I e 44,2 para o Grupo II. O tratamento parcial dos dados obtidos na aplicação do WHOQOL-Breaf resultou nos índices de satisfação de cada um dos grupos nos quatro domínios (Gráfico 1). 70,0 Gráfico 1 - Média avaliação de qualidade de vida, em Raw-Scale, de cada domínio dos pacientes por grupo. 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 Físico (p=0,708) Psíquico (p=0,111) Social (p=0,008) Saúde (p=0,216) Grupo 1 Grupo 2 O Gráfico 1 apresenta os dados a partir das medianas da distribuição dos índices de satisfação nos domínios do WHOQOL-Bref. Não houve diferenças significativas em todos os domínios entre os Grupos, com tendência de um mesmo perfil de escores. A única exceção ocorre no domínio Social, onde o Grupo II teve escores significativamente inferiores ao Grupo I. Esta diferença pode estar relacionada com fatores referentes à condição socioeconômica, pois a maioria dos indivíduos do Grupo I recebem duas pensões cada um - pensão federal e pensão estadual (SULEIDE, 2010). Os pacientes do Grupo II, em sua maioria são filhos do Grupo I e, em decorrência disso e da pensão que recebem não ocuparam suas vidas com estudo e trabalho o que pode ocasionar ostracismo e falta de perspectivas de vida (HELOU,1995). Os Grupos I e II apresentaram avaliações mais negativas para o domínio saúde em relação aos outros domínios. Talvez pela incerteza dos efeitos futuros já relatados

na clínica médica, contribuindo para o desempenho de um papel negativo na saúde mental desses indivíduos, podendo ser devido ao aumento no nível de estresse, depressão e ansiedade clinicamente sem fundamento, incluindo auto-relatos de problemas de saúde (CORDOVA et al. 1995). Em relação a variável sexo pode-se observar no Gráfico 2 que houve diferença significativa no domínio Psíquico com escores mais negativos para as mulheres. Há numerosos estudos mostrando que indivíduos expostos a eventos traumáticos são mais prováveis a relatar problemas de saúde. Havenaar et al. (1997) concluíram que a saúde subjetiva de relatórios relacionados ao acidente de Chernobil ocorrido na antiga União Soviética em 1986, estão ligados ao estresse psicológico. Estes resultados são consistentes com a hipótese de que eventos traumáticos exercem maior impacto negativo sobre a saúde em áreas vulneráveis ou em grupos desfavorecidos como é o caso das mulheres, especialmente as mulheres pobres (HULLMAN et al. 1996). 70,0 Gráfico 2 - Média avaliação de qualidade de vida, em Raw-Scale, de cada domínio dos pacientes por sexo. 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 Físico (p=0,120) Psíquico (p=0,032) Social (p=0,167) Saúde (p=0,144) Masculino Feminino Os dados relativos às Escalas Beck para Ansiedade (BAI) e Depressão (BDI), ainda não foram correlacionados com as outras variáveis, mas, a princípio pode-se verificar que, considerando o escore total que permite a classificação em níveis de intensidade da ansiedade (BAI), 44,7% apresentaram níveis de moderado a grave, sendo o Grupo II com maior escore. Quanto à medição de sintomatologia de depressão (BDI) 43,52% obtiveram escore com classificação dos níveis de

intensidade da depressão moderada a severa. Igualmente o Grupo II apresentou os maiores escores. Quanto as dados clínicos, estes ainda não foram coletados. 5. Conclusões Preliminarmente os sintomas de ansiedade e depressão podem estar presentes tanto no Grupo I como no Grupo II e em todas as faixas etárias, sobretudo nas mulheres. A presença desses sintomas pode estar limitando a qualidade de vida destes indivíduos em todas as dimensões. Tornou-se mais evidente que o acidente até o momento teve muito mais conseqüências psicossociais do que físicas. Os achados parciais do presente estudo sugerem que a qualidade de vida dos Grupos I e II é afetada pelas variáveis de depressão e ansiedade, sobretudo no Grupo II e especialmente nas mulheres. 7. Referências COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR CNEN; Relatório do Acidente Radiológico em Goiânia, 1988; CORDOVA MJ, ANDRYKOWSKI MA, KENADY DE, ET AL. Frequency and correlates of posttraumatic-stressdisorder- like symptoms after treatment for breast ancer.j Consult Clin Psychol; n63 p.6-981, 1995; FLECK, M. P. A.; FACHEL, O.; LOUZADA, S.; et al. Aplicação da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida WHOQOL-BREF. Revista Saúde Pública, v34, n2, p178-183, 2000; HAVENAAR JM, RUMYANTZEVA G, KASYANENKO A, KAASJAGER K, WESTERMANN A, VAN DEN BRINK W, VAN DEN BOUT J, SEVELKOUL J. Health effects of the Chernobyl disaster: illness or illness behavior? A comparative general health survey in two former Soviet regions. Environ Health Perspect 105(suppl 6):1533 1537 (1997). HELOU, S; NETO, S.B.C; Conseqüências Psicossociais do Acidente de Goiânia. Ed. UFG, 1995. SULEIDE - SUPERINTENDÊNCIA LEIDE DAS NEVES FERREIRA. Monitoramento dos Radioacidentados. Disponível em: http;//.www.cesio137goiania.go.gov.br. Acesso em: 20 dez. 2010. ULLMAN SE, SIEGEL JM. Traumatic events and physical health in a community sample. J Traum Stress 9:703 720 (1996).