REFLEXÕES SOBRE PAISAGENS E ETNOBOTÂNICA A COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA PALMITAL DOS PRETOS

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Transcrição:

58 REFLEXÕES SOBRE PAISAGENS E ETNOBOTÂNICA A COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA PALMITAL DOS PRETOS FERREIRA, Maximilian Clarindo 1 ; FLORIANI, Nicolas 2. MIRANDA, Everton 3 ; STANISKI, Adelita 4 INTRODUÇÃO A relação entre o indivíduo/natureza em muitas vezes nas comunidades tradicionais, se dá através do saber ecológico tradicional (ou o etnoconhecimento). A Etnobotância evidencia o uso de plantas tanto para a alimentação quanto para a o uso medicinal, estando relacionado com os costumes, imaginário e a cultura da comunidade; que se expressa em sua paisagem por signos. Este saber ajuda na conservação da biodiversidade local e da natureza envolvente, produzindo uma linguagem vernacular, e uma alimentação e medicina cultural mediada em valores e tradições. Este saber ecológico tradicional, ou a etnobotânica, se dá na paisagem da localidade da comunidade, envolvente a natureza, e produzindo um patrimônio cultural tanto material quanto imaterial, através da relação sujeito-natureza-paisagem. Assim, teremos a questão de apego e pertencimento à paisagem vivida pelos indivíduos, criando marcas e signos. Neste sentido a paisagem enquanto paisagem cultural enfoca nas relações sociais e nas transformações espaciais contidas no espaço (...) a paisagem cultural compõem uma localidade, que tem sua territorialidade, identidade e temporalidades (GAMALHO; HEIDRICH, 2006, p.03-04). OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivo discorrer sobre relação entre sujeito/natureza mediada pela paisagem e etnobotânica na Comunidade Remanescente de Quilombola Palmital dos Pretos Campo Largo/PR. 1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UEPG, email: maxclarindo@hotmail.com 2 Professor do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa, email: florianico@gmail.com 3 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UEPG, email: miranda13em@gmail.com 4 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UEPG, email: adelitasta@hotmail.com

59 METODOLOGIA A pesquisa apresenta uma metodologia implicada na leitura sistemática sobre o conhecimento etnobotânico e sobre paisagem; e estudo de caso in loco para entender como a relação sujeito/natureza se orquestra na Comunidade Remanescente de Quilombola Palmital dos Pretos. RESULTADOS E DISCUSSÕES Segundo Toledo e Barrera-Bassols (2009) apud Staniski et al (2013, p.111), a organização social das comunidades tradicionais reflete os valores e os conhecimentos que estas populações possuem acerca da natureza as quais através de sua forma de olhar os ciclos e o conhecimento das especificidades de muitas espécies do ecossistema local fazem com que colaborem para a manutenção das espécies. A comunidade tem em sua característica cultural o dom do conhecimento etnobotânico, que se expressa em sua paisagem por signos. Os saberes ecológicos tradicionais, são em outras palavras, o conhecimento etnobotânico. De acordo com Staniski (2013, p.111) a etnobotânica é a etnociência que tem como incumbência estudar essa interação entre grupos humanos e natureza. Na comunidade este saber se dá através do uso de plantas (quintais) e das florestas, mostrando uma relação entre indivíduo-natureza e também com a questão cultural da localidade. Para entender como se dá a relação entre o indivíduo e paisagem através dos conhecimentos etnobotânicos, foram realizadas saídas de campos na comunidade tanto para conhecer a floresta quanto nos quintais nas casas das pessoas, como levantamento exploratório e para ver quais são as espécies de plantas são usadas pelos moradores da comunidade. Também foram realizadas entrevistas semiestruturas com perguntas chaves visando compreender a interação e o consumo das plantas (ervas) pelos sujeitos da comunidade. Através do levantamento exploratório, foram construídas duas tabelas com as ervas mais utilizadas pela comunidade, uma tabela com as ervas da floresta, e outra com as ervas dos quintais (tabelas 1 e 2). Tabela 1: Espécies de plantas da floresta mais usadas pela comunidade

60 Tabela 2: Espécie de plantas dos quintais mais usadas pela comunidade Nome comum Nome científico Sintoma/doença Hortelã Mentha piperita L. Manchas na pele Espinheira Santa Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Dor no estõmago Roseira branca Rosa alba L. Infecção nos olhos, ferida na boca, lachante Rubim Leonotis nepetaefolia Dor nos ossos, artrose, gripe Laranjeira Citrus sinensis L. Bronquite, prisão de ventre Erva doce Pimpinella anisum L. Infecção nos olhos, cólica, febre Camomila Matricaria chamomilla L. Dor de cabeça Alecrim Rosmarinus officinalis L. Ar no estômago, diarreia, umbigo crescido, pressão alta Cavalinha Equisetum giganteum L. Dor nas costas, emagrecimento

61 Erva de São João Hupericum perforatum L. Depressão Como se pode observar nas tabelas acima, quase todas as plantas têm por fim o uso medicinal estando voltadas para a saúde do indivíduo, e como mostra também a figura 1. O alinhamento do conhecimento etnobotânico mais o etnomedicinal produzem um saber ecológico-médico vernacular e um patrimônio cultural, juntamente com seu saber tradicional, colocando este saber como uma ação do dia a dia dos indivíduos das comunidades, em que, a relação entre indivíduo-natureza é uma relação percebida, sentida e vivida pelos seus sujeitos. Figura 1: Secagem de folhas para fazer chás e remédios Destarte, as plantas apresentam não somente um valor curativo das enfermidades do corpo, como também sagrado-simbólico, no qual, essas as plantas simbolizam e reforçam os laços de solidariedade entre os sujeitos e a natureza (STANISKI et al, 2013, p.115). Entretanto, o uso de plantas (quintais) e das florestas ocorre pelo uso de plantas alimentícias e medicinais, e também da madeira, medicinal e aromático. Isto mostra que seus costumes e comportamentos estão ligados ao ambiente vivido, pelas e através da percepção da paisagem e da criação de signos. E este conhecimento etnobotânico é um patrimônio cognitivo coletivo, recheado de significados que incidem na paisagem, criando uma paisagem cultural voltada para a percepção, às vivências e para os signos, e também para as memórias. Que segundo Sauer (2004, p.43) a paisagem cultural se deriva (...) da paisagem natural, com o homem expressando seu lugar na natureza. E esta expressão do indivíduo sobre a paisagem

62 irá produzir marcas e matrizes (BERQUE, 2004). Como pode ser observado nas figuras 2 e 3, a seguir: Figura 2: A paisagem do quintal uso de plantas medicinais Figura 3: A paisagem da floresta coleta de plantas medicinais Fonte: Os autores, 2013. CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa buscou valorizar a relação entre sujeito e natureza mediante aos seus saberes ecológicos tradicionais. A relação entre a paisagem e o conhecimento etnobotânico se

63 dá pelo uso das plantas tanto na alimentação quanto no uso medicinal, através do uso das suas folhas, raiz, casca, flores etc. O conhecimento etnobotânico está presente nas ações do dia-adia das pessoas, se tornando um patrimônio cultural cognitivo. Encontraremos uma paisagem sentida pela percepção, em que o sujeito mostra seus modos de interação com a mesma, permeada e envolvida pela cultura local do Ser. E não obstante, a paisagem é percebida pelos valores que a regem, produzindo representações a partir da relação indivíduo-paisagem e indivíduo-paisagem-natureza, transformando-a e (re) significando-a. As paisagens culturais sentidas e percebidas pelos seus indivíduos espacializados, constroem uma noção identitária e de espaço-tempo, criando assim, uma paisagem-signo. REFERÊNCIAS BERQUE, Augustin. (2004). Paisagem-marca, paisagem-matriz: elementos da problemática para uma Geografia Cultural. En CORRÊA, Roberto Lobato, y ROSENDAHL, Zeny. (Eds.). Paisagem, tempo e cultura, 2 ed (pp. 84-91). Rio de Janeiro: EDUERJ. GAMALHO, Nola Patrícia, y HEIDRICH, Álvaro Luiz. (2006). Paisagem híbrida, territorialidades múltiplas e temporalidades diversas: notas para discussão a partir da leitura da paisagem do Vale do Rio Três Forquilhas (RS). En Anais do I Colóquio Nacional do Núcleo de Estudos em Espaço e Representações. Curitiba: NEER/UFPR, (CD-ROOM), (pp.01-11). SAUER, Carl O. (2004). A morfologia da paisagem. En CORRÊA, Roberto Lobato, y ROSENDAHL, Zeny. (Eds). Paisagem, tempo e cultura, 2 ed (pp. 12-74). Rio de Janeiro: EDUERJ. STANISKI, Adelita, STRACHULSKI, Juliano, y FLORIANI, Nicolas. (2013). O uso de plantas medicinais: um estudo etnobotânico na Comunidade Faxinal Sete Saltos de Baixo, Ponta Grossa PR. En Anais do IV Encontro Temático da Rede Internacional Cepial: Ponta Grossa/PR-BR, ( pp.111-116).