Sistemas de Respiração em Anestesia

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B A S I C S C I E N C E Tutorial 333 Sistemas de Respiração em Anestesia Dr Peter Tsim Trainee em Anestesia, Chesterfield Royal Hospital, UK Dr Allan Howatson Consultor em Anestesia e Medicina Intensiva, Nottingham University Hospital NHS Trust, UK Editado por: Dr Alex Konstantatos Traduzido por: Dra. Heloisa de Cássia dos Santos e Dra. Raquel Spilere Kammer Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis - Brasil Correspondência para atotw@wfsahq.org 05 de Julho de 2016 PERGUNTAS Antes de continuar, tente responder às seguintes perguntas. A resposta pode ser encontrada no final do artigo, junto com uma explicação. Por favor, responda Verdadeiro ou Falso: 1. Quando manejamos um paciente de 70kg em respiração espontânea, o seguinte fluxo de gás fresco seria suficiente para prevenir reinalação: a. 6 litros por minuto em um sistema Mapleson A b. 6 litros por minuto em um sistema de Water c. 12 litros por minuto em um sistema de Bain d. 9 litros por minuto em um sistema Mapleson B e. 9 litros por minuto em uma peça T de Ree 2. No que se refere aos sistemas de respiração Mapleson: a. O sistema de Bain é um sistema Mapleson A coaxial b. O sistema Mapleson D é o mais eficiente em pacientes ventilados c. O sistema Mapleson C não tem válvula de ajuste de pressão d. O Mapleson E (peça T de Ree) é apropriado para uso em pacientes de até 30kg e. A válvula de ajuste de pressão requer uma pressão de 1cm H 2O para abrir em sua configuração mínima 3. No que se refere aos sistemas circulares: a. Uma alta taxa de fluxo de gás fresco é inicialmente necessária para equilibrar o sistema b. O componente principal da cal sodada é hidróxido de potássio c. Composto A pode ser gerado se for usado baixo fluxo d. Se a válvula unidirecional ficar presa, isso causa aumento no espaço morto do sistema e. Um sistema circular fechado exige um fluxo de gás fresco menor que um sistema semi-fechado Key Points INTRODUÇÃO A função dos sistemas de respiração é fornecer oxigênio e gases anestésicos aos pacientes e eliminar dióxido de carbono. Todos os sistemas de respiração são compostos por componentes similares, mas estão configurados de forma diferente. Os componentes comuns incluem: fluxo de gás fresco, tubulação para direcionar o fluxo de gás, uma válvula de limite de pressão ajustável para controlar a pressão dentro do sistema & permitir limpeza dos gases residuais e uma bolsa reservatório de gás para armazenar gás e ajudar na ventilação. Cada sistema de respiração recebe três fontes de gás: gás fresco, gás exalado do espaço morto e gás exalado dos alvéolos. As proporções de cada um dentro do sistema são a maior influência da oferta de gás fresco. O gás é entregue para pacientes em respiração espontânea pela pressão sub-atmosférica (negativa) na inspiração e pela pressão atmosférica na expiração. Inversamente, pacientes ventilados recebem gás por pressão positiva na inspiração e pressão atmosférica na expiração. Neste tutorial, vamos explorar os diferentes componentes e tipos de sistemas de respiração usados na prática comum. ATOTW 333 Sistemas de Respiração em Anestesia (05 de Julho de 2016) Página 1 de 6

COMPONENTES DOS SISTEMAS DE RESPIRAÇÃO Um sistema de respiração é constituído por componentes que conectam o paciente à máquina de anestesia 1, e é usualmente composto por alguns dos seguintes componentes: 1. A válvula Ajustável de Limite de Pressão (APL) permite uma pressão variável dentro do sistema de anestesia usando uma válvula unidirecional spring-loaded. Em uma pressão acima da pressão de abertura da válvula, é permitido pelo sistema um vazamento controlado de gás, que permite controle sobre a pressão de via aérea do paciente. A pressão mínima necessária para abrir a válvula é 1cm H2O. Existe um mecanismo de segurança para prevenir que a pressão exceda 60cm H2O, entretanto, esteja atento que pressões abaixo desta podem causar barotrauma. 2. A bolsa reservatório permite coleção do fluxo de gás fresco durante a expiração, que por sua vez minimiza a quantidade gás fresco necessária para evitar reinalação. Além disso, ela permite que o anestesista monitore o padrão respiratório de pacientes em ventilação espontânea. Elas normalmente são de plástico ou borracha, e podem vir de tamanhos entre 0,5 a 6 litros. Entretanto, o tamanho mais comum em sistemas para adultos é 2 litros. A Lei de Laplace afirma que a pressão é igual a duas vezes o raio dividido pelo raio da bolsa. Portanto, com o aumento da bolsa, a pressão interna reduz. Esta é uma importante medida de segurança, assim a expansão da bolsa para acomodar gás limita a pressão dentro do sistema. 3. O ramo inspiratório permite a passagem de fluxo de gás fresco ao paciente durante a inspiração. O ramo expiratório permite passagem de gás expirado pelo paciente. Embora o comprimento do tubo dependa do sistema usado, o diâmetro é de tamanho padrão: 22mm para adultos e 18mm para sistemas pediátricos.. CLASSIFICAÇÃO MAPLESON Em 1954, Prof William Mapleson publicou um artigo no British Journal of Anaesthesia descrevendo pela primeira vez a classificação de Mapleson para sistemas de respiração 2. Embora nomeado depois dele, os cinco sistemas semifechados que compõem classificação foram desenhados pela primeira vez por seu colega Dr. William Mushin 3. Classificação Mapleson A Macgill Lack (coaxial) Diagrama FGF = fluxo de gás fresco RB = bolsa reservatório APL = válvula ajustável limitadora de pressão Pt = paciente Volume de fluxo de gás fresco para prevenir reinalação em ventilação espontânea (múltiplos de VM) 0,8 1,0 B 1,5 2,0 C Water D Bain (coaxial) E Peça T de Ayer 1,5 2,0 2,0 3,0 2,0 3,0 F Peça T de Ree 2,0 3,0 Figura 1: Classificação de Mapleson para circuitos respiratórios ATOTW 333 Sistemas de Respiração em Anestesia (05 de Julho de 2016) Página 2 de 6

Sistema Mapleson A Este sistema de respiração consiste em uma bolsa reservatório presente na máquina de anestesia e uma válvula APL até o paciente, separados por 110-180 cm de tubo. Durante a primeira respiração, todos os gases inalados estão frescos e não contêm qualquer gás exalado. À medida que o paciente expira, os gases de espaço morto são os primeiros a serem exalados. Como não houve troca de gases, eles contêm a mesma mistura gasosa que foi inalada pelo paciente. Enquanto isso, o fluxo de gás fresco preenche o restante da tubulação e da bolsa reservatório. A partir do aumento na pressão do sistema e a expiração do paciente, os gases alveolares que foram utilizados na troca de gases são forçados a sair através da válvula APL. Quando o paciente retoma a respiração seguinte, os gases do espaço morto da respiração anterior são inspiradas em primeiro lugar, seguido por gás novo da bolsa reservatório. O sistema Mapleson A é mais eficiente quando utilizado em pacientes em respiração espontânea. Em tais casos, um fluxo de gás fresco equivalente ao volume minuto é necessário para que o gás fresco seja acomodado na bolsa reservatório e no tubo inspiratório (550ml). No entanto, se for utilizado em pacientes ventilados, o sistema é ineficiente com alta pressão do ventilador, forçando o fluxo de gás fresco através da válvula APL, preferencialmente, antes mesmo do que gás alveolar expirado. Por isso, exige muito alto fluxo de gás fresco para evitar reinalação. Devido à disposição do sistema, o peso e a posição da válvula APL na extremidade próxima ao paciente, o mesmo pode ser inconveniente. O sistema coaxial (sistema Lack) foi desenvolvido para isto: apresenta o tubo expiratório dentro do membro inspiratório e, portanto, tem válvula APL e bolsa reservatório longe do paciente enquanto ainda mantém o sistema Mapleson A. Sistemas Mapleson B e C Os sistemas Mapleson B & C são semelhantes, tendo tubulação entre a bolsa e o fluxo de gás fresco, o que mais funciona como um reservatório. Como a válvula APL fica entre o fluxo de gás fresco e o paciente, o gás fresco que não for envolvido na troca de gás é expelido durante a expiração, juntamente com os gases expirados do paciente em ventilação espontânea. Um processo semelhante ocorre quando o paciente é ventilado: gás fresco passa através da válvula APL antes que possa ser administrada ao paciente. Nenhum destes sistemas é eficiente para respiração espontânea ou ventilação, necessitando um fluxo de 1,5 a 2 vezes o volume minuto para evitar reinalação. Sistema Mapleson D O sistema Mapleson D caracteriza-se pelo fluxo de gás fresco sendo introduzido na extremidade final do sistema. A válvula APL e bolsa reservatório estão na extremidade da máquina de anestesia, e o sistema é separado do paciente através de 180 centímetros de tubo. Uma vantagem disto é que todos os componentes pesados estão longe do paciente. Os sistemas Mapleson D são mais eficientes quando usados para pacientes ventilados. Como o ventilador fornece a respiração, o paciente inspira gás vindo do fluxo de gás fresco e do reservatório. À medida que o paciente expira, o gás residual passa ao longo dos tubos e sai do sistema através da válvula APL. Durante a pausa expiratória, o fluxo de gás fresco preenche o tubo, empurrando ainda mais o gás residual para fora através da válvula APL. No momento em que a próxima respiração é entregue pelo ventilador, o tubo está cheio de gás fresco. Neste caso, um fluxo de gás equivalente ao volume minuto é necessária para evitar reinalação. Se um sistema Mapleson D for usado para pacientes em respiração espontânea, os gases expirados do paciente são recolhidos no tubo e na bolsa reservatório antes que a pressão gerada seja suficiente para abrir a válvula APL. Isto causa reinalação significativa, a menos que seja usado um fluxo de 2 a 3 vezes o volume minuto. Uma configuração comumente é utilizada no sistema coaxial Mapleson D, também chamado sistema de Bain, onde o fluxo de gás fresco é entregue através de um tubo interior, e os gases residuais são removidos através de um tubo exterior. Isto reduz a desordem em torno da máquina de anestesia. No entanto, o tubo interno pode dobrar, gerar vazamento ou desconectar, resultando em hipóxia. Esta é uma desvantagem de todos os sistemas coaxiais. Sistemas Mapleson E e F Os sistemas Mapleson E e F são sistemas sem válvulas que oferecem baixa resistência à respiração e, portanto, são usados em pacientes pediátricos até 30 kg. Ambos os sistemas têm o fluxo de gás fresco próximo ao paciente, ligado a um tubo de extremidade aberta. No sistema Mapleson F, há uma bolsa reservatório de dupla extremidade no final do tubo. Durante a inspiração, o paciente inala gás diretamente do fluxo de gás fresco e o gás que coletado na tubulação. O paciente então exala o gás do espaço morto seguido do gás que tem sido utilizado na troca. Durante a pausa expiratória, a pressão do fluxo de gás fresco empurra todo este gás expirado para fora do tubo. No sistema Mapleson F, um tanto desta mistura gasosa é recolhida na bolsa reservatório. Um alto fluxo de gás fresco, cerca de 2 a 3 vezes o volume minuto, é necessária para evitar reinalação. ATOTW 333 Sistemas de Respiração em Anestesia (05 de Julho de 2016) Página 3 de 6

Estes sistemas têm algumas desvantagens. Uma vez que nenhuma válvula APL está presente, não é possível limpar o gás residual: este é ventilado diretamente para o ambiente. Além disso, não é possível gerar uma pressão positiva no sistema Mapleson E, o que significa que CPAP não pode ser usado. Além disso, a ausência de uma bolsa reservatório faz com que a ventilação manual nestes paciente se torne mais difícil. SISTEMAS CIRCULARES O sistema circular melhora a eficiência da distribuição de gás anestésico por meio da reciclagem de gás que é expirado do paciente e, assim, reduz a quantidade de fluxo de gás fresco necessário. Cal Sodada Válvula de via única Válvula de via única Figura 2: Sistema Circular O fluxo de gás fresco deixa a máquina de anestesia e vai até o paciente através de uma válvula de direção única. Quando ocorre a expiração, os gases exalados do paciente passam através de uma válvula de via única para a válvula APL, em seguida, para a bolsa reservatório (ou ventilador). Antes deste gás expirado ser misturado ao fluxo de gás fresco e entregue novamente ao paciente, ele passa através da cal sodada, a qual absorve o dióxido de carbono. Inicialmente, um alto fluxo de gás fresco é necessário a fim de preencher o sistema de respiração com a mistura desejada e equilibrar o sistema. Após, um fluxo mínimo de 0,5 litros por minuto pode ser utilizado. Um sistema circular pode ser semi-fechado ou fechado. Em um sistema circular semi-fechado, a válvula APL é aberta e permite que o excesso de gás possa ser removido do sistema, reduzindo o risco de barotrauma. No entanto, o fluxo de gás fresco relativamente elevado permite que um vaporizador externo ao circuito (COV) possa ser utilizado, o qual pode apresentar uma porcentagem mais elevada e mais precisa do gás anestésico para a mistura. Em um sistema circular fechado, a válvula APL está completamente fechada. Embora este seja o sistema de ventilação anestésica mais eficiente, deixa pouca margem para erro. O fluxo de gás fresco deve atender as necessidades exatas do paciente, e a cal sodada deve absorver todo o dióxido de carbono expirado. O fluxo mínimo neste sistema só permite o uso de um vaporizador dentro do circuito. Uma descrição detalhada dos vaporizadores está além do âmbito deste artigo. Um dos componentes mais importantes do sistema circular é a cal sodada. Esta é uma mistura de 80% de hidróxido de cálcio, 4% de hidróxido de sódio e 16% de água. Também contém um corante sensível ao ph, o qual indica quando os grânulos estão esgotados. Os grânulos de cal de soda são descritos como 4-8 mesh, o que significa que cada grânulo vai encaixar através de uma malha que tem 4 aberturas por polegada, mas não uma que tem 8. A seguinte reação exotérmica ocorre: CO 2 + 2NaOH à Na 2 CO 3 + H 2 O Na 2 CO 3 + Ca(OH) 2 à 2NaOH + CaCO 3 Fatores importantes sobre os sistemas circulares: As válvulas de sentido único podem trancar por vapor de água dentro do sistema e resultar em aumento do espaço morto. As válvulas de sentido único aumentam a resistência da ventilação no sistema Um fluxo de gás fresco mais baixo resulta num tempo maior para que as alterações na mistura de gás anestésico possam ocorrer. Monitorar a composição do gás dentro do circuito é essencial O uso de Sevoflurano em um fluxo de gás fresco abaixo de 1L/min pode gerar Composto A pela reação com a Cal Sodada. Apesar de ser nefrotóxico em ratos, não há evidencia deste achado em humanos. Deve-se estar familiarizado que a cor do corante sensível ao ph, pois diferentes fabricantes utilizam cores diferentes a fim de indicar que sua capacidade absortiva esta esgotada. A distribuição desigual dos grânulos de cal sodada no recipiente faz com que o gás flua de forma desigual e reduz a eficiência da cal sodada. ATOTW 333 Sistemas de Respiração em Anestesia (05 de Julho de 2016) Página 4 de 6

Sistema Mapleson A Mapleson B Mapleson C Vantagens Eficiente para pacientes em ventilação espontânea. Leve e compacto Desvantagens Ineficaz em paciente em ventilação. A válvula APL próxima ao paciente pode dificultar no manuseio. Ineficiente em pacientes ventilando espontaneamente ou mecanicamente. Ineficiente em pacientes ventilando espontaneamente ou mecanicamente. Mapleson D Eficiente para pacientes ventilados. Os componentes pesados estão longe do paciente. Pode ter um longo ramo inspiratório: bom para uso em ambiente de ressonância magnética. Ineficiente para ventilação espontânea Mapleson E Mapleson F Circuito semifechado Circuito fechado Útil para pacientes com menos de 30 kg devido à baixa resistência por falta de válvula. Útil para pacientes com menos de 30 kg com baixa resistência devido à falta de válvula. Bolsa reservatório permite a ventilação. Eficiente para a manutenção da anestesia. Alto fluxo de gás fresco permite o uso de vaporizador fora do circuito. Altamente eficiente; pode ser usado com fluxos mínimos. Difícil de limpar o gás residual. Exige alto fluxo de gás fresco. Difícil de retirar o gás residual. Exige alto fluxo de gás fresco. Menos eficiente que o circuito fechado. O fluxo de gás fresco deve atender as demandas do paciente em todos os momentos. Figura 3: Resumo das vantagens e desvantagens dos sistemas de ventilação em anestesia ATOTW 333 Sistemas de Respiração em Anestesia (05 de Julho de 2016) Página 5 de 6

Respostas das perguntas 1) Quando manejamos um paciente de 70kg em respiração espontânea, o seguinte fluxo de gás fresco seria suficiente para prevenir reinalação: a) Verdadeiro. Um paciente de 70kg tem um volume corrente de 7ml/kg, que multiplicado pela frequência respiratória de 12, dá 5,8 litros por minuto. Um sistema Mapleson A requer um fluxo de gás fresco equivalente ao volume minuto para prevenir reinalação b) Falso. O sistema Water é um sistema Mapleson C, que exige 1,5 a 2 vezes o volume minuto, que é pelo menos 8,8 litros por minuto. c) Verdadeiro. Um sistema Bain é um sistema Mapleson D coaxial d) Verdadeiro. O sistema Mapleson B precisa de um FGF de pelo menos 9 litros por minuto e) Falso. Um peça T de Ree é um sistema Mapleson F, que requer um fluxo de gás fresco 2 a 3 vezes o volume minuto para prevenir reinalação. 2) No que se refere aos sistemas de respiração Mapleson: a) Falso. O sistema Bain é um Mapleson D coaxial. Um sistema Mapleson A coaxial é também conhecido como sistema Lack b) Verdadeiro. O sistema Mapleson D é o mais eficiente em pacientes ventilados c) Falso. As características do sistema Mapleson C são um válvula APL entre o fluxo de gás fresco e o paciente. Os sistemas avalvulados são os sistemas Mapleson E e F d) Falso. Enquanto um sistema Mapleson E é somente adequado para uso em pacientes até 30kg, ele é um peça T de Ayre. Peça T de Ree é o sistema Mapleson F e) Verdadeiro. A válvula ajustável de pressão exige uma pressão de 1cm H2O para abrir na configuração mínima 3) No que se refere aos sistemas circulares: a) Verdadeiro. Uma alta taxa de fluxo de gás fresco é inicialmente necessária para equilibrar o sistema b) Falso. O componente principal da cal sodada é o hidróxido de cálcio c) Verdadeiro. Composto A pode ser gerado pela reação de sevoflurano com cal sodada em baixos fluxos d) Verdadeiro. Se uma válvula unidirecional ficar travada, ela leva a um aumento no espaço morto do sistema e) Verdadeiro. Um sistema circular fechado requer um fluxo de gás fresco menor que um sistema semi-fechado Referências e Leituras Adicionais 1. Jaul TK, Mittall G. Mapleson s Breathing Systems. Indian J Anaesth. 2013 Sep-Oct; 57(5): 507-515. 2. Mapleson W. The Elimination of Rebreathing in Various Semi-Closed Anaesthetic Systems. Brit J Anaesth. 1954; 26: 323. 3. Mapleson W. Editiorial I: Fifty Years After Reflection On The Elemination of Rebreathing in Various Semi- Closed Anaesthetic Systems. Brit J Anaesth. 2014; 93(3): 319-321. 4. 5. Al-Shaikh B, Stacey S. Essentials of Anaesthetic Equipment. Elsevier. 2007, 3 rd edition. Davis P, Kenny G. Basic Physics & Measurement in Anaesthesia. Elsevier. 2003, 5 th edition. 6. Spoors C, Kiff K. Training in Anaesthesia: The Essential Curiculum. Oxford University Press. 2010, 1 st edition. Este trabalho está licenciado pela Atribuição Não-Comercial Creative Commons 3.0 Unported License. Para ver uma cópia dessa licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/ ATOTW 333 Sistemas de Respiração em Anestesia (05 de Julho de 2016) Página 6 de 6