VARIAÇÕES MORFOLÓGICAS DE CARACTERES EM Erythrodiplax fusca (ODONATA: LIBELLULIDAE)

Documentos relacionados
OCORRÊNCIA SIMPÁTRICA DE DUAS FORMAS DE Erythrodiplax fusca (RAMBUR, 1842) (ODONATA: LIBELLULIDAE) NO ESTADO DE GOIÁS-BRASIL

BIOMAS. Os biomas brasileiros caracterizam-se, no geral, por uma grande diversidade de animais e vegetais (biodiversidade).

BANCO DE QUESTÕES - GEOGRAFIA - 7º ANO - ENSINO FUNDAMENTAL

LISTA DE FIGURAS Figura 1. Área de estudo constituída pelo lago Jaitêua e sua réplica, o lago São Lourenço, Manacapuru, Amazonas, Brasil...

Anais da Semana Florestal UFAM 2017

É importante que você conheça os principais biomas brasileiros e compreenda as características.

PALAVRAS-CHAVE: Libélulas; Variáveis ambientais; Oeste do Pará.

/ ORIENTAÇÃO DE ESTUDOS - RECUPERAÇÃO

Exercícios Complementares de Ciências Humanas Geografia Ensino Fundamental. Regiões Brasileiras

ESTUDO MORFOLÓGICO DA LARVA DE ÚLTIMO fnstar DE MIATHYRIA SIMPLEX (RAMBUR) (ODONATA, LlBELLULlDAE)

ECOLOGIA. Introdução Cadeias alimentares Pirâmides ecológicas

Professora Leonilda Brandão da Silva

Acre Previsão por Coeficiente no Estado

ESTOCAGEM DE PRESAS EM VESPAS DO GÊNERO POLYBIA

Erythrodip/ax /eticia, sp.n. Figs 1-5

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre. Processo de Seleção de Mestrado 2015 Questões Gerais de Ecologia

GEOGRAFIA REVISÃO 1 REVISÃO 2. Aula 25.1 REVISÃO E AVALIAÇÃO DA UNIDADE IV

Geografia. Os Biomas Brasileiros. Professor Thomás Teixeira.

Fonte:

BIOLOGIA. Ecologia e ciências ambientais. Níveis de organização da vida. Professor: Alex Santos

CARACTERIZAÇÃO ALIMENTAR DO ACARÁ (Geophagus brasiliensis) NA LAGOA DOS TROPEIROS, MINAS GERAIS.

9, R$ , , R$ ,

ASTERACEAE DUMORT. NOS CAMPOS RUPESTRES DO PARQUE ESTADUAL DO ITACOLOMI, MINAS GERAIS, BRASIL

NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO ECOLÓGICA

COLÉGIO SHALOM Ensino Médio 1ª Série. Profº: Ms Marcelo Biologia Aluno (a):. No.

GEOGRAFIA MÓDULO 11. As Questões Regionais. As divisões regionais, região e políticas públicas, os desequilíbrios regionais. Professor Vinícius Moraes

01- Analise a figura abaixo e aponte as capitais dos 3 estados que compõem a Região Sul.

BIOMAS. Professora Débora Lia Ciências/Biologia

MAPAS/ DIVISÃO REGIONAL DO BRASIL

Região Nordestina. Cap. 9

Capivara. Fonte:

Macroinvertebrados Bentônicos Bioindicadores

Contabilizando para o Cidadão

ESTRUTURA DO HÁBITAT E A DIVERSIDADE DE INVERTEBRADOS

Ecossistemas e Saúde Ambiental :: Prof.ª MSC. Dulce Amélia Santos

INVENTARIAMENTO PRELIMINAR DA FAUNA DE LIBÉLULAS (ODONATA) EM QUATRO MUNICÍPIOS DO VALE DO TAQUARI/RS

ASPECTOS DA BIOLOGIA POPULACIONAL DO TUCUNARÉ (Cichla piquiti) NO RESERVATÓRIO DE LAJEADO, RIO TOCANTINS

DIVISÃO REGIONAL BRASILEIRA

Quantidade de Acessos / Plano de Serviço / Unidade da Federação - Novembro/2007

Michel Lacerda Baitelli. Posicionamento Competitivo dentro dos Grupos Estratégicos da Indústria de Higiene Pessoal e Cosméticos

Libélulas (Odonata) predadas por moscas-assassinas (Diptera: Asilidae) no estado de Minas Gerais, sudeste do Brasil

ECOLOGIA. Conceitos fundamentais e relações alimentares

OS CERRADOS. Entre as plantas do cerrado, podemos citar a sucurpira, o pequi, a copaíba, o angico, a caviúna, jatobá, lobeira e cagaita.

Contabilizando para o Cidadão

Macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores da qualidade da água em uma lagoa do IFMG - campus Bambuí

Vitória da Conquista, 10 a 12 de Maio de 2017

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: Ana Claudia dos Santos André Luiz Vaz de Araújo Denise Pitigliani Lopes Edmilson Almeida Elisabete Mendonça Gomes Barcellos

ESTUDO PRELIMINAR DA FAUNA DE HYMENOPTERA DA APA DO RIO PANDEIROS, NORTE DE MINAS GERAIS


Aluno(a): N o : Turma:

PRISCILA GUIMARÃES DIAS¹ ALICE FUMI KUMAGAI²

MARLON CORRÊA PEREIRA

ELISAMA ALVES. ANÁLISE DE IMAGENS NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE SEMENTES DE Pinus taeda E Eucalyptus spp

Curso Engenharia Ambiental e de Produção Disciplina: Ciências do Ambiente Profa Salete R. Vicentini Bióloga Educadora e Gestora Ambiental

EFEITO DA URBANIZAÇÃO SOBRE A FAUNA DE INSETOS AQUÁTICOS DE UM RIACHO DE DOURADOS, MATO GROSSO DO SUL

ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO I ETAPA LETIVA CIÊNCIAS 4.º ANO/EF 2017

Biomas / Ecossistemas brasileiros

Libelulas e agulhinhas da PVSul

RELATO DA PRESENÇA DE Dilocarcinus pagei Stimpson, 1861 (Decapoda, Trichodactylidae) NO PARQUE FLORESTAL DE PATROCÍNIO CAXUANA S/A REFLORESTAMENTO

Composição Florística e Síndromes de Dispersão no Morro Coração de Mãe, em. Piraputanga, MS, Brasil. Wellington Matsumoto Ramos

Organização da Aula. Recuperação de Áreas Degradas. Aula 2. Matas Ciliares: Nomenclatura e Conceito. Contextualização

ECO GEOGRAFIA. Prof. Felipe Tahan BIOMAS

BIOMAS BRASILEIROS PROF.ª ALEXANDRA M. TROTT

ESTUDOS DOS MACROINVERTEBRADOS ASSOCIADOS À VEGETAÇÃO AQUÁTICA NO RIO NOVO - FAZENDA CURICACA, POCONÉ, MT

DATA: 29 / 11 / 2016 III ETAPA AVALIAÇÃO ESPECIAL DE GEOGRAFIA 5.º ANO/EF ALUNO(A): N.º: TURMA: VALOR: 10,0

Biota Neotropica ISSN: Instituto Virtual da Biodiversidade Brasil

Recuperação Contínua. 7º anos- 1º PERÍODO 2012 Professores: Cláudio Corrêa Janine C. Bandeira Maria Aparecida Donangelo

com condições de geologia e clima semelhantes e que, historicamente;

Ecologia. introdução, fluxo de energia e ciclo da matéria. Aula 1/2

Leia o texto a seguir para fazer as lições de Língua Portuguesa.

Campanha da Fraternidade Tema Fraternidade: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida. Lema Cultivar e guardar a Criação

Universidade Estadual do Ceará UECE Centro de Ciências da Saúde CCS Curso de Ciências Biológicas Disciplina de Ecologia.

LISTA DE EXERCÍCIOS CIÊNCIAS

RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA NA ÁREA DA UHE MAUÁ

LEVANTAMENTO MICROCLIMÁTICO COMPARATIVO ENTRE ÁREAS E SUSCEPTIBILIDADE AO FOGO NO PARQUE ESTADUAL DO ARAGUAIA. Octavio André de Andrade Neto

Relevo brasileiro GEOGRAFIA 5º ANO FONTE: IBGE

Geografia. Aspectos Físicos e Geográficos - CE. Professor Luciano Teixeira.

TÍTULO: LEVANTAMENTO DE PEIXES NA FAZENDA SANTO ANTONIO, AGUDOS, SÃO PAULO

RESOLUÇÃO Nº 609, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2014

Comparação de Variáveis Meteorológicas Entre Duas Cidades Litorâneas

Colégio Santa Dorotéia Disciplina: Geografia / ESTUDOS AUTÔNOMOS Ano: 5º - Ensino Fundamental - Data: 13 / 8 / 2018

Provão. Geografia 5 o ano

Membros. Financiadores

PADRÕES DE DIVERSIDADE BETA DE ESPÉCIES DE ODONATA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

BIOLOGIA. Ecologia e ciências ambientais. Biomas brasileiros. Professor: Alex Santos

Projetos Intervales. Modificado de:

CONTEÚDOS. CIÊNCIAS 7º ANO Coleção Interativa UNIDADE 1 SEU LUGAR NO AMBIENTE UNIDADE 2 ECOLOGIA: INTERAÇÃO TOTAL

CÉLIO ROBERTO JÖNCK INFLUÊNCIA DE UMA QUEDA D ÁGUA NA RIQUEZA, COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA TRÓFICA DA FAUNA DE DOIS REMANSOS DE UM RIO DA MATA ATLÂNTICA

Organização biológica dos ecossistemas

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS. Sandra Cristina Deodoro

COLÉGIO SHALOM Ensino Médio 1ª Série. Profº: Ms Marcelo Biologia Aluno (a):. No.

NÍVEIS DE SAÚDE EM TAMBAQUIS ORIUNDOS DE TANQUES DE CRIAÇÃO NO MUNICÍPIO DE ROLIM DE MOURA

Geografia. As Regiões Geoeconômicas do Brasil. Professor Luciano Teixeira.

DESCRITORES BIM4/2018 4º ANO

NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO ECOLÓGICA

Biomas brasileiros: Florestas

CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DE FRUTOS E SEMENTES DE CUPUAÇU EM DOIS CULTIVOS NO MUNICÍPIO DE ALTA FLORESTA, MT. Seção temática: Ecologia e Botânica

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ENSINO DEPARTAMENTO CCENS BIOLOGIA. Plano de Ensino. Teoria Exercício Laboratório 60

ODONATOFAUNA DE AMBIENTES DULCÍCOLAS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE PERNAMBUCO

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Transcrição:

VARIAÇÕES MORFOLÓGICAS DE CARACTERES EM Erythrodiplax fusca (ODONATA: LIBELLULIDAE) José Max Barbosa de Oliveira Junior¹, Nelson Silva Pinto², Leandro Juen³, Lenize Batista Calvão¹ ¹ Mestrandos do Programa de Pós Graduação em Ecologia e Conservação, UNEMAT-Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Nova Xavantina-MT, Brasil (maxbio@hotmail.com). ² Graduação em Ciências Biológicas-UFG; Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese-LETS. ³ Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução-UFG; Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese-LETS. Data de recebimento: 02/05/2011 - Data de aprovação: 31/05/2011 RESUMO Erythrodiplax fusca Rambur 1842 tem ampla distribuição na região neotropical, ocorrendo em sistemas lênticos. É um libellulidae de pequeno porte de hábito pousador que sofre influência da temperatura e da incidência solar sobre seu período de atividade. Neste trabalho foram avaliadas as variações morfológicas de caracteres em indivíduos de E. fusca de nove estados brasileiros, coletados entre fevereiro de 1993 e fevereiro de 2009, pertencentes à coleção da Universidade Federal de Goiás-UFG. As localidades amostradas de cada estado estão inseridas em quatro diferentes fitofisionomias: Minas Gerais e Goiás, bioma Cerrado; Amazonas, Maranhão, Acre e Roraima, bioma Floresta Amazônica; Bahia, bioma Caatinga; Espírito Santo e São Paulo, bioma Mata Atlântica. Foram selecionados 115 espécimes em bom estado de conservação, e com uso de um Paquímetro Digital foram medidas as seguintes variáveis morfológicas: Comprimento da cabeça ao segmento terminal do abdome (CT); comprimento das asas anterior e posterior (CAA e CAP, respectivamente); largura das asas anterior e posterior (LAA e LAP, respectivamente). Adotou-se como padrão o lado direito para medida de comprimento e região do nodus para largura das asas. Foram realizadas Análises de Variância para um fator (Anova-one way) para avaliar o nível de significância entre as variáveis nos indivíduos dos diferentes estados amostrados. Para as variáveis CT e CAA, o pressuposto de homogeneidade das variâncias foi ferido, sendo necessário realizar o teste não paramétrico Kruskal-Wallis. Os resultados sugerem que existe variação significativa entre as variáveis (CT: Kruskal-Wallis test: H ( 8, N= 96) =28.285, p < 0,001; CAA: Kruskal-Wallis test: H (8, N= 96) =25.155, p < 0,001; CAP: F= 6,219; gltratamento= 8; glerro= 87; p < 0,001; LAA: F= 6,570; gltratamento= 8; glerro= 87; p < 0,001; LAP: F= 5,989; gltratamento= 8; glerro= 87; p < 0,001). Entretanto, são necessários testes posteriores para explicar se existe diferença significativa entre estados com diferentes fitofisionomias e quais as possíveis explicações para tal disparidade. PALAVRAS-CHAVE: Anisoptera, distribuição, morfologia ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 1

MORPHOLOGICAL VARIATIONS OF CHARACTERS IN Erythrodiplax fusca (ODONATA: LIBELLULIDAE) ABSTRACT Erythrodiplax fusca Rambur 1842 is widely distributed in the Neotropics, occurring in lentic systems. It is a small Libellulidae perchers habit that is influenced by temperature and sunlight on activity time. In this paper, was evaluated the morphological variations of characters in individuals of E. fusca in nine Brazilian states, collected between February 1993 and February 2009, from the collection of the Universidade Federal de Goiás-UFG. The sampling sites of each state are located in four different vegetation types: Minas Gerais and Goias, Cerrado, Amazonas, Maranhão, Acre and Roraima, Floresta Amazônica biome; Bahia Caatinga biome, Espírito Santo and São Paulo, Floresta Atlântica. Was selected 115 specimens in good condition, and with use of a Digital Caliper was measured the following morphological variables: Length of the head to the terminal segment of the abdomen (CT), length of anterior and posterior wings (CAA and CAP, respectively); width of the wings and back (LAA and LAP, respectively). It was adopted as a standard to measure the right length and width region of the nodus to the wings. Analyses were performed by a factor of Variance (ANOVA-one way) to assess the level of significance between variables in individuals sampled from different states. For variables CT and CAA, the assumption of homogeneity of variances was wounded, being necessary to perform the nonparametric Kruskal-Wallis. The results suggest that there is significant variation among the variables (CT: Kruskal-Wallis test: H (8, N = 96) = 28,285, p <0.001, FAC: Kruskal-Wallis test: H (8, N = 96) = 25155, p <0.001; CAP: F = 6.219; gltratamento = 8; glerro = 87, p <0.001; LAA: F = 6.570; gltratamento = 8; glerro = 87, p <0.001; LAP: F = 5.989; gltratamento = 8 ; glerro = 87, p <0.001). However, further tests are needed to explain whether there are significant differences between states with different vegetation types and the possible explanations for this disparity KEYWORDS: Anisoptera, distribuition, morphology INTRODUÇÃO O gênero Erythrodiplax Brauer, 1868 apresena distribuição predominantemente neotropical, sendo o maior gênero americano da família Libellulidae, contendo atualmente 58 espécies (INTERNATIONAL DRAGONFLY FUND, 2003), das quais 39 já descritas para o Brasil (TSUDA, 1986). É interessante ressaltar que, decorridos 53 anos após a publicação da clássica monografia de BORROR (1942) sobre o gênero Erythrodiplax, apenas quatro epécies foram acrescentadas a este gênero, duas da Venezuela (BORROR, 1957) e duas do Brasil (SANTOS, 1946, 1956). Erythrodiplax fusca Rambur 1842 tem ampla distribuição na região neotropical, ocorrendo em ambientes lênticos. A espécie pertence ao grupo connata caracterizando-se por sua fronte e tórax avermelhados e abdome com padrão avermelhado ou azulado (BORROR, 1942; PAULSON, 2003). É um libellulidae de ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 2

pequeno porte caracterizado como pousador, onde em geral os machos dessa espécie defendem territórios em pontos distribuídos ao longo da margem de sistemas lênticos, já as fêmeas frequentemente permanecem dispersas para se alimentar e aparecem nestes pontos apenas para copular e ovipositar (RESENDE, 2010; JUEN, 2006). São influenciados pela temperatura e incidência solar sobre seu período de atividade (DE MARCO & RESENDE, 2002). São predadores generalistas que se alimentam de presas localizadas visualmente. Os adultos caçam em vôo, capturando com as fortes pernas outros insetos, inclusive outros odonatos. As formas jovens de Odonata exercem papel importante na dinâmica dos ecossistemas aquáticos, sendo consideradas um dos principais predadores da região litorânea de lagos (DE MARCO et al., 1999). Suas larvas capturam principalmente outros artrópodos, larvas de peixes e de anfíbios (SOUZA et al., 2007). Dessa forma, esses organismos podem ser uma fonte significativa de perda econômica em piscicultura, devido a predação de formas jovens de peixes em tanques de alevinagem (DE MARCO et al., 1999). Porém, vale ressaltar que das diversas espécies de Odonatas que habitam ambientes lênticos, Pantala flavescens Fabricius, 1798 (Odonata: Libellulidae) está entre as que melhor se adaptaram às condições existentes nos tanques de criação de peixes (SANTOS et al., 1988). E por estarem em um nível intermediário da cadeia trófica servem igualmente de alimento para outros invertebrados e vertebrados, tais como: peixes, anfíbios e aves. Apesar de sua ampla distribuição geográfica, até o momento nenhum estudo foi realizado no sentido de avaliar a existência de variação entre as populações de E. fusca. OBJETIVO O objetivo do trabalho foi analisar padrões de variações morfológicas de caracteres em amostras populacionais de E. fusca de nove estados brasileiros, coletados entre fevereiro de 1993 e fevereiro de 2009, pertencentes à coleção da Universidade Federal de Goiás-UFG, uma coleção fundada na década de 90, a qual se encontra em Goiânia-GO, Brasil no LETS-Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese, sob direção do Dr. Paulo De Marco Júnior desde 2006. A coleção abriga aproximadamente 3000 espécimes, contando com depósito contínuo destes como material testemunho de pesquisas de Graduação e Pós-Graduação da UFG. MATERIAL E MÉTODOS ÁREA DE ESTUDO As localidades amostradas de cada estado estão inseridas em quatro diferentes fitofisionomias: Minas Gerais e Goiás, bioma Cerrado; Amazonas, Maranhão, Acre e Roraima, bioma Floresta Amazônica; Bahia, bioma Caatinga; Espírito Santo e São Paulo, bioma Mata Atlântica (Figura 1). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 3

FIGURA 1. Localidades, e suas respectivas fitofisionomias onde foram coletadas as amostras de indivíduos de Erythrodiplax fusca utilizadas neste estudo. Fonte: (Adaptado de IBGE, 2010). COLETA DOS DADOS E ANÁLISES ESTATÍSTICAS Foram selecionados 115 espécimes em bom estado de conservação, e com uso de um Paquímetro Digital foram medidas as seguintes variáveis morfológicas: Comprimento da cabeça ao segmento terminal do abdome (CT); comprimento das asas anterior e posterior (CAA e CAP, respectivamente); largura das asas anterior e posterior (LAA e LAP, respectivamente) (Quadro 1; Figura 2). Adotou-se como padrão o lado direito para medida de comprimento e região do nodus para largura das asas. Foram realizadas Análises de Variância para um fator (Anova-one way) para avaliar o nível de significância entre as variáveis nos indivíduos dos diferentes estados amostrados. Os exemplares estudados encontram-se depositados no Laboratório de Ecologia Teórica e síntese (LETS) da Universidade Federal de Goiás- UFG, Goiânia-GO, Brasil. QUADRO 1. Caracteres morfológicos de Erythrodiplax fusca analisados e suas respectivas abreviações. Caracteres Comprimento total Comprimento das asas anteriores Largura das asas anteriores Comprimento das asas posteriores Largura das asas posteriores Abreviações CT CAA LAA CAP LAP ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 4

FIGURA 2. Espécime adulto de Erythrodiplax fusca indicando os pontos entre os quais foram feitas as mensurações citadas no texto (CT; CAA; LAA; CAP e LAP). Fonte: (Adaptado de WILLIAN & DAVID, 2011) RESULTADOS E DICUSSÃO Para as variáveis CT e CAA, o pressuposto de homogeneidade das variâncias foi ferido, sendo necessário realizar o teste não paramétrico Kruskal-Wallis. Os resultados sugerem que existe variação significativa entre as variáveis (CT: Kruskal- Wallis test: H (8, N= 96) =28.285, p < 0,001; CAA: Kruskal-Wallis test: H (8, N= 96) =25.155, p < 0,001; CAP: F= 6,219; gltratamento= 8; glerro= 87; p < 0,001; LAA: F= 6,570; gltratamento= 8; glerro= 87; p < 0,001; LAP: F= 5,989; gltratamento= 8; glerro= 87; p < 0,001) (Figura 3). A vegetação marginal oferece a odonatas adultos diversos recursos que potencialmente afeta sua densidade e diversidade, tais como: poleiros para termorregulação, forrageamento, defesa do território, atração de parceiros etc. (REMSBURG & TURNER, 2009). Desse modo é de se esperar que qualquer variação destes recursos entre os estados provoque mudanças nas características morfológicas dos indivíduos desta espécie. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 5

FIGURA 3. Relação dos caracteres morfológicos de Erythrodiplax fusca com suas respectivas distribuições geográficas. A) Variação do Comprimento Total - CT e sua distribuição geográfica. B) Variação da Largura da Asa Posterior LAP e sua distribuição geográfica. C) Variação da Largura da Asa Anterior LAA e sua distribuição geográfica. D) Variação do Comprimento da Asa Posterior CAP e sua distribuição geográfica. E) Variação do Comprimento da Asa Anterior CAA e sua distribuição geográfica. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 6

CONCLUSÃO Houve variação significativa nos caracteres morfológicos da espécie E. fusca entre os diferentes estados amostrados, devido às variações de recursos nestes locais. Entretanto, são necessários testes posteriores para explicar as diferenças morfológicas das espécies entre os estados em diferentes fitofisionomias e quais as possíveis explicações para tal disparidade. AGRADECIMENTOS Ao Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese da Universidade Federal de Goiás-UFG e ao Laboratório de Entomologia da Universidade do Estado de Mato Grosso-UNEMAT, pelo apoio institucional e acadêmico. A CAPES pela concessão da bolsa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORROR, D. J. 1942. A revision of the Libelluline genus Erythrodiplax (Odonata). Ohio: Ohio State University. 286p, il. BORROR, D. J. 1957. New Erythrodiplax from Venezuela (Odonata: Libellulidae). Acta Biol. Venz. 2(5) : 31-42. DE MARCO, P.; LATINI, A. O. & REIS, A. P. 1999. Environmental determination of dragonfly assemblage in aquaculture ponds. Aquaculture Research, Oxford, v.30, n.5, p.357-364. DE MARCO, P. & RESENDE, D. C. 2002. Activity patterns and thermoregulation in a tropical dragonfly assemblage. Odonatologica, 31:129-139. IBGE Instituto Brasileiro de Geográfia e estatística, 2010. Disponível em: http:// www.ibge.gov.br/home/ Acesso em: 12 de fevereiro de 2011. INTERNATIONAL DRAGONFLY FUND, 2003. World species list. Disponível em: http://www.calopteryx.de/idf/. Acesso em: 20 janeiro de 2011. JUEN, L. 2006. Distribuição das espécies de Odonata e o padrão de diversidade beta encontrado entre riachos na Amazônia Central. Dissertação (Mestrado em Entomologia)-UFV, Viçosa-MG. xi + 64p. PAULSON, D. R. 2003. Comments on the Erythrodiplax connata (Burmeister, 1839) group, with the elevation of E. fusca (Rambur, 1842), E. minuscula (Rambur, 1842), and E. basifusca (Calvert, 1895), to full species (Anisoptera: Libellulidae). Bulletin of American Odonatology, 64:101-110. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 7

REMSBURG, A. J. & TURNER, M. G. 2009. Aquatic and terrestrial drivers of dragonfly (Odonata) assemblages within and among north-temperate lakes. J. N. Am. Benthol. Soc. 28(1): 44-56. RESENDE, D. C. 2010. Residence advantage in heterospecific territorial disputes of Erythrodiplax Brauer species (Odonata, Libellulidae). Revista Brasileira de Entomologia, 54:110-114. SANTOS, N. D. 1946. Contribuição ao conhecimento da fauna de Pirassununga, Estado de São Paulo. III: Descrição de Erythrodiplax gomesi N. SP. (Odonata: Libellulidae) Ver. Brasil. Biol. 6 (1): 33-37. SANTOS, N. D. 1956. Erythrodiplax luteofrond N. SP. (Odonata: Libellulidae). Bol. Mus. Nac. Rio de Janeiro (Zool.) 141: 1-5. SANTOS, N. D.; COSTA, J. M. & PUJOL-LUZ, J. R. 1988. Nota sobre a ocorrência de odonatos em tanques de piscicultura e o problema da predação de alevinos pelas larvas. Acta Limnologica Brasiliensia, Rio de Janeiro, v.2, p.771-700. SOUZA, L.O.I.; COSTA, J. M. & OLDRINI, B. B. 2007. Odonata. In: Guia on-line: Identificação de larvas de Insetos Aquáticos do Estado de São Paulo. Froehlich, C.G. (org.). Disponível em: http://sites.ffclrp.usp.br/aguadoce/guia_online TSUDA, S. 1986. A distributional List of World Odonata. Osaka, Edição do autor, 246p. WILLIAM, A. H. & DAVID, L. W. 2011. The Dragonflies and Damselflies (Odonata) of Ecuador. Disponível em: http://efg.cs.umb.edu/. Acesso em: 12 de março de 2011. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 8